Presente no Seminário DEMOCRACIA DIGITAL E JUDICIÁRIO, promovido pelo Jornal GGN com apoio do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o Ministro Ricardo Lewandowski que "a relação com a mídia tornou-se muito negativa”. “Precisamos de um movimento de proteção dos magistrados, inclusive de sua segurança pessoal, para que possam exercer com liberdade seus julgamentos”.
As palavras de Lewandowski correspondem aos fatos. Pessoalmente acredito que o Judiciário perderá muito em razão de se tornar apenas mais um palco na sociedade do espetáculo.
O campo judiciário é ou deve ser pautado por racionalidade e falta de pressa (na administração dos conflitos), cuidado (na apreciação das provas), isenção (na aplicação da Lei) e sobriedade pública (para preservar a dignidade da atividade judiciária). O campo jornalístico/televisivo/midiático está no extremo oposto da atividade judiciária, pois exige dos jogadores rapidez e pressa (na descoberta e apuração do fato noticioso), audácia (na apresentação do furo jornalístico), parcialidade (na escolha do que noticiar, como noticiar e com que finalidade o fazer) e informalidade sociocultural (para que o jornalista possa trafegar entre os diversos campos de ação humana em busca de sua matéria prima).
No campo jornalítico uma injustiça cometida hoje pode ser desfeita na edição seguinte e, eventualmente,reparada economicamente. No campo judiciário a injustiça praticada para agradar ao público pode destruir reputações, famílias, carreiras, vidas e provocar danos que não poderão sequer ser mensurados economicamente. Não só isto.
Ao se submeter à lógica do espetáculo que caracteriza campo jornalístico/televisivo/midiático e desprezar as peculiaridades de sua atividade, o campo judiciário não só praticará mais injustiças como colaborará para o aumento da sensação geral de injustiça. Isto certamente pode provocar graves danos para a estabilidade do Estado e para a convivência pacífica em sociedade. O Poder Judiciário se transformar num judiciário do espetáculo é a pior coisa que pode existir para uma comunidade política organizada de maneira a administrar os inevitáveis conflitos decorrentes da vida em sociedade.
Lewandowski acertou no diagnóstico, mas poderia ter sido mais didático. Poderia descer às minúcias, inclusive para que possamos saber se ele, que será o presidente do STF em breve, pretende frear ou ampliar a espetacularização do processo.