O julgamento da sociedade perante o Tribunal Jurídico Filosófico – TJF

19/06/2015 às 11:47
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Breve ensaio de um juízo filosófico nos tempos atuais

Após anos, décadas, séculos e milênios, vivemos em uma Era, onde, certamente, não há dúvidas de que a nossa sociedade, infelizmente, sucumbira.

E agora, quem poderá nos salvar? Frustrante que não apareça o Chapolin Colorado com aquela musiquinha de fundo para que possamos ter a esperança de uma solução imediata.

Onde erramos? Por que erramos? De que forma erramos? Até quando vamos errar?

Perguntas que, se ainda não foram feitas, devem ser formuladas para que tentemos entender o caos social em que vivemos atualmente.

Não temos uma identidade social, estamos descrentes de nós mesmos. Somos prisioneiros de nossa ignorância pessoal. Triste realidade!

Como resolver isso de forma a, tentar, reparar o erro que há muito tempo habita o nosso EU de forma totalmente diferente da que conhecemos?

Só há uma saída: recorrer ao Tribunal Jurídico Filosófico – TJF. Sim, teremos que fazer uma viagem regressiva no tempo para buscarmos novas soluções para os dias atuais, pois, do jeito que está, não dá! E acredite, pior do que “tá”, fica.

O TJF é composto de 11 Ministros que julgarão o caso de acordo com suas convicções, onde, no final da sessão de julgamento, somos nós, os juízes sociais, que daremos a sentença da nossa sociedade, também, com base em nossas convicções pessoais, mas, agora, voltadas para o coletivo.

Como cada um dos 11 Ministros possui uma visão diferente da realidade, cada uma delas deve ser analisada com muita atenção para que não incidamos nos mesmos erros que nos habita.

Dessa forma, antes de analisarmos o voto de cada Ministro, mister fazer a apresentação dos ilustres julgadores. São eles: Idealismo, Materialismo, Indutivismo, Empirismo, Racionalismo, Realismo, Positivismo, Culturalismo, Reducionismo, Holismo e Probalismo.

São os diletos pensadores citados que tentarão fazer com que os pensamentos passados mudem a triste cena social em que nos encontramos hoje.

Que comece o show!

O primeiro a dar seu parecer é o Ministro Idealismo. O faz argumentando que o homem deve sempre guiar-se pelo transcendental religioso ou espiritual. Fazer das ideias o princípio interpretativo do mundo, tornando as formas abstratas que se reproduzem na mente humana, o seu guia.

Na sequência é o Ilustre Ministro Materialismo que profere seu ponto de vista. Para o Materialismo tudo se deve às forças da natureza e à realidade fática. A matéria precede a mente e ao espírito e, sendo assim, sustenta que o futuro é determinado pelo presente.

O terceiro voto é do Indutivismo, que postula que as teorias se desenvolvem a partir das sensações provocadas na mente pelas advindas da realidade fática. Deduz previsões e explicações que possam ser confirmadas. Para o Indutivismo a dedução é meramente demonstrativa, concluindo o que já está implícito nas premissas não permitindo ampliar o conhecimento.

O Ministro Empirismo vai na mesma linha de seu colega Indutivismo, com a preocupação adicional de comprovar essas teorias na própria experiência social. Defende que a experiência forma as ideias em nossa mente e que só a experiência preenche o espírito com elas (as ideias). Argumenta, ainda, que qualquer ideia que temos não nasce conosco, mas se inicia na experiência.

O quinto a votar é o dileto Racionalismo. Este coloca, acima das impressões da mente, a racionalidade como capaz de produzir em si mesma a verdade, ou seja, afirma que é a razão a única faculdade de propiciar o conhecimento adequado da realidade

O Ministro Realismo, em seu parecer técnico, entende que há independência entre a realidade e a consciência.  Entende ser a forma de apresentar ou considerar as coisas como elas são. Em sua visão, não exagera nem atenua os fatos, pois trata do que ocorre realmente no mundo físico.

Talvez o mais conservador de todos os Ministros, o Ilustre Positivismo acredita que as coisas devem ser concretas e não abstratas atentando, somente, aos fatos já existentes. Diz que os fenômenos de toda a natureza, inclusive os produzidos pelos homens, podem ser reduzidos a especificações meramente determinísticas, propriedades imutáveis, ainda que os sentidos tenham dificuldade de aprender além da superfície da realidade.

O Ministro Culturalismo sustenta que toda a realidade só pode ser entendida enquanto produto de identidade cultural de um povo, também como aspecto macro e totalizante, em que os homens se identificam a si mesmos a partir de um repertório de valores morais internalizados a partir de estratégias coletivas de sobrevivência. Ainda completa dizendo que a cultura condiciona o comportamento psicológico do indivíduo, sua maneira de pensar, a forma como percebe seu entorno e como extrai, acumula e organiza a informação daí proveniente.

Em sua explanação o Reducionismo sustenta que toda realidade, em última análise, é determinada por fatos físicos, ou melhor, leis da física. Sendo assim, a linguagem da Física deverá ser a linguagem de toda a ciência, pois os fatos dos quais a ciência trata são de um mesmo tipo ou, pelo menos, podem ser decompostos em fatos de um mesmo tipo. É chegar à verdade a partir da fragmentação e posterior composição do objeto de estudo; portanto, onde a essência deve ser pesquisada “bem abaixo” da realidade observada.

Já Holismo, por sua vez, considera, acima das partes, o “todo”, enaltecendo as estruturas macro, onde o objeto de estudo se localiza, lançando mão das relações entre essas partes, como um sistema complexo irredutível para cuja compreensão concorrem todos os conhecimentos; é uma “visão global”.

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O último a votar é o Ministro Probabilismo. Em seu voto diz que o homem não pode atingir a verdade e deve contentar-se com opiniões baseadas em probabilidades. Há a crença de que, mesmo que algo esteja determinado, será imprevisível ou de previsibilidade muito limitada, devido à insuficiência das teorias existentes diante do caos e complexidade sistêmica e dinâmica dos fenômenos naturais ou sociais.

Julgamento finalizado. Após ouvidos os 11 Ministros cabe a nós, agora, decidirmos sobre futuro-presente de nossa sociedade de acordo com o nosso Eu voltado para ela.

Como será a nossa decisão, após reflexões acerca do exposto pelos Eminentes Ministros?

Obviamente que a decisão de cada um será recorrida por outros pensamentos, porém, não podemos deixar de almejar aquilo que acreditamos.

Independentemente da posição alheia, o voto deve ser pessoal dentro do nosso EU pessoal/social.

Não podemos ignorar os anos pretéritos para que possamos proferir uma sentença sem cometermos os mesmos erros e, também, não incorrermos nas mesmas lamentações que criamos.

Antes de pleitear seus direitos, cumpra com suas obrigações, pois somente o tempo dirá se a decisão foi a mais correta ou não.

Ah, o tempo...

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Sobre o autor
Denis Caramigo Ventura

Denis Caramigo Ventura: Advogado criminalista especialista em Crimes Sexuais; www.caramigoadvogados.com.br E-mail: [email protected] Facebook: Denis Caramigo Ventura Twitter: @deniscaramigo Instagram: @deniscaramigoventura

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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