Um Apóstolo de Cristo
José Edson de Andrade Neves
Dom Serafim Gomes Jardim, Arcebispo de Diamantina, exerceu por muitos anos a função Arquiepiscopal com competência, autoridade e simplicidade. Naquela época, eu era ainda jovem e recebi com tristeza a notícia que Dom Serafim havia pedido renúncia da função, em virtude de saúde, apesar de eu julgar que ele se encontrava em plenas condições físicas e psicológicas para exercê-la. De qualquer forma, certo é que ele aceitou com humildade, característica visível de sua santidade, o título de Arcebispo de uma Diocese localizada lá pelos confins da África.
O objetivo deste artigo é dar testemunho do contato pessoal que tive com o virtuoso Bispo, quando eu era mensageiro dos Correios e Telégrafos e entregava telegramas destinados ao Palácio Episcopal. Fazia questão de entregar a ele o que me trazia uma paz interior, pois os seus olhos irradiavam santidade. Acredito que conhecia minha intenção, pois, quando estava presente, e algum padre adiantava para receber o telegrama, Dom Serafim dava o sinal indicando que deixasse e que ele o receberia.
Assim, os anos foram passando e quase sempre entregava os telegramas em mãos, mesmo depois de sua renúncia, quando ele era o destinatário, ocasião em que lhe beijava o anel e ele me abençoava, não deixando de proferir algumas palavras que me traziam uma alegria e uma paz interior. Nem a chuva, nem o frio daquelas noites diamantinenses, que eu caminhava sozinho nas ruas desertas em razão do meu trabalho, eram incapazes de desfazer a alegria e a paz irradiadas pelo virtuoso bispo.
Dom Serafim é para mim símbolo de humildade e santidade. Contava-se que na ocasião que a Radio Diamantinense estava sob a direção do competente Almir Neves, ia ao ar, apresentando como “orgulho do nordeste mineiro”, Dom Serafim teria solicitado à direção da Rádio que retirasse a expressão “orgulho”, o que foi feito. Perguntei a várias pessoas sobre tal fato não obtendo resposta. Passados muitos anos, um dia estive na fonte, mas não tive sucesso. Isto aconteceu quando eu, minha esposa Raquel e minha cunhada Sara fomos fazer uma visita ao Almir Neves que se encontrava doente em seu apartamento, em Copacabana, Rio de Janeiro. Ao fazer alusão à Rádio Diamantinense percebi que seu semblante mudara de feições, demonstrando desconforto com o assunto, razão pela qual deixei de lhe fazer a mencionada pergunta. Certa ocasião, Dom Serafim celebrava missa, tendo como ajudante Geraldo Celço da Silva, irmão leigo que adotou o nome de Irmão Anastácio Maria da Cruz, meu colega, meu amigo e um dos meus embaixadores junto à Deus. No momento da comunhão Geraldo manifestou um gesto de recusa. Dom Serafim, percebendo, disse: “Geraldo, receba o Corpo de Cristo, eu assumo os seus pecados”. A estória contada é simples, sem riquezas de detalhes, assim como foi a vida de Dom Serafim, simples, humilde, praticando a verdadeira caridade que é paciente, bondosa, não tem inveja, não é orgulhosa, não é arrogante, nem escandalosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor... (Coríntios, 13, Versículos 4 e 5 ).
A sua imagem ficou gravada na minha memória, pois O tenho como um dos meus santos protetores e não perco a esperança de ainda vê-lo beatificado e canonizado. Quando das minhas idas à Diamantina visito a Catedral e procuro mentalmente o lugar do altar onde ele será introduzido. Mas, o caminho será longo, é verdade, pois a Igreja Católica só admite o milagre quando há comprovação científica. E esta virá se depender das minhas orações diárias. Dom Serafim Gomes Jardim, um apóstolo de Cristo. Que Deus seja louvado!