A PERVERSÃO E O INTERPRETANTE IMAGINARIO
Quando esse ponto de detenção, que é efeito da extração do objeto - do objeto a que inscreve a falta de objeto - não está presente, o que há é infinitização, a remissão infinita da significação pela não inscrição da marca da falta, fenômeno que caracteriza a psicose.
Esta é a hipotese adotada por Alfredo Eidelsztein, em Las Estructuras Clinicas a partir de Lacan, Volume I, Terceira Edição, Editora Letra Viva, Buenos Aires :
A la inscripcion, em le sentido de estabelecer que hay marca da falta, se la denomina “ extraccion del objeto a” [...] Esto, que quier dicer. Primero: que la extraccion del objeto a hace deste objeto algo impossible em la realidade tridimensional. [...] que hace de esse objeto perdido desde la origen, la causa del deseo inconciente, em torno a lo qual gira la pulsion”
A inscrição da marca da falta se denomina “extração do objeto a”. O que faz desse objeto algo impossível na realidade tridimensional. Vazio que se constitui e em torno do qual gira a pulsão. Mas vazio que produz horror, medo e angustia, correlatos ao desejo que causa. E que motiva a busca de objetos – estes sim eventualmente tridimensionais – que produzam a ilusão de satisfação e completude.
Em el âmbito del psicoanalisis, la extraccion del objeto a implica: a) dentro de la estructuracion simbólica, la introduccion de um elemento abstracto que no coincide com ningun objeto real, y b) la perdida de um punto real por causa de tal maniobra. Um elemento imposible de hallar em la realidad se incorpora y um elemento posible de hallar em la realidade se perde.
A extração do objeto a implica, dentro da estruturação simbólica, a introdução de um elemento abstrato que não coincide com nenhum objeto real e a perda de um ponto real. Um elemento impossível de se encontrar na realidade se incorpora e um elemento possível de se encontrar na realidade se perde.
É a relaccion entre si de ambas las manobras lo que produce certa logica da qual surge um imaginarizaccion possíble, mas: no se debe perder de vista que essa imaginarizacion, por exemplo la “ neurótica” no es consequência de la estuctura intuitiva del mundo, sino de la estrutura intuitiva del mundo humano, si a este se le há agregado um elemento abstracto y se há perdido um outro real.
Se na psicose não acontece a operação de incorporação do elemento abstrato agregado (primeira manobra), na perversão esta manobra é realizada – há inscrição da lei. Contudo, no momento de realizar-se a manobra de reconhecer a perda do elemento real (segunda manobra), o perverso o substitui por um elemento imaginário, por uma imagem tridimensional de conotação fixa. A lei será esvaziada de seu conteúdo abstrato, universal, normativo, genérico. A lacuna necessária da lei – a perda de um ponto real - será preenchida por imagens privilegiadas, Interpretantes.
Em termos da semiótica de Peirce, na primeira manobra, um Existente (Concreto) deve ser substituído por outro Existente (Simbolico). Na segunda manobra, uma Qualidade (Imaginario) dever ter seu Representamen remetido ou subordinado a um Interpretante (Lei). Se a primeira manobra não acontece, ausente ou inoperante o significante do Nome-do-Pai. Se a segunda manobra não acontece, esse significante operou, porem de modo relativizado, na medida em que o curso da cadeia foi detido pelo atravessamento de um Representamen que se deteve, que se fixou, que impediu a remissão ou a subordinação ao terceiro elemento da cadeia, seu Interpretante.
E se fixou pela intensidade da imagem deste Representamen, da Qualidade. A primeira operação é metafórica – substituição de um Existente Concreto por um Existente Simbolico. A segunda operação é metonímica – a associação em contiguidade de um Existente Simbolico com uma Qualidade, o Representamen de uma imagem. E terceira é novamente metafórica, a subordinação do Representamem desta Qualidade a seu Interpretante, a Lei. O perverso realiza a primeira, mas se detem da segunda para a terceira operação.
E esta é a especificidade do significante do Nome-do-Pai. A regra para a produção de significação impõe que um Existente seja associado a um Representamen e este a um Interpretante. A operação metafórica de susbtituiçâo de um Existente (Concreto) por outro Existente (Simbolico) é excepcional e compete somente ao significante do Nome-do-Pai. Assim, o Representamen, para o perverso, funciona como Interpretante, ainda que imaginário, na medida em que este Representamen funciona como Lei.
En el decir o dicho esquizofrênico ...no há ley que impida que el intervalo se deslice sin limite em la metonímia. La principal consequência de este funcionamento es que impossibilita el desarrollo adequado a la norma de substituição metafórica, ya que como la metáfora es la sustituicion de um termo al lugar que outro tiene em la cadena, si tal lugar desliza metonimicamente la metáfora si ve profundamente alterada. ”
A infinitização implica num deslizamento constante do lugar em que o significante metafórico – o Interpretante que deteria a remissão infinita da significação – ocuparia na cadeia metonímica. Esta corre na horizontal, no eixo do sintagma, enquanto é no eixo do paradigma – e, portanto, na vertical – que se encontra a cadeia metafórica. Para que este ponto de basta aconteça é necessário a inscrição de um intervalo, de um vazio entre os termos da cadeia.
Sem a extração do objeto a este vazio não é inscrito. É, portanto, na articulação (associação e distinção) e na interpretação (em sua ordenação) dos paradigmas que há a distorção em que o psicótico se perde, tomando a metáfora ao pé da letra, dando concretude ao que é existência simbólica. O perverso, por sua vez, ocupa este vazio entre os termos da cadeia com um conjunto de imagens específicas, as quais serão objeto de exame mais a frente.
E isto acontece, na psicose, pela ausência ou a inoperância do significante encarregado de inscrever a autoridade da lei no Outro e de constituir o Outro da Lei. Este significante ausente ou inoperante - este Interpretante, no vocabulário de Peirce - se denomina Nome-do-Pai. Na perversão este significante opera, mas, o curso da cadeia associativa sofre uma redução – pela processo de detenção já descrito mais acima – cujos efeitos são a prevalência da imagem, redução que degrada – outro sentido da palavra perversão (degradar) – o eixo simbólico e desconsidera ou relativiza esta instância terceira ao rebaixar as categorias logicas do tempo e do espaço a um conjunto condensado de imagens auto produzidas.
Se tratara de demonstrar que, dada la inoperância del significante encargado de inscibir la autoridade de la ley em el Otro y de constituir al Outro de la ley, o sea, el significante del Nombre-del-Padre, es impossível produzir tal formalização.
A psicose implica no fechamento á toda composição dialética no que se refere ao pensamento, as percepções e as sensações, pela impossibilidade de o psicotico escapar aos efeitos ontológicos e onticos da linguagem – ele não consegue transformar a certeza (delirante) em pergunta pela existência. Na perversão esta composição dialética é precária, pela recusa em estabelecer ou sustentar o campo das diferenças - outro nome para a castração - ante o horror que isso suscita no sujeito.
El psicoses implica em el cierre a toda composicion dialética padecido por el psicótico em lo referente a sua relacion com el pensamento, com las percepciones y las sensaciones. La falta de composicion dialética indica la impossibilidade, em certas circusntancias, de aplicar, por exemplo a uma percepcion, la logica de la tesis, antitesis, sintesis, esta ultima que articule la primera com la segunda, lo que produce um resultado que se pude expressar como “ si y no a la tesis”, Dado el desanudamiento com el Outro, el sujeto, frente ao fenômeno psicótico, no pude poner em funcionamento el Outro del fenômeno y la pergunta consequente. “
Esta impossibilidade de articular (associar e distinguir) o sim e o não da tese, de enfrentar o paradoxo pela análise de seus elementos – e não por uma síntese apressada que conduz á certeza delirante do psicótico ou ao fantasma estereotipado do perverso – e por em funcionamento ao Outro do fenômeno e a pergunta pelo Outro, essa ausência de dialética é puro efeito das leis metafóricas e metonímicas da linguagem.
Se trata de uma distorsion, de uma transformacion y de la desapacion de ciertas funciones y elemientos que operan em el campo de la extraccion del objeto a. {...} La psicosis es la impossibilidade de formalizar a causa de la ausencia radical de de la funcion de la ley entre os elementos, es decir, que no hay orden entre eles”
A função paterna consiste em fazer crer nas existências simbólicas, carregadas de abstração, universalidade, normatividade e efetividade. Articular (no sentido de associar e distinguir) e ordenar (no sentido de conferir ordem, dispor no tempo e no espaço) Simbólico e Real. E esta operatória depende do reconhecimento por parte do sujeito das categorias lógicas do tempo e do espaço, categorias que estabelecem diferenças – a determinação de funções, por exemplo, é condicionada pela correta diferenciação entre o sujeito e o Outro - e que se localizam no eixo Simbólico. A lógica que prefere a versão á função, a ficção á abstração, implica na inflação do Imaginário.
Ademas, y, essencialmente, es la funcion del padre hacer crer em lo que existe. {....} A lei, como código, não é o foracluído na psicose ... sino el ordem simbólica...la orden de las cosas que é idêntico al orden de la realidade. La foraclusion del significante de la lei conleva una distorsion del funcionamento del ordem simbólica...y de la realidade.
Lacan, no Seminario I, afirma o caráter de fundação e ordenação - pela criação ex nihilo - da ordem das coisas outorgada pela lei:
Esta ley crea, em cada instante de su intervencion, algo nuevo. {...} Por outro lado el nombre del padre como fundante de la orden de las cosas.......en la medida em que designa......que funciona como nomenclatura classificatória y a la lei entendida como Themis o faz ( el ordem simbólico).
Esta ordem classificatória fundada pelo dito do Nome-do-Pai que, com sua autoridade, efetiva a união do desejo com a lei, articula Imaginário e Real com o Simbolico. Associa e distingue, ordena - dispõe no tempo e no espaço - a consistência do Imaginário, o furo no Real e as ex-sistências do Simbólico.
...la verdadeira funcion del padre que em el fondo es la de unir um desejo (y no la de oponer) a la ley. {,,,} La existência de que se trata ex-nihilo, que se articula intimamente al acto assignado y correspondiente al padre, “ el acto de hacer nacer uma existência de la nada”
Benveniste examina a relação entre autoridade, criação e existência:
Toda palavra pronunciada com la autoridade determina um cambio em el mundo, crea algo; esta cualidad misteriosa eslo que o augeo expressa, el poder de hacer surgir las plantas, que da existência a uma ley. ...Valores oscuros y poderosos aparerecen em esta autoritas, esse don, reservado a pocos hombres, de hacer surgir algo y – al pide de la letra – de hacer existir”
O dito primeiro decreta, legisla, aforiza, confere ao outro real sua obscura autoridade. Faz existir. Para Eidelzstein, sem a função do pai, dada a foracluisão da função da autoridade do dito, irremediavelmente o sujeito fica aberto a “Unglauben”.
Tal termino indica la falta de uno de los terminos necessários para sostener la crencia em las existências simbólicas, o sea, la clinica de la holofrase, que remite a la muerte de lo que existe, a la falta de composicion dialética de los fenômenos holofrasicos (ya que no operan tesis, antisesis y sintesis em sua relaciones reciprocas) y a la impossibilidade de la pregunta sobre la existência.
A pergunta pela existência na perversão acontece, mas a resposta é no sentido de substituir a função pela versão (reduzindo o simbólico ao imaginário), a abstração pela ficção ( no fetiche – o falo imaginário prefere o simbólico) e pelo gozo que prefere ao desejo (no real).
Quando tal funcion del padre esta forcluida se hace imposible la fe o la crencia em las existências simbólicas, y lo que asi no se sostiene em lo simbólico ... retorna como real (em las alucinaciones) como imaginário (en la significacion delirante) o como neologismos (quando lo simbólico deja de funcionar como tal), pero asi no sireven para sostener las existências simbólicas.
Importante também indicar que o significante do Nome-do-Pai opera no sentido de separar - de distinguir - o sujeito que encarna o lugar do Outro do lugar em que se localiza a ordem simbólica, notado por Lacan como A.
Si el Otro se localiza por fuera de A, la ley (Themis) como tal no pode operar. Al distinguirse entre el Otro y el A se logra la condicion logica para poder concebir la psicoses, lo que es imposible de ser realizado si se parte del supuesto que sempre, necessariamente, todo sujeito que encarne la funcion de Otro para alguien se localize em A. La operatória del padre consiste em separar e distinguir al sujeto que encarno el lugar del Otro del lugar del A.
Asisim se constata que a função do pai para Lacan, asim como para Freud, radica em introducir a terceiridade. Na psicose estes dois lugares distintos são tomados como um só. A terceiridade não é introduzida, há somente dualismos especulares. Na perversão a terceiridade é introduzida, mas resta adulterada, degradada, imaginarizada.
Para Eidelstein esta estrutura, a da psicose, é a “natural” do ser humano. Normal utilizado no sentido de adequado a norma ou a lei e natural entendido como aquilo próprio ou especifico ao simbólico mais além de cada caso Para alterá-la, no sentido de converter esta realidade “natural” na realidade “normal”, é necessária a manobra efetuada pela metáfora paterna.
La estrutura natural (intencionalmente entre comillas) de la realidade se manifesta na psicosis. El campo do intervalo o de la extraccion del objeto a implica las consequências de uma manobra agriegada em cada historia a essa realidade “ natural”. La metáfora paterna es essa manobra, que converte a realidade natural em la normal, es decir, de acuerdo com la ley e el orden.
O limite tênue que existe em alguns casos para estabelecer o diagnostico diferencial entre psicose e perversão é justificado pela proximidade entre a foraclusão (ausência ou inoperatividade) da metáfora paterna na psicose e a precariedade das versões desta metáfora fundante nas perversões.
Si el ordem simbólico esta legalizado si se pude afirmar sin lugar a dudas que posse leys especificas (sintáticas e gramaticais, metáfora e metonímia, segun los caso y las teorias) y si el sujeto es efecto del significante – sujeto del linguaje- por que es necessário, para cada caso, que la operatória de la metáfora paterna introduza la ley.
A inscrição da extração do objeto a implica na perda ou na ausência de um objeto real, tridimensional, que é substituído por um objeto não físico, abstrato, em um processo metafórico especifico denominado de metafora paterna, inscrição que não acontece na psicose. Nesta não há a inclusão na realidade de um ponto que opere, no abstrato, como impossível.
Na perversão, essa perda do objeto real – castração materna - é compensada, substituída, metaforizada, por um objeto cuja abstração (que vai constituir o ponto ou a função do impossível) não se faz suficiente para conferir estabilidade ao mundo do sujeito ante ás inevitáveis lacunas produzidas pelos atributos de generalidade, normatividade e universalidade da lei.
Esta estabilidade só é alcançada à custa de uma inversão entre os polos do sujeito e do objeto: o sujeito perverso passa a ser o objeto cuja estabilidade é por ele imaginada; seu parceiro passa a ser o sujeito barrado e dividido pelas múltiplas exegeses possívei advindas da incidência da lei. Lei da qual ele é o instrumento, lei da qual ele dispensa o Outro como interprete, lei da qual ele é o único Interpretante.
Certeza e Segurança jurídica dependem, em qualquer sociedede ou campo discursivo, do endereçamento de uma demanda ao Outro – este que diz a lei, que explicita sua incidência em cada caso concreto. Este outro que funciona como garante – da lei ou da verdade - esta anulado pelo perverso, susbstiuido por uma imago de si mesmo, por suas imagens rainhas.
El problema em la psicosis no es que el objeto a non seja extraído, sino que no esta inscripta su extraccion, lo que produce um funcionamento anômalo de la realidade, puesto que no se inclui ali ningun punto que opere como imposible. Estoy planteando que nosostros debemos estudiar como se extrae el objeto a y como se lo inscribe como impossible.
A extração do objeto a é entendida pelo psicanalista argentino como uma operação positiva - ele não considera a psicose um defict ou uma negatividade - um outro modo de ordenação do tempo o do espaço, na qual a função do impossível não está contemplada. Na perversão, a função do impossível é alterada ao sabor do imaginário e, ainda que fixada pelo fantasma, se apresenta bastante elástica.
Esta ordenação do espaço, em uma topologia que se caracteriza porque a borda que dá seu marco é da índole de uma linha ao infinito, um ponto abstrato, puramente abstrato denominado Nome-do-Pai. Se trata da incorporação de um elemento abstrato e a extração de um elemento real. Um vaziamento do real pela introdução de um marco de fechamento (denominado por Lacan de fantasma). Uma substituição de elementos heterogêneos – um real por outro abstrato - uma operação metafórica fundante. Na perversão esta substituição se dá entre um elemento real e outro imaginário.
Agragar al plano um elemento abstrato, essa operatória es equivalente a la metafora paterna: introducir uma abstração pura. Porque si logramos introducir algo que sea puraminete simbólico y puramente simbólico, consequentemente el Otro existe como tal e no sera confundido com la mama.
Si lo simbólico existe, no pude ser mama ni papa, ya la persona estará curada de ka psicosis. Los psicótico no cuentam com el imposible de que mama o papa sean lo simbólico, y si no esta escrito que es imposible que sean, entonces no cuentan com la diferencia. Por esso la voz de la mama o de lo papa podem ser lo simbólico.
Na psicose, a inscrição das direrenças não acontece – não há significante que ordene e classifique as diferenças, há somente sínteses por semelhanças delirantes. E as vozes daqueles que encarnam o Outro são confundidas com o lugar da ordem simbólica, notado por A. Para o psicótico, neste sentido, Mamãe é a ordem simbólica.
Nustra construccion de la realidade em tanto que espacial, auditiva, etc, se funda a partir de la introduccion para cada vida de um punto abstracto puro. Si se logra operar asi, entonces la estrutura sera cerrada e com sola una cara. Habera possibilidade de lazo de la palavra y de que la subjetividade no seja invadida pelo Outro. Vieron que los psicóticos son hablados, son pensados, son leidos, son gozados pelo Outro. La explicacion es sencilla, porque não eston cerrados, estan abiertos.
A construção da realidade em tanto espacial, auditiva, vidual, etc se funda a partir da introdução de um ponto abstrato puro. Um elemento real – a voz de mamãe por exemplo– é susbtituido por um elemento abstrato – a instancia terceira da lei, da ordem das coisas. Articulação (associação e distinção) de elementos heterogêneos em uma continuidade exterior interior ou vice-versa. O que produz o marco da realidade do impossível de serem ouvidas vozes dentro do sujeto.
“Me está acontecendo o que é impossível de acontecer”, uma frase que o psicótico não consegue produzir. Para ele, na alucinação por exemplo, o referente se apresenta. Para o psicótico a coisa se apresenta pela falta do marco do impossível.
Nosostros siempre calculamos que el Otro no tiene forma de saber lo que estamos pensando salvo casualidades, adivinaciones, poder mágicos, porque nos consideramos cerrados. Apesar de considerarnos cerrados, se verifica que estamos interpenetrados em um lazo permanente com el Otro, em la medida em que el Outro opera desde “adentro” nuestro y nosotros operamos desde “adentro” del Outro (cosa que as veces e mas angustiante que la anterior). Creo que hay gente que recusa mas radicalmente al encontrar-se em posicion de de “causa del Outro” que em ser causado por el Outro.
Esse laço com o Outro, essa imissão de Outridade - expressão usada por Lacan - depende, para acontecer, da extração do objeto a. Este objeto, o que se produz assim, não existe como objeto físico.
…A eso poderíamos llamar “ realidade psíquica”: a la estructuracion del espacio de esta manera, y no al defecto o a diferencia subjetiva
A esta estruturação do espaço – dimensão simbólica por execelência – se denomina “ realidade psíquica”. A realidade psíquica é o modo como cada ser falante estrutura – articula (associa e distingue), classifica, ordena (dispõe tempo no espaço e espaço no tempo), e mantém estável – pelo marco do fantasma – a relação em continuidade entre interior e exterior num espaço de apenas duas dimensões.
“Eu sou o contexto”, diz Kevin, personagem de Ezra Miller no filme We Need Talk About Kevin, ignorando que o contexto por definição logica sempre esta dependente de uma subjetivação do espaço e do tempo em significantes advindos do campo do Outro. “Me esta acontecendo o que eu faço acontecer. Eu faço acontecer o que quiser (ao outro) – eu sou o acontecimento”. Estes poderiam ser os reptos do perverso na operação de anular ou degradar as coordenadas de espaço e tempo no Outro.
Federico Feu, citando Jacques Allain Miller, faz uma precisa analise das imagens que caracterizam o momento contemporâneo. O trecho citado de Miller:
Freud inventou a psicanálise, se assim podemos dizer, sob a égide da rainha Vitória, paradigma da repressão da sexualidade, ao passo que o século XXI conhece a difusão maciça do que é chamado de pornô, ou seja, o coito exibido, tornado espetáculo, show acessível a cada um pela internet por meio de um simples clique com o mouse. De Vitória ao pornô, não apenas passamos da interdição à permissão, mas à incitação, à intrusão, à provocação, ao forçamento. O que é o pornô senão uma fantasia filmada com uma variedade própria para satisfazer os apetites perversos em sua diversidade?
(…) A escopia corporal funciona na pornografia como uma provocação a um gozo destinado a se fartar sob o modo do mais-gozar, modo transgressivo em relação à regulação homeostática e precária em sua realização silenciosa e solitária. (…) O que diz, o que representa a onipresença do pornô no começo deste século? Nada se não: a relação sexual não existe. (MILLER, 2014)
No curso destes últimos 20 anos, passou-se da interdição não só á permissão mas à incitação, à intrusão, à provocação, ao forçamento. Nas palavras de Miller:
{...} passamos, portanto, do gozo privativo da fantasia para a ostentação e exibição de imagens de incitação do gozo, com repercussões evidentes sobre a sua regulação. Nesse sentido, podemos levantar a hipótese de que, entre a imagem rainha[2] e o império das imagens, passamos de uma serventia das imagens para a economia psíquica para uma maior servidão, caracterizada pela inflação das imagens pornô e por sua intrusão, tornando mais difícil a regulação pulsional.
A constituição do império do Imaginário – denominação que parece dar conta dessse regime discursivo de forçamento e intrusão de imagens que caracteriza a época contemporânea - acarreta uma posição de servidão á imagens rainhas, em contraposição aos significantes mestres que ordenam o campo do Simbólico. A Imagem Rainha - o Interpretante imaginário na terminologia de Peirce - é assim descrito por Feu:
Podemos tomar como ponto de partida para o comentário do texto de Miller a questão por ele proposta: haveria, no registro do imaginário, “imagens rainhas”, algo equivalente aos significantes mestres no registro do simbólico?
O campo do imaginário é caracterizado por sua vastidão. Podemos dizer que a proliferação está para o imaginário assim como a redução está para o simbólico, de forma que o simbólico seria uma espécie de detenção, de ponto de basta, em relação a essa proliferação do imaginário. Retornando então à questão, podemos falar de imagens rainhas na perspectiva psicanalítica, de uma redução do mundo das imagens em que estamos mergulhados a algumas imagens cruciais? Tomando como referência o texto de Miller, podemos distinguir três imagens rainhas:
1- a primeira imagem rainha se refere ao corpo próprio, ou seja, “a ideia de si mesmo como corpo”, segundo a definição de Lacan. Trata-se, portanto, da imagem do corpo como matriz do Eu, à qual Lacan dá a notação i(a). Seu operador paradigmático é o espelho, e seu efeito imaginário é o duplo. Sua característica é dar ao sujeito uma visão de seu corpo como uma totalidade, no sentido de uma Gestalt (uma forma que se completa), e seu efeito no sujeito é de júbilo.
2- a segunda imagem rainha é a imagem da falta, a castração, cujo suporte é dado pela visão do corpo da mãe e pela ideia de que falta ali alguma coisa. Sua notação lacaniana é o (-fi). Temos, nesse sentido, alternância entre ausência-presença, o que, de certa forma, já nos remete ao simbólico. Aqui não há júbilo, mas horror. Por isso, o seu operador essencial é o véu, aquilo que recobre essa falta, em sua função de velar o nada, por assim dizer, a mesma função que podemos atribuir, por exemplo, ao vestuário. O campo perceptivo é orientado pelo que não se quer ver tanto quanto por aquilo que se deseja ver. Seu efeito no campo imaginário, portanto, é uma escamoteação e a supressão de uma imagem real, se pudermos nos referir assim a essa imagem, que é, na realidade, a falta de uma imagem, o furo da castração materna, e que surpreende o sujeito no lugar onde ele esperava encontrar a imagem do falo.
3- a terceira imagem rainha pode ser diretamente deduzida do véu, se acrescentarmos a este sua característica de poder ser também um ornamento (uma roupa serve tanto para cobrir e esconder quanto para embelezar). Trata-se do falo simbólico, enquanto “forma erigida e transformada em significante, conservando todas as suas articulações imaginárias” (MILLER, 1997, p. 579). Miller esclarece que “foi inclusive a propósito do falo que Lacan arriscou a expressão significante imaginário” (MILLER, 1997, p. 579). Sua imagem paradigmática é o fetiche. Refere-se, portanto, a uma imagem colocada em lugar da falta para obturá-la e que assume um valor fálico, ou seja, um valor de substituição e de tamponamento do furo. O recobrimento da falta aponta, nesse sentido, para a função de denegação que caracteriza o inconsciente. Algo é substituído. Mais precisamente: algo é recuperado.
Se o encontro do sujeito com a primeira imagem produz um júbilo, se o encontro com a segunda imagem produz o horror, em relação ao fetiche podemos falar de uma recuperação de uma parcela do gozo perdido. É o que Lacan chamou do gozo fálico. É como passar por debaixo do véu para ir depositar alguma coisa no lugar da falta. Assim, o que provoca horror aparece sob a vestimenta do fetiche, do belo ou da fantasia, ou seja, como uma imagem à qual podemos agregar um mais-de-gozar. Seu operador lógico não é o espelho nem o véu, mas o quadro, ou melhor, o enquadre, a janela na qual se projeta a cena da fantasia que serve de cenário à imagem fetiche. Contrariamente ao espelho, que reflete uma imagem, uma janela pressupõe o furo onde se projeta a tela da fantasia. A variedade do que pode vir a assumir valor fálico para um sujeito é enorme: um carro para um homem ou um vestido para uma mulher, por exemplo, se nos referimos ao campo dos objetos de consumo que vêm agregar esse valor fálico à imagem de si; mas, também, um traço, uma forma ou mesmo um gesto que desperte o desejo em relação a um parceiro sexual, se nos referimos aos signos do objeto perdido que julgamos reencontrar no campo do Outro.
As imagens rainhas são, portanto, imagens que têm valor de significantes, na medida em que podem ser metaforizadas e metonimizadas. Mas elas “não representam o sujeito”, como faz o significante – que representa o sujeito para outro significante – e, sim, “se coordenam ao seu gozo” (MILLER,1997, p. 580). A imagem rainha é aquela que “realiza uma captura significante do gozo”, diz Miller (1997, p.580). É quando imaginário e gozo se enlaçam.
Para que haja o corte à cadeia das metáforas e metonímias - função do objeto a - é necessário que não haja horror ao vazio - este corte pode revelar o furo do Real - ou horror ás diferenças – este corte pode revelar a ex-sistência do simbólico. Se os intervalos da cadeia significante são ocupados por imagens, o que se revela é a consistência do Imaginário prevalecendo sobre os demais registros. O bom corte não acontece. O gozo se enlaça ao imaginário. E o simbólico é relativizado.
Do furo do Real emerge o Nome - cuspido, no dizer de Lacan – em sua ex-sistência, o Nome-do-Pai, o significante que provê a capacidade de operar com entes discursivos abstratos e com a categoria logica da terceiridade, essa instância que ordena os fenômenos humanos, que resolve os impasses dos dualismos imaginários, a lei.
Lei cujo caráter de abstração, universalidade, normatividade e efetividade requerem e induzem, para sua incidência nos casos concretos e como efeito da linguagem, á sua interpretação mediante a produção de Interpretantes (com o consequente relançamento da significação) mas cujas lacunas o perverso irá preencher com a constituição de consistências imaginárias - cristalizações de sentido, imagens rainha - numa exegese pessoal em que haverá desprezo pelo texto dos precedentes acumulados ( desprezo do fator tempo) e pelo lugar ocupado pelos elementos da estrutura (desprezo do fator espaço). Tempo e espaço que se constituem nas coordenadas simbólicas por excelência.
Lei cuja ordenação pressupõe a manutenção de lugares distintos – ocupados por entes distintos - para quem a elabora, para quem a interpreta e para quem a executa. Eis aí o fundamento da divisão de poderes do Estado – um poder que legisla, outro que interpreta e outro que executa as leis. E eis aí o mal-entendido do perverso, o equivoco de se supor ao mesmo tempo legislador, interprete e executor da lei, ficção que degrada a função paterna á uma mera versão.
Se o Simbolico é o lugar das diferenças e da alteridade, o imaginário é o lugar da mesmidade e da igualdade, da identificação. Ao ter que fazer face aos recursos hermenêuticos necessários para dar conta da complexidade da ordem simbólica, elege (sem saber) o perverso elidir as diferenças, reduzindo-as á uma versão própria – e portanto sem preservar a alteridade – estereotipada e, recuando diante do horror vacui, preenche esse lugar com a mesmidade de sua imagem especular. Dorian Grey serve de exemplo.
E esta invasão imaginária é característica da lógica perversa, com a produção de um objeto tridimensional que vai ocupar o vazio da falta de objeto que a pulsão contorna e cristalizar, no polo do sujeito, as respostas hermenêuticas possíveis advindas da interpretação imaginaria da lei. E, no polo do objeto, o objeto fálico é o objeto privilegiado desse modo de imaginarizar a falta. E o fantasma do perverso articula o objeto imaginário com a inversão e o deslocamento da divisão subjetiva para o outro, aquele que vai funcionar como seu parceiro e sofrer a angustia e o gozo produzidos.
Se a clinica psicanalítica se organiza por um sujeito que elege, sem saber, uma modalidade de oposição lógica entre elementos de estrutura – e nâo por fenômenos psicopatológicos que são desconhecidos deste sujeito – quais são os elementos em jogo na escolha perversa? O calculo perverso, sua operatória, se dá pela redução do simbólico ao plano do imaginário, á produção de imagens rainhas, como dito por Miller em um de seus cursos. Pela redução do significante fálico ao falo imaginário? Por que deixar para o Outro o poder de legislar? Porque deixar ao Outro o poder de dizer a lei, dar sua interpretação, porque deixar ao Outro o poder de executar a lei, de ser seu instrumento? E se o Outro faltar, e se o Outro for lacunar, abstrato e incompleto? E se o Outro desejar outro?
A libido é uma noção que permite encarnar esse vínculo que se produz a um nível imaginário e em relação ao desejo do Outro. O perverso se imagina instrumento do gozo do Outro, enquanto o psicotico se crê gozado pelo Outro. Para Patrick Valais:
Nesses Três ensaios os principais critérios mantidos por Freud para definir a perversão podem portanto se resumir esquematicamente assim:
A perversão é uma posição subjetiva (e não uma manifestação instintual) sustendada por um fantasma consciente que o sujeito pode ser levado a realizar em condutas agenciadas de acordo com a cena do fantasma, á diferença da neurose, que é o negativo da perversão, mas cujos fantasmas perversos são inconscientes. Logo, perversão e neurose são topicamente distintas. Vamos acrescentar que, enquanto posição subjetiva, a perversão se constitui no édipo e tem uma relação, ainda que remota, com a castração.
As derivações perversas se produzem no decorrer do desenvolvimento sexual segundo mecanismos bastantes complexos mas distinto do recalque que caracterizaria a neurose.
A partir da disposição perverso polimorfa da sexualidade infantil, que não é a perversão, ela se constitui seja por fixação a uma etapa infantil, seja por dissociação das pulsões numa etapa posterior.
De fato, toda parada no desenvolvimento produz uma regressão a uma etapa anterior (regressão temporal ) que se fixa neste estagio. A componente principal é reforçada na idade adulta e impõe sua dominância tendencial (ativo–passivo, sádico– masoquista, voyerista-exibicionista) as formas de manifestação da vida sexual do sujeito.
A pulsão não é a perversão, já que esta última só se constitui após uma serie bastante complexa de transformações da pulsão sexual. É uma forma de idealização da pulsão no seu próprio processo, acompanhada de uma supervalorização sexual do objeto. Nesse processo de idealização intervém a intensidade do prazer preliminar. Por isso, os atos preliminares são preferidos ao ato normal, e os substituem – tanto mais que a valorização do objeto, ou os perigos atribuídos ao ato sexual podem engendrar ou confirmar uma impotência genital. Daí resulta uma espantosa fixidez da pratica, até mesmo uma exclusividade total. Além disso o tipo de objeto escolhido não permite qualificar a perversão (pagina 44).
A perversão é uma forma de idealização da pulsão no seu próprio processo, acompanhada pela supervalorização sexual do objeto. Neste processo de idelização intervém a intensidade do prazer e o resultado é uma espantosa fixidez da prática, até mesmo sua exclusividade. Em dialeto lacaniano, uma idealização do gozo do Outro acompanhada pela supervalorização do objeto em sua faceta imaginária, sendo este o substituto fetichizado do falo enquanto significante da diferença sexual, diferença esta denegada pelo perverso. Diferença que causa horror.
Para Aulagnier:
El perverso es aquel que habla razonablemente, genialmente a veces, de la sinrazón del deseo. Justifica su perversión en nombre de un plus-de-placer que pretende. autentificar por un plus-de-saber sobre la verdad del goce. Ese saber es el señuelo que lleva su razón a una trampa; es su propia locura, pero también lo que siempre amenaza con tomarnos en la trampa de su fascinación.
Excluir en nombre de ese discurso una parte de la perversión del campo de la psicopatología, presupondría poder explicar por qué ciertos sujetos tienen el poder de transformar el dolor em placer, el horror de la castración en razón de goce, la reprobación y la degradación en valorización narcisista. . .
Entre ideal e objeto, porque não uma síntese entre estes elementos opostos e heterogêneos, a constituição de um Interpretante privilegiado no eu ou no falo – na imagem narcisica ou no falo imaginário? Uma síntese captada por Lacan e formulada no matema da perversão com os polos do sujeto e do objeto invertidos.