Misoginia

19/01/2015 às 09:48

Resumo:


  • O machismo no Brasil alimenta a luta de classes e a violência contra a mulher

  • As "virtudes masculinas" historicamente ligadas ao poder e comando social são marcadas pela virilidade

  • A misoginia reflete a repulsa pela inteligência e sucesso feminino, gerando ódio e violência

Resumo criado por JUSTICIA, o assistente de inteligência artificial do Jus.

O machismo no Brasil alimenta a luta de classes e a violência contra a mulher. A misoginia é um sentimento retrógrado que reflete a repulsa pelo sucesso feminino.

O machismo no Brasil alimenta a luta de classes que está por trás da guerra civil. Os pobres, os despossuídos, os miseráveis alinham-se muitas vezes, indo e vindo para a condição de lumpemproletariado: aqueles totalmente fora do sistema produtivo. Além disso, o machismo praticado, especialmente violento contra a mulher, é alimentado por um sentimento atávico (retrógrado, reacionário) que se denomina de Misoginia.

Praticamos as “virtudes masculinas”, sobretudo em direção ao poder e ao comando social, que foram/são marcadas pela viilidade. Os tempos medievais e de colonização – dos Cavaleiros do Rei – eram definidos pela força e imposição física da vontade. Quando se observa os números da violência, concluímos que ainda estamos nessa fase.

O Renascimento tinha como característica o Individualismo, quer dizer, o indivíduo procurava se afirmar e ganhar espaço diante de uma forma-Estado organicista, puxando o sujeito para o centro como se fosse uma máquina: força centrípeta. Contudo, contraditoriamente, o mundo e a produção estavam em expansão: força centrífuga. Assim, ao indivíduo cabia romper os elos religiosos, culturais, institucionais em direção ao inusitado. O homem do Renascimento inventou o capitalismo, com o anseio de sair do cinto de castidade moral. Este mundo não condenava a mulher, porém, recolhemos daí um pensamento/traço de cultura da era pré-capitalista.

O que o criador da Ciência Política – o italiano Nicolau Maquiavel – nos ensinou é que a política e a condução do Estado precisam de virtù: mas, eram virtudes republicanas. Maquiavel nunca reduziu essas virtudes à virilidade, à comprovação machista da força física. Pelo contrário, no livro O Príncipe, recomendava não usar desse espediente: “vertu contra furore”. A virtude contra a força.

Ocorre que, na sociedade brasileira, secretada pela exclusão social, econômica, cultural, para sobreviver, faz-se de tudo. Nessa lógica entra a misoginia e a violência social contra a mulher, o negro, o deficiente físico, os homosexuais e todos que possam disputar as migalhas do mercado de trabalho. O homem embrutecido – sem as virtudes de Maquiavel e do Renascimento – volta-se contra todos os grupos sociais que desafiam seu continente mental antiquado. A luta de classes que sempre subjugou o negro, levando-o das senzalas às periferias sociais, foi e é o combustível da guerra civil de todo dia. Mas, mais do que isso, gerou e fortificou o “medo social”. Do grego “misos”, replicou na estrutura societal brasileira como ódio, aversão, compulsão para eliminar, reduzir ou conduzir à condição de “não-ser” todos que sejam diferentes, opositores ou de “suposta ameaça”.

Quanto à mulher, a misoginia reflete a repulsa pelo que significa o imaginário e a realidade feminina: já em disputa ganha contra o machismo. Porque, ao contrário da truculência, historicamente, a mulher impôs-se pela inteligência e astúcia. Exatamente como pregava Maquiavel. O ódio, portanto, decorre da incapacidade de lidar com o sucesso dos outros. Mais ainda se o sucesso “perdido” pelo misógeno for conquistado por alguém que ele quer como inferior e dominado. O que não sabe é que está predestinado ao fracasso, desde as mitologias gregas. Medusa, Guardiã e Protetora, desdobrava-se em uma centena em seus cabelos de serpente. Desde sempre, Medusa transforma em pedra tudo que pretende transgredir e superar. Quantos pensamentos para um mundo mais moderno e melhor tem a cabeça feminina? Eles não sabem, mas quem move o mundo é a mulher – sempre foi.

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Leia seus artigos favoritos sem distrações, em qualquer lugar e como quiser

Assine o JusPlus e tenha recursos exclusivos

  • Baixe arquivos PDF: imprima ou leia depois
  • Navegue sem anúncios: concentre-se mais
  • Esteja na frente: descubra novas ferramentas
Economize 17%
Logo JusPlus
JusPlus
de R$
29,50
por

R$ 2,95

No primeiro mês

Cobrança mensal, cancele quando quiser
Assinar
Já é assinante? Faça login
Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Colabore
Publique seus artigos
Fique sempre informado! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos