Pontos de convergência e divergência das principais correntes historiográficas: Escola Metódica, Materialismo Histórico e Escola dos Annales

14/03/2015 às 14:15
Leia nesta página:

Esse artigo expõe uma análise pessoal sobre a visão dos historiadores durante o século XIX e XX e sua influência histórica.

No Século XIX os filósofos começaram a descravizar-se do Idealismo em busca da Ciência da História, no intuito de conhecer as relações de causa e efeito, o chamado conhecimento positivo. Essas novas correntes históricas vão evidenciar diferenças humanas no tempo, e não irão admitir profetizar sobre o futuro. A história científica quer ser objetiva.

No início do século XIX surge a Escola Metódica, positivista, interessada na originalidade de um povo. Sua história possuía uma verdade histórica objetiva, o historiador limitava-se a narrar fatos congelados sem a construção de hipóteses. Já no Materialismo Histórico de Marx, escola que se difundiu de meados do século XIX para o fim do mesmo, compenetrava-se numa verdade subjetiva onde o objeto de estudo na História era considerado uma “engrenagem”: analisada, observada, quantificada e mergulhada em outras realidades, havia uma análise dinâmica dos fatos. No início do século XX, surge a Escola dos Annales que vai esculpir essa verdade subjetiva do Materialismo Histórico, lançando um novo olhar sobre essa pesquisa histórica: seus instrumentos, objetos, objetivos. Vão atrás de respostas e de uma compreensão detalhada deste processo.

O tempo histórico da Escola Metódica era sugerido com um passado congelado, um tempo linear, seus eventos únicos e irrepetíveis não agregavam nada ao presente ou futuro, contado cronologicamente. O materialismo de Marx também acreditava num tempo linear com rompimentos, aonde o fluxo temporal vai contra o futuro. Já a Escola dos Annales, revolucionária, acredita na história como um processo dinâmico, ordenado e sistemático de curta, média e longa duração.

Na escola Metódica o papel do Historiador abarcava as operações sintéticas de agrupamento de fatos da história escrita e também das operações analíticas através da crítica erudita e hermenêutica. O historiador do final do século XIX protagoniza os conflitos sociais, abre mão do fato-evento, pois afiança que a verdade de uma sociedade está na estrutura econômico-social, num real-abstrato, numa estrutura invisível. Depois dos Paradigmas dos Annales o historiador segue uma nova doutrina arrimada na interdisciplinaridade, abrindo assim o leque dos objetos de pesquisa, resultando em uma explicação-compreensão da história.

A pesquisa do Historiador da Escola Metódica é limitada a temas políticos, administrativos, governamentais, diplomáticos e religiosos, chamada história da nobreza. O que diverge totalmente no tema da pesquisa do materialismo histórico, o qual fundamentava sua pesquisa nas relações econômico-sociais, na luta de classes, na produtividade como força que transforma a história. A Escola dos Annales vem mais uma vez aprimorar o tema abordado por Marx, seu tema de pesquisa são as estruturas econômico, social e mental, são objetos imateriais, a história não contada, o cotidiano de um povo.

Como fontes da história a Escola Metódica por ter um compromisso com a história diplomática, tem como objetos de estudo documentos oficiais, eventos políticos, administrativos e religiosos. O que diverge do marxismo, onde suas fontes eram os conflitos sociais, os modos de produção e o movimento dialético. Já a Escola dos Annales por gozar da interdisciplinaridade usa de todas as fontes escritas e pensáveis com um ponto de vista sociológico ajuizado a realizar “trocas” entre história e ciências socais.

A metodologia da pesquisa na escola metódica tem como fórmula a reunião dos fatos, sua restituição cronológica, a crítica necessária para validação da fonte, e limitar-se a contar os eventos documentados, sem deixar influenciar pela sua opinião. Na metodologia materialista o historiador precisava atravessar as relações visíveis e fazer sua reintegração, seguir uma metodologia de conceito, reprodução ideal, baseada nas ciências exatas. A metodologia dos Annales permite a compreensão de qualquer período histórico ou de qualquer sociedade, sua metodologia é justificada em forças visíveis e imutáveis como a geografia e o clima, e forças intangíveis como as formações sociais e tradições. Sua análise é rigorosa e tem por objetivo reduzir a área de incompreensão, através de técnicas de quantificação, séries históricas, comparação, etc.

Realizando uma análise acerca do estudo desenvolvido, observei que todas as escolas buscavam a História-Ciência, a verdade, apesar de usarem caminhos diferentes, que do meu ponto de vista foram todos válidos de acordo com as histórias que queriam contar. O principal objeto de estudo é o homem, como objeto de conhecimento, como intelectual da história. O historiador tem como papel o de “mediador do diálogo”, onde oferece uma interlocução, um conforto, uma localização de si no tempo, esse diálogo do passado nos oferece a esperança de sobreviver à finitude.

Fontes Bibliográficas:

BURKE, Peter. A nova história: seu passado e seu futuro. In: BURKE, Peter (org). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: EDUSP, 1992 (p.7-38);

MARTIN, Hervé; BOURDÉ, Guy. As escolas históricas. Portugal: PEA, 1983  ;

REIS, José Carlos. A história, entre a filosofia e a ciência. São Paulo: Ática, 1996.

Assuntos relacionados
Sobre a autora
Valéria Dantas

Estudante de Direito na UniFavip Devry

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Esse estudo foi proposto pelo professor de História e Direito da UniFavip Devry como base para compreendermos melhor a influência dessas Correntes Historiográficas nas Escolas Positivas do Direito.

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos