Uma breve reflexão sobre a violência e as incertas possibilidades sobre sua origem!

28/09/2018 às 18:30
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Não se pode confundir vingança com justiça: não estamos na era de agir, embasando-se no famoso “olho por olho e dente por dente”.

Conviver em um mundo tão tumultuado por injustiças e maldades realmente não tem sido fácil para quem quer que seja! É inegável o medo que algumas pessoas tem ao permanecerem por alguns segundos no portão de suas próprias residências ou ir ao Banco sacar dinheiro. Cidadãos tornaram-se prisioneiros de tamanha crueldade.

Como explicar com exatidão a capacidade do ser humano em destruir, magoar, machucar, querer algo que não lhe pertence e, o pior de tudo, ainda é acreditar que sua conduta está dentro dos padrões de normalidade ou da necessidade de sobreviver.

Nada, absolutamente nada, justifica tanta agressividade. Não é possível atribuir ao desemprego a coragem de friamente matar alguém para subtrair-lhe algo, ou agredir alguém porque discorda de sua opinião. A sociedade parece inegavelmente viver em uma bábarie.

Óbvio que quando falamos sobre a maldade não podemos generalizar esse assunto estendendo-o a todos da sociedade, felizmente existem pessoas boas, de alma e coração, dispostas a ajudar, a lutar e a reivindicar seus direitos.

A  palavra “violência” deriva do latim “violentia”, que tem como significado a “impetuosidade; a violação de direitos que são pertinentes a todos os cidadãos. Quando falamos em violação referimo-nos à falta de respeito, de limites para com o próximo nas mais variadas, nas diversas e infinitas situações. E serve como base para uma imensa reflexão a atitude das famílias,pelo menos de algumas, no que concerne à forma como iniciam seu processo de educação em relação aos filhos,haja vista os genitores colherem algo positivo se ensinarem seus pupilos a ter os limites,respeitar,saber ouvir um não,por exemplo.

Por um outro lado, a escola também deve reforçar e não ser a única responsável pelo referido ato de educar.É na infância que as pessoas tem uma melhor capacidade de compreender e de serem orientadas a seguir esse ou aquele caminho.Importante mencionar que esse artigo não tem por objetivo responsabilizar nenhuma família pela prática ou existência da violência na sociedade.Trata-se sim de uma análise sob um olhar geral para o aprimoramento do ato de ensinar,de educar,de preparar para a vida todas as pessoas e não essa ou aquela especificamente.

Sob um outro enfoque, vivemos em uma coletividade e o bom senso deveria prevalecer quando não existirem normas escritas sobre um fato, como por exemplo ocorre nas filas, onde infelizmente é perceptível que algumas pessoas tem o péssimo hábito de querer passar na frente dos outros ou que ainda não respeita a situação dos preferenciais!

A ausência de limites, de educação, de respeito são causas que contribuem e muito para uma sociedade violenta.A punibilidade deve ser aplicada, mas a raiz do problema também deve ser investigada.Cada indivíduo deve fazer sua parte nessa história.Como exigir ser bem atendida (o) em um local se em casa não há o ensinamento das chamadas “palavrinhas mágicas”:bom dia,por favor,obrigado(a),desculpe em relação aos filhos diante de outras pessoas!Como querer ser respeitado(a) na sociedade se em casa pais não ensinam isso a seus filhos(as)!

Se um pai ou uma mãe grita com seus filhos (a), usando agressão física, consequentemente haverá ali a formação de um (a) adulto (a) agressivo, que acredita que tudo se resolverá com grito ou agressão física!

Os exemplos, diga-se, os bons exemplos, são sempre o melhor ensinamento. Seria tão bom se todos de uma comunidade do mundo agissem com a consciência de que uma boa educação ajudaria e muito a formar mais cidadãos de bem e quem sabe assim o mundo seria melhor, com menos violência e mais gentilezas!

É triste ver pela televisão um filho que matou o pai porque o mesmo havia lhe negado um “tostão” ou o empréstimo do carro.Mimos em excesso não são sinal de amor, geram adultos (as) que não medirão esforços para conseguir o que querem e de forma ruim, diante do primeiro “não”.

E são tantos motivos e fatos que levam a coletividade a refletir sobre esse mundo tão tumultuado como já mencionado outrora,que induzem tantas reflexões,mas nunca uma resposta concreta.

Mas uma coisa é certa, os pais são grandes contribuidores na formação dos filhos, mas também não são os únicos responsáveis pelo caminho escolhido por seus filhos, como ocorre naquele que ingressa  trilhar no caminho do crime.Existem pais excelentes,mas em contrapartida também existem filhos desobedientes.

Temos infelizmente muitas formas de violência e o seu crescimento é cada vez mais considerável: a urbana, a doméstica e com diferentes pessoas figurando no polo ativo e no passivo da prática delituosa, como ocorre na violência doméstica contra a mulher, na violação dos direitos de crianças e adolescentes, na violência verbal, na sexual, na moral, nos delitos praticados contra ascendentes (Pais, avós), descendentes (Filhos), cônjuge no casamento, do(a) companheiro(a) na união estável, sem excetuarmos que a objetividade jurídica recai sobre a vida, o patrimônio, a integridade física e psicológica das vítimas em questão.

Tristemente a prática da violência tem sido cada vez mais comum na vida das pessoas, seja nas relações pessoais, profissionais e familiares. A inveja, a competição, a ausência de limites, da tolerância, de bom senso, o desemprego, a falta de educação são fatores que muitos contribuem para discórdias, as famosas “puxadas de tapete” e a prática das condutas ilícitas. E vale novamente dizer que a educação é aprendida em casa.

Comenta-se que um dos fatos mais consideráveis que contribui para a violência urbana, ou seja, a prática da mesma nas cidades, é o crescimento muito rápido e de certa forma “descontrolado das cidades que gera a miserabilidade, mas se pararmos para fazermos uma reflexão profunda sobre esse fato, chegaremos ao consenso de que a violência contra a mulher nem sempre tem origem no crescimento considerável das cidades e muito menos a violência contra os próprios pais.

 Inúmeras são como dito acima, as causas e irreversíveis são as consequências físicas e psicológicas nas vítimas e para a sociedade, que às vezes de forma errônea acredita ter o direito de fazer justiça com as próprias mãos. O “direito de um termina aonde começa o do outro” é um ditado que merecia ser protagonista em uma sociedade tão marcada por ransos de crueldade e de barbaridade, haja vista a violência não lesar apenas a integridade física do ser humano, como também recair sobre questões morais e materiais, perceptível quando alguém é vítima do delito de roubo, por exemplo, de estupro, de estelionato, dos crimes contra a honra, enfim, de vários outros.

Fato é que essa situação não é tão atual, é sim persistente, mas vem de épocas mais remotas e tem se agravado de forma considerável, inclusive quando a sociedade se depara com mudanças inesperadas.

A violência veste-se de formas distintas, tais quais: o uso de expressões “chulas”, com brincadeirinhas de cunho sexual em relação a outrem, que pode ser algum familiar ou não, pode ocorrer também com a utilização de “armas brancas”, ”de fogo”, de empurrões, de puxões de cabelo ou denegrimento da honra subjetiva ou objetiva da outra parte, com o ceifamento de vidas alheias e muito mais.Seja na forma comissiva ou omissiva também é possível  averiguar sua prática,como acontece no artigo 136 do Código Penal Brasileiro.

 É, a ausência de limites fala sempre mais alto! E a educação que tem o poder de mudar o mundo está cada vez mais precária!

E por citar o limite, talvez esse seja o único remédio ou talvez o melhor para se coibir tanta violência e falta de respeito, mas somente a prevenção não está sendo eficaz, a dosagem do remédio então deve ser mais forte e direcionada ao mal que assola o mundo.

E como, com quem e aonde aprender a ter limites! Podemos dizer que os primeiros ensinamentos têm início em casa, através de diálogos, dos bons exemplos, do “sim e do não” para as crianças nas chamadas “primeira e segunda infância”, dos limites impostos em relação aos horários de assistir televisão, vídeo game, brincadeiras na rua, no trato com todos, inclusive com os pais, com a família, professores, vizinhos, colegas e acima de tudo com as pessoas mais velhas.Os pais ou responsáveis legais no entanto nem sempre são “culpados”pela ausência de limites dos filhos,muitos ensinam,no entanto poucos filhos seguem as orientações que lhe são ou foram dadas.

Quantas pessoas já morreram em decorrência de brigas com vizinhos, na rua por conta de discussões no trânsito,por barulhos  excessivos em festas ou por outros tantos motivos que uma simples conversa poderia ter resolvido! Reconhecer o erro, pedir desculpas ou o simples fato de não mais repetí-lo seria de uma grandeza incalculável.Talvez se limites tivessem sido aprendidos, não aconteceriam tantos coisas ruins, mas que são evitáveis na realidade.

É erradíssimo matar, mas “fechar” o outro no trânsito também é, e às vezes há esse “fechamento” porque o autor disso não respeitou que há um limite também no trânsito em relação às vias e faróis.

Fazer com frequência festas barulhentas durante toda a madrugada excede os limites de uma boa vizinhança, porque o outro tem o direito ao seu repouso noturno, o mesmo se observa em apartamento onde vizinhos em andares superiores andam de salto alto, arrastando móveis a qualquer hora, inclusive pela madrugada acreditando que por serem moradores daquela unidade autônoma podem desrespeitar o sossego de outros moradores.Muitas situações devem e podem ser evitadas, desde que haja o respeito.

E alguns professores que também acabam por sofrer com tantas humilhações e barbáries de alunos indisciplinados, quando não tem sua integridade física e corporal lesados, tem seus bens destruídos de forma total ou parcial, exemplo: arranhões em seu carro por causa de reprovação do discente.

Idosos que são abandonados, maltratados pelos filhos, pais que apanham dos filhos ou são mortos por eles, enfim, a violência cresce desmedidamente e assola todas as partes do mundo.

A violência patrimonial tem como objeto jurídico lesado os bens móveis e ou imóveis da vítima, acontecendo em diversas situações que incluem também os namoros, noivados e até no casamento, se observados a intencionalidade do autor, sua conduta, regime de casamento e vênia conjugal.Fora da esfera conjugal, temos os estelionatos, os roubos, furtos, apropriação indébita.

Já a violência moral decorre de calúnias (Imputação de falso crime a outrem), difamações (Atribuição de fato ofensivo à reputação de outrem) e injúrias (Atribuição de características negativas e pejorativas a outrem) que lesam a honra objetiva e subjetiva da vítima.

 A violência física ou “vis corporalis” recai sobre a lesão corporal, seja nas formas leve: grave ou gravíssima e pode ser praticada com dolo, culpa ou ainda preterdolo (Lesão corporal seguida de morte). A prática das vias de fato (Empurrar, é um exemplo) é uma das espécies de contravenção penal, decreto 3688/1941, mas é uma forma de agressão, indubitavelmente.

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A violência em relação à orientação sexual, ao credo, à cor da pele, dos cabelos, apectos físicos estão inseridas nas formas de violência e merecem atenção porque tem consequências e muito danosas.Opiniões e escolhas devem ser respeitadas.

 Em todas as suas formas lamentavelmente, a violência é uma violação de direitos civis, constitucionais, físicos e psicológicos de alguém.Deve ser coibida por sua vez, mas também é necessário analisar a raiz dessa imensurável problemática, possíveis soluções e medidas, caso contrário haja lei, desgaste, choro para tantos conflitos que ainda surgirão.

O Direito e a Justiça são molas propulsoras dotadas de racionalidade e que possuem como um de seus objetivos: punir, se comprovado, quem ocasiona tanto malefício ao outro.Temos leis, mas infelizmente milhões de processos e que demandam tempo para suas respectivas soluções.

A legislação penal e a processual penalista tem como objetivo tipificar condutas e aplicar a punibilidade cabível não estendendo tal função à sociedade, haja vista a tipificação prevista no artigo 345 do Código Penal.

Quando alguém pratica um crime, seja com ou sem violência, há todo um procedimento a ser observado e aplicado a cada caso, devendo a conduta, a personalidade, os motivos, a autoria ou possibilidade da mesma, os indícios de materialidade do fato, as circunstâncias que agravam, as que atenuam, as causas de aumento e diminuição de pena serem analisadas para que a justiça faça seu papel: que é de investigar, analisar, julgar e se for o caso condenar.

Muitos casos de “linchamentos” vem ocorrendo diante de algumas barbáries e é compreensível que a raiva e o ódio tomem conta da população, da família, mas não pode em hipótese alguma justificar a volta da famosa prática “olho por olho e dente por dente”, pois não é matando que se pune o autor de um homicídio, mas fazendo-o sentir que a liberdade que antes era sua companheira, já não mais será, ao ver-se em uma cela condenado há vários anos de reclusão.

Não é possível o esquecimento de que ao fazer justiça com as próprias mãos, mais erros podem advir dessa atitude, como por exemplo agredir ou matar alguém que nada tinha a ver com a história.Se já não é correto fazer justiça com o uso da própria força, que dirá fazer isso com alguém inocente!

Não pode a sociedade barbarizar; é fato que violência gera ainda mais violência. Racionalidade é a palavra chave para se lutar por justiça.É comprovado que não é algo fácil e simplório, mas essa é a verdadeira aos olhos da lei, aplicação da justiça.

E, individualmente, não se pode criar, cada um, suas próprias leis. Não tem esse artigo a intenção de defender pessoas que agiram incorretamente no que pertine a delitos, mas sim, explicitar que a razão é esclarecedora e grande iluminadora do caminho, da busca pela justiça.

Infelizmente se alguém mata outrem por motivo de vingança passará a ser tão errado e delinquente como o assassinado em questão. E como cobrar justiça se a conduta daquele que matou por vingança também é criminosa! Por esse motivo a razão tem que prevalecer sobre a emoção, por mais difícil que seja.

Não se pode confundir vingança com justiça: não estamos na era de agir embasando-se no famoso “olho por olho e dente por dente”.

Até que se prove ao contrário, todos são inocentes e havendo de forma comprovada a culpabilidade entram necessariamente em “cena” a lei e sua aplicação.

É lícito e apoiado que a família clame por justiça, sem dúvidas. Não podemos fechar os olhos diante tantas famílias que eternamente chorarão a dor da perda de seus entes queridos.Toda a sociedade é vítima, de uma forma ou outra, por um motivo ou outro! A pessoa tem tornado-se aprisionadas por sentimentos de medo, insegurança, desespero, desmotivação e até pânico.

Alguns dizem-se insatisfeitos com a lei, mas é mister ressaltar que não se pode punir um inocente se não há provas ou indícios de sua autoria diante a conduta delitiva, que a racionalidade tem que sobrepor-se à emoção, que é justa, mas não pode ‘falar”mais alto e ser a responsável pela apuração e julgamento dos fatos.

A lei tem que punir sim, se o limite não foi dado em casa ou se foi dado, mas não praticado, a Justiça faz o papel de “ensinar” o meliante a respeitar e “pagar” pelo seu erro, muitas vezes irreversível.

A única certeza que a sociedade tem é que não há uma causa que justifique a violência e nenhuma específica acerca de sua triste origem.

Pessoas choram todos os dias, sentem medo e fraqueza diante uma sociedade tão marcada por desespero e dor,outras batalham para que o crime praticado contra o seu familiar não caia no esquecimento e assim avassaladoramente convivemos rodeados pela indignidade da crueldade e com a esperança e o desejo de um mundo melhor e justo!

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Sobre a autora
Kelly Moura Oliveira Lisita

Advogada.Membro da Comissão de Direito das Famílias da OAB GO.Docente Universitára nas áreas de Direito Penal e Direito Civil.Tutora em EAD.Articulista.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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