O racismo no futebol

01/09/2014 às 15:30
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O Estado brasileiro só deve agir mediante provocação televisiva?

A reação da imprensa brasileira ao caso de racismo que ocorreu durante um jogo de futebol no Rio Grande do Sul foi intensa. O resultado foi imediato. Algumas das pessoas que ofenderam o goleiro do Santos foram identificadas e denunciadas à Polícia. O Grêmio punido com a desclassificação na Copa do Brasil pela CBF e o Presidente da FIFA elogiou a solução dada ao incidente.

A exagerada indignação da mídia contra os torcedores racistas e a punição imposta ao Grêmio ajudaram a banir o racismo do futebol? Acredito que não. No limite este carnaval ajudará a esconder problemas mais graves que existem na sociedade e no próprio futebol brasileiro. 

O racismo nasceu e cresceu com o Brasil. No princípio de nossa história centenas de tribos indígenas foram desmanteladas. Os índios eram sistematicamente caçados, escravizados, mortos e expulsos de suas terras pelos colonos para que as mesmas fossem cultivadas pelos negros-coisas trazidos da África. Os descendentes de negros e índios são a maioria da população, mas negros e pardos tem menos oportunidades de enriquecer do que brancos.

Nos campos de futebol o racismo também é um fato duradouro. Quem prestar atenção à maneira como as PMs tratam os torcedores considerados incômodos verá algo bem mais grave do que o que ocorreu no Rio Grande do Sul. Não estou aqui defendendo os torcedores racistas do Grêmio, nem tampouco dizendo que a punição imposta ao clube foi injusta. Quem erra deve ser processado e julgado na forma da Lei. O problema é que o linchamento midiático dos torcedores racistas e do seu clube não ajudarão a minimizar a brutalidade racista das PMs nos estádios. 

O preço dos ingressos nas novas arenas é proibitivo para a esmagadora maioria dos brasileiros. Curiosamente, os que ganham menos e ficarão afastados dos estádios são justamente os negros e pardos. O branqueamento dos estádios de futebol – fenômeno que ocorreu durante a Copa do Mundo - não é uma espécie de racismo?

Quem frequenta estádios de futebol é transportado para uma terra sem Lei. Durante partidas do meu time, por exemplo, já vi traficantes vendendo maconha e torcedores fumando a substancia até ficarem completamente alheios à partida. A repressão ao tráfico e ao consumo de drogas não ocorre dentro dos estádios. O Grêmio foi punido. Os torcedores racistas do clube estão sendo processados. E os outros crimes (como o tráfico e o consumo de drogas nos estádios e a prevaricação dos policiais que não combatem estes crimes durante as partidas de futebol) serão igualmente punidos? Provavelmente não.

Quantos presidentes de clubes grandes de futebol são negros? Não conheço nenhum. Acompanho o futebol há mais de 40 anos e ainda não vi negros comandando clubes grandes de futebol. As Federações Estaduais e a CBF também são tradicionalmente comandadas por brancos. Racismo evidente e, no entanto, não percebido pelos telejornalistas esportivos que exigiram a punição do Grêmio e dos torcedores gaúchos que ofenderam Aranha. Telejornalistas que, aliás, são quase sempre brancos.  

Não está na hora das cotas raciais serem implantadas no jornalismo esportivo e nas direções dos clubes, das federações e da CFB? Porque ninguém fez esta pergunta ao goleiro do Santos nas diversas entrevistas que ele deu após ser ofendido no Rio Grande do Sul?

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Artigo ampliado e corrigido em razão da evolução dos fatos.

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