Escolhas

16/03/2014 às 11:58
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Essencialmente, o Brasil não é um País democrático. Aqui, existe simulacro de democracia. Precedentes disso reveladores. Conhecimento como base da autodeterminação. Ignorância que inda grassa. Sucessão de escândalos. O futuro do País. Escolhas por fazer.

Em sã consciência, do Brasil não se pode dizer um País democrático.
Democracia implica ações que atendam aos interesses do povo.
E, decididamente, aqui, o que menos interessa é a população, muito embora o governo dela se sirva como massa de manobra, confiante na histórica ignorância do “povão”.

Democracia condiz a governo do povo, respeitado por seus representantes.
Aqui, reina solto o populismo, que traz o respeito nos lábios, mas ações que o não traduzem.
Estamos num Brasil diferente, dum governo de fato indiferente às reais necessidades da Nação.

Aqui, diante dos bolsões de miséria de toda espécie, criam-se programas do tipo “bolsa família”, ditos de inclusão social, pelos quais, em verdade, com objetivos nitidamente eleitoreiros, se dá à população mais carente (inda a maioria no Brasil – especialmente nas regiões norte/nordeste) a esmola da menor parte de tudo quanto se arrecada (a maior carga tributária do planeta), erigida à condição de cabresto de consciências distanciadas de autodeterminação.

Aqui, num País dito democrático, o governo, estabelecido naquelas bases e revestido dum projeto de poder, alinha-se ao que há de mais ditatorial no cenário das nações, com comprometimento, até, da soberania nacional.

Que o digam, por exemplo, os episódios com os irmãos Castro, de Cuba, com o Evo Morales, da Bolívia, com o falecido Hugo Chaves (sucedido por Nicolás Maduro), da Venezuela, com o Rafael Correa, do Equador, e com a Cristina Kirchner, da Argentina. Isso, sem falar do governo do Irã e de seu famigerado ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Note-se: em todos os episódios conhecidos, na América Latina ou fora dela, o Partido no Poder nega seu discurso democrático por ações e coalizões reveladoras, justamente, do contrário – certo de que a falta de esclarecimento popular (da maioria da população) lhe assegurará, quanto possível, continuidade no poder.

De fato, o conhecimento liberta e a ignorância escraviza! O povo brasileiro inda é escravo dum sistema de Poder (tido por sistema de governo) que, sob a capa ilusória da palavra “democracia”, essencialmente, traduz a pior das ditaduras – a da hipocrisia escancarada, que teima em se esconder.

Dos impostos extorsivos, aniquiladores do bom ânimo das pessoas, quase nada se dá de volta (veja-se da indiscutível falta generalizada de infraestrutura). Enquanto isso, o País naufraga numa sucessão interminável de escândalos, nunca dantes vistos em sua história, qual navio à deriva em meio ao mar revolto.

Nesse contexto, naturais as revoltas sociais, fruto da indignação daqueles que, embora no Brasil, já se fizeram seres pensantes, com uma certa noção do gritante índice de corrupção e dos inconcebíveis desvios de verbas públicas – segundo dão conta as notícias do dia a dia.

O Brasil tem fome, inclusive de justiça. Enquanto o Porto de Santos, maior escoadouro da produção nacional, soçobra em meio a dificuldades de toda ordem, a presidente envia à parceira Cuba (aos “irmãos companheiros”) muitos milhões de reais (para construção dum porto). Mas, o que importa? Aqui reina a mesmice de consciências que dormem, inscientes do que se passa – é do que, decerto, pensam.

O Brasil tem fome, também de coerência. Democracia não se alinha a ditaduras..., não se omite diante do morticínio do povo nas ruas – como sucede, hoje, na Venezuela. Existem silêncios bem piores que ações equivocadas. Segundo ditado popular, “diga-me com quem andas e te direi quem és”. O discurso não basta. Faz-se preciso ação positiva que lho referende.

As escolhas brasileiras têm sido feitas e estão sendo feitas. Mercê delas, apresentar-se-ão soluções ou escolhos (obstáculos), de importância crucial para a vida de todos nós e de cada um de nós, brasileiros de todos os rincões do País.

A insatisfação é própria de quem sabe que existe algo melhor; de quem quer viver uma vida melhor; de quem está farto dos enganos a que nos habituamos, como se fossem coisas naturais. Numa democracia de verdade, não é natural o distanciamento do verbo e da ação, da atitude e da fala. Quando não convergem, como aqui tem acontecido, algo muito estranho reina, com sinais evidentes de que inda se trata duma “democracia de papel”, presente nos discursos e ausente da vida das pessoas.

Enfim, tudo está nas mãos do povo. Suas escolhas, boas ou más, dirão do nível futuro de suas vidas. Há quem nada exija, para quem o pouco é muito. Porém, como dito pelo apóstolo Paulo, quando se deixa de ser criança e se torna adulto, o caldo ralo da infância não mais satisfaz, fazendo-se preciso alimento mais substancioso. Assim também na vida das Nações: pouco evoluídas, alinham-se ao que há de pior e não se queixam, as pessoas, do quase nada que se lhes dá; mais progredidas, alinham-se ao que há de melhor e, já seres pensantes e com autodeterminação, as pessoas passam das queixas ao efetivo exercício da cidadania, ao nível da exigência da vida melhor que queiram de fato levar.

Torçamos (este o termo), pois, pela emancipação do povo brasileiro, para que as más escolhas não continuem a gerar os escolhos deste difícil momento da Nação, inda entregue ao discurso populista duma democracia ausente e distante, a reboque de interesses que em nada condizem com as reais necessidades e expectativas da população. Avante Brasil!

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Edison Vicentini Barroso – magistrado e cidadão brasileiro.

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Sobre o autor
Edison Vicentini Barroso

Desembargador em São Paulo. Mestre em Direito Processual Civil pela PUC/SP. Magistrado

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