No Rio Grande do Norte, empresas fecharam diversos postos de trabalho desde 2013. Eram postos de trabalho que estavam presentes garantias trabalhistas, tais como jornada de trabalho condizente com a legislação, normativas de segurança e medicina do trabalho, além de férias, décimo terceiro, horas extras e etc... Mas, as empresas ainda precisavam de mão de obras para suas operações. Desta forma, transferiram estes posto de trabalho, contratando com o Paraguai (China da América do Sul) e com “facções têxteis"(interessante o nome dado as empresas terceirizadas do seguimento têxtil). Aliás, a forma econômica de contratação dos trabalhadores é idêntica as práticas dos piores períodos da Revolução Industrial.
Não foram gerados empregos, foi gerado miséria. Aproveitou-se a vulnerabilidade dos mais pobres para se gerar mais pobreza.
Empresas vem contratando as terceirizadas ao preço de R$ 0,35 o minuto, expondo os trabalhadores a uma jornada de trabalho extenuante. Os trabalhadores, por exemplo, necessitam colocar 500 elásticos em calças a cada hora, para conseguirem uma remuneração mensal de R$ 550,00, com jornadas acima de 12 horas.
Não é por acaso, portanto, que algumas delas multiplicam seu lucro por 10, em plena crise econômica.
Qualquer pessoa com um pouco de sensibilidade entende que o lucro está vindo da exploração desmedida da miséria. Aliás, quando se explora a miséria, a única consequência é a geração de mais miséria. A vida dos trabalhadores do sertão nordestino estão sendo consumidas. A miséria advinda do esquecimento estatal, da corrupção e da seca é o combustível para a exploração predatória. Todavia, não sejamos tolos. Se se explora a miséria do sertão, aumenta-se miséria nos grandes centros urbanos. E o mecanismo se retroalimenta. E por sua vez, retroalimenta o sistema de favelização, tráfico de drogas e violência urbana desenfreada. Neste sentido, dizer-se favorável ao combate a violência e ao mesmo tempo a favor deste modelo de" emprego "é ser apenas demasiadamente ingênuo, ou, mal intencionado.
Com lucro multiplicado por 10, A Guararapes Confecções diz-se defensora dos “empregos”. Enquanto, aniquila os melhores empregos, coloca os trabalhadores em situação de extrema vulnerabilidade para seu melhor proveito. Nesta mesma esteira, muitas outras empresas do ramo têxtil vem usando as mesmas táticas.
Para “concorrer” com a China, diversas empresas do ramo têxtil vem escravizando os brasileiros esquecidos dos sertões e imigrantes nos grandes centros urbanos.
Pense bem antes de comprar suas roupas, nossas escolhas de consumo podem estar alimentando a ganância e a miséria ao mesmo tempo. Novas formas de consumo veem sendo fomentadas por grupos de sustentabilidade. Para além de apenas sustentabilidade ambiental, a sustentabilidade econômica do trabalho e emprego de forma justa.
Repense suas escolhas de consumo no mercado da moda. Você também é responsável por esta história. Veja aqui alternativas - Fashion Revolution Brasil .
Para pensar melhor sobre o assunto:
Documentário 'The true cost" (ative as legendas no ícone CC do vídeo).