5. Conclusão: A responsabilidade do homem
O “Princípio Responsabilidade” constitui-se num dos livros mais importantes do período pós segunda guerra mundial, quando vários cientistas e pensadores passaram a debater o real papel da tecnologia para a humanidade, tendo-a visto atuando, muitas vezes, em prol de catástrofes contra os próprios homens. Diante de um poder tão extraordinário de transformações, estamos desprovidos de regras moderadoras para ordenar as ações humanas. Essa é a questão fundamental do nosso tempo, sendo que esse enorme desajuste somente poderá ser corrigido, no entendimento de Jonas, pela formulação de uma nova ética. Mesmo que algumas décadas tenham se passado após a redação original deste livro, todas as suas preocupações continuam vivas em nosso cotidiano, e nos últimos anos mais do que nunca, haja vista, por exemplo, o afloramento das preocupações com a bioética e com a preservação do meio ambiente.
Entende-se, assim, que há uma forte interação entre pesquisa e poder, sendo necessário considerar que a ciência não tem a missão providencial de salvar a humanidade, ainda que possua poderes ambivalentes sobre o desenvolvimento futuro da humanidade. Indiscutivelmente houve um avanço extraordinário quando a ciência, no século XVII, desvinculou-se da religião e do Estado criando, desde então, seu próprio imperativo "conhecer por conhecer", sem respeitar limites e gozando de total liberdade. Atualmente, no entanto, o momento é de autocrítica. E, nesse sentido, a pergunta que Jonas formula é: "O que poderia satisfazer mais a uma busca consciente da verdade?" Recorda, para respondê-la, as palavras de Oppenheimer, que após anos trabalhando em um laboratório na busca da fissão nuclear e observando sua aplicação em Hiroshima, teria assinalado que, naquele momento, o cientista puro tomou conhecimento do pecado.
Resulta daí a fria constatação de que está na responsabilidade das ações humanas a capacidade de mudar o curso da história a partir de suas intervenções. Os rumos são diversos, assim como o destino final. Uma vereda pode terminar num precipício, enquanto a outra numa fonte de águas puras. O mesmo ocorre com a tecnologia moderna, que vai nos apresentando bifurcações cada vez mais numerosas. É justamente nesses pontos de bifurcação que se impõe a questão da escolha que quase sempre ganha contornos apropriados através de uma decisão ética. Diante das bifurcações que se apresentam, no dizer de Jonas, o que quer que façamos, quaisquer que sejam os critérios utilizados para nossa opção, somos sabedores que o produto final obtido depende exclusivamente de nossa decisão e de nossas ações.
A responsabilidade de cada ser humano para consigo mesmo é indissociável daquela que se deve ter em relação a todos os outros. Trata-se, com isso, de uma solidariedade que o liga a todos os homens e à natureza que o cerca. Parece, então, evidente que a resultante final dessa reflexão busque atender também ao universal. A responsabilidade é, portanto, na ética, a articulação entre duas realidades, uma subjetiva e outra objetiva. É forjada por essa fusão entre o sujeito e a ação. A ordem ética está presente, não como realidade visível, mas como um apelo previdente que pede calma, prudência e equilíbrio. É a esta ordem que Hans Jonas dá o nome de Princípio da Responsabilidade.
E é por decorrência da amplitude do seu enfoque, pela abrangência filosófica e pela magnitude da realidade do seu debate que esse texto merece ser resenhado, refletido e trazido para o pensamento das ciência sociais.
Bibliografia
JONAS, Hans. (2006), O Princípio Responsabilidade: Ensaio de uma Ética para a Civilização Tecnológica. Rio de Janeiro, Contraponto.
SIQUEIRA, José Eduardo de. Hans Jonas e a ética da responsabilidade. Disponível em: <http://www.unopar.br/portugues/revfonte/v3/art7/body_art7.html>. Acesso em: 16/11/2012.
MEIRELES, Ana Catarina Peixoto Rego. Ecoética e o Princípio da Responsabilidade de Hans Jonas – Aplicação à Saúde Pública, 2008. Disponível em: <http://www.saudepublica.web.pt/TrabCatarina/Ecoetica_CMeireles.htm>. Acesso em: 16/11/2012.
Abstract:The "Responsibility Principle" is one of the most important books of the period after World War II, when many scientists and thinkers debated the true meaning of technology for humanity, having seen her acting, often in favor of disasters against the own men. In the face of extraordinary transformations, Jonas was concerned with the rules for ordering the human actions as fundamental question of our time, and this huge imbalance can only be corrected, in the understanding of Jonah, with the formulation of a new ethics. The ethical order is present, not as visible reality, but as a call asking calm, prudence and balance. Is this type of order that Hans Jonas gives the name Principle of Responsibility. And it is in reason of the breadth of its focus, the scope and the magnitude of the philosophical reality of their discussion that this text deserves to be reviewed, reflected and it deserves to go to the thinking of the social sciences.
Keywords: Ethics, Responsibility; Hans Jonas; Technological Civilization.