Um Apóstolo de Cristo

11/08/2018 às 20:35
Leia nesta página:

A caridade é paciente, bondosa, não tem inveja

 Um Apóstolo de Cristo  

 José Edson de Andrade Neves

 Dom Serafim Gomes Jardim, Arcebispo de Diamantina, exerceu por muitos anos a função Arquiepiscopal com competência, autoridade e simplicidade. Naquela época, eu era ainda jovem e recebi com tristeza a notícia que Dom Serafim havia pedido   renúncia da função, em virtude de saúde, apesar de eu julgar que ele se encontrava em plenas condições físicas e psicológicas para exercê-la. De qualquer forma, certo é que ele aceitou com humildade, característica visível de sua santidade, o título de Arcebispo de uma Diocese   localizada lá pelos confins da África.

O objetivo deste artigo   é dar testemunho do contato pessoal que tive com o virtuoso Bispo, quando eu era mensageiro dos Correios e Telégrafos e entregava telegramas destinados ao Palácio Episcopal.  Fazia questão de entregar a ele o que me trazia uma paz interior, pois os seus olhos irradiavam santidade. Acredito que conhecia minha intenção, pois, quando estava presente, e algum padre adiantava para receber o telegrama, Dom Serafim dava o sinal indicando que deixasse e que ele o receberia.

 Assim, os anos foram passando e quase sempre entregava os telegramas em mãos, mesmo depois de sua renúncia, quando ele era o destinatário, ocasião em que lhe beijava o anel e ele me abençoava, não deixando de proferir algumas palavras que me traziam uma alegria e uma paz interior. Nem a chuva, nem o frio daquelas noites diamantinenses, que eu caminhava sozinho nas ruas desertas em razão do meu trabalho, eram incapazes de desfazer a alegria e a paz irradiadas pelo virtuoso bispo.

 Dom Serafim é para mim símbolo de humildade e santidade. Contava-se que na ocasião que a Radio Diamantinense estava sob a direção do competente Almir Neves, ia ao ar, apresentando como “orgulho do nordeste mineiro”, Dom Serafim teria solicitado à direção da Rádio que retirasse a expressão “orgulho”, o que foi feito. Perguntei a várias pessoas sobre tal fato não obtendo resposta. Passados muitos anos, um dia estive na fonte, mas não tive sucesso. Isto aconteceu quando eu, minha esposa Raquel e minha cunhada Sara fomos fazer uma visita ao Almir Neves que se encontrava doente em seu apartamento, em Copacabana, Rio de Janeiro. Ao fazer alusão à Rádio Diamantinense percebi que seu semblante mudara de feições, demonstrando desconforto com o assunto, razão pela qual deixei de lhe fazer a mencionada pergunta. Certa ocasião, Dom Serafim celebrava missa, tendo como ajudante Geraldo Celço da Silva, irmão leigo que adotou o nome de Irmão Anastácio Maria da Cruz, meu colega, meu amigo e um dos meus embaixadores junto à Deus. No momento da comunhão Geraldo manifestou um gesto de recusa.  Dom Serafim, percebendo, disse: “Geraldo, receba o Corpo de Cristo, eu assumo os seus pecados”. A estória contada é simples, sem riquezas de detalhes, assim como foi a vida de Dom Serafim, simples, humilde, praticando a verdadeira caridade que é paciente, bondosa, não tem inveja, não é orgulhosa, não é arrogante, nem escandalosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor... (Coríntios, 13, Versículos 4 e 5 ).

 A sua imagem ficou gravada na minha memória, pois O tenho como um dos meus santos protetores e não perco a esperança de ainda  vê-lo beatificado e canonizado. Quando das minhas idas à Diamantina visito a Catedral e procuro mentalmente o lugar do altar onde ele será introduzido. Mas, o caminho será longo, é verdade, pois a Igreja Católica só admite o milagre quando há comprovação científica. E esta virá se depender das minhas orações diárias. Dom Serafim Gomes Jardim, um apóstolo de Cristo. Que Deus seja louvado!

Sobre o autor
José Edson de Andrade Neves

Advogado militante em Belo Horizonte, graduado pela Faculdade de Direito da UFMG, em Belo Horizonte, pos graduado em Ciências Penais, pela Faculdade Gama filho

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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