A superação do absurdo rumo a uma revolta medida:pressupostos para a moral em Albert Camus

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14/05/2015 às 20:40
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[1] Ou, também, “o absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio irracional do mundo” (Id., ibid., p. 41).

[2] Olivier Todd, em seu Albert Camus, uma vida, ressalta que esta lógica camusiana não se dá no sentido de um cientificismo ou de um positivismo, por isso se torna difícil de ser delineada. Sobre isto, cita uma carta de Camus a um amigo, na qual afirma: “Coloco acima da lógica ao mesmo tempo o sonho e a ação. Chamarei lógico um homem que sente logicamente e não um homem que pensa logicamente” (CAMUS, citado por TODD, 1998, p.58).

[3] Sobre “essências extratemporais”, Camus cita Husserl: “Se todas as massas submetidas à gravidade desaparecessem, a lei da gravidade não seria destruída, mas ficaria simplesmente sem aplicação possível”

 (Id., ibid., p.59).

[4] O capitulo “A criação artística: o desejo de unidade e a transcendência do belo como movimentos da revolta e elogio à medida humana”, aborda com mais atenção o conceito de “unidade” para Camus.

[5] Sobre este ponto, diz Clemance, personagem do romance A queda, de Camus: "Já não dizemos, como nos tempos ingênuos: ‘Eu penso assim. Quais são as suas objeções?’ Tornamo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado. ‘Está é a verdade’, dizemos. ‘Podem até discuti-la, isso não nos interessa. Mas, dentro de alguns anos, lá estará a polícia para lhes mostrar que tenho razão’“ (2002b, p. 35).

[6] Vale lembrar que Camus não é ingênuo a ponto de impossibilitar o crime e o assassinato, o que seu raciocínio impossibilita é a explicação racional ao crime, não o crime em si, que pode acontecer como obra de uma fatalidade qualquer; mas nunca como conclusão de um raciocínio.

[7] Como um exemplo, basta nos voltarmos para o apocalipse hitlerista de 1945.

[8] Sobre este assunto, ironiza Max Stirner em O único e o que a ele pertence, publicado em 1851, questionando a moral laica pós Iluminista: "Examine a maneira como se conduz hoje o homem moral que crê haver acabado com Deus, e que rechaça o cristianismo como uma bobagem. Pergunte-lhe se alguma vez o ocorreu pôr em dúvida que as relações carnais entre irmão e irmã sejam incesto, que a monogamia seja a verdadeira lei do matrimônio, que a piedade seja um dever sagrado, etc. O verá coberto de um virtuoso horror ante a idéia de que pudesse tratar a sua irmã como mulher, etc. E de onde vem esse horror? De que crê em uma lei moral. Esta fé está solidamente ancorada nele. Qualquer que seja a vivacidade com que se subleva contra a piedade dos cristãos, ele é igualmente cristão quanto à moralidade" (1974, p. 17).

[9] Camus, citando Stirner: “O além exterior é banido, mas o além interior tornou-se um novo céu” (2003, p. 84).

[10] Sobre este ponto é interessante tomarmos uma analise feita por C.G. Jung, um dos pais da psicanálise, numa entrevista concedida em 1938, sobre a diferença entre Mussolini e Hitler. Diz ele: “Ora, enquanto eu observava Mussolini presenciando a primeira marcha em passo de ganso que lhe era dado ver, pude surpreender em sua expressão o entusiasmo de um garotinho num espetáculo de circo. [...] Nessa ocasião, tudo foi executado de maneira magnífica e agradou tanto a Mussolini que ele riu e bateu palmas entusiásticas. [...] Em comparação com Mussolini, Hitler causou-me a impressão de uma espécie de andaime de madeira revestido de tela, um autômato com máscara, como um robô, ou a máscara de um robô. Durante toda a cerimônia, seu rosto manteve-se impassível; nunca riu. Era como se estivesse de mau humor, um sujeito emburrado. Não deu mostras de qualquer sinal humano, por mínimo que fosse. Sua expressão era de uma incrível e inumana obstinação, sem o mais leve senso de humor” (1982, p. 126-127). A leitura desta entrevista, intitulada “Diagnosticando os Ditadores”, corrobora em muitos pontos a reflexão de Camus.

[11]  Há ai uma contradição na idéia revolucionária sobre a arte. Querendo desviar-se de uma “imaginação ociosa”, a revolução e a chamada “arte revolucionária” acabam partindo de um mundo ideal, conceitual, este sim realmente imaginário, que ainda está por vir, no intuito de realizar sua criação artística.

[12] Em um ensaio sobre Oscar Wilde, Camus escreve sobre a relação entre beleza e verdade: “A beleza surge neste momento dos escombros da injustiça e do mal. O fim supremo da arte é então confundir os juízes, suprimir toda acusação e tudo justificar, a vida e os homens, em uma luz que não é a da beleza porque é a da verdade” (CAMUS, 2002a, p. 75).

[13] A análise desta afirmação está discutida em “A desmedida histórica e o crime lógico como pressuposto ao reino da justiça”, neste trabalho. E também em “A revolta como possibilidade moral”.

[14] Ver “A revolta como possibilidade moral”.

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Sobre o autor
Mauricio Possa Lopes

Formado em Filosofia pela Universidade Federal de São João del-Rei (2003-2008) e Direito pelo Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves (2010-2014). Advogado. Milita na cidade de São João del-Rei/MG.

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Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de bacharel em Filosofia, sob a orientação do Professor João Bosco Batista, no curso de graduação em Filosofia da Universidade Federal de São João Del Rei.

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