Reflexões sobre a virtude de Sócrates

23/06/2016 às 14:45
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Este trabalho pretende analisar de forma sucinta os principais ensinamentos de Sócrates, quanto ao seu modo de vida e o modelo de conhecimento que desenvolveu.

Sumário: 1. Introdução; 2. Tópicos sobre o desenvolvimento de sua vida; 3. Método Socrático; 4. A Virtude; 5. Considerações Finais; 6. Bibliografia. 

Introdução

Está obra é direcionada a analisar os ensinamentos de Sócrates. No decorrer desse artigo, buscarei apresentar aos mais variados tipos de leitores elementos, que os reuni no decorrer de minha pesquisa. Para que os interessados possam questionar e vislumbrar o modo de vida, os valores e a busca insaciável por conhecimento desse grande Filósofo.

Demonstrarei de maneira sucinta o desenvolvimento de sua vida e o modo de conhecimento que desenvolveu. Priorizando a sua concepção de virtude e moralidade, pondo em relevo a conexão desses temas com a aristocracia.

 2. Tópicos sobre o desenvolvimento de sua vida

Conforme apontado por estudiosos, não há relatos sobre publicações feitas por Sócrates. Entretanto, seus alunos publicaram várias obras narrando histórias e os ensinamentos ministrados por esse “pensador”, destacando-se entre eles: os diálogos de Platão, a comédia Nuvens de Aristófanes e as obras dos filósofos Xenofonte e Aristóteles.

            Ateniense, nato, nasceu em 469 A.C., filho de Sofronisco, escultor, e de Fenáreta, parteira. Casou-se com Xântipe e tiveram três filhos: Lamprocles, Sophroniscus e Menexenus. Viveu de modo simples sem buscar riquezas e grandes reconhecimentos.    

Buscou seguir os passos de seu pai como escultor, porém percebeu que o caminho que deveria seguir era outro, aceitando o seu destino como um mentor para a juventude, missão a qual dedicou sua vida e que teve como norte uma busca por conhecimento.

Pode-se dizer que a filosofia grega se divide em dois momentos: entre os pré-socráticos e os pós-socráticos. Podendo se perceber a grande influência das idéias, pensamentos e da política de Sócrates para o desenvolvimento da filosofia.

Sócrates defendia de forma voraz suas ideias, princípios e política, muitas vezes foram defendidas nas praças da Grécia. Ideias essas que desagradaram a Polis Ateniense, por suas críticas ao sistema democrata, que culminou com seu julgamento a pena de morte, conforme foi dito na obra Ditos Memoráveis de Xenofonte.

Foi acusado por Meleto, Ânito e Lícon de estimular a desordem perante os jovens, porém não há relatos dessa prática. Pelo contrário, ele pregava que a lei devia ser seguida por todos. Conforme os estudiosos, ficou claro que Sócrates não seria condenado à pena de morte por essas acusações, apenas seria repreendido por seu comportamento.

Segundo Xenofonte, a morte de Sócrates ocorreu devido a sua resposta quando lhe foi proposto que sugerisse a sua própria pena, conforme podemos perceber na passagem a seguir do Livro Polis Grega & Praxis Política de Oscar d’ Alva e Souza Filho, ele disse:

 “..., ele sugeriu que lhe fosse ofertada uma coroa de ouro (pois era o único sábio de Atenas) e que doravante, passasse a viver às expensas da cidade no Pritaneu (colônia de recreios destinada aos campeões olímpicos e aos heróis da cidade.”( 2007, pág. 42/43).   

Ele poderia ter evitado que sua pena fosse consumada, pois seu discípulo Críton subornou os guardas para que seu mestre fugisse, mas Sócrates se negou. Para ele era mais importante defender as suas idéias, que pregou durante toda a sua vida.

 A lei em seu entendimento devia ser seguida por todos, pois ela era a vontade máxima do povo, deste modo ninguém poderia desobedecê-la. Nota-se que o pensamento, exposto anteriormente,se encontra em harmonia com o a passagem do livro Ensaios de Filosofia do Direito do Professor Oscar d’ Alva e Souza Filho:

“É preferível sofrer uma injustiça do que cometê-la, e se houver cometido a injustiça é melhor expiá-la aceitando-se a sanção.”( 2004, p.45)

Um fato importante que merece ser frisado foi quando disse aos seus discípulos que não foi o primeiro e nem seria o último a morrer em nome da justiça. Imortalizando o seu pensamento, pois seguiu os seus princípios e valores até seu último suspiro.

3. Método Socrático

O método secionava-se em dois períodos: a ironia e a maiêutica. No primeiro momento o filósofo assumindo uma posição de aprendiz indagava, continuamente, o estudioso, que acreditava possuir conhecimentos sobre o assunto, fazendo o mesmo demonstrar as suas idéias e seus fundamentos. A Posteriori revelava a fragilidade e falsidade dos pensamentos anteriormente defendidos. Nota-se que na ironia o interlocutor adquire o conhecimento negativo, já que percebe que seu posicionamento sobre determinado assunto foi não estava correto.

No segundo momento, quando o palestrante assumindo uma posição de aluno, conclui que não sabia nada sobre o assunto supracitado. Inicia a sua busca pelo conhecimento, estimulado por Sócrates através de várias indagações para alcançar a sabedoria através de reflexões. Tendo em vista, que a  verdade é alcançada por medições e não trazida pelo exterior. Podemos agora concluir que Sócrates é defensor do meto do antropocentrismo, que acreditava uma flor, uma astro, uma pedra não poderia lhe ensinar nada, mas poderia aprender de dentro do ser para posteriormente externá-la, através de reflexões.

 Conforme relatos de seus discípulos, Sócrates, esporadicamente, interrompia o que estive-se fazendo e entrava em uma profunda reflexão. Uma dessas reflexões ficou lapidada na história Grega, onde se encontrava descalço sobre um amontoado de neve em profunda reflexão sem se incomodar com

A partir da utilização desses dois métodos é possível compreender a verdade. Que para ele é universal, ou seja, é válida para todos os homens. A conclusão que se alcançar é uma essência do encontro dos raciocínios de todos, diferentemente de uma opinião, no qual os juízos de valores fazem cada pessoa chegar a um fim particular. Conforme podemos perceber na no parágrafo escrito por Michele Federico Sciacca, em a obra História da Filosofia, que diz:

“A verdade é universal mas a investigação é feita “individualmente”: a singularidade dos investigadores não anula a universalidade do verdadeiro, mas esta não deve negar ou prescindir da primeira.”( 1966, página 55).

 Conforme relatos de Diógenes Laércio, Sócrates encontrava-se em Delfos e interrogou à Pitonisa sobre o que era verdade e ela nada respondeu, mas mostrou as inscrições de um rochedo que diziam: “Conhece-te a ti mesmo”.

O qual ficou horas a fim aprofundando-se em seus pensamentos, até que chegou a conclusão e disse a Pitonisa “Eu nada sei”. Quando retornou a Atenas questionou as autoridades da Polis sobre vários temas e descobriu que elas estavam em uma situação inferior a sua, pois desconheciam que nada sabiam e para ele apenas era sábio quem já havia descoberto que não nada sabia. Pois a partir desse momento, que seria possível o início de uma jornada de auto-avaliação para buscar formas identificar a verdade e o surgimento do conhecimento. Em conformidade com o que foi dito encontra-se o pensamento de Michele Federico Sciacca, em sua obra História da Filosofia, na seguinte passagem:

            “Conhece-te a ti mesmo” (gnóthi seautón); isto é: conhece o que de universal há em ti e que verdadeiramente faz de ti homem; como a tarefa que tens da vida; como o teu dever ser ou a norma ideal reguladora da tua conduta; como teus limites e destinos. “Conhece-te a ti mesmo” é o mote do verdadeiro sábio, que tem consciência do que é e do que deve fazer.”( 1966, página 55).   

4. A Virtude

Não se considerava sofista, porque para ele existia uma grande diferença entre o método dos sofistas e o seu. Distinguindo o conhecimento comercial e o conhecimento teórico. No primeiro não seria possível o aluno aprender, pois ele estaria taxado às informações fornecidas pelo seu mestre. Diferenciando-se do segundo modelo, já que neste o aluno seria induzido a criar seus próprios conceitos a formar suas convicções sobre o assunto. Vale ressaltar o ideal defendido pelos sofistas, que era a educação rompendo o marco mítico do pensamento grego.

Fica claro a algumas dessas diferenças entre os sofistas e Sócrates, conforme a obra Platão e Protágoras, de Eleazar Magalhães Teixeira:

“Essa hostilidade é uma conseqüência da distinção que ele fez entre os sofistas e Sócrates, distinção que os contemporâneos não fizeram. Tendo feito coro com os sofistas para arrancar a Grécia de sua posição conservadora, Sócrates foi além com a elaboração do discurso filosófico.”(1986, página 20).

Vale ressaltar que o posicionamento dominante entre os doutrinadores é de que Sócrates era um sofista.

Citado por muitos como o fundador da ciência, em geral, por sua doutrina que se baseava em formular conceitos e patrono da ciência ética a qual se contemplava com o seu conceito de virtude.

Para Sócrates a virtude está enraizada no conhecimento. Que o máximo que uma pessoa poderia almejar como objetivo de vida seria se tornar uma pessoa virtuosa.

A virtude segue três etapas, a saber: ser bom em alguma coisa, posteriormente a excelência na ação e chegando a bondade moral. Através desse progresso em busca da virtude alguém que é bom em algo busca a excelência e cada vez que se aproxima da bondade, mais próxima se torna da perfeição.

Então podemos notar que a um homem que busca a virtude é alguém que busca a excelência e o bem comum, conforme este segmento da obra Platão e Protágoras, de Eleazar Magalhães Teixeira:

“Se a ideia grega de virtude é a da excelência da coisa, quando essa coisa é o homem, então a virtude significa a excelência do cidadão, seu esforço para tornar-se o melhor possível e atingir o ideal do homem verdadeiramente homem”. (1986, página 18)

Para ele as pessoas buscavam o bem, tinham interesse de praticá-lo, pois isso levaria ao caminho correto culminando com a sua felicidade. O início dessa busca seria através do conhecimento, pois acreditava que as pessoas estudiosas não praticavam atos maléficos, pelo contrário quanto mais se aprofundavam em seus conhecimentos mais buscavam ajudar, melhorar, incentivar as outras pessoas. Quanto mais sábias são as pessoas, mais elas se aproximavam de deus. Também acredita que existiam forças que poderiam alterar isso, como forças da própria natureza ou humanas.

Acreditava que ninguém fazia o mal de livre e espontânea vontade, sempre seria motivado por algum elemento externo. Este muitas vezes era motivado pela opinião, que era confundida com ciência (a qual não possui nenhuma característica semelhante), induzia a atos que geravam grandes infelicidades como preconceitos, através de tradições e costumes, por exemplo. 

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Há divergências entre doutrinadores sobre o fato de Sócrates ser aristocrata ou não. Ora, se ele acreditava em um governo virtuoso e apenas uma pequena parcela da população poderia ser enquadrada nesse conceito fica resplandecente o seu posicionamento. Conforme se nota em um relato transcrito no livro Polis Grega & Praxis Política de Oscar d’ Alva e Souza Filho, quando foi indagado se era Aristocrata, respondeu utilizando a retórica:

 “Devem todos os homens praticar a medicina ou apenas os médicos? ; Todos os homem devem dirigir navios ou somente os peritos na arte náutica? ; Todos os homens devem comandar os exércitos ou apenas aqueles que têm competência para tal? E sobre as coisas da cidade, todos a devem governar ou apenas os que possuem capacidade e conhecimento da atividade política?“.(2007, página 45). Mostrando o seu posicionamento como um elitista, pois defendia um governo dos virtuosos e a Polis não possuía esta virtude.

A humildade na busca do conhecimento foi um marco importantíssimo em sua jornada e que a imortalizou com a seguinte frase: “Eu sei que nada sei.”, pois a partir daquele momento deu um paço mais próximo para a virtude, tanto que Pitonisa, naquele momento, disse: “Você é o homem mais sábio do mundo.”. Acreditava ser mais sábio que os outros, pois ao passo que interrogava as pessoas via que eles desconheciam que nada sabiam, matendo-se cegos por seus vícios e ilusões.

Para ele admitir a sua ignorância não seria uma derrota, mas sim uma vitória, pois a partir desse momento poderia nascer à indagação necessária para a busca do conhecimento.

O marco de sua humanidade se deu no momento em que leu e refletiu as seguintes inscrições: “Conhece a ti mesmo”, pois naquele momento conseguiu vislumbrar as suas limitações. Através desse marco a desenvoltura de sua vida se deu de maneira simples, nunca aceitando assumir uma condição de prepotência em relação aos demais, já que sabia que existiam coisas que nunca saberia as respostas.

Através da compreensão da virtude chega-se a um meio lógico que enseja um percurso entre o relacionamento do cidadão e da cidade tornando-o mais sucinto e agradável.

Protágoras acreditava em uma virtude política e moral diferentemente de Sócrates que defendia uma virtude técnica e pragmática, também acreditava que não seria possível ensinar a virtude defendida por Protágoras.

Uma distinção que se deve frisar é o conceito da virtude para os gregos e a dos dias atuais, em que a virtude pregada pelos gregos é sólida e universal já a empregada nos dias atuais possui um sentido muito e limitada, conforme o texto a seguir da obra Platão e Protágoras, de Eleazar Magalhães Teixeira:

“Essa diferença decorre sobretudo de dois fatos: a distância temporal e espacial que  nos separa da cultura helênica; as influências posteriores das heranças latina e cristã.”(19866, página 17).

Nota-se que uma pessoa virtuosa segundo o referido conceito, é uma pessoa que consegue se destacar em algo vislumbrado a idolatrarão no presente e no futuro, tendo em vista o aspecto global da virtude.

A sabedoria impulsionava a sua jornada pelo conhecimento, tentando alcançar os objetivos aspirados. Acreditava que todos buscavam a sabedoria, pois ela tornaria mais simples e fácil a jornada das pessoas para alcançarem suas metas. Livrando-as da ignorância e dos vícios que inviabilizariam o livre arbítrio. Para ele uma pessoa virtuosa é uma pessoa feliz. 

​5.  Considerações Finais

Apesar do seu modo de vida simples, sem preocupar em busca de grandes riquezas como foi dito anteriormente, revolucionou a Filosofia com suas indagações e pensamentos.

Sócrates em seu conceito de virtude nota-se que ele está engajado em tornar o mundo em um lugar melhor. Apesar de suas críticas ao modelo democrático e apoiar o modelo aristocrático, coloco em relevo que este modelo não seria apenas daqueles que possuíam riquezas, mas sim daqueles que tivessem competência para gerir o Estado.

Um tópico que é importante frisar é o seu posicionamento acerca do conhecimento, que  via de maneira pobre e abstrata o conhecimento ensinado pelos sofistas, um ensinamento comercial, apenas preocupado em distribuir informações em troca de quantias de dinheiro. Ele não acreditava nesse tipo de aprendizado, pois os ensinamentos na sua concepção estão além disso, deviam exprimir a essência da filosofia, ou seja, surgiria o conceito universal a partir do intelecto de cada um apenas sendo auxiliado por seu mestre.

Recomendações:

Recomendo aos estudiosos que busquem outros meios de complementar os seus conhecimentos.

 

Referências Bibliográficas:

MÁYNEZ, Eduardo Garcia. O Direito Natural na Época de Sócrates. Tradução de Oscar d’ Alva e Souza Filho. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2ª Edição. 2010.

SOUZA FILHO, Oscar d’ Alva e. Polis Grega & Práxis Política. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 5ª Edição, revisada e ampliada. 2007.

 SOUZA FILHO, Oscar d’ Alva e. Cadernos de Filosofia do Direito - I. Rio – São Paulo – Fortaleza: ABC Editora, 2009.

SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia I. São Paulo: MESTRE JOU, 1966.

Platão &, Protágoras, tradução de Eleazar Magalhães Teixeira, Fortaleza: Edições UFC, 1986.

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