É profundamente lastimável que, neste momento de extrema angústia, por que passam trabalhadores, servidores públicos e aposentados, levantam-se vozes espúrias contra eles e espadas infiéis apunhalam-lhes o ventre, transformando-os em bode expiatório de todos os males, como se fossem os culpados das mazelas sociais e dos atos de corrupção e impunidade que grassam por toda a parte.
Olvidam que eles fizeram a grandeza da pátria e que os velhos e inativos de hoje foram os forjadores do progresso de ontem. Sem eles, certamente, a sociedade não subsistiria e não caminharia para o porvir.
Talvez não lembrem que um dia também se aposentarão, serão idosos e merecerão o carinho e o amor do que os sucederem. Toda nação deve respeito às suas tradições e aos que a tornaram altiva e poderosa.
Destruir em segundos o que levou décadas para ser construído e, mais, jogando toda culpa do insucesso naqueles, que realmente são os construtores da sociedade e da pátria, é de intolerável mal gosto e perversidade.
Fustel de Coulanges ensina que o passado jamais perece completamente para o ser humano, que pode esquecê-lo, mas deste passado sempre guardará a recordação. O homem, proclama ainda o grande mestre, autor de A Cidade Antiga, é o produto e o resumo de todas as eras anteriores.
Cada época há de lhe legar os sinais do passado, que marcarão para sempre sua vida e servir-lhe-ão de guia na escuridão das angústias.
Se, entre os antigos, encontramos o culto e o respeito aos mortos, a ponto de os gregos e os hindus os terem como seres divinos, não menos verdade é que os velhos eram venerados pelo que fizeram e deixaram para seus descendentes. E o Livro dos Livros conta-nos que a terra estava corrompida e a natureza, ela própria, tinha que reagir.
Mas não julguemos o próximo pelos rumores que correm, antes de nos inteirarmos do assunto. Assim, também não devem os governos dos homens julgar os velhos, os aposentados, os inativos, os que nada mais podem dar, neste momento, impondo-lhes sacrifícios insuportáveis, como se fossem eles os causadores da desgraça gerada por quem lhes não deu causa.
E disse Davi:
"Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados" (Salmos, Livro 1, 3.6).
"Pois o necessitado não será para sempre esquecido e a esperança dos aflitos não se há de frustar perpetuamente" (Salmos, Livro 1, 9, 18)