Capa da publicação O uso do equipamento de proteção individual para bombeiros durante o atendimento de ocorrências de incêndio
Capa: DepositPhotos

O uso do equipamento de proteção individual para bombeiros durante o atendimento de ocorrências de incêndio

Exibindo página 1 de 3
14/04/2015 às 22:23
Leia nesta página:

Dentre as atividades desenvolvidas pelos bombeiros a de combate a incêndio é a mais desgastante pela exposição a altas temperaturas, desenvolvimento de grande esforço físico, altas taxas de sudorese. O objetivo é propor o uso do equipamento de proteção i

Resumo: Dentre as atividades desenvolvidas pelos bombeiros a de combate a incêndio é a mais desgastante pela exposição a altas temperaturas, desenvolvimento de grande esforço físico, altas taxas de sudorese. O objetivo é propor o uso do equipamento de proteção individual - EPI, durante o atendimento de ocorrências de incêndio, procedimento que trará uma proteção e aliado a uma correta hidratação retardará a instalação da fadiga no organismo do bombeiro. A metodologia baseou-se em pesquisas descritivas e explicativas, revisões bibliográficas, de artigos científicos, literatura técnica, sites especializados. Foram analisados quais procedimentos são adotados por outras organizações para a recuperação de bombeiros. O correto uso do EPI é uma medida de proteção para os bombeiros que atuam no atendimento das ocorrências de combate a incêndio. Que o uso do EPI aliado ao uso do EPR e de medidas de hidratação auxiliam na recuperação e proteção dos bombeiros. Inclusive é colocado como questão de segurança para os bombeiros. O bom nível de aptidão é um fator que é relevante no processo de recuperação, para a saúde e qualidade de vida dos bombeiros.

Palavras-chave: EPI. Corpo de Bombeiros. Nutrição. Hidratação. Estresse Térmico. Condicionamento Físico.


1. Introdução

Os bombeiros são empenhados habitualmente em atividades de grande risco. Dentre as diversas atividades desenvolvidas pelos bombeiros a de combate a incêndio é a mais desgastante pela exposição a altas temperaturas, realização de grande esforço físico por período prolongado, aliado ao uso de equipamentos de proteção individual e respiratória (EPI e EPR), perda de altas taxas de suor, de eletrólitos e depleção de altas taxas de substratos energéticos.

Segundo Murray (1990, apud DINIZ FILHO, 2011) durante o atendimento de ocorrências, principalmente as de combate a incêndios, o intenso esforço físico associado às condições ambientais e ao uso dos equipamentos de proteção individual podem elevar perigosamente a temperatura corporal dos bombeiros envolvidos na emergência. Num intenso esforço fisiológico para equilibrar a temperatura, o corpo perde através do suor grande quantidade de líquidos e sais minerais, elementos fundamentais para a realização de diversas atividades orgânicas essenciais à manutenção da vida, entre as quais as funções cardiovasculares, termorregulatória, metabólica e nervosa central. Tal desequilíbrio implica em significativa perda de desempenho físico e risco imediato à saúde e à vida.

Além do aumento no gasto energético, o EPI e EPR também provocam impacto em relação à desidratação pelo aumento na temperatura corporal, principalmente em ambientes quentes. Portanto, durante as ocorrências, é recomendada a reposição hídrica e períodos suficientes de recuperação para a diminuição do estresse físico e psicológico. (SELKIRK; McLELLAN; 2004; SELKIRK et al., 2006)

Ao contrário de muitas atividades laborais, os bombeiros não podem escolher o tempo ou condições para que essas sejam realizadas. Emergências ocorrem em todos os momentos e em todas as condições ambientais imagináveis. Quando você combina as tensões inerentes ao atendimento das emergências com os perigos ambientais, calor extremo e umidade, você cria condições que podem ter um impacto negativo sobre a segurança e a saúde dos bombeiros. (FA 314, 2008)

Para muitos especialistas o nível de exigência física e emocional nas condições ambientais extremas acima descritas aproximam o esforço despendido ao de um maratonista, exigindo do bombeiro o máximo de seu organismo e levando-o muitas vezes aos limites de suas funções fisiológicas (McEVOY, 2009).

Pesquisas realizadas por Peate et al., (2002) mostram que bombeiros trabalham em níveis máximos de esforço, condição que os obriga a uma adequada capacidade física cardiorrespiratória, bem como periódicos testes físicos e prescrição individualizada de treinamento. Para Lemon; Hermiston (1977), durante as ocorrências, esses profissionais executam tarefas que atingem 60 a 80% do VO2 Max. (A NFPA deixa muito claro que avaliações físicas periódicas são importantes em qualquer setor onde o trabalho manual é fundamental para o desempenho de uma função, mas especialmente com o serviço de bombeiros).

Enfim, qualquer procedimento que seja adotado para reduzir os efeitos dessas condições perigosas, estressantes e/ou geradoras de importante desgaste físico sobre os profissionais do fogo, certamente beneficiará não apenas os bombeiros, mas também as instituições às quais pertencem e em última análise, a todos os que necessitem desse importante serviço, que terão à sua disposição uma corporação mais preparada e com profissionais mais capazes para atendê-los. (DICKINSON; WIEDER, 2003)

Segundo o Departamento de Medicina do Exercito dos Estados Unidos (U.S. ARMY MEDICAL DEPARTAMENT, 2012) os treinamentos de campo em condições ambientais extremas apresentam exigências nutricionais especiais devido ao maior dispêndio energético e maior esforço físico. As atividades desenvolvidas no calor, no frio e em altitudes elevadas, faz com que o organismo tenha um gasto energético acentuado. Portanto, manter-se bem alimentado durante as atividades em ambientes extremos para suprir suas necessidades energéticas é uma recomendação que deve ser seguida.

Os militares que desempenham atividades em ambientes extremos ficam sujeitos a uma série de riscos que uma correta nutrição e hidratação podem ajuda-los a superar. (U.S. ARMY, 2012).

O conceito estabelecido pela NFPA 1583 é que não é só o bombeiro que está em risco. Quando ele não está em condições ideais de saúde física e mental, não é só a vida do bombeiro que está comprometida, mas também a dos membros da equipe, pacientes e vítimas de incêndio.

O problema os bombeiros são empenhados habitualmente em atividades de grande risco. Dentre as diversas atividades desenvolvidas pelos bombeiros a de combate a incêndio é a mais desgastante pela exposição a altas temperaturas, realização de grande esforço físico por período prolongado, aliado ao uso de equipamentos de proteção individual e respiratória (EPI e EPR), perda de altas taxas de suor, de eletrólitos e depleção de altas taxas de substratos energéticos. Em um intenso esforço fisiológico para equilibrar a temperatura, o corpo perde através do suor grande quantidade de líquidos e sais minerais, elementos fundamentais para a realização de diversas atividades orgânicas essenciais à manutenção da vida, entre as quais as funções cardiovascular, termorregulatória, metabólica e nervosa central. Tal desequilíbrio implica em risco imediato à saúde e à vida, bem como significativa perda de desempenho físico. Diante desse quadro, quais medidas são adotadas para amenizar os efeitos do esforço realizado durante o atendimento dessas ocorrências? Quais medidas podem ser adotadas para que a energia gasta durante o atendimento às ocorrências de combate a incêndio seja reposta e quais os melhores nutrientes e a correta hidratação?

As hipóteses testadas foram:

1) O bombeiro durante o atendimento de ocorrências de incêndio, está sujeito a um grande desgaste físico devido a exposição ao calor, o uso de equipamentos de proteção individual e respiratória que aumentam o seu peso e também pelo uso repetitivo de equipamentos e ferramentas. Por esse esforço e exposição perdem muito suor, eletrólitos (sais) e nutrientes que compromete suas funções fisiológicas.

2) O uso do equipamento de proteção individual e uma boa hidratação, em atuações no combate a incêndio são adotados pelos bombeiros de outros países, pelo exército norte americano que atuam em ambientes quentes e realizam um grande esforço físico.

Os objetivos gerais foram descrever que os bombeiros estão expostos e sujeitos, além dos riscos existentes em um local sinistrado por um incêndio, aos riscos do desgaste físico devido ao esforço físico e a exposição ao calor, perda hídrica que os comprometem fisiologicamente. Os objetivos específicos são avaliar se o uso do EPI e EPR os procedimentos de recuperação e reposição hídrica adotada pelo Corpo de Bombeiros auxiliam na proteção.

A justificativa para o presente estudo encontra relevância na valorização e na busca de todos os meios necessários e possíveis que auxiliem na garantia da saúde e da integridade física dos bombeiros, cuidando do seu bem-estar físico e mental, em conformidade com as Normas Regulamentadoras e legislações afins.

A metodologia empregada baseou-se em pesquisas descritivas e explicativas, revisões bibliográficas, de artigos científicos e outros trabalhos científicos.


2. Desenvolvimento

O Corpo de Bombeiros atua em ocorrências de combate a incêndios evitando ou minimizando perdas e dano às vidas humana, ao meio ambiente e ao patrimônio nos incêndios em edificações residenciais, comerciais e industriais e em coberturas vegetais.

As ações executadas pelos bombeiros durante o atendimento de uma ocorrência de combate a incêndios são, principalmente: o salvamento de pessoas e animais, o isolamento da estrutura sinistrada, o confinamento do fogo, a extinção dos focos de incêndios, o rescaldo da área sinistrada para remoção de focos remanescentes de calor, a ventilação e a proteção dos salvados.

Nas atividades de combate a incêndio, os homens do Corpo de Bombeiros atuam com equipamentos de proteção individual (EPI), e equipamentos de proteção respiratória (EPR), onde além de encontrar um ambiente hostil para atuar (altas temperaturas, muita umidade), via de regra desenvolvem atividades que demandam muita força física e controle emocional (na retirada de vítimas, utilização de equipamentos, retiradas de objetos dos locais onde atuam e retiradas de escombros, além, é claro, de ter que transpor obstáculos, como, por exemplo, subir vários lances de escadas todo equipado e transportando todo o material necessário para a realização da tarefa).

Se, por um lado, a ausência dos itens de proteção expõe os bombeiros aos diversos riscos de acidentes e lesões próprios dos ambientes das ocorrências de incêndio, por outro, o aumento da proteção gera esforços adicionais com os quais terão que lidar, tais como o aumento do peso a ser carregado, perda do tato, da mobilidade e destreza e, em particular, o aumento do estresse fisiológico. Os conjuntos de proteção praticamente isolam o bombeiro do ambiente externo, impactando significativamente os mecanismos normais de perda de calor corporal que ocorrem principalmente por condução e evaporação do suor. Em atmosferas frias essa circunstância pode funcionar a favor do bombeiro, pois o EPI mantém o calor do corpo preso dentro do conjunto e ajuda a mantê-lo aquecido. No entanto, em dias quentes, com alta umidade e em condições de intensa atividade de trabalho, os conjuntos de proteção aumentam a tensão térmica no corpo de forma exponencial. (DINIZ FILHO, 2011)

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

Segundo Moretti (2003, apud OLIVEIRA, 2008) em pesquisas laboratorais na UNIFESP, mostrou que o uso de EPI e de EPR, equipamentos necessários e obrigatórios em muitas ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros, acarretam sobrecarga que pode variar de 22 a 27 kg e redução da capacidade física cardiorrespiratória desses profissionais em até 30%.

2.1. Estatísticas de Combate a Incêndio do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo – CBPMESP

Conforme análise do anuário estatístico do CBPMESP, o número de atendimento de ocorrências de combate a incêndio tem uma tendência de aumento analisando os últimos três anos, conforme a tabela 01.

Tabela 01 – Ocorrências de incêndio atendidas pelo CB – 2005 a 2012

Ano Incêndios

2005

42.661

2006

50.528

2007

55.057

2008

45.058

2009

41.119

2010

65.391

2011

68.716

2012

73.473

Fonte: Anuário Estatístico do CBPMESP.

No ano de 2010, foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros 65.391 ocorrências de combate a incêndio e no ano de 2011, foram atendidas 68.716, sendo um aumento de 4,84% do número de ocorrências atendidas.

No ano de 2011 foram atendidas 68.716 ocorrências de combate a incêndio e no ano de 2012, foram atendidas 73.473 ocorrências, sendo que houve um aumento de 6,47% no número de ocorrências atendidas.

Com o número de 73.473 atendimentos de ocorrências de combate a incêndio, o CBPMESP atendeu uma média de 201,30 ocorrências por dia no ano de 2012.

2.2. Os Equipamentos de Proteção Individual e de Proteção Respiratória

Os Bombeiros do CBPMESP utilizam nas ocorrências de combate a incêndio o Equipamento de Proteção Individual (EPI), composto por calça, capa protetora, botas, capacete, bala-clava, cinto multiuso e luvas. Sendo que os equipamentos são confeccionados em materiais resistentes ao fogo e ao calor. Fazem o uso do EPI para fornecer proteção contra uma variedade de perigos, e aumentar a resistência de exposição ao calor. Além do EPI, outro item fundamental para as atividades de combate a incêndio e em diversas outras atividades de risco é o equipamento de proteção respiratório (EPR), utilizado para proteger as vias respiratórias dos bombeiros em ambientes com deficiência de oxigênio ou presença de substâncias nocivas.

O equipamento de proteção individual (EPI) e o equipamento de proteção respiratória oferecem proteção, criando uma barreira de proteção entre o bombeiro e os riscos existentes no ambiente onde está atuando no combate ao incêndio. Os equipamentos oferecem proteção mecânica e proteção térmica. Por exemplo, para combate a incêndios estruturais, uma das principais funções da roupa é isolar o bombeiro do calor elevado.

Se, por um lado, a ausência dos itens de proteção expõe os bombeiros aos diversos riscos de acidentes e lesões próprios dos ambientes das ocorrências, por outro, o aumento da proteção gera esforços adicionais com os quais terão que lidar, tais como o aumento do peso a ser carregado, perda do tato, da mobilidade e destreza e, em particular, o aumento do estresse fisiológico. Os conjuntos de proteção praticamente isolam o bombeiro do ambiente externo, impactando significativamente os mecanismos normais de perda de calor corporal que ocorrem principalmente por condução e evaporação do suor. Em atmosferas frias essa circunstância pode funcionar a favor do bombeiro, pois o EPI mantém o calor do corpo preso dentro do conjunto e ajuda a mantê-lo aquecido. No entanto, em dias quentes, com alta umidade e em condições de intensa atividade de trabalho, os conjuntos de proteção aumentam a tensão térmica no corpo de forma exponencial. (DINIZ FILHO, 2011)

Conforme a NFPA 1971/2007, roupas e luvas usadas para combate a incêndios estruturais devem satisfazer um requisito mínimo de isolamento térmico chamado de performance de proteção térmica (TPP, do inglês Termal Protective Performance). Os testes de TPP são realizados para verificar o isolamento oferecido pelas três principais camadas das roupas de combate a incêndios estruturais e devem atender a um nível mínimo estabelecido para permitir que os bombeiros possam escapar das condições mais críticas de temperatura no cenário da ocorrência livre de lesões (como as que ocorrem durante flashovers e backdrafts, correspondendo à condição de classe IV citada em parágrafos anteriores, devendo haver resistência a temperaturas superiores a 250° C por pelo menos 10 segundos). (DINIZ FILHO, 2011)

J. A. Foster e G. V. Roberts (1994, apud BRAGA, 2010), propuseram um modo de classificar as condições a que os bombeiros estão submetidos. São elas:

1. De rotina – Condição de operação mais comum para o Bombeiro. Limite de 25 minutos a 100ºC na roupa com radiação térmica limite de 1 kW/m2;

2. De perigo – Espera-se quando o bombeiro irá trabalhar por um período curto de tempo em alta temperatura em combinação com alta radiação térmica. Limite de 1 minuto a 160ºC na roupa com radiação térmica de 4 kW/m2. Um limite intermediário foi criado para representar as condições que podem ser toleradas por até 10 minutos

3. Extremas – Ocorre tipicamente em situação de resgate, ou, no pior caso, da fuga em uma situação de generalização do incêndio. Acontece na região acima de 1 minuto a 160ºC na roupa com radiação térmica de 4 kW/m2 e abaixo de 235ºC e 10 kW/m2.

4. Críticas – São condições acima de 235ºC na roupa e radiação térmica acima de 10 kW/m2. Existe o risco de morte.

Figura 01 – Condições ambientais de atuação dos Bombeiros

Fonte: BRAGA, 2010.

Trajes de bombeiros feitos com materiais mais isolantes a exposições de alta temperatura devem prever formas de compensação para alívio do calor acumulado. Roupas que incluem barreiras de umidade sem transpiração ou barreiras térmicas muito pesadas impedem ou limitam a remoção da umidade do suor, que transporta grande parte do calor do corpo. Se este calor é mantido dentro do conjunto, a temperatura de núcleo do bombeiro pode atingir níveis perigosos. (BRAGA, 2010)

O ambiente de trabalho do bombeiro, no caso de combate a um incêndio, é classificado como imediatamente perigoso à vida e à saúde (IPVS), porque não há como predeterminar todas as condições de risco, concentrações tóxicas dos contaminantes ou teor de oxigênio no ar mesmo durante as operações de rescaldo e salvatagem ou no atendimento a outras emergências envolvendo produtos perigosos. Assim, nestas condições de trabalho, a legislação em vigor estabelece que a máscara autônoma de ar comprimido com circuito aberto de demanda com pressão positiva ou uma combinação de respirador de linha de ar comprimido com cilindro auxiliar de escape são os equipamentos que apresentam um fator de proteção adequado, sendo o primeiro o ideal para o serviço do Corpo de Bombeiros, embora o segundo possa ser utilizado em algumas situações (espaços confinados e ocorrências envolvendo produtos perigosos). (ARAUJO, 2001)

Como já foi colocado anteriormente, o serviço de bombeiros deve utilizar somente máscaras autônomas de circuito aberto de demanda com pressão positiva, que proporcionam uma maior proteção respiratória aos bombeiros. Tal exigência é feita desde 1jul83 nos EUA pelo Occupational Safety and Health Administration, US Departament of Labor (OSHA) e normas da NFPA, da mesma forma, mais recentemente aqui no Brasil, pelos regulamentos do Ministério do Trabalho e Emprego e pela norma NBR 13716:1996. Portanto, os EPR de demanda devem ser removidos dos serviços de bombeiros ou adaptados para operarem com pressão positiva. (ARAUJO, 2001)

2.3. Períodos de Trabalho e Descanso Durante o Atendimento de Ocorrência de Incêndio

Os Bombeiros em atendimento de ocorrências devem ter procedimentos definidos para descanso e recuperação, com tempo suficiente para realizar reposição hídrica, nutricional e de eletrólitos e arrefecimento da temperatura corporal. É extremamente importante a existência de padrão operacional definindo os ciclos, a fim de evitar que a escolha do momento de parar recaia sobre o próprio bombeiro. Além da ausência de referências, já mencionados aspectos culturais levariam alguns bombeiros além de seus limites antes de efetuar uma parada. (DINIZ FILHO, 2011)

Embora ainda faltem estudos mais conclusivos sobre quais os ciclos ideais para períodos de trabalho e pausas, existe certo consenso de que é necessário no mínimo de 10 a 20 minutos de descanso a cada ciclo de reabilitação. Dependendo das condiçoes do ambiente e de cada indivíduo, pode ser necessário mais tempo do que o usual para períodos de descanso (McEVOY, 2009).

A NFPA 1584, em sua edição inicial de 2003, forneceu as primeiras recomendações quanto à relação entre períodos de trabalho e descanso em incêndios estruturais ou ocorrências similares. A exigência da NFPA 1584 (2003) tem essencialmente duas partes:

a) Os integrantes das equipes devem executar auto reabilitação (repouso com hidratação) por pelo menos 10 minutos após o esgotamento de um cilindro de ar do equipamento autônomo de respiração (EPR) de 30 minutos ou após 20 minutos de trabalho intenso sem utilizar o EPR. Após o período de auto reabilitação cabe ao Comandante da equipe ou ao Comandante da Emergência determinar se o integrante está pronto para retornar ao trabalho.

b) Os integrantes das equipes devem entrar em uma área de reabilitação formal, receber avaliação médica, e receber descanso e hidratação por um período mínimo de 20 minutos logo após:

  • O esgotamento de dois cilindros de 30 minutos de EPR;

  • O esgotamento de um cilindro de 45 ou 60 minutos de EPR;

  • Sempre que forem usadas roupas de proteção química encapsulas, e

  • Na sequência de 40 minutos de trabalho intenso sem um EPR.

Deve-se notar que os dois requisitos acima são de natureza progressiva e não opcionais. A primeira etapa é a autoreabilitação que ocorre após o consumo do 1º cilindro de EPR numa pausa de 10 min. Uma vez que retornou à ocorrência, o 2º cilindro já está em uso e uma vez que se esgote, deverá ser feita a reabilitação formal, com período de 20 min. de descanso. (NFPA 1584, 2003)

A razão para que os critérios fossem baseados no uso do EPR se deve pelo fato de ser a maneira mais prática do que cronometrar o trabalho realizado durante a ocorrência. Bombeiros quase sempre sabem quantos cilindros de EPR utilizaram em uma ocorrência. Se um bombeiro utilizou mais cilindros do que pode se lembrar, provavelmente não deveria mais estar atuando na ocorrência. Monitorar as necessidades de reabilitação estritamente pelo tempo é quase um desafio. O tempo tende a comprimir-se para aqueles que estão envolvidos em operações de emergência e bombeiros muitas vezes perdem a noção do tempo. Pode ser necessário ter alguém que faça os registros de tempo durante a ocorrência para garantir que as equipes estejam fazendo o rodízio da maneira apropriada. (DINIZ FILHO, 2011).

Sobre a autora
Nilson Kuratomi da Silva

Engenheiro Civil, graduado pela Universidade Guarulhos-UnG em 2011. Aluno do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança e medicina do Trabalho pela Universidade Guarulhos-UnG-2015.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos