Investimentos em novas tecnologias x bancários desempregados

Leia nesta página:

Vários bancos estão investindo fortemente em novas tecnologias e serviços, principalmente via telefonia celular. Na contramão desses investimentos, mostra-se rotineira a onda de demissões e redução salarial que ocorre nos bancos de forma geral.

Conforme noticiado recentemente no Jornal Valor Econômico, vários bancos, tais como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, estão investindo fortemente em novas tecnologias e serviços, principalmente via telefonia celular.

Para se ter um exemplo prático, dados divulgados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), em 2013, dão conta de que 47% das transações bancárias foram feitas na internet ou por meio de dispositivos móveis. Pelos caixas automáticos passaram 23% das operações. Isso teria modificado o papel das agências, que, no ano passado, foram responsáveis por apenas 10% dos negócios.

Na contramão desses investimentos, mostra-se rotineira a onda de demissões e redução salarial que ocorre nos bancos de forma geral, conforme divulgado pelos noticiários.

Para se ter uma ideia, dados divulgados no ano de 2013 pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeior) revelam que os bancos brasileiros contrataram 30.417 bancários no acumulado do ano até setembro e desligaram 33.177 trabalhadores no mesmo período, a pesquisa ainda aponta que o salário médio dos admitidos pelos bancos entre janeiro e setembro foi de R$ 2.914,63, contra o salário médio de R$ 4.594,83 dos demitidos.

Não é difícil perceber que o maior interesse dos Bancos é obviamente a redução dos custos, já que uma transação efetivada pelo celular ou via internet é, indubitavelmente, muito mais barata do que a presencial, em uma agência.

Mais quem paga a conta? Infelizmente tem sido o trabalhador bancário, que vem perdendo seu posto de trabalho de forma abrupta e ilegal, uma vez que essas inovações estão ocorrendo sem qualquer acordo e/ou diálogo com os Sindicatos da Categoria, inexistindo, portanto discussão acerca de criação de mecanismos de proteção ao emprego, realocação de trabalhadores e melhores condições de trabalho, o que não pode ser tolerado.

A necessidade de modernização através da implementação de novas tecnologias é indiscutível, entretanto, tal fato jamais pode ser feito de forma a prejudicar a classe trabalhadora, causando desemprego e, portanto, retrocesso para toda a Sociedade.

Em que pese nossa cultura um tanto quanto atrasada resistir às mudanças tecnológicas, estamos diante de um caminho inevitável, mas para tanto toda a Sociedade deve estar preparada, o que não se verifica na prática, principalmente, no setor bancário, já que hoje, apesar de todo o avanço tecnológico, convivemos diariamente com agências lotadas, filas intermináveis e mau atendimento, pois os clientes preferem o atendimento físico, humano.

Vale acrescentar que toda essa tecnologia que os bancos estão introduzindo traz muitas dúvidas e incertezas, sobretudo quanto ao quesito “confiabilidade”, já que os dados ficam armazenados na chamada “tecnologias das nuvens”, sem contar que o uso da tecnologia é infinitamente mais barata para os bancos, mas a recíproca não é verdadeira no que tange aos usuários, que pagam tarifas caríssimas para a realização de simples serviços bancários.

Diante do cenário apresentado, impossível não criticar a forma como os bancos vem praticando inovações tecnológicas em detrimento de seus funcionários, almejando tão somente a redução de custos e o aumento dos lucros, inobservando o direito dos trabalhadores bancários com constantes demissões, inclusive em massa, com o fechamento de várias agências, sob o pretexto da necessidade de modernização do setor.

Sem contar que essas inovações tecnológicas intensificaram sobremaneira o ritmo de trabalho dos trabalhadores bancários que se mantém empregados, além de impor maior controle e pressão no ambiente de trabalho, o que vem provocando um maior adoecimento da categoria, inclusive no que diz respeito aos problemas psíquicos, que pela primeira vez superaram os casos de LER/DORT, conforme dados divulgados pelo Ministério do Trabalho.

Por fim, resta uma indagação: será que o avanço tecnológico em desarmonia com os direitos dos trabalhadores trará realmente avanços para a Sociedade ou será que os banqueiros, mais uma vez, estão utilizando a desculpa da modernização para impor sua forma de capitalismo selvagem, em detrimento dos seus trabalhadores e de toda população que utiliza seus serviços?

Assuntos relacionados
Sobre as autoras
Michele Sezini da Cruz

Advogada com especialização em Processo e Direito do Trabalho, atuante nas áreas cível e trabalhista.

Michele Sezini

Advogada especializada em direito e processo do trabalho, atuante há mais de 10 anos nessa área, principalmente na defesa dos trabalhadores bancários.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos