Parece ser bizarro escrever sobre algo que vivo todos os dias no auge da minha juventude, mas se o que realmente nos define é a personalidade ou o intelecto, já podem me de chamar de vovô, porque apesar dos 20, sigo a casa dos 50 e levo a carga dos quase 80.
É bastante curioso o modo com envelhecemos; não sei se você já observou, mas nossa memória se dá o luxo de modificar algumas informações afim de preservar nossa mente para algo que ela própria considera necessário. E é por esses acontecimentos que muitos de nossos vovôs e vovós já não recordam com tanta facilidade dos momentos mais remotos; esse impedimento é a mente guardando espaço disponível para uma nova informação na memória do seu portador.
Ela reserva o espaço ideal para uma lembrança que traga paz e elimina, na maioria das vezes, a que causou dor. Nomes e figuras marcantes, acontecimentos importantes, amores broxantes, dores repugnantes, todos selecionados minuciosamente em um trabalho que dura décadas de uma vida. A renovação perfeita de nosso giba mental.
É lógico que há casos e casos onde sofremos de perdas repentinas e até mesmo duradouras de memória, e em casos assim o recomendável é o auxílio médico. Quanto mais saudável a vida, mais fortificada a memória.
Mas você deve estar se perguntando: O que tem a ver ser jovem com a evolução da, aqui comentada, memória? Devo informar que tem tudo a ver. Tudo se liga ao ponto mais percebido da nossa história, a saber, nossa juventude. E é aqui, nesse exato momento que começo a falar sobre ser jovem no século XXI, com uma geração chamada “Y”.
Caro leitor, você já parou para pensar que o futuro é o espelho do passado, e que o passado é o seu passado?
Imagine você daqui a 30 anos; casado, com filhos, bem estruturado, com o trabalho dos sonhos, não sei. Todos lhe respeitam pelo cidadão que se tornou e se espelham na figura ilustre em bons exemplos que você é. Imaginou?
Agora, volte para o presente. Quem é você? Pesquisam comprovam que 85% das pessoas que possuem um futuro sadio, possuíram um passado sadio. Agora, e se você não possui um presente sadio, seu futuro será sadio? Talvez você esteja se perguntando: Sim, mas e a memória entra onde? A memória entra no exato momento em que você resolveu deixar o caos corrompê-la.
Recentemente, nós publicamos um texto sobre o avanço e acusamos ao sistema de nos moldar. Infelizmente, a juventude é o lado mais fraco desse jogo, é o consumidor vulnerável de todas as ofertas disponíveis. Você deve saber que a maior parcela dessa geração atual é a que menos age com responsabilidade de escolha. Provam de tudo, fazem de tudo, alegando ser normal e necessário para definir sua própria identidade, não olham os exemplos, não vislumbram o futuro.
Augusto Cury, em seu livro Mentes Brilhantes Mentes Fascinantes afirma algo relevante sobre o observar declarando ser inteligente a pessoa que aprende com seus próprios erros, mas é sábia a pessoa que aprende com os erros dos outros para nunca cometê-los.
Exceto nos momentos de estudos, a juventude brasileira é, atualmente, a que menos ler. Afirmamos juventude por ser maioria, e penamos em ter que observar isso. Em países sul-americanos como o Brasil, mais precisamente na Argentina, 9 entre 10 jovens já leram anualmente 24 livros, enquanto que no Brasil, 5 entre 10 jovens leram anuais metade da quantidade lida pelos jovens argentinos.
Ser jovem é a mais bela dádiva do corpo; é quando nossos ossos são fortes, a força é bem mais fugaz, o sorriso é atrativo e o papo prazeroso; mas muitos de nós já não vivem a filosofia juvenil, pois acham chatos os papos e diálogos sobre responsabilidades. Fogem do aprendizado. Vivem o desgaste intelectual em festas onde o que mais se valoriza é a alienação mental. Hoje, parar um jovem na rua e conversar sobre futuro, na maioria das vezes, é perda de tempo.
E a memória? Tem se desgastado aos poucos. O que mais preocupa ao campo sociológico é que os frutos dessa geração “Y” vai seguir rumo ao novo com as características do passado e vão, por mais tecnológicos que sejam, se revestir da imoralidade outrora viva.
Não é que vamos deixar de nos divertir, deixar de sair para comemorar, mas sim analisar o que se comemora, como se comemora e onde se comemora.
O ditado popular bem quisto já nos alerta em deixarmos um filho, plantarmos uma árvore, publicarmos um livro. O fato de sermos jovens não nos exime da responsabilidade de nossas escolhas e muito menos da obrigação de preservar para o futuro a memória do passado.
Trazemos por conclusão que nossa juventude deve ser revista. Essa liberdade democrática-republicana não é para nos levar ao fundo do poço, mas para nos fazer agir e raciocinar como sujeitos de direitos mais também obrigações. O Estado não vai sozinho cuidar de nossas vidas.
Pense sobre isso.
Recife, PE.