Fofocas sobre o Lulu

02/12/2013 às 11:27
Leia nesta página:

O aplicativo Lulu acarretou uma disputa jurídica e não inovação sociológica.

A carreira de Mark Zuckerberg começou com uma brincadeira de mau gosto, o Facemash.com . Através deste website os interessados podiam escolher entre as fotos das garotas da universidade em que ele estudava, ranqueando-as conforme a aparência. Segundo a lenda este website teve uma quantidade tão grande de acessos que derrubou toda a rede de computadores da universidade. O resto é história. Zuckerberg criou o Facebook se tornou bilionário e até fez um filme contando rapidamente a história do Facemash.com.

A polêmica do Facemash.com ajudou a construir a carreira de Zuckerberg e inspirou recentes inovações. Exemplo disto é o Lulu, aplicativo para celular que permite ranquear os garotos atribuindo-lhes notas e comentários. A semelhança entre o Lulu e o Facemash.com é evidente, mas ao contrário de seu ancestral o Lulu chegou rapidamente aoBrasil e detonou uma disputa judicial (http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2013/11/lulu-recebe-primeiro-processo-tjsp-decide-que-intervencao-e-desnecessaria.html). Esta disputa ainda não acabou e cada um dos lados tem bons argumentos, pois o caso diz respeito ao conflito entre dois direitos fundamentais garantidos pela constituição federal:  direito de opinar x  direito à privacidade.

Nenhum destes aplicativos é realmente inovador. O que eles fizeram foi apenas e tão somente informatizar a boa e velha fofoca praticada entre homens e mulheres desde que os seres humanos adquiriram a linguagem. A fofoca, o  Facemash.com e o Lulu visam a mesma coisa: o compartilhamento de informações/opiniões sobre um parceiro em potencial. Todavia, ao invés de reduzir a incerteza as  informações/opiniões obtidas de terceiros somente amplificam a mesma pelo efeito da cacofonia e do acréscimo/subtração.

Nos três casos (fofoca, Facemash.com e  Lulu) opiniões favoráveis sugerem opiniões favoráveis e opiniões negativas sugerem opiniões negativas (cacofonia).  A soma de umas e a subtração de outras produz um  resultado aleatório que nunca será capaz de conduzir a uma cegueira seletiva que permita a aproximação genuína entre duas pessoas.

O amor é cego, dizem. O amor deve ser cego, digo eu. Ver os defeitos do outro através dos olhos de terceiros quebra o encanto, a atração original, que leva à aproximação e cria os primeiros vínculos. O fortalecimento destes é que levará à convivência através da qual os defeitos (inevitáveis) serão encarados de forma generosa ou ignorados à bem da preservação da unidade familiar.

Nesse sentido, a fofoca, Facemash.com e  Lulu são mais nocivos do que benéficos. A propósito de fomentar a sociabilidade o que eles fazem é justamente o oposto. Mas não acho que eles devam ser proibidos. Melhor é aprender a ignorar os três e seguir adiante rindo de quem se torna prisioneiro destes instrumentos de rompimentos preventivos que nos privam de relacionamentos possíveis e que poderiam ser emocionalmente produtivos e fecundos.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos