A presença da filosofia na formação universitária: o olhar da coruja

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Trata-se de um Artigo/Ensaio escrito para discutir a relevância dos saberes filosóficos no ensino superior, em especial sua relevância para o curso de Bacharelado em Direito. Saberes que norteiam a reflexão acerca da existência humana.

Neste ensaio viso tecer algumas considerações atinentes ao ensino de Filosofia na formação universitária. Para fazer a  fundamentação pautei a importante presença desta disciplina no ensino superior, e para isso foi fundamental trilhar pelas sendas das temáticas presentes em sala de aula e suas relevantes contribuições para o despertar de um olhar  crítico e reflexivo. Tal estudo tem a orientação do Professor Doutor Rodrigo Matos.

Um dos meus objetivos ao pensar nesse ensaio é discutir a relevância dos saberes filosóficos no ensino supeiror, evidenciar a reflexão acerca do ensino de Filosofia, visando explicitar sua presença no currículo dos diversos cursos universitários em especial sua relevância para o curso de Bacharelado em Direito, entendendo que a formação filosófica permite às pessoas a possibilidade de construir sentido e significado para a realidade de que fazem parte. Acredito que os sabres filosóficos norteiam a reflexão acerca da existência humana, o que envolve a construção de significado para suas ações, para o seu pensar, para a busca de conhecimentos. A partir desta abordagem, vê-se que há intrínseca relação entre o conhecimento filosófico e a formação do sujeito no âmbito acadêmico. Vale salientar que a educação superior não pode exaurir-se no perfil de profissionalização técnica, ela deve servir de base para a formação humana dos estudantes e atentar para a percepção do papel do conhecimento no processo histórico de constituição dos sujeitos.

O conhecimento, em que pesem todas as suas limitações e contradições, é o instrumento de que dispõe o ser humano para dar sentido à sua existência. A Filosofia assume relevante papel ao ser inserida na grade curricular de um curso fora do universo puro da reflexão epistemológica, está presente na formação acadêmica, sobretudo porque reúne elementos que contribuem substancialmente para a formação profissional, na medida em que contextualiza o pensar filosófico nas diversas áreas de conhecimento.

As relações da Filosofia com o mundo acadêmico são insignes porque suas reflexões exercitam o pensar e ensejam em questionamentos da percepção da condição humana. O que faz da Filosofia uma disciplina especial é a sua capacidade de reflexão filosófica que incide na possibilidade de categorizar, questionar e perceber os limites, pressupondo uma provocação para ir além e tencionar as proposições. Isso porque os saberes filosóficos se dão num processo de problematização, discutem o saber e assim estabelecem relação entre o sujeito e a produção do conhecimento, lidam com a razão que presume a categoria de ideia. Esta, categoriza e conceitua, também estabelece significado independente da representação perpassa por todos os campos do conhecimento e se converte na razão. A filosofia tem essa pretensão: estabelecer a dialética, difundir as ideias , estudar toda a realidade ou, pelo menos, oferecer uma explicação exaustiva de uma esfera particular da realidade. As discussões filosóficas da teoria do conhecimento exercem importante efeito sobre as ciências. Conteúdos de Filosofia mostram a razão de ser e estar na organização curricular do ensino superior na medida em que propõem o exercício da subjetividade humana, permitem um pensar na capacidade de ir além dos limites do trabalho técnico. A Filosofia presume a noção de sensibilidade ética das pessoas, isso decorre da percepção da condição humana, do existir, já que o ser humano constitui-se num sujeito interpelado pela história, pela sociedade, pela cultura e pela humanidade.

Pois é impossível negar que a filosofia coxeia. Habita a história e a vida, mas quereria instalar-se no seu centro, naquele ponto em que são advento, sentido nascente. Sente-se mal no já feito.Sendo expressão, só se realiza renunciando a coincidir com aquilo que exprime e afastando-se dele para lhe captar o sentido. É a utopia de uma posse  a distância. ( Merleau-Ponty, em elogio da filosofia. In: ARANHA,2003. P.89).

A justificativa da necessidade dos fundamentos filosóficos no ensino superior encontra-se na finalidade da educação como formação integral das pessoas, uma vez que a academia pressupõe também o fomento e subsidio do desenvolvimento da racionalidade filosófica dos estudantes. Segundo Chauí (1994), “a Filosofia cada vez mais ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro”(p.46).

“ Viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem jamais fazer um esforço por abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso de nossos olhos para guiar nossos passos.”( Descartes, R Carta-prefácio aos Princípios . In: Buzzi, Arcângelo R. Introdução ao Pensar, 2010.p. 38).

As Diretrizes Curriculares estabelecem a presença dos saberes filosóficos em quase todos os cursos universitários, isso traduz a relevância que tem a disciplina. O currículo é um artefato sócio-educacional que agrega o conjunto de conhecimentos que foram eleitos como formativos e seus atos devem veicular uma formação ética, política, estética e cultural de modo que os estudantes possam deles se apropriar, tecendo relações dinâmicas e interativas com o saber. A Filosofia, através de disciplinas como “Introdução à Filosofia” e “Lógica” é matéria comum do ciclo básico da maioria das universidades, isto é, compõe disciplinas que são oferecidas a todos os cursos universitários. Se os conhecimentos científicos nos ajudam a entender as coisas, são os conhecimentos filosóficos que nos ajudam a compreendê-las. O entendimento tem relação muito próxima com a cultura, o sujeito não transcende a superficialidade. A compreensão pressupõe a produção de sentido, ultrapassa o significado e assim estabelece relação entre o sujeito, o objeto  e o contexto. Os conhecimentos filosóficos permitem esforço e processo de sistematização, possibilita tomar consciência. É através do conhecimento filosófico que o sujeito situa as coisas no conjunto de sentidos que norteiam a existência humana, a atribuir-lhes um sentido articulado em sua complexa condição de unidade e de totalidade. Segundo Chauí, (2000) “A Filosofia está voltada para a definição das virtudes morais e das virtudes políticas, tendo como objeto central de suas investigações a moral e política, isto é, as idéias e práticas que norteiam os comportamentos dos seres humanos tanto como indivíduos quanto como cidadãos.”  (p.46).

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Existem diferentes disciplinas da filosofia, as mais centrais e gerais  são : Metafísica, Epistemologia, Ética, Lógica. Segundo Desidério Murcho (1994) “A metafísica estuda problemas relacionados com os aspectos mais gerais da estrutura da realidade, nomeadamente os seguintes: a natureza da verdade; a independência do mundo relativamente à nossa experiência; a natureza da objectividade e da subjectividade; a identidade pessoal; o livre-arbítrio; o sentido da vida; a natureza da modalidade e a existência de mundos possíveis; a identidade, a persistência e a substância dos objectos; acontecimentos e substâncias; universais e particulares; a noção de causalidade e de lei da natureza; problemas conceptuais do espaço e do tempo.” Para Buzzi, (2010) ,”a metafísica é uma ciência construída pela razão... A metafísica desenvolve tematicamente a apreensão conceitual do ser.”  Chauí entende que “metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta: O que é? Este “é” possui dois sentidos: 1- significa existe; 2- significa natureza própria de alguma coisa”.

Voltando à visão de Desidério, “a ontologia é a parte da metafísica que estuda a existência ou o que há. Os temas introdutórios mais comuns no que respeita à metafísica são a identidade pessoal, o livre arbítrio e a persistência dos objectos. Buzzi, (2010), concorda e acrescenta: “a ontologia é a questão do ser! Sua tarefa consiste no esclarecimento do ser.”p.17. Para CHAUÍ, (2006) “ a ontologia estuda as essências antes que sejam fatos da ciência explicativa e depois que se tronarem estranhas para nós.” p. 206. 

A epistemologia estuda problemas relacionados com o conhecimento em geral, nomeadamente os seguintes: a análise de conhecimento como crença verdadeira justificada; a estrutura da justificação cognitiva; o problema do cepticismo; fontes de conhecimento. A ética estuda problemas relacionados com o modo como devemos viver e com o que devemos valorizar. A lógica estuda e sistematiza a argumentação válida.

    

Houve uma enquete em várias universidades em quase todos os países,  inclusive no Brasil, para avaliar a relevância da presença da filosofia na formação acadêmica. Ao realizar essa enquete, a UNESCO constatou que há um consenso a respeito, não apenas da importância, mas da substancial necessidade.  Os cursos superiores necessitam da fundamentação filosófica para provocar o raciocínio, a reflexão, a crítica e compreender que as questões científicas, matemáticas, políticas, religiosas, artísticas, morais e culturais estão embricadas com os saberes filosóficos uma vez que os mesmos fundamentam a história de cada uma desses campos do saber.

As pretensões das ciências pressupõem que elas admitem a existência da verdade, a necessidade de procedimentos corretos para bem usar o pensamento,o estabelecimento da tecnologia como aplicação prática de teorias, e, sobretudo que são válidos não só porque explicam os fatos mas também porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados. Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção, correção e acúmulo de saberes: esses não são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas. O cientista parte dessas questões já respondidas, mas é a filosofia que as formula e busca resposta para elas. (CHAUÍ, 2006.P.19).  

Finalmente, o meu entendimento se ratifica: o ensino da filosofia pressupõe ensinamentos morais ou éticos e virtudes, e nos permite dar sentido às coisas, é no cotidiano que se encontra o mote da questão filosófica uma vez que o comportamento, conduta e ações do ser humano são modelados pelas condições históricas, culturais e sociais em que vive, por isso sua relevância na formação universitária.

REFERÊNCIAS

 ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: Introdução à filosofia. 3 ed. Revista - São Paulo: Moderna, 2003.

 BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar: o ser, o conhecimento, a linguagem – 35 ed. Petrópolis,RJ: Vozes,2010.

 CHAHUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 13º Ed. São Paulo: Ática,2006.

 MURCHO, Desidério Renovar o Ensino da Filosofia, organização de Gradiva, 2004. 

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Sobre a autora
Aloisia Carneiro da Silva Pinto

Possui graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (2001). Especialista em Gestão Pública pela Universidade do Estado da Bahia(2005), Mestrado de Politicas Publicas e Desenvolvimento Regional pela UNEB (inc.) (2008); Psicopedagogia pela UNEB(2010), Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Jorge Amado (2012). Cursos de Extensão: Formação Política e Administrativa pela The George Washington University, EUA(2009), Administração Política e elaboração de Projetos para Municípios pelo Instituto de Assuntos Brasileiros da Universidade George Washington, EUA (2009), Direito Administrativo Planejamento Estratégico na Gestão Pública, pela Fundacao da Universidade Federal do Parana(2010), Processo Legislativo e Direito Financeiro pela Facel,(2011), Responsabilidade Fiscal, Licitações e Contratos na Gestão Pública Fundação da Universidade Federal do Paraná (2011). Atualmente cursando o sexto semestre de bacharelado em Direito.<br>

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A justificativa da necessidade dos fundamentos filosóficos no ensino superior encontra-se na finalidade da educação como formação integral das pessoas, uma vez que a academia pressupõe também o fomento e subsidio do desenvolvimento da racionalidade filosófica dos estudantes. Segundo Chauí (1994), “a Filosofia cada vez mais ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro”(p.46).

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