Considerações Finais
A política de gestão da água tem o dever de contribuir para uma sociedade mais justa, seguindo princípios sociais de igualdade e inclusão. A negação da cultura da segregação socioespacial deve ser uma prioridade se quisermos superar padrões repetitivos de discriminação social, sejam eles de classe ou geográficos.
Tal atitude não deve partir somente dos movimentos sociais, porquanto também devem ser suportados pelo Estado - seja a União, Estados ou Municípios - através de parcerias públicas ou público-privadas, com vistas a uma política de gestão hídrica fundamentada na sociabilidade e solidariedade que de fato representem interesses coletivos.
Infelizmente, temos em Manaus, hoje, empresa concessionária e município seguindo a mesma cartilha de toda cidade que teve seu serviço de distribuição de água privatizado: a empresa procurando manter o serviço funcionando a contento para uns, nem tanto para alguns, quase nada para muitos e com, ainda, a obrigação de dar cada vez mais lucro, pois eles precisam ser repartidos entre os acionistas.
Enquanto isso, o município, que deveria manter-se imbuído no papel de construir políticas públicas eficazes para sanar o problema da distribuição da água na cidade, demonstra ser ineficiente em cumprir tal tarefa.
A conjuntura atual da política pública da gestão de água da cidade Manaus se caracteriza por uma situação de espoliação urbana articulada à teoria da seletividade hierárquica das políticas sociais, ou seja, o não reconhecimento das necessidades das camadas populares a um direito à cidade, já que o acesso à água potável na cidade de Manaus não supre as demandas coletivas, em especial das zonas norte e leste.
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