A imprensa conseguirá manter seu presidente cachorro-loco na coleira?

20/10/2014 às 12:39
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Quem consegue vencer nem sempre sabe como tirar proveito da vitória. Este tem sido o caso da imprensa brasileira ao longo da história recente.

Há pelo menos um século a imprensa brasileira age como se fosse um partido político. Em defesa de seus interesses oligárquicos aqueles que controlam os veículos de comunicação estão mais preocupados em interferir, controlar ou manipular o campo político do que em fazer jornalismo. A natureza panfletária da imprensa sempre se torna evidente no período eleitoral. Este ano não foi diferente.

Nos últimos meses, apesar de todos os seus defeitos, Aécio Neves foi visivelmente ajudado pelos principais veículos de comunicação de duas formas:

a) a imprensa construiu um contexto discursivo anti-petista e de decadência moral do governo Dilma que justifica aos olhos do público as acusações genéricas de corrupção repetidas à exaustão por Aécio na sua propaganda, nos debates e, é claro, nas entrevistas que ele dá à imprensa (que em momento algum o incomodou pessoalmente em razão das graves acusações que pesam contra ele);

b) nos últimos 4 anos Dilma Rousseff foi diariamente massacrada pelos telejornais, as virtudes do seu governo foram escondidas ou depreciadas. Quando foi entrevistada pelos jornalistas dos maiores veículos de comunicação a presidenta foi hostilizada e uma jornalista chegou a ameaçá-la com o dedo em riste. 

A eleição ainda não está decidida, mas as chances de Aécio a esta altura infelizmente são maiores do que as de Dilma. Como ocorreu no passado, a imprensa conseguiu colocar um outro cachorro loco na presidência. Collor foi construído como caçador de Marajás e se elegeu presidente porque a mídia alimentou o medo de que milhares de empresários fugiriam do país de Lula fosse eleito em 1989. Aécio tem sido um Marajá desde os 17 anos e tudo indica que conseguirá chegar ao poder na onda anti-petista que foi alimentada intensamente pela imprensa.

Historicamente nenhum cachorro louco colocado pela imprensa no poder deixou de prejudicar os interesses oligárquicos dos senhores de engenho que moem notícias nas suas capitanias hereditárias midiáticas. O golpe de 1964, instigado pelos donos de jornais e de rádios se voltou economicamente contra os mesmos, pois os militares priorizaram o desenvolvimento da televisão. Em algum momento Collor acabou afetando os interesses políticos e econômicos dos donos das redes de TV e apeou do poder com ajuda das mesmas. Um novo cachorro louco está prestes a chegar ao poder com ajuda da imprensa. Como Aécio tratará seus principais aliados no único partido que sai vitorioso das urnas?

O candidato tucano não está acostumado a ser incomodado pela imprensa. Em Minas Gerais ele reinou absoluto, perseguindo jornalistas que ousaram revelar seus podres e alavancando economicamente os jornais e rádios de sua família com dinheiro público. O Brasil não é Minas Gerais, os interesses econômicos dos barões da mídia que estão elegendo Aécio Neves não são identicos aos da família dele. Em algum momento, a besta fera carioca nascida em Minas Gerais, que é capaz de gritar em público com uma mulher correta que foi torturada brutalmente na época em que ele curtia a vida adoidado, terá que ser colocado na coleira. Uma reação brutal dele é previsível. Cachorro louco não gosta de coleira, morde seu dono e geralmente precisa ser abatido.

Se for eleito, quanto tempo Aécio Neves ficará na presidência? Quem criou Aécio Neves conseguirá derrubá-lo antes dele criar um Estado Novo-Neoliberal? Estas meus caros são as perguntas mais importantes neste momento.

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Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

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