As carpideiras de Eduardo Campos

18/08/2014 às 15:03

Resumo:


  • A imprensa transformou a morte de Eduardo Campos em espetáculo eleitoral

  • Marina Silva se apropriou do caixão do morto para fins políticos

  • Jornalistas políticos contribuem para a decadência dos regimes democráticos ao promoverem interesses eleitorais

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

Com ajuda da mídia, velório de Eduardo Campos foi transformado em show de horrores para beneficiar eleitoralmente Marina Silva.

A imprensa, esta maravilhosa devoradora de cadáveres que também adora futebol, sexo e escândalos financeiros (e de esconder escândalos envolvendo tucanos, no caso do Brasil) conseguiu transformar a morte de Eduardo Campos num show de horrores. Tudo fez para envolver o respeitável público no novo clima eleitoral sugerido pela tragédia.

Com um olho na imprensa e outro nas  pesquisas eleitorais, Marina Silva se apropriou descaradamente do caixão do morto e foi até fotografada sorrindo debruçada sobre o mesmo. Aos jornalistas disse que teve uma premonição divina que a salvou, pois poderia estar no mesmo avião. 

O filho imberbe de Eduardo Campos, órfão de pai, vai sendo transformado pelos jornalistas herdeiro político de Eduardo Campos. As qualidades laboriosamente auto-lapidadas pelo falecido em décadas de atividade pública vão sendo atribuídas ao filho sem que ele precise fazer qualquer esforço pessoal ou demonstração de atividade virtuosa. A viúva de Campos, com um bebê de colo nos braços, é monopolizada por aqueles que querem utilizá-la para fins eleitorais. Alguns jornalistas já cogitam o nome dela para ser vice de Marina Silva. De primeira-dama de um ex-governador a viúva vai sendo catapultada ao centro da disputa partidária pelo poder político como se tivesse a experiência necessária. 

É assim que os regimes republicanos democráticos entram em decadência e se transformam e tiranias oligárquicas. Ironicamente, os jornalistas políticos que se esforçam para rebaixar o velório de Eduardo Campos a um clipe de propaganda eleitoral para poder elevar o status da viúva e de seu jovem filho órfão, são profundos conhecedores de Aristóteles. 

Lula e Dilma também foram ao velório. Ao contrário de seus adversários, os petistas procuram manter alguma dignidade. 

Marina Silva disse aos jornalistas que luta contra o regime chavista brasileiro. Apesar de não haver qualquer evidência concreta de que o PT governe de forma bolivariana (controlando e congelando preços, estatizando supermercados e fábricas de bens de consumo, censurando a imprensa, prendendo desafetos e atacando de maneira sistemática os EUA) a imprensa deu destaque às palavras da candidata do PSB porque ela disse exatamente o que os donos dos jornais queriam ouvir. O oportunismo de Marina Silva se encaixou perfeitamente no pragmatismo anti-petista dos Barões da Mídia, que certamente podem desembarcar da canoa empoeirada de Aécio Neves caso o enterro de Eduardo Campos mude o quadro eleitoral em favor da ecologista evangélica. 

Aécio Neves e José Serra, inimigos mortais que sabotam um ao outro usando todos os recursos jornalísticos à sua disposição, também foram ao velório de Campos. Ambos tomaram o cuidado de serem fotografados com expressões de dor e compenetração. Serra me pareceu bem mais sofrido do que Aécio Neves, não se sabendo exatamente se esta dor deriva da morte do colega morto ou de sua própria morte política anunciada pela instalação da CPI do Metrô/CPTM.

E o falecido? O que Eduardo Campos diria para a colega que supostamente se salvou com ajuda de Deus e não o avisou para evitar aquela viajem de avião? O que ele falaria dos jornalistas que transformaram seu velório num espetáculo de especulações eleitoreiras? Ele pediria ao filho para ter cuidado com as carpideiras midiáticas, pois para eles os membros daquela família podem ter menos valor político vivos do que tragicamente mortos? Infelizmente os cadáveres não falam e aqueles que por Eduardo Campos deveriam e poderiam falar tem outros interesses que precisam cuidar usando o enterro dele.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

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