Artigo Destaque dos editores

O abuso de poder político por omissão

Exibindo página 2 de 2
02/06/2011 às 06:44
Leia nesta página:

3. Conclusão

Há quem entenda que a influência do poder público no resultado da eleição é muito pequena. [37] A experiência ordinária, entretanto, demonstra o contrário. A alegoria orwelliana de controle revela-se cada vez mais próxima da realidade.

Por isso, o reconhecimento da existência de abuso de poder político por omissão revela-se urgente e imperativo. Como alertava Fávila Ribeiro, o poder, no exercício de suas dominações corrosivas, precisa ser frenado e contido. [38]

Os participantes do jogo político – em sentido amplo, a englobar eleitores, partidos, Ministério Público e Justiça Eleitoral – devem mostrar-se atentos aos desvios cometidos na condução da coisa pública, inclusive em sua forma omissiva: a defesa das instituições democráticas exige que não se quedem como um mito de Platão, abúlicos e alienados, numa caverna, cegos a tudo que não seja uma parede de pedra.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, Roberto M. de. Curso de direito eleitoral. 4ª ed., Salvador: Jus podivm, 2010.

BARROS, João Álvaro Q. Abuso de direito. Disponível em [http://jus.com.br/revista/texto/6944], acesso em 05.01.2011.

BIM, Eduardo F. "O polimorfismo do abuso de poder no processo eleitoral: o mito de Proteu". In Revista do TRE/RS, jun-dez, v. 8, n. 17. Porto Alegre: 2003.

CAMPOS, German J. Bidart. Las elites políticas. Buenos Aires: Ediar, 1977.

CARTER, April. Autoridad y democracia. Buenos Aires: Editorial Universitaria de Buenos Aires, 1980.

CODATO, A. et al. "Marxismo e elitismo: dois modelos antagônicos de análise social?", em Revista Brasileira de Ciências Sociais, out., vol. 24, n. 71. São Paulo: 2008.

FAYT, Carlos S. Derecho político. Tomo I. 12ª ed., Buenos Aires: La Ley, 2009.

FAYT, Carlos S. Derecho político. Tomo II. 12ª ed., Buenos Aires: La Ley, 2009.

FRANCA, Emanuel M.S. et al. Abuso de poder econômico e político no sistema eleitoral brasileiro. Disponível em [http://webserver.falnatal.com.br/revista_nova/a4_v2/artigo_15.pdf], acesso em 05.01.2011.

FRANCISCO, Caramuru A. Dos abusos nas eleiçõe: a tutela jurídica da legitimidade e normalidade do processo eleitoral. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002.

GARCIA, Emerson. Abuso de poder nas eleições. Meios de coibição. 3ª ed, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 4ª ed., Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2009.

GRECO, Rogério. Curso de direito penal. Vol. I. 11ª ed., Niterói: Editora Impetus, 2009.

JOBIM, Marcos Félix. Da noção à teoria do abuso de direito. Disponível em [http://www.jobimesalzano.com.br/artigosbw/art7.doc], acesso em 05.02.2011.

MALFATTI, Selvino Antônio. A teoria das elites como uma ideologia para perpetuação no governo. Disponível em: [http://www.unifra.br/thaumazein/edicao2/artigos/ateoria.pdf], acesso em 05.01.2001.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Penguim Companhia das Letras, 2010.

MASTRORILLI, Carlos. El poder político. Buenos Aires: Carlos Pérez Editor, 1969.

PEREIRA, Erick W. Controle jurisdicional do abuso de poder. São Paulo: LTr, 2004.

PINTO, Djalma. Direito eleitoral: anotações e temas polêmicos. 3ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000.

PUNSET, Ramón. "Guizot y la legitimidad del poder". In Historia Constitucional, n. 10. Disponível em [http://www.historiaconstitucional.com], acesso em 30.01.2011.

RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 4ª ed., Niterói: Editora Impetus, 2005.

SIQUEIRA, Cláudio Drewes J. "O abuso do poder econômico nas eleições", em Verba Legis, maio 2007 - maio 2008. Goiânia: 2008.

SALGADO, Eneida Desiree. Princípios constitucionais estruturantes de direito eleitoral. Disponível em [http://www.dspace.c3sl.ufpr..br/dspace/bitstream/1884/22321/1/Tese_Eneida_Desiree_Salgado.pdf]., acesso em 05.01.2011.

SATO, Luciano T. Y. & SOUZA, Sérgio de. "O abuso de poder político: uma proposta de análise a partir da sua necessária correlação com as condutas vedadas aos agentes públicos". In O abuso nas eleições: a conquistação ilícita do mandato eletivo. NETO, Antenor Demeterco (org.). São Paulo: Quartier Latin, 2008.

SCHLESENER, Anita Helena. A crítica de Gramsci à teoria das elites: Pareto, Mosca e Michels e a democracia burguesa. Disponível em: [http://www.unicamp.br/cemarx/anais_v_coloquio_arquivos/arquivos/comunicacoes/gt1/sessa4/anita_schesener.pdf], acesso em 05.01.2011.

VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras.Vol. I. 3ª ed., Rio de Janeiro: Villa Rica, 2000.

VIANNA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras.Vol. II. 3ª ed., Rio de Janeiro: Villa Rica, 2000.

WEHLLING, Arno. "História e poder", in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, abril-junho, n. 347.Brasília: 1985.


Notas

  1. Aqui tratada em sentido amplo, como sinônimo – e não espécie – de ciências sociais.
  2. "Quase" porque, mesmo no mundo jurídico, não há unamidade. Vide, à guisa de exemplo, a opinião do constitucionalista argentino German J. Bidart Campos, para quem "no hay ni puede haber gobierno del pueblo, porque el pueblo no se gobierna ni se puede gobiernar a sí mismo, ni directamente, ni por medio de representantes (...) Y nada más, porque siempre y en todas partes, hoy y siempre, el gobierno es una estructura o un aparato que, en su dimensión fáctica o sociológica, se reduce a un pequeño grupo de hombres (a veces uno solo) que son los titulares o detentadores del poder". Para o autor, qualquer fórmula ideológica que atribua doutrinariamente o exercício do poder ao povo, à maioria ou a qualquer outro ente coletivo, "será una creencia o representación ideológica que, a lo sumo, tendrá la pretensión de justificar al poder según quién sea aquél en cuyo nombre se supone ejercido; será, en fin, una abstracción, no una realidad". CAMPOS, German B. Las elites políticas. Buenos Aires: 1977, pp. 8-9)..
  3. MASTRORILLI, Carlos P. El poder político Buenos Aires: Pérez Editor, 1969, p. 25.
  4. FAYT, Carlos S. Derecho político. Tomo I. 12ª ed. Actualizada, Buenos Aires: La Ley, 2009, p. 258.
  5. Apud NAUCKE, Wolfgang & HAZER, Regina. Filosofía del derecho. Buenos Aires: Editorial Astrea, 2008, p. 109.
  6. GARCIA, Emerson. Abuso de poder nas eleições. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, pp. 5-6.
  7. Op. cit., p. 18.
  8. SIQUEIRA, Cláudio Drewes. J. de. O abuso do poder econômico nas eleições. In: Verba Legis. Goiânia: 2008, p. 25).
  9. A aquisição não se lhe disponibiliza a todos; a disposição, a nenhum.
  10. SALGADO, Eneida D. Princípios constitucionais estruturantes no direito eleitoral. Curitiba, 2010: p. 272. Disponível em: [http://www.dspace.c3sl.ufpr..br/dspace/bitstream/1884/22321/1/Tese_Eneida_Desiree_Salgado.pdf].
  11. GOMES, José J. Direito Eleitoral. 4ª ed., Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2009, p. 259.
  12. SATO, Luciano T. Y. & SOUZA, Sérgio de. O abuso de poder político: uma proposta de análise a partir da sua necessária correlação com as condutas vedadas aos agentes públicos. In: O abuso nas eleições, org. Antenos Demeterco Neto. São Paulo: Quartier Latin, 2008, pp. 62-63).
  13. Op. cit., p. 63.
  14. Op. cit., p. 81.
  15. Ou, na ideia de Emerson Garcia, o abuso, por influir na vontade popular, comprometendo a legitimidade do mandato, fere a democracia, a soberania popular e, por consequência, o próprio Estado Democrático de direito. Op. cit., p. 1.
  16. FRANCISCO, Caramuru A. Dos abusos nas eleições. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002, p. 85.
  17. PINTO, Djalma. Direito eleitoral: anotações e temas polêmicos. 3ª ed., Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000, p. 165.
  18. Equívoco em que também recaem Adriano Soares da Costa, para quem o abuso de poder político "[é] a atividade ímproba do administrador, com a finalidade de influenciar no pleito eleitoral de modo ilícito, desequilibrando a disputa" (apud Roberto Moreira de Almeida, 2000: p. 395 – grifo nosso), e Luciano Sato e Sérgio de Souza, que reputam necessária a "concorrência de motivos particulares em auferir vantagem em benefício próprio ou de outrem envolvido na disputa eleitoral" (op. cit., p. 62).
  19. Op. cit., p. 261.
  20. Apud PEREIRA, E. W. Controle jurisdicional do abuso de poder no processo eleitoral. São Paulo: LTr, 2004, p. 60. Pereira
  21. SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, p. 269.
  22. Maquiavel, inclusive, recomenda o expediente aos novos príncipes, quando, ao lamentar o único erro que percebe na conduta de César Bórgia, o Duque Valentino, observa: "Pois, como se disse, embora não pudesse eleger o papa de sua preferência, podia evitar que um adversário chegasse ao papado; e jamais deveria ter consentido que chegasse ao pontificado um daqueles cardeais que ele havia ofendido ou que, tornando-se papa, pudesse temê-lo: porque os homens ofendem por medo ou por ódio. (...) Portanto o duque errou nessa eleição, e tal erro foi a causa de sua ruína" . MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Penguin Companhia, 2010, p. 72.
  23. BIM, Eduardo F. O polimorfismo do abuso de poder no processo eleitoral: o mito de proteu. In: Revista do TRE/RS, Porto Alegre: v. 8, n. 17, jul./dez. 2003, p. 63.
  24. Op. cit., p. 83.
  25. Op. cit., p. 17.
  26. Op. cit., p. 260.
  27. V.g., AgResp 35.316/RN, relator Min. Arnaldo Versiani. DJE de 5.10.2009.
  28. Merecem menção Caramuru Francisco (op. cit., p.83), José Jairo Gomes (op. cit., p. 259) e Marcos Ramayana (op. cit., p. 231) .
  29. Op. cit., p. 9.
  30. Apud GRECO, Rogério. Curso de direito penal. Parte geral. 11ª ed., Niterói: Lumen Juris, 2009, p. 152.
  31. WEHLING, Arno. História e poder, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, abril-junho, n. 347, Brasília: 1985, pp. 178.
  32. Op. cit., p. 179.
  33. Cf. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u75299.shtml.
  34. Para que se tenha uma ideia, as vendas no varejo, no primeiro semestre de 1986, tiveram um aumento real de 23,6%.
  35. MARQUES, Maria Sílvia B. O plano cruzado: teoria e prática. In: Revista de Economia Política, vol. 8, n. 3, julho/setembro 1988, p. 121.
  36. A exceção foi o estado de Sergipe.
  37. Como Aroldo Mota, ao tratar da reeleição. Apud Eneida Desiree Salgado (op. cit., p. 250).
  38. Apud José Jairo Gomes (op. cit., p. 255).
Assuntos relacionados
Sobre o autor
Frederico Franco Alvim

Analista Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás. Especialista em Direito Eleitoral e Direito Processual Eleitoral pela Universidade Federal de Goiás.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

ALVIM, Frederico Franco. O abuso de poder político por omissão. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 16, n. 2892, 2 jun. 2011. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/19257. Acesso em: 23 abr. 2024.

Mais informações

Artigo publicado na Edição 2011 da Revista Verba Legis.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos