Capa da publicação Evolução do direito da criança
Capa: DepositPhotos

Concepções de infância ao longo da história e a evolução jurídica do direito da criança

Exibindo página 3 de 3
Leia nesta página:

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do presente estudo permitiu realizar uma retrospectiva histórica e evolutiva acerca da concepção de infância, traçar um paralelo com a evolução jurídica do direito da criança desde a inexistência de leis protetivas até a sua configuração de proteção integral do momento histórico presente.

Verificou-se que a criança, no contexto social e familiar dos povos da Antiguidade, não era considerada como sujeito de direito, na verdade era como se já nascesse adulta, ou considerada como um ser inerte. No período da Modernidade, houve uma tímida evolução com o sentimento da infância em alta, passaram a ter participação social na vida familiar, escolar com um profundo ideal religioso.

Somente a partir da Constituição Federal Brasileira de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, que criança e adolescente deixaram de ser vistas como objetos e foram reconhecidos como pessoas que têm direito de suprir suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, intelectuais, emocionais e sociais de forma integral e integrada.

O Estatuto da Criança e do Adolescente em consonância com a Constituição Federal, elegem a família, a sociedade e o Estado como os responsáveis para assegurar a garantia dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes brasileiros, nos artigos 3º, 4º e 7º - direito à vida, à saúde, à convivência familiar e comunitária; o artigo 5º quando menciona que crianças e adolescentes não serão objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão ou qualquer tipo de atentado; e, o artigo 15º que trata sobre o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade.

Hoje, a concepção de infância no contexto da proteção integral, evidencia uma realidade trágica que vai de encontro ao que está escrito nos artigos e nas leis, em vista do alarmante e crescente índice de criminalidade e violência contra crianças e adolescentes. A violência é praticada em grande escala, porém, não se reconhece nenhum tipo de dispositivo legal, manifestação ou políticas públicas em defesa da infância e da juventude brasileira.

Diante do descaso para com as crianças e os adolescentes, pode-se concluir que o Brasil se encontra em um período de retrocesso evolutivo e de desproteção dos direitos da infância.

Acredita-se que os objetivos deste estudo foram alcançados, tendo em vista o conhecimento acerca das concepções de infância ao longo do tempo, sua evolução histórica e jurídica, com abordagens que demonstram desde a situação de desproteção a posterior concepção de proteção integral, estabelecida pela Constituição Federal (1988) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), vigentes até o momento presente.

Por fim, a análise do momento histórico presente, permitiu constatar a crescente condição de miséria, de desigualdade e violência a que são submetidas as crianças e os adolescentes atualmente, no Brasil. Tamanha negligência, omissão e descaso colocam em xeque a responsabilidade e competência do Estado, da sociedade e da família.


REFERÊNCIAS

ÁRIES, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. Violência sexual intrafamiliar: é possível proteger a criança? Artigo publicado na Revista Virtual Textos & Contextos, nº 5, nov. 2016.

BADINTER, Elizabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

BARROS, Nívia Valença. Violência intrafamiliar contra criança e adolescente. Trajetória histórica, políticas sociais, práticas e proteção social. Tese de Doutorado - Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro: PUC, 2005.

BELLONI, M. L. O que é sociologia da infân­cia. Campinas: Autores Associados, 2009.

BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da batalha da borracha. Manaus: Imprensa Oficial do Amazonas, 1992.

BITENCOURT, Luciane Potter. Vitimização secundária infanto-juvenil e violência sexual intrafamiliar: por uma política pública de redução de danos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

______. Estatuto da criança e do adolescente. Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm> Acesso em: 10 nov. 2018.

______. Código de Menores. Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1970-1979/L6697.htm>. Acesso em: 10 nov. 2018.

______. Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Brasília: Senado Federal, 1990.

______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados Gerais - Crianças e Adolescentes. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 2014.

______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trabalho de crianças e adolescentes. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 2013.

CARVALHO, Manoel C. A família contemporânea em debate. São Paulo: Cortez, 2010.

COSTA, Antônio Carlos Gomes da. Natureza e implantação do novo direito da criança e do adolescente. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069: Estudos Sócio Jurídicos. Rio de Janeiro: Renovar, 1992.

CUSTÓDIO, André Viana. Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes e Políticas Públicas. Curitiba: Multideia, 2014.

Assine a nossa newsletter! Seja o primeiro a receber nossas novidades exclusivas e recentes diretamente em sua caixa de entrada.
Publique seus artigos

DIAS, Mario B. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

FREIRE NETO, João Francisco. Princípios fundamentais do Estatuto da Criança e do Adolescente. 2011. Disponível em: <https://indianapolis.uem.br/cd2/TG/.htm>. Acesso em: 12 abr. 2017.

CASTRO, José Maria Ferreira de. A selva. São Paulo: Verbo, 1972.

FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF). Cenário da infância e adolescência no Brasil. Disponível em: <https://sistemas.fadc.org.br/biblioteca/acervo/CenarioBrasil.LivrodeBolso,2015.pdf > Acesso em: 28 mai. 2017.

HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média à época contemporânea no Ocidente. Porto Alegre: Artmed, 2004.

JÚNIOR, João Paulo Roberti. Evolução Jurídica do direito da criança e do adolescente no Brasil. Artigo publicado na Revista Unifebe, nº 10, janeiro/junho. Itajaí: Unidavi, 2012.

MAIA, Álvaro. Beiradão. Manaus: Valer/Edua, 1999.

MARCILIO, Maria Luiza. A roda dos expostos e a criança abandonada na História do Brasil 1726-1950. In: FREITAS, Marcos Cezar de. História Social da Infância. São Paulo: Cortez, 1999.

MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Crian­ça e do Adolescente e política de atendimen­to. Curitiba: Juruá, 2006.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos da Criança. Aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil. Disponível em: <https://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Crian%C3%A7a/declaracao-dos- direitos-da-crianca.html>. Acesso em: 02 mai. 2017.

PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

PRATES, Flávio Cruz. Adolescente infrator: A prestação de serviços à comunidade. Curitiba: Juruá, 2006.

RIZZINI, Irene. A arte de governar crianças: A história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2009.

SARAIVA, João Batista. Adolescentes em confronto com a lei: O ECA como instrumento de responsabilização ou eficácia das medidas sócio-educativas. Uberaba: Boletim Jurídico, 2002. Disponível em: <https://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=153>. Acesso em 10 nov.2018.

SCHULTZ, Elisa Stroberg & BARROS, Solange de Moraes. A concepção de infância ao longo da história no brasil contemporâneo. Ponta grossa: Revista de Ciências Jurídicas. 3(2): p.137-147. Ponta Grossa, 2011.

TOSSATO, Carla. O que é ser criança hoje? 2011. Disponível em: <https://www.educacional.com.br/revista/0609/pdf/ponto_de_vista_1.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2018.

TRINDADE, Jorge; SILVA, Milena Leite. Crianças e adolescentes vítimas de violência: envolvimento legal e fatores psicológicos estressores. In. TRINDADE, Jorge. Direito da Criança e do Adolescente: uma abordagem multidisciplinar. Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul, nº 54 – out/2004 a abr/2005. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

VANUCHI, Paulo de Tarso. Direitos humanos de crianças e adolescentes – 20 anos do Estatuto. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, 2010.

Assuntos relacionados
Sobre os autores
Antonio José Cacheado Loureiro

Professor de Direito Penal e Processual Penal da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Mestrando em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Amanda Cristina Ferreira Silva

Especialista em Direito Público

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos