No Japão, os professores não se curvam ao imperador. Mas aqueles podem perder suas cabeças.

Democracia versus império

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Em épocas de boatos, desmentir é ser cidadão!

Outro dia, visitando o admirável universo da internet, vi artigos, posts e colunas contendo que os professores não se curvam ao imperador. Sei que já é [deve ser] assunto passado, mas darei outra versão aos fatos.

Primeiramente, antes da Constituição japonesa de 1947, o imperador mandava e desmandava. O Japão foi um dos povos mais guerreiros da face da Terra. Depois de duas ogivas nucleares jogadas sobre solo japonês, os ânimos mudaram: paz e amor. Fato trágico, mas que mudou o comportamento japonês diante de outros povos: todos merecem paz e respeito.

Há um mal-estar entre chineses e japoneses, porque estes invadiram e massacraram centenas de milhares daqueles. Na Segunda Guerra Mundial o Japão se aliou a Alemanha Nazista. As Potências do Eixo [Alemanha, Itália e Japão] eram adversários dos Aliados [EUA, União Soviética e Império Britânicos, os principais formadores].

A atual Constituição japonesa, de 1947, é democrática. Vale dizer que todos têm os mesmos direitos humanos. E antes de 1947? Quem mandava e desmandava era o imperador. Lembram dos "samurais"? A honra era o código de vida deles. Morriam pelo imperador. E se algum samurai fosse contra o imperador, bom, já sabe o que daria. Realmente se curvaria ao imperador, enquanto sua cabeça rolava pelo solo.

Arte da Guerra. Muitas pessoas, planetariamente, gostam da filosofia de Sun Tzu. É uma código militar do século IV AC. Para quem leu, o estrategista Sun Tzu demonstrou como qualquer tropa pode ser eficiente. O imperador pediu para Sun demonstrar a sua sapiência através do treinamento às mulheres do palácio, as concubinas.

Sun escolheu duas concubinas mais antigas. Deu, a cada um delas, uma espada. Pediu para que essas duas dessem ordens às demais concubinas. Quando Sun ordenou que começassem os exercícios, todas riram. Para Sun, as ordens não eram claras, por culpado do general ou dos oficiais.

Sun demonstrou como "persuadir" as concubinas: com seu sabre, decepou duas concubinas. Simples e prático. Tal atitude de Sun poderia ser aplicada, contemporaneamente, para "persuadir"? Jamais! O direito à vida deve nortear os treinamentos militares. Outra, mulher japonesa não tinha voz ativa. Elas eram subjugadas, dentro de uma "respeito" pelos homens. Ou seja, machismo.

Concluo que, antes da democracia, no Japão, se os professores não acatassem o tipo de ensinamento considerado "ótimo" pelo imperador, cabeças iriam rolar. Imagine, antes de 1947, um professor dizendo que todos tinham direitos iguais. Mesmo que antes de 1947 os professores não se curvassem ao imperador, a liberdade de expressão e de pensamento era condicionada pelo imperador.

Se, contemporaneamente, o professor não se curva ao imperador, não é por medo, mas condição de respeito deste àquele. E mesmo assim, o professor jamais poderia, numa democracia, pensar que está acima [subjugar] de todos. Numa democracia, os professores brasileiros devem agir de forma que seus próprios comportamentos inspirem os alunos aos objetivos da República brasileira [CF, art. 3º].

Aos professores saudosistas da palmatória: nunca mais.

Referências:

A Arte da Guerra

Embaixada japonesa.

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Sobre o autor
Sérgio Henrique da Silva Pereira

Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora [Revista Governet – A Revista do Administrador Público], JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação, Revista do Portal Jurídico Investidura. Participação na Rádio Justiça. Podcast SHSPJORNAL

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