Debate da Band revelou duas personalidades distintas

16/10/2014 às 15:54
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Ontem Aécio projetou agressão e Dilma exalou tensão. O resultado foi um debate cansativo.

Não precisei assistir muito o debate da Band para compreender sua dinâmica.

A agressão é um princípio fundamenta que orienta a estratégia discursiva de Aécio Neves. Ele não quer convencer o eleitor com argumentos racionais, nem tampouco se esforça para rebater os argumentos racionais utilizados por Dilma Rousseff. O candidato tucano só faz uma coisa: agredir e continuar agredindo para mostrar sua virilidade ao telespectador e cansar a adversária que ousa o enfrentar.

Aécio fala olhando para os lados, raramente olha para a frente. O olhar vidrado dele, porém, indica que ele só é capaz de olhar para dentro de si mesmo. Ele não se preparou para compartilhar qualquer emoção ou conhecimento com o mediador, a interlocutora e o público. O ego dele se expande através de frases curtas, ríspidas, previamente ensaiadas, sem que qualquer argumento da adversária afete sua verdade. Aécio comporta-se como um fanático voltado para dentro de si mesmo, que procura irradiar a única verdade que admite conhecer: a sua própria verdade.

Isto fica evidente quando, por exemplo, Dilma Rousseff critica o governo dele em Minas Gerais e o governo de FHC. Aécio rejeita a crítica como se o simples fato de a rejeitar fosse capaz de invalidar o argumento racional levado à discussão. No mundo de Aécio só existe a virtude dele. Nada do que ele fez foi mal feito, nenhum erro FHC cometeu. Sua adversária foi incapaz de cometer acertos.

Impossível não comparar Aécio no debate de hoje com Paulo Maluf debatendo em eleições passadas. Como Maluf, Aécio age calculadamente como se fosse um autista: ele só está contato com a sua própria realidade interior. E, portanto, é incapaz de aceitar qualquer tipo de argumento ou de crítica que lhe seja feita a partir do exterior. Porque o que lhe é exterior simplesmente não existe, ele presume que está sempre certo e que não deve qualquer satisfação ao mediador, ao interlocutor e ao público.

O truque teatral que Aécio Neves usou no debate é infantil e pode ser facilmente percebido. Além de agredir a adversária, de se fechar no seu próprio mundo auto-referente como um autista, Aécio faz de tudo para intimidar Dilma. O candidato tucano age como se já tivesse sido eleito por deus, pairando sobre todos como se ele fosse um "poder legítimo" e sua adversária a "oposição ilegítima".

Até mesmo José Serra (de quem nunca gostei) conseguiu ser mais simpático e aberto que Aécio Neves nos debates presidenciais em que participou. Dilma Rousseff não está debatendo com um homem e sim com uma ostra. Mas ao contrário das outras ostras, Aécio não se fechou em torno de uma pérola muito valiosa. Ele tranca dentro de si um imenso vazio. Talvez isto explique sua exagerada agressividade.

O perfil que o candidato tucano construiu para si mesmo neste debate da Band não foi o de um homem equilibrado que se candidatou a presidente porque ama profundamente o povo que pretende governar. Ele apenas se mostrou como alguém obsedado por vencer a qualquer custo. O encontro de hoje não foi capaz de me convencer a votar em Aécio Neves. Quando ver a foto dele na urna eletrônica em alguns dias vou lembrar de que ele me pareceu alguém mentalmente perturbado que precisa ir para casa se tratar. Se for eleito Aécio vai maltratar o país e isto ele não fará com o meu voto.

Dilma Rousseff procurou usar argumentos racionais. Se esforçou bastante para mostrar as virtudes de seu governo e os equívocos da gestão de Aécio Neves em Minas Gerais e da presidência de FHC nos anos 1990. Ao insistir em atacar FHC a candidata do PT se distanciou um pouco do eleitorado que cresceu e chegou à maioridade nos últimos 12 anos. Aécio Neves parece acreditar que pode cativar os jovens com sua agressiva virilidade. Impossível dizer qual dos dois vencerá a eleição entre os eleitores com menos de 25 anos.

Até o momento que desliguei a eleição pude perceber que Dilma ficou irritada com as agressões de Aécio. Mas ele foi capaz de manter a civilidade e isto conta pontos. Em alguns momentos a petista comete o erro mortal de reagir ao discurso auto-referente de Aécio. Seria bem mais fácil ela fazer ignorar o "não diálogo" proposto por ele mostrando ao telespectador que o tucano não foi ao estúdio da Band para debater.

Também notei Dilma muito tensa, como se estivesse "afivelando o capacete e afiando a katana" após uma campanha vitoriosa no primeiro turno para assegurar a impossibilidade de derrota no segundo. Gosto de SunTzu, mas ao estudar a obra de Hannah Arendt  me convenci de que Política não é uma Guerra (assim como a Guerra não é e nunca será a continuação da Política por outros meios como disse Karl von Clausewitz). A Política só existe no delicado espaço de consenso voluntariamente construído por pessoas diferentes. A Guerra arrasa este espaço e cria uma terra de ninguém entre inimigos mortais. Portanto, num debate um adversário precisa se defender das agressões do outro, mas também precisa descontrair para criar pontes entre si e o público. Ontem Aécio projetou agressão e Dilma exalou tensão. O resultado foi um debate cansativo. Dilma precisa sorrir e, principalmente, ridicularizar Aécio rindo. 

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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