A natureza e os malefícios da corrupção

13/10/2015 às 22:39
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O cidadão corrupto perde a identidade, vive eternamente viciado na aprovação ou reprovação de ato falho alheio.

Segundo Clóvis de Barros Filho, professor de ética da USP-Universidade de São Paulo, consultor e autor de livros com a temática, a corrupção é a 'vitória da canalhice'. Não obstante, ainda acredita que a ocasião não faça o ladrão, mas apenas o revela.

Não é novidade nenhuma o brasileiro tomar conhecimento diário de que quantias absurdas de dinheiro público são desperdiçadas e até desviadas nas três esferas da Administração Pública da Federação, mediante práticas corruptas, onde inclui simulação de dados, criação de documentos e outros artifícios, usados para "legalizar" despesas realizadas a menor custo ou mesmo não realizadas. 

O fato é que essa cultura de corromper e ser corrompido atinge níveis assustadores no âmbito das atividades da Administração Pública, em todos os níveis da Federação, mas também às pessoas de uma forma geral, sendo considerada essa atitude um dos maiores males que geram a pobreza e a miséria.

O cidadão corrupto perde a identidade, vive eternamente viciado na aprovação ou reprovação de ato falho alheio.

Etimologicamente corrupção deriva do latim rumpere, equivalente a romper, dividir, gerando o vocábulo corrumpere, que, por sua vez, significa corromper ou subornar, dar dinheiro a uma ou várias pessoas, em benefício próprio ou em nome de outra pessoa, suborno, desvirtuamento de hábito, devassidão de costumes. Portanto, atitudes como sonegar imposto, usar carteira ou documento falso, comprar CNH, fazer hora (enrolar) no trabalho só para ganhar extra, comprar produtos piratas, usar a vaga de deficiente, ganhar o outro no troco, pagar o “cafezinho” para qualquer autoridade ou alguém imbuído de um serviço publico só para adquirir vantagem, fazer “gato” na internet e energia, também são considerados atos de corrupção. 

Esses tipos de atos de corrupção logo acima citados podem passar despercebidos, mas alguns deles são capazes de movimentar milhões, assim como produzir gastos desnecessários para terceiros.

Sem sombra de dúvidas, o próprio regime democrático possui brechas que propiciam, ou mesmo que estimulam a prática de atos de corrupção. Mesmo não sendo esse o objetivo e ideais, a democracia, muitas vezes, tende a ser deturpada por agentes que pretendem se perpetuar no poder. Muito se vê os instrumentos utilizados para esse fim, como por exemplo, o ilegítimo repasse de recursos financeiros aos partidos políticos ou àqueles que prestigiam a postura que se diz ideológica, levantada por seus agentes, o que ocorre de várias formas: repasses de verbas às vésperas da eleição, realização de obras com a nítida intenção de promoção político-partidária, admissão em cargos de comissão, festas, eventos e situações que favoreçam a promoção pessoal etc.

Sem dúvida, a corrupção é a via mais rápida de acesso ao poder, bem como a mais fácil de atingir o fim que se quer. No entanto, traz consigo o nocivo efeito de promover a instabilidade e o aumento da ineficiência, já que a instituição não mais estará alicerçada em concepções ideológicas, mas, sim, nas cifras que as custearam. 

Esse ciclo vicioso e vivido pela maioria dos brasileiros traz um comprometimento imensurável dos direitos fundamentais do indivíduo. Quanto maiores os índices de corrupção, menores serão as políticas públicas de implementação dos direitos sociais, menores são as chances de solução dos conflitos da sociedade, e isso estimula certamente o aumento da própria criminalidade.

Encarar a corrupção como algo natural é irrestritamente prejudicial à sociedade brasileira e reduz sobremaneira a possibilidade de se combatê-la. Por isso, devem os brasileiros além de indignar-se, ir à luta, tentar eliminá-la do próprio seio da sociedade, mas para isso é preciso ação. É necessário que o cidadão participe mais da vida política de sua sociedade, acompanhando, fiscalizando, atuando etc.

Segundo especialistas, a corrupção está ligada a vários fatores, entre eles a fragilidade das instituições democráticas, como a Justiça, e a ausência de mecanismos de fiscalização populares desses órgãos.

Enfim, essencial citar aqui a expressão “casa de ferreiro espeto de pau”, como referência à atitude que começa de cima, das esferas da administração pública, dos setores públicos, dos gestores das instituições públicas, das associações, das instituições civis, que na maioria das vezes têm o dever de fiscalizar e cobrar. Serve, portanto, para que, doravante, se faça uma reflexão que precisamos melhorar nossas atitudes, desde a educação de nossos filhos a pequenos comportamentos do dia a dia. A atual situação é apenas o retrato de nossas ações. Afinal, para melhorarmos precisamos buscar uma nova consciência e atitudes, e não empurrar para o outro as nossas transgressões. Ou somos um povo que não sabe pensar no social?

 

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Sobre a autora
Noélia Sampaio

Advogada, pós graduada em direito do trabalho, pós-graduanda em direito previdenciário, MBA em advocacia empresarial, Militante nas áreas trabalhista, previdenciária e empresarial. Membro da Comissão da Mulher Advogada da OAB-PI. Pós graduada em docência do ensino superior, professora de Faculdade de Direito, Instrutora convidada do SENAC/PI, Instrutora e Consultora do SEBRAE/PI.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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