Ontem durante o debate Aécio Neves atacou Dilma Rousseff, poupando Marina Silva de qualquer incomodo. A conduta do tucano despertou minha atenção por dois motivos. Primeiro porque ele supostamente representa de uma facção política que se pretende laica e, portanto, deveria ter mais afinidades com uma candidata petista do que com uma adversária evangélica. Segundo porque, mesmo se ignorarmos a questão religiosa, quem ameaça a ida do tucano para o segundo turno é Marina Silva e não Dilma Rousseff. A disputa eleitoral foi embolada pela morte de Eduardo Campos, mas a verdade é que desde sempre as pesquisas mostram a candidata do PT num eventual segundo turno.
Aécio Neves acredita mesmo que pode ir ao segundo turno com Marina Silva ou sua conduta expressa apenas um desejo mórbido dos tucanos e de seus aliados de destruir a máquina petista? Usei a expressão “máquina petista” de propósito porque ela aparece no discurso dos principais adversários do PT no Congresso Nacional e na imprensa [link 1, link 2, link 3, link 4]
A expressão remonta a forma depreciativa como a imprensa tratou o preenchimento de cargos durante o primeiro governo Lula [link 5].
Impossível rastrear até a origem para saber quem foi que criou a expressão “maquina petista”. Há dezenas de milhares de referências à mesma na internet. Centenas de milhares de linkes existem quando buscamos a expressão “máquina do PT”. Quem quer que tenha criado a expressão, porém, não percebeu a ironia que ela representa.
O movimento dos destruidores de máquinas ocorreu na Inglaterra do século XVIII. Ned Ludd (operário semi-idiota do Leicestershire que deu nome ao movimento luddista), foi o primeiro trabalhador a quebrar máquinas que economizavam mão de obra. Segundo Eric Hobsbawm “O valor desta técnica era evidente, tanto como meio de fazer pressão nos empregados, como de garantir a solidariedade essencial dos trabalhadores” (Pessoas Extraordinárias, Paz e Terra,1998, p. 19) .
Ao final do texto citado, o historiador inglês se pergunta se “Podem o tumulto e a quebra de máquinas, contudo, deter o avanço do progresso técnico?” Sua resposta é exemplar “É patente que não se pode deter o triunfo do capitalismo industrial como um todo. Numa escala menor, no entanto, eles não são de maneira alguma a arma desesperadamente ineficiente que se tem feito parecer.” (Pessoas Extraordinárias, Paz e Terra, 1998, p. 28).
Por mais críticas que se possam fazer ao PT, as estatísticas estão aí para provar o sucesso das administrações petistas. O PIB brasileiro em 2003 foi 1,5 trilhão de reais [link 6] . Em 2013 nosso PIB foi 4,84 trilhões de reais [link 7]. O PIB do país quase triplicou sob as administrações petistas. Lula e Dilma Rousseff conseguiram aumentar a renda dos trabalhadores brasileiros e retirar da miséria dezenas de milhões de pessoas. A fome deixou de ser um fenômeno social importante no Brasil nos últimos anos. Esta é a “máquina petista” que Aécio Neves e seus neoluddistas querem destruir? Não me parece que sua destruição vá prejudicar apenas os petistas.
O crescimento colossal do PIB brasileiro na última década e meia beneficiou os trabalhadores. Mas a verdade é que quem mais se beneficiou do bom desempenho da economia brasileira foram os empresários. E não estou aqui falando apenas daqueles que celebraram contratos para tocar obras públicas federais. Os bancos brasileiros lucraram horrores nos últimos anos. Em nosso país nem um único banco precisou de socorro emergencial do governo. As empresas de comunicação também aumentaram seu faturamento em razão dos lucros reais ou imaginados por seus anunciantes. O setor hoteleiro ganhou um bom dinheiro graças a Copa do Mundo e certamente continuará a ter lucro em razão das boas perspectivas do turismo. Um ou outro setor industrial sofreu em razão da concorrência externa, mas isto não pode ser creditado a “maquina petista”. A concorrência faz parte do jogo e o protecionismo exacerbado apenas prejudicaria a economia como um todo.
Na festa de 2 anos do filho de um amigo há duas semanas fui abordado por um eleitor de Marina Silva. Ele me repetiu a mesma lenga-lenga dos tucanos. Disse-me ele que era preciso derrotar a “máquina petista”. Ele certamente está entre aqueles que se beneficiaram em razão do bom momento da economia em razão das virtudes do governo que pretende destruir. A irracionalidade dele me deixou irritado e na oportunidade não consegui entender a natureza luddista de seu comportamento.
O luddismo político do PSDB, de Aécio Neves e seus aliados e até mesmo de alguns eleitores de Marina Silva (senão dela própria) é evidente. Quem nada tem a oferecer ao Brasil e aos brasileiros, exceto recessão, desemprego e redução do salário mínimo querem apenas destruir a “máquina petista” como se ela fosse a fonte de todo mal. Mesmo que não consigam realizar seu intento (para o bem do país e dos brasileiros que precisam de trabalho e renda), eles certamente estão em condição de produzir estragos. Afinal, como disse Eric Hobsbawm numa escala menor os destruidores de máquinas “não são de maneira alguma a arma desesperadamente ineficiente que se tem feito parecer.” A parcial deterioração dos indicativos econômicos brasileiros durante o período eleitoral são a prova disto.
Aécio Neves e Marina Silva continuam adoçando a boca dos especuladores internacionais com o retorno do neoliberalismo. Em razão disto, fazem o país sangrar. E os tubarões europeus e norte-americanos, sentindo o cheiro de sangue na água, tentam paralisar o país para poder devorá-lo mais facilmente caso Dilma Rousseff seja realmente derrotada. Mesmo que Dilma Rousseff saia vitoriosa nesta disputa a economia do país terá sido prejudicada sensivelmente por Aécio Neves e seus neoluddistas.