NÓS TEMOS EQUILIBRIUM

08/10/2017 às 15:41
Leia nesta página:

Mas, nenhum direito.

~~ Ainda que meio passado (não disse ultrapassado), assisti o filme Equilibrium. O filme é passado porque já chegamos a Blade Runner 2049. Quem assistiu ou é fissurado pela edição clássica do Blade Runner 2019 – escolhido o melhor filme de ficção (realista) do século XX –, é óbvio, deve se conter em qualquer comparação fílmica. Por isso, tratarei de algumas interfaces entre filmes, no reino da distopia, em outro texto. Até porque ainda não assisti à continuação em 2049. Sobre o Blade Runner 2019 tenho texto no site Jus Navigandi.
 O filme Equilibrium retrata o planeta escuro no pós-guerra nucelar. Já vimos este cenário em muitos outros, a exemplo de Mad Max: o pior deles foi com Tina Turner. A catástrofe de Matrix decorre do avanço da Inteligência Artificial (e só vale o ingresso o primeiro), assim como ocorre em O Exterminador do Futuro: não assistirei, de novo, nenhum da série. A hecatombe ambiental é o tema de Avatar: não vi e não verei a continuação.
 Pois bem, traçadas algumas diferenças originais, em Equilibrium surge uma cidade desencantada, sem sentimentos, que combate a maldade humana (“homini lupus omni”) com fuzilamentos sumários. Há remanescentes humanos – veja-se que não tem humanoides ou replicantes em Líbria –, mas também se desliga de outro épico no gênero: Eu Robô. Inspirado no ótimo Asimov, os robôs utilizam as três leis da robótica para darem Golpe de Estado, salvando os humanos de si mesmos.
 É mais ou menos neste limite entre Equilibrium e Eu Robô que continuo – agora a par da realidade nacional. Pesquisa recente aponta que 80% dos brasileiros converteram-se à direita menos esclarecida (para dizer com educação) e, com pautas conservadoras e reacionárias, defendem algum tipo de controle social que facilmente nos relegaria um tipo de Sociedade de Controle com Estado Total.
O projeto de censura prévia à Internet não é novidade; aliás, muitos juízes já tentaram isso. O crescimento da Bancada BBB, com neopentecostais na liderança, é avessa a qualquer princípio do processo civilizatório. É óbvio que a imensa maioria nem sabe do que se trata. No miolo de tudo temos a luta de classes que se nega, mas bate à porta, e se metamorfoseia (como insetos de Kafka) em tenebrosa Guerra Civil. Os direitos fundamentais são condecorações dadas a César.
 No sofá, assistindo aos filmes, estão (o candidato) Jair Bolsonaro e Luís Bonaparte.  Dória – prefeito Twitter de São Paulo – disse que vem para a sessão. Mas, o que isso tem que ver com os filmes em si?
 Tem o fato de que, nas ruas, ouve-se aos gritos o chamado à “intervenção militar”, seguida da imposição de uma moral neopentecostal açoitada pelas torturas preconizadas por Bolsonaro. Além disso, outros juízes já proibem peças de teatro, ordenam fechamento de exposição em museus. Prefeitos de cidades pequenas – do tamanho da nossa – também perseguem centros de umbanda.
 Isto se chama fascismo. Tanto quanto era nazista o ambiente social de Líbria. Cidadela nazista até na inteligência militar que se vê numa cena comum. Soldados da repressão – alados pelo clero de Mefisto (Grammaton) – são recebidos à bala e um deles diz a seguinte pérola: “fomos informados, pela inteligência militar, que os resistentes (humanos partisans) estão armados”. E o chumbo com fogo caindo neles.
 Em paralelo ao Brasil atual, concluo com duas breves análises: 1. Há esperança, morre quem permite que outros pisem em seus sonhos; 2. Porém, estamos em um estágio avançado de sociedade nazi-fascista, no reino de psicopatas, brochas e cracudos.

(Em tempo: em Líbria, os humanos tomavam duas doses diárias de uma droga sintética para não terem sentimentos – e nem direitos).
 
 Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Vinício Carrilho Martinez

Pós-Doutor em Ciência Política e em Direito. Coordenador do Curso de Licenciatura em Pedagogia, da UFSCar. Professor Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Departamento de Educação- Ded/CECH. Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS/UFSCar Head of BRaS Research Group – Constitucional Studies and BRaS Academic Committee Member. Advogado (OAB/108390).

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos