A perplexidade e indignação que circunda os brasileiros neste famigerado momento histórico é algo indescritível e inegável .
Convivemos diariamente com fatos que deixarão inúmeros desdobramentos a serem gerenciados no futuro, dentre eles a imposição de divisão de um povo, não nos moldes que tradicionalmente conhecemos, mas sim de uma forma que avilta os mais basilares princípios que permeiam as relações de convivência e que vai de encontro ao que está estampado na Constituição cidadã de 1988.
Ora, é fato que os brasileiros são reconhecidos pela sua simpatia e pela superação das adversidades, sendo que com muita luta não permitem que o preconceito se sobreponha e se instale, mesmo que este insistentemente se insinue.
A caracterização de que alguns brasileiros pertencem ao grupo dos “coxinhas” é apenas um exemplo desta ocorrência. É necessário dimensionar os riscos e a responsabilidade de um legado como este, que poderá fortalecer a intolerância e deixar mazelas por um longo período.
Salvo melhor entendimento, ao que parece a referência “coxinhas” seria utilizada em relação aos cidadãos que não atendem aos requisitos para o recebimento dos benefícios sociais disponibilizados pelo Estado, ou que não comungam das propostas e forma de condução do governo atual, ou aqueles que possuem poder aquisitivo capaz, inclusive, de viabilizar a compra de imóveis com valores aproximados de 500 mil reais, creio que se reportem à conhecida classe média, grupo este que estaria sendo apontado como os responsáveis pelos “panelaços”, meio utilizado como forma de se orquestrar uma mensagem de desagravo à todo o cenário político posto e imposto aos cidadãos.
Podemos até ousar dizer que, no contexto financeiro, no ritmo que estamos caminhando este “grupo/classe” estará fadado à extinção, o que é muito preocupante, pois, certamente, a sua contribuição é imprescindível para o progresso do País.
No ano de 2002 imperava o espírito de mudança, acreditando-se na melhoria da qualidade de vida de todos os brasileiros e na realização de um projeto social capaz de fortalecer o País na busca da diminuição das desigualdades sociais. Milhares de brasileiros acreditaram em projetos urgentes e imprescindíveis para diminuição da pobreza, porém não eternos, pois pensar diferente significaria não acreditar em mudanças estruturais capazes de transpor limites e propiciar dignidade ao povo de forma a impedir que um número imenso de brasileiros precisassem mendigar do Estado direitos básicos, como saúde, educação, alimentação, segurança pública, dentre tantos outros.
Na ocasião, surgiu a perspectiva de que teríamos um grande líder ou um grande “Estadista”, de um jaez daqueles que se posicionariam no cenário nacional e internacional pelos mais elevados valores.
Acreditou-se, ainda, em uma mudança institucional voltada para transparência e, principalmente, em uma lealdade para com os brasileiros e todas as suas instituições, afinal, esta era a bandeira que ressurgia e era hasteada juntamente com a esperança e o aumento da autoestima de um povo.
É possível dizer que milhares de “coxinhas” deram o seu voto de confiança a este projeto ou ao menos torceram para que ele se efetivasse, sendo que eventual modificação de posicionamento neste momento somente vem fortalecer e amadurecer o processo democrático.
Pois bem, independente dos sonhos que todos acalentamos e das conclusões que tiramos à luz de nossas convicções, hoje nos deparamos com um cenário muito preocupante e estamos reconstruindo as ruínas de um sistema político falido.
Estamos acompanhando a atuação de cidadãos que vem veementemente tentando salvar o pouco que nos sobrou depois de tanta humilhação, desrespeito, busca pelo enfraquecimento das instituições e, principalmente, da esperança de um Brasil melhor e que inspiram uma mudança de conduta e fazem renascer a expectativa de que uma nova concepção política se instale, onde o ser deve ser o lugar comum e prevalecer sobre o ter, a fim de que o interesse público possa se sobrepor ao privado.
Os holofotes estão acesos e mais do que nunca precisamos de atitudes éticas, capazes de ilustrar a vida dos grandes homens, sejam eles públicos ou não. O chavão “estamos no Brasil e aqui as coisas são assim mesmo” cede espaço para reflexão, impedindo a absorção em massa de ideias pré concebidas, pois sabemos que a depuração deverá ser também cultural.
Estes brasileiros “coxinhas”, assim como todos os outros, merecem ser enaltecidos e respeitados. Não se pode olvidar que eles geram empregos, contribuem para os cofres públicos, trabalham duro e buscam incessantemente uma melhor qualidade de vida e um futuro promissor para seus descentes e para a sociedade como um todo. Procuram exercer sua cidadania em prol da democracia, a qual é diariamente colocada em um balcão de negócios e sucateada por diversos detentores de cargos públicos e por aqueles que desejam se beneficiar de um sistema que se encontra doente, viabilizando que em inúmeros casos os critérios de escolha e os posicionamentos sejam apenas políticos quando deveriam ser técnicos.
O respeito à democracia e ao trabalho que deve ser desempenhado em prol do povo, o servir o público e a coisa pública, que é inerente à qualidade de servidor público ou agente público, não é algo que deveria ser factível de negociações, interesses partidários ou pessoais, devendo todos estes serem suplantados pelos interesses de todos.
Somente dessa forma nossas autoridades escreverão uma história de respeito, reverência ao próximo e deixarão um legado da mais absoluta decência e exemplo.
A busca incessante pelo poder ou para manter-se nele tem sido a tônica a imperar e marcar o tom em prejuízo da responsabilidade, característica dos fortes e justos, que poderá permitir que o Brasil prospere com dignidade e seja agraciado com um porvir melhor.
Deve-se ter ética e respeito ao se reportar ou ao se representar qualquer brasileiro, já que cada um de nós exerce um papel fundamental que proporcionará ao Brasil a sua convalescença e garantirá que este País possa se impor e se sustentar como uma forte e grande nação.