O livro é um “ensaio” sobre o discurso: sua importância, seu poder. Foucault inicia seu livro falando que “a produção do discurso é controlada, selecionada, organizada e redistribuída por procedimentos que conjuram seus poderes e perigos, dominam seu acontecimento aleatório, esquivam sua pesada e temível materialidade”. Isso dito, ele começa a trabalhar e a relatar os procedimentos de controle e delimitação do discurso (exterior – sistemas de exclusão; interior – discursos exercem um controle sobre si próprios).
Sobre os sistemas de exclusão, existem, segundo Foucault, três sistemas que excluem a validade de um discurso: interdição (que possui três facetas – tabu do objeto, ritual da circunstância e exclusividade do sujeito que fala), separação/rejeição (pensar diferente dos “poderosos”) e o sistema histórico, institucionalmente constrangedor.
Sobre as interdições, o filósofo afirma que revelam a ligação do discurso com o desejo e o poder. Sobre a separação/rejeição, afirma que atua na manutenção da censura que a escuta exerce. E separa várias páginas para explorar o sistema histórico, tido como o mais forte no quesito exclusão do discurso.Acerca do sistema histórico de exclusão, Foucault comenta que o estilo, o “layout” do discurso aceito mudou conforme as sociedades. Exemplos que ele deu foram os gregos do séc. VI a. C.(discurso verdadeiro era pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido – importava o que era o discurso), depois, os do séc. VII a. C.(discurso verdadeiro: sentido do discurso, sua forma, seu objeto, sua relação e referência – importava o que o discurso dizia) e tantos outros. Ele afirma que, a partir de Platão, a vontade de um discurso verdadeiro, a vontade de verdade, tornou-se tão importante que seria imprescindível estudar também sua evolução no tempo.
Foucault afirma também que a vontade de verdade tende a exercer sobre os outros discursos uma espécie de pressão como que um poder de coerção. E que, para poder ser julgada como certa ou errada, uma proposição precisa pertencer a uma disciplina, o que ele chama de encontrar-se “no verdadeiro”. Mas para tal essa proposição precisa inscrever-se em certo horizonte teórico. Como fazer isso? Com o comentário? Não, pois ele limitava o acaso do discurso, tornando-o sempre igual. Com o princípio do autor? Não também, porque ele também limita o acaso com uma individualidade do discurso.
O princípio relativo e móvel foi o indicado pelo filósofo como o correto, já que permite construir conforme um “jogo restrito”. Fazendo um adendo a isso, Foucault afirma que “é provável que não se possa explicar o papel positivo e multiplicador do discurso se não se levar em conta sua função restritiva e coercitiva”. E então afirma que a forma mais superficial e visível desses sistemas de restrição é o culto ritualístico, ou seja, o ritual.
Sobre o discurso, Foucault explora dois tipos diferentes de formas de disseminação do discurso na humanidade: a sociedade de discurso e a doutrina. Na sociedade de discurso o número de indivíduos que falavam o texto era limitado e o discurso só podia circular e ser transmitido entre eles. Já na doutrina, há uma tendência à difusão do discurso, partilha de um mesmo conjunto de discursos, reconhecimento das mesmas verdades, aceitação de regra de conformidade com os discursos validados e uma proibição a certos tipos de enunciados. Com esses argumentos, o filósofo explica o poder de uma doutrina em detrimento do discurso da sociedade de discurso, visto que, na doutrina, as pessoas tinham a impressão de estarem fazendo parte do discurso, o mesmo não ocorrendo na outra forma de discurso.
Foucault também comenta sobre a veneração que o discurso ganhou ao longo dos séculos e da relação entreessa veneração e o temor do discurso aberto e, decorrente disso, a criação de instrumentos de dominação do discurso (limites, interdições, supressões e fronteiras). Para a análise do temor deve-se, segundo Foucault, questionarmos nossa vontade de verdade, restituir ao discurso seu caráter de acontecimento e suspender a soberania do significante. Para tal, o filósofo apresenta um método, que consiste de inversão, descontinuidade, especificidade e exterioridade. A inversão está relacionada à vontade de verdade, à rarefação do discurso, destruindo todos aqueles discursos mentirosos. A descontinuidade é o tratamento que deve ser dado aos discursos: práticas que se cruzam, se ignoram ou se excluem. A especificidade regulariza o discurso. E a exterioridade fixa as fronteiras do discurso.
Acerca do pensamento filosófico Foucault afirma haver três filosofias: do sujeito fundante (anima as formas vazias da língua, fundamenta proposições – “o sujeito fundante não precisa passar pela instância do discurso”), da experiência originária (alguma experiência antecedente a uma regra escrita que fez surgir pensamentos e idéias que deram origem ao acontecimento escrito) e da mediação universal (todas as coisas e discursos são intercambiáveis; um discurso pode ser explicado por outro; discurso: reverberação da verdade nascendo diante dos olhos). Com isso, ele afirma que o discurso se anula em sua realidade, se inscrevendo na ordem do significante.
Foucault encerra seu livro falando de duas análises sobre o discurso, que, segundo ele, devem alternar-se, apoiar-se reciprocamente e completar-se: análises crítica (sistemas de recobrimento do discurso e princípios de ordenamento, rarefação e exclusão do discurso) e genealógica (séries de formação efetiva do discurso e domínios de objetos – “positividades”).
Com isso Foucault termina seu livro, dizendo que “a análise de um discurso não desvenda a universalidade de um sentido, mas mostra rarefação e poder de afirmação”.