Da França de Napoleão à fraqueza de Hollande

12/09/2014 às 17:21
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A imprensa brasileira apoia Marina Silva como se não soubéssemos o que a versão francesa dela tem feito ao povo da França.

Napoleão é objeto de disputa dentro e fora da França. Mas nem mesmo os seus maiores inimigos lhe negam a grandeza. Ele elevou a França de república pós-revolucionária frágil e suscetível a ser invadida a um agressivo império expansionista transformando-se no homem do século como diz Álvares de Azevedo em seu livro “Noites na Taverna”. A imensa sombra de Napoleão tem se projetado historicamente sobre todos os homens que comandaram a França desde então. Não foram poucos os presidentes franceses que depositaram coroas de flores no seu túmulo e o utilizaram para fins políticos.

O herói de Austerlitz foi transformado numa figura mitológica pelos franceses. Ele representa o desejo que todos seus sucessores tiveram de transformar a França no pináculo da civilização ocidental, no exemplo paradigmático a ser venerado e seguido pelas outras nações. Os fracassos de Napoleão são sempre ignorados ou minimizados pelos franceses. No limite eles sempre se recusam a discutir qualquer assunto que considerem embaraçoso.“Je ne vais pas parler de ce sujet” dizem os franceses mudando o foco da indesejada discussão.

Todavia, ninguém amadurece se escondendo de suas faltas. Nenhum povo pode se superar enquanto se recusar a discutir as falhas dos seus governantes. Anão não é o Estado que não dispõe de armas, mas aquele que sempre incorre nos mesmos erros. Napoleão está morto e não pode corrigir os erros que cometeu. O mesmo não se pode dizer do herdeiro dele noPalais de l'Élysée . François Hollande está vivo e se recusa a corrigir os equívocos grotescos de seu governo.

Eleito com um programa socialista, Hollande aderiu paulatinamente ao neoliberalismo. Há bem pouco tempo o presidente francês demitiu seu último ministro que tentava resistir ao poder avassalador dos Bancos que destruíram os empregos de milhões de franceses. A França é hoje governada por uma versão de Marina Silva. Em razão disto, só duas coisas restaram aos desempregados franceses: ficar no país e sofrer ou emigrar (inclusive para o Brasil) para poder trabalhar. Hollande tem sido acusado de odiar os pobres, coisa muito estranha num homem que se dizia socialista.

O conflito na Ucrânia provocou uma grave cisão entre a França e a Alemanha. Os alemães se recusam a apoiar os nazistas que, com apoio da Casa Branca, chegaram ao poder em Kiev e iniciaram uma guerra de extermínio contra os ucranianos de origem russa. Berlin tem procurado evitar hostilizar a Rússia, país que com justiça se recusa a admitir os massacres de russófonos em solo ucraniano. A França, por sua vez, aderiu de maneira inconsequente às sanções exigidas pelos EUA em favor de Kiev contra a Rússia. François Hollande  suspendeu a entrega de uma embarcação de guerra fabricada na França aos russos. A Rússia pagou a encomenda e protesta contra a injusta protelação de Paris.

O embrião da Comunidade Européia foi a união comercial entre França e Alemanha. O pacto que selou uma paz duradoura entre os dois países ajudou-os a recuperar suas economias após o fim da II Guerra Mundial. A União Européia será certamente destruída se um abismo for aberto entre estes dois países. A posição da Alemanha no conflito da Ucrânia é bem mais pragmática e realista que a da França, país que parece determinado a se submeter ao desejo dos EUA de iniciar uma nova guerra fria contra a Rússia.

Hollande parece incapaz de perceber a fragilidade da França caso a União Européia seja destruída. Além disto, a submissão aos EUA de um governante francês que poderia ostentar o título de “herdeiro de Napoleão” é vergonhosa. Nos últimos meses a rejeição ao governo François Hollande disparou, tendo chegado à marca de 70%.

O presidente francês, porém, se recusa a mudar o curso de sua ação. Hollande parece estar totalmente comprometido com a Casa Branca e com a salvação dos banqueiros, mesmo que isto provoque a explosão da União Européia e a implosão política e social da França. Ele não discute as fraudes cometidas no seu governo e se esquiva quando o assunto é o desemprego. “Je ne vais pas parler de ce sujet” parece ser a única doutrina política e econômica do conquistador de atrizes que habita o  Palais de l'ÉlyséeIndignado com o que tem ocorrido mandei hoje um Twitter para o presidente francês:

@fhollande est une merde socialiste. Il se soumet aux Banques et lèche les bottes des soldats américains. Napoléon vomit vers embarrassé!”

Fiz o que poderia fazer. Doravante “Je ne vais pas parler de ce sujet”.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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