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A necessidade da ética

01/08/1999 às 00:00
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Os diversos conflitos entre as categorias e a sociedade em geral levantam sempre as questões dos valores morais e éticos das pessoas. O grande tema hoje é normatizar o licito, ou seja, deixar escrito o que se pode fazer, o que for ético. O governo federal acaba de constituir uma comissão, que elaborará o código de ética para o funcionalismo público, por conseguinte todos os funcionários públicos deverão assinar termo de compromisso ao ingressar na carreira pública.

O caso mais gritante de ética no Brasil culminou com o impeachment do ex-presidente Collor de Mello. Os estudantes, os ‘Cara Pintada’, foram às ruas exigir a saída do então presidente, com frases de ordem "Fora Collor", por acharem que ele não teve ética no exercício da presidência da republica. Será que esses mesmos estudantes os ‘Cara Pintada’ muitos deles hoje já formados em medicina, engenharia, direito, ciências contábeis etc., que sentiram-se traídos pelo ex-presidente Collor, como cidadãos, estão pagando todos os seus impostos ? Não estão aceitando suborno ? Estão cumprindo seus códigos de ética à risca ? Com certeza que não! É um verdadeiro paradoxo, brigar por ética, e não ser ético. É sempre assim, já diz um ditado popular: "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço ".


A comunidade acadêmica está perplexa com tantos escândalos envolvendo profissionais, que deveriam ter o maior zelo em honrar suas profissões. Os médicos, que possuem um rigoroso código de ética e fizeram o juramento de Hipócrates (400 a.C.), que é o pai da medicina e deixou sacramentado, que jamais daria remédio abortivo para uma mulher. Hoje o que se sabe é que o aborto virou uma das industrias especializadas mais rentáveis. E os erros médicos cometidos por imprudência, negligência ou imperícia ?E não se tem noticia de médicos cassados ou punidos por isto. Os economistas, que não possuem código de ética até o momento, comandam a economia do país. Alguns vendem informações privilegiadas para certos grupos econômicos, rendendo alguns milhões de dólares, enquanto a população mais carente morre de fome, e o país numca vai para frente. Os contadores, que possuem código de ética, são reféns da heterodoxia e das marteladas anuais, somente sobrevivem se utilizarem as brechas da legislação. Os advogados, que possuem um belíssimo código de ética, que realmente funciona, por meio de seu Tribunal de Ética. São campeões de espaço nas páginas dos jornais: é máfia das aposentadorias, máfia do seguro obrigatório, assassinato, tráfico de drogas etc. E dos 400.000 advogados do Brasil, 40.000, ou seja, 10% estão sendo processados pela OAB.

A democracia é uma forma de governo muito cara, o povo brasileiro está pagando um preço muito alto por ela. O Brasil é um país novo, ainda não têm 500 anos. Não podemos cair no discurso de que o país não tem mais jeito. As coisas somente começarão a mudar, quando acabar o ‘jeitinho brasileiro’, e tivermos de todas as classes econômicas, tolerância zero !

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Sobre o autor
Luís Olímpio Ferraz

acadêmico de Direito na Unifor, empresário em Fortaleza (CE)

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

FERRAZ, Luís Olímpio. A necessidade da ética. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 4, n. 34, 1 ago. 1999. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/1918. Acesso em: 2 nov. 2024.

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Artigo publicado no Diário do Nordeste

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