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Virtù e fortuna em O Príncipe, de Nicolau Maquiavel

06/12/2015 às 22:51
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Maquiavel, em "O Príncipe", discute a arte política e a manutenção do poder, enfatizando a importância da virtú e da astúcia para governar com sucesso.

Maquiavel, em sua obra “O Príncipe”, escrita em 1513 e direcionada a Lorenço de Medici, objetivara que seus escritos se tornassem um manual para que o mesmo governe de forma “bem sucedida” a Itália. Em sua obra, Maquiavel enfatiza sempre que a finalidade da arte política é a manutenção do poder, que “os fins justificam os meios”. Fundamenta-se em fatos históricos citando exemplos de grandes personagens políticos, de feitos importantes, e diz ainda que um príncipe deve extrair deles o que lhes for proveitoso.

Descreve inicialmente dois tipos de Estados (República e Principado, sendo conquistados ou herdados) e como cada um pode atingir o modo de governar do príncipe; ensina como um príncipe pode conquistar um Estado e mantê-lo sob seu domínio. Para o autor existem dois meios de se tornar príncipe, a virtú e a fortuna. Quem se torna príncipe pela virtú, normalmente consegue manter-se por mais tempo seus governos. Encontram dificuldades apenas no inicio, pois são obrigados a implantar novas leis e costumes, em alguns casos.

Baseando-se em exemplos como o de Cesar Borgia, afirma que os que se tornam príncipes pela fortuna tem muita dificuldade de permanecer no poder, pois este “conquistou o Estado com a fortuna do pai e não tendo esta a perdeu, apesar de que tivesse tudo o que competia fazer um homem prudente e valoroso para criar raízes os Estados que as armas e a fortuna de outrem lhe ofereceram” (Capitulo VII). Dessa forma, Maquiavel assegura que apenas por meio da “virtú” um príncipe pode vencer a instabilidade da fortuna e assim conservar seu Estado.

Em sua obra, Maquiavel descreve quais as qualidades que um príncipe deve possuir e como deve usá-las. O príncipe deve ser ponderado, humanitário, prudente, agir de forma equilibrada. Deve querer ser considerado piedoso e não cruel, necessita empregar de modo conveniente á piedade e saber usar a crueldade, desta forma, o príncipe “não deve guardar a palavra empenhada quando isso lhe é prejudicial e quando os motivos que o determinaram deixarem de existir” (Capitulo XVIII). Outro aspecto relevante é o questionamento se é melhor ser amado ou temido e vice-versa. Como o autor vê a impossibilidade das duas características em um príncipe, afirma ser mais seguro o temor do que amor: “Deve ser temido de modo que, se não for amado, no mínimo evite o ódio, pois é mais fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado” (Capitulo XVII). Maquiavel faz uma analogia representando o príncipe como a composição do leão (força - deve se impor pelo respeito e temor) e a raposa (astúcia- inteligência, melhores atitudes), “precisa, portanto, ser raposa para conhecer as laças e leão, para amedrontar as lobos” (Capitulo XVIII). No entanto, não será necessário á um príncipe possuir todas as qualidades, aparentar possuí-las já é suficiente, ou seja, disfarçar que as possuí e ser bom simulador e dissimulador, pois os homens, geralmente, “julgam mais pelo que vêem do que pelas mãos, pois todos podem ver, poucos porém são os que sabem sentir. Vêem todos o que tu pareces, poucos porém o que realmente és” (Capitulo XVIII).

Na concepção política de Maquiavel a figura do povo exerce grande representatividade, como cita no capitulo IV, defendendo que melhor é ter os súditos como base de sustentação do governo do que os barões e a realeza, pois estes tem autoridade e podem por em risco o poder do príncipe, sendo assim, pode-se afirmar também que é melhor ter os nobres como inimigos do que o povo, pois os nobres são minoritários. Argumenta também que para evitar riscos e garantir a segurança, o Estado necessita possuir a capacidade de garantir sua liberdade, defendendo com um exército próprio, pois "sem possuir armas próprias, nenhum principado está seguro" (Capítulo XIII), sendo as tropas auxiliares instáveis e as de mercenários facilmente corrompidas, portanto, o exército ser integrado por seus próprios cidadãos.

Uma questão importante é a distinção entre as formas de governo boas e más, utilizando o conceito da virtú e da força. Maquiavel faz uma relação do homem virtuoso ao bom governante, em que a força fundamenta o poder, entretanto, é a sabedoria no uso da virtù essencial para o sucesso na política, isto é, a sustentação, a permanência no poder. Outra analogia é feita entre a fortuna e os rios desastrosos. Os rios em períodos de enchentes, ao chegarem a lugares que não estão preparados causam ampla destruição, assim é a fortuna, quando se estabelece em estados onde não há virtude, causam destruição e ruina (capitulo XXV).

O Príncipe é resultado do descontentamento de Nicolau Maquiavel com a politica italiana, onde o autor rompe com o pensamento teocrático de poder da sua época. Finaliza sua obra á Lorenço de Medici tentando demonstrá-lo que todas as orientações teriam sido dadas para que este, espelhando-se nos homens do passado, governasse de forma eficiente. Sugere a formação de um exército próprio, pois isto torna o principado mais forte, protegendo a nação dos estrangeiros. Os seus conselhos aos príncipes tem como foco a eficácia para conquista e manutenção do poder e não em questões de valores como bem comum, justiça, felicidade, pregados por Platão e Aristóteles.

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Sobre a autora
Tatiana Lago

Graduanda em Direito, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- BA e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Prisões, Violência e Direitos Humanos.

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