Diante do cenário econômico que temos vivenciado, explicar a razão pela qual o Brasil pode ser um emergente menos vulnerável, pode não ser uma tarefa fácil.
Neste contexto, é inevitável questionamentos do tipo: “Por que eles são tão bons, e nós tão ruins?”, “Por que nada parece funcionar no Brasil?”, “Por que as políticas econômicas são voltadas única e exclusivamente para o curto prazo?”.
Para responder a estes questionamentos, e também para enxergarmos a luz no fim do túnel, é preciso entendermos as relações de causa e efeito econômicos, tais como a relação entre as famílias, empresas e Governo, como cada um destes setores influencia os demais e, principalmente, como o setor “doméstico familiar” afeta as empresas e Governo.
De início, vale a pena resgatarmos o conceito de “Fluxo Circular Econômico”, pelo qual temos que: as famílias entregam às empresas os fatores de produção, em troca de salários, renda, para gastar e, em contrapartida, as empresas fornecem os produtos para consumo das famílias, auferem lucro, logo, recebem dinheiro para gastar.
Dentro deste contexto, o lucro auferido pelas empresas é (re)investido na produção; as famílias, por sua vez, gastam toda a sua renda na aquisição de produtos produzidos/comercializados por estas empresas.
Isto posto, temos a primeira “Condição de Equilíbrio Macroeconômico” expressa pela relação abaixo, em que renda é igual a produção.
R=P
C+S=C+I
S=I
Variáveis:
R: renda
P: produto
C: consumo
S: poupança
I: investimento
Mas, o que quer dizer esta relação? Que a poupança é igual ao investimento, logo, as poupanças das famílias são utilizadas pelas empresas para investimentos.
Quando as famílias auferem renda, têm a opção de poupar e/ou consumir; especificamente no caso das famílias brasileiras, a maior parte da renda é destinada ao consumo, ao invés da poupança.
Com uma poupança doméstica irrisória, a verba que poderia destinar-se aos investimentos fica comprometida, e aí, começam os nossos problemas.
Sob o ponto de vista das empresas, estas deveriam reinvestir parte de seu lucro no incremento da produção e, principalmente, em tecnologia, entretanto, esta não é a realidade do empresariado brasileiro, por três motivos básicos.
O primeiro deles é o fato de que no atual cenário econômico, nenhum empresário tem a pré-disposição de se descapitalizar; segundo, o brasileiro compra qualquer coisa, então, não há interesse em investir em tecnologia, e não há poupança suficiente para suportar os investimentos. Então, as empresas importam tecnologia e dependem de poupança externa.
Quando o Governo entra em cena, surgem duas outras variáveis, os gastos do Governo e a arrecadação. Através da arrecadação o Governo faz a captação de capital para custear a máquina, adimplir a folha de vencimentos e investir.
Diz-se aqui investimentos no bem-estar da sociedade, tais como saúde, segurança, educação, infra-estrutura, mobilidade urbana, portanto, diferente do setor privado, a contrapartida do investimento do Governo não tem fins lucrativos.
Considerando que o Governo gasta mais do que arrecada, busca outros meios para se capitalizar, tais como a emissão de Títulos da Dívida Pública em Open Market, aumento da taxa de juros (SELIC), e incentivos fiscais federais, estaduais e municipais.
Aumentando a taxa de juros, ou a remuneração do dinheiro, mantém-se o país atrativo ao capital estrangeiro especulativo e de curto prazo e, através dos incentivos fiscais, promove a vinda de empresas multinacionais.
Em suma, como o Governo gasta mais do que arrecada e a poupança doméstica não é suficiente para suportar o déficit público, assim como as empresas, o Governo também depende do setor externo.
Com isso, surge mais uma condição de equilíbrio macroeconômico:
R=P
C+S+T=C+I+G
S+T=I+G
S-I=G-T
Variáveis:
R:renda
P: produto
S: poupança
I: investimento
G:gastos do Governo
T: arrecadação
A relação estabelecida acima, deixa evidente a correlação entre os três setores, famílias, empresas e Governo, e esclarece também que tudo o que ocorre num setor afeta diretamente o outro.
Diante do exposto até aqui, em linhas bem gerais, temos as seguintes premissas:
- os brasileiros não poupam no âmbito doméstico, consomem excessiva e indiscriminadamente, logo, a poupança doméstica é enxuta, e incapaz de suportar o déficit público;
- as empresas, por seu turno, não investem em tecnologia, justamente porque brasileiro compra qualquer coisa, ainda que reinvistam parte do lucro na produção, dependem de capital externo, e num cenário econômico crítico, nenhum empresário em sã consciência se descapitalizará;
- o Governo brasileiro tem a maior arrecadação dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), no entanto, os seus gastos superam os valores arrecadados, pois, temos uma máquina inchada, sem contar, é claro, a má gestão do dinheiro público. Em decorrência disso, o Governo busca meios alternativos para captar dinheiro, tais como aumento da taxa SELIC, concessão de benefícios fiscais e emissão de Títulos Públicos; e
- dependência do capital estrangeiro, por parte das empresas e governos, por isso há ingerências externas na economia brasileira, vez que, qualquer má gestão interna afetará o cenário externo.
Feitas as ponderações acima, limitadas ao âmbito nacional, passemos agora a analisar o Brasil no contexto dos emergentes.
Países Emergentes são aqueles cujas economias partiram de um estágio de estagnação ou subdesenvolvimento e se encontram em pleno desenvolvimento econômico, também chamado de países em desenvolvimento.
Dentre esses países estão os chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Esses países possuem características comuns, como o bom crescimento econômico e buscam ganhar força no cenário político e econômico internacional, diante da defesa de interesses comuns.
Entre eles existem alguns pontos em comum, como por exemplo: níveis de produção e exportação em crescimento, investimentos de empresas estrangeiras nos diversos setores da economia e Produto Interno Bruto (“PIB”) em crescimento.
Recentemente, o mercado brasileiro tem sofrido com a saída do capital estrangeiro, o que tem contribuído para a queda do mercado, como mostra a possibilidade iminente de um rebaixamento de sua classificação de crédito pela agência Standard & Poor’s.
Essa queda do investimento no mercado brasileiro pode ser justificada pelos sérios problemas estruturais que geram dúvidas sobre seu desempenho econômico a curto prazo.
No que se refere à taxa de juros, no mercado externo a sua elevação fez com que os investidores globais reduzissem a exposição em países emergentes, como o Brasil, o que vem provocando uma forte correção nos mercados de renda fixas globais. Os investidores também estão preocupados com a queda dos preços das commodities e a desaceleração do crescimento de vários países emergentes, uma reversão do panorama dos últimos anos, quando muitas economias em desenvolvimento pareciam estar avançando.
A piora das condições econômicas estaria enfraquecendo as finanças dos Governos e levado os Bancos Centrais a reduzirem as taxas de juros, tornando os investimentos em títulos da dívida e moedas de mercados emergentes mais arriscados aos olhos de muitos investidores.
Apesar disso, nem todos os investidores estão saindo. Embora o crescimento dos mercados emergentes tenha abrandado nos últimos anos, no longo prazo essas economias devem crescer a um ritmo mais rápido do que o mundo desenvolvido. No mesmo sentido, esse movimento dos investimentos afeta mais diretamente os papéis dos países emergentes, porque foram esses os quais mais atraíram capital nos últimos meses, inclusive o Brasil. Mas, quando se compara a outros países de perfil semelhante, o que se observa é que o impacto é mais brando por aqui.
Para Odair Abate, da área de estratégia de investimento do Votorantim Private Bank, confirma que o movimento de alta dos juros futuros de longo prazo reflete a saída de investidores estrangeiros nos últimos dias. Mas, para ele, trata-se de um movimento de diversificação de carteira, longe de ser caracterizado como fuga.
Nem o investidor mais conservador nem o mais disposto a correr riscos tiveram vez na primeira metade do ano, período no qual a maior parte das aplicações financeiras teve perdas reais (descontada a inflação) ou ganhos pouco representativos. A saída de recursos estrangeiros, a expectativa da retirada gradual dos estímulos econômicos nos Estados Unidos e a desaceleração brasileira explicam parte do contexto conturbado do mercado. O semestre, contudo, já está chegando ao fim e o investidor quer saber o que esperar pela frente. Diante das fortes perdas que assolaram o mercado até junho, as oportunidades começam a aparecer. Mas é preciso analisar com cautela o momento de iniciar as compras, já que ainda há muitas incertezas rondando as cenas internacionais e domésticas.
Uma das opções para aumentar o investimento no mercado brasileiro seria investir ostensivamente na infraestrutura do país para que a produção de bens e serviços aumente e, consequentemente, aumente o número de investidores interessados no Brasil. No entanto, o aumento de produtividade não é um evento fortuito. Ele resulta de ações de Governos e empresas, famílias e indivíduos e das condições de operação e de competição nos mercados. Ou seja, a produtividade é uma variável que está, de certa forma, sob controle, já que é possível intervir para alterá-la.
Por isso, conclui-se que o Brasil deve investir fortemente no setor produtivo para que seja competitivo no mercado externo e, com isso, trazer mais investimentos de outros países. Para isso, o Governo Brasileiro deve investir também na infraestrutura para que empresas estrangeiras sintam-se confortáveis para abrir sua empresa no Brasil. Além disso, o investimento em educação deve seguir um plano bem definido, com aplicação da meritocracia, revisão da grade de ensino (já realizado em outros países – vide Finlândia) participação ostensiva das famílias, pois, a mão de obra é fator fundamental para a evolução da própria economia, sobretudo a mão de obra qualificada.
No cenário atual, o Brasil, sendo um dos países emergentes, não tem se destacado das outras economias pelas evidentes falhas na sua Política Externa de busca por capital estrangeiro.