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A questão ambiental e a universidade

uma proposta metodológica

A questão ambiental e a universidade: uma proposta metodológica

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Sumário: 1 – Introdução; 2 – A questão ambiental, a universidade e a pesquisa; 3. A Pós-Modernidade e os novos rumos da pesquisa; 3.1 A pós-modernidade frente a modernidade baseada no racionalismo; 3.2. A multiplicidade e a fragmentação dos conhecimentos; 3.3 A procura da integração do homem na ciência que produz; 4 – Os possíveis caminhos da pós-modernidade; 4.1. Possibilidade de reconstrução social, cultural e pedagógica; 4.2. Os potenciais de evolução do homem e a expansão cientifica e técnica; 4.3. Uma opção metodológica para a pesquisa na educação ambiental; 5. A busca metodológica para a educação ambiental; 5.1 - O conceito de educação ambiental; 5.2- As atitudes conservacionistas do ambiente natural; 5.3 - O essencial processo global de educação, integrador do individuo, da instituição de ensino e da comunidade; 5.4 – Metodologia participativa e as fases da pesquisa.


1 - INTRODUÇÃO

Diante da necessidade do conjunto de fatores que propiciam um ambiente com as condições adequadas para a sobrevivência do ser humano, e sabedores da degradação que o meio ambiente vem sofrendo, é que surge a iniciativa deste trabalho. Esperamos despertar nos leitores uma reflexão quanto a variedade de problemas que interferem na qualidade de vida humana, e apontar a Educação Ambiental, como um processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Usando como fonte de pesquisa o método bibliográfico discorremos sobre: A questão ambiental, a Universidade e a pesquisa; a pós-modernidade e os novos rumos da pesquisa evidenciando a pós-modernidade frente a modernidade baseada no racionalismo, a multiplicidade e a fragmentação dos conhecimentos, a procura da integração do homem na ciência que produz; os possíveis caminhos da pós-modernidade, destacando a possibilidade de reconstrução social, cultural e pedagógica, os potenciais de evolução do homem e a expansão cientifica e técnica e uma opção metodológica para a pesquisa na educação ambiental.

Em seguida procedemos a conceituação da educação ambiental, apontando as atitudes conservacionistas do ambiente natural, o essencial processo global de educação, integrador do individuo, da instituição de ensino e da comunidade.

E por fim evidenciamos uma metodologia participativa e qualitativa, destacando as fases de uma possível pesquisa em Educação Ambiental.

Esperamos com este trabalho despertar a prática de ensino e pesquisa na Universidade, contextualizada, correspondente a sociedade em que está inserida, levando os cidadãos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global.


2.- A QUESTÃO AMBIENTAL, A UNIVERSIDADE E A PESQUISA

A educação ambiental ocupa, hoje, espaço crescente na iniciativa da educação brasileira em face à relevância da interação do homem com o ambiente e a necessidade de se trabalhar a problemática ambiental em todos os níveis do ensino e espaços pedagógicos, especialmente na Universidade.

A questão ambiental ocupa espaço tão relevante no contexto globalizado que seu caráter emergencial é reconhecido pelos governos, empresas, entidades comunitárias, igrejas, ONG’s, Universidades e outros seguimentos sociais.

Porém, no que se refere ao ensino de nível superior, um aspecto torna-se primordial para a efetiva concretização dos objetivos gerais desta dimensão educativa, que se estendem a melhor qualidade de vida a partir de uma nova ética na relação sociedade-natureza e a formação de cidadãos conscientes de seus direitos e suas responsabilidades em uma perspectiva ambiental.

A Universidade atual não comporta mais os grupos isolados de pesquisadores, de docentes, de extensionistas, pois a pesquisa não pressupõe horário especial, salário adicional, já que faz parte do cotidiano da vida acadêmica.

DEMO in Desafios modernos de educação ministra que "... pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção. Em tese, pesquisa é a atitude do "apreender a apreender", e, como tal, faz parte de todo processo educativo e emancipatório" [1]

Mas que tipo de metodologia de pesquisa deve-se utilizar? Como atender as exigências sociais e estatais de aproximação comunidade/Universidade, sem, contudo, deixar de lado o caráter acadêmico do trabalho?

A tendência ainda é a de se desenvolver a educação ambiental dentro de parâmetros fortemente influenciados pela razão e objetividade dos métodos tradicionais e positivistas, naturalmente incompatíveis com uma proposta voltada para uma relação natureza-sociedade harmônica e integrativa, onde o subjetivismo tem espaço garantido a partir da compreensão do próprio sujeito e suas relações com a pesquisa, a Universidade e o ambiente. Uma proposta que se distancia dos padrões vigentes.

O pesquisador que atende ao perfil desejado não deve ser aquele que se mantém em superioridade por dominar o saber científico, cuja postura é vertical e distanciada decorrente de uma visão de mundo dicotomizada e cartesiana.

A Universidade nos molde que está posta não atende a uma ação institucional clara e definida para a educação ambiental, apesar das movimentações em todos os segmentos sociais, das normas constitucionais que abrangem a matéria e das orientações do próprio Ministério da Educação.

As discussões ambientais no âmbito acadêmico são frutos de grupos multidisciplinares de iniciativa de alguns docentes e pesquisadores, de cursos de extensão, de especializações, pesquisa de cursos de mestrado e doutorado, não fugindo ao contexto de proposições de seguimentos específicos de profissionais de nível superior, sem ação de abrangência em nível institucional.

Há, reconhecidamente, necessidade de se reorganizar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, de forma a possibilitar maior entrelaçamento entre unidades e departamentos com vistas à consolidação de tão falada e esperada interdisciplinaridade, como base no ambientalismo na universidade.

O que se nos afigura essencial é que a Universidade pense como um todo voltado para o ambiente em suas múltiplas dimensões.

Já existe a presença de grupos de estudos e pesquisas interdepartamentais voltados para o ambientalismo, com a realização, inclusive, de disciplinas abrangentes de aspectos fundamentais da questão ambiental.

Na verdade, as dificuldades observadas podem ser entendidas como sendo o resultado do desconhecimento do papel transformador da Universidade neste assunto, e mais da ausência de debates e reflexões críticas sobre alguns princípios indissociáveis do processo pertinente à educação ambiental que se caracteriza como a maior porção das relações humanas em todos os campos do conhecimento, tais como o filosófico, o político, o econômico, o social, cultural e até mesmo o espiritual..


3. A PÓS-MODERNIDADE E OS NOVOS RUMOS DA PESQUISA

3.1 A pós-modernidade frente a modernidade baseada no racionalismo

A concepção da modernidade baseada no racionalismo não conseguiu impor-se completamente, sendo causa de desapontamento da ideologia modernista.

Daí tem pertinência a expressão de ROSSEAU: "A sociedade não é racional e a modernidade mais divide do que une".

O pensamento modernista levou a uma soberania política a serviço da razão, contexto em que a noção de sujeito não tem lugar.

A razão passa a ser um instrumento de poder e de dominação sobre o homem, que não é ator de sua própria vida.

Sem a razão o homem pode fechar-se na obsessão de sua identidade, no individualismo, no racionalismo etc., mas, por outro lado, seu individualismo não pode mais ser excluído por completo.

No campo das ciências a modernidade é marcada pelo positivismo, rompendo com as afirmações intuitivas e peremptórias para abraçar a epistemologia científica comprovada, desenvolvendo o método experimental caracterizado pela racionalidade experimental, com base nos critérios; objetividade, quantificação, coerência, reprodutividade e generalização, que legaram a humanidade enorme crescimento em todos os campos da ciência, filosofia e artes. Porém, hoje, encontramo-nos na procura de método e técnica adequados à composição da preconizada integração do racionalismo instrumental com o subjetivismo, conforme sugere POURTOIS e DESMET : "Novos paradigmas, mais complexos, contendo os antigos, surgirão e mostrarão os limites de sua validade. Entre os saberes, as correntes de pensamento, os modelos e as teorias diferentes, até mesmo distantes e ignorantes uns dos outros, se estabelecerá uma necessária comunicação, uma verdadeira filiação constituindo a superação procurada". [2]

Os sujeitos observados não são mais apenas objetos e os observadores seres objetivos, o eu está presente e revela grande importância, posto que o sujeito é criador, e como criador encontra na sua capacidade de invenção e construção novos instrumentos de integração social. Não mais interessa ao homem a apreensão de um mundo despedido de suas próprias percepções e afetividade.

O ideal é estabelecer um diálogo entre o sujeito e a razão e este é o desafio da pós-modernidade.

3.2. A multiplicidade e a fragmentação dos conhecimentos

A modernidade ampliou o conhecimento em todas as áreas, com a proliferação de grandes teorias e poderosas correntes de pensamento, vultosas descobertas científicas e técnicas. Trouxe verdadeira revolução no campo das ciências exatas e humanas, das artes, no campo social e educacional, que transformou o mundo da intuição para o real mostrando a verdadeira face das coisas e o relacionamento do homem com elas.

A multiplicidade de conhecimentos generalizou-se na mesma ordem do desenvolvimento da comunicação e da tecnologia em todos os aspectos.

A multiplicação dos saberes em todos os sentidos fez desenvolver um processo de excesso de sentido e perda de significação, conforme revelou a Escola de Chicago, por isso, procura-se e fala-se com freqüência em pluridisciplinaridade, mas as disciplinas, as correntes, as teorias excluem-se mutuamente.

MORIN afirma que há quebra do saber. Exclusão e fratura dos saberes que revelam novas formas de obscurantismo, de perda de significação.

A sociedade, de conseqüência, também torna-se fragmentada, pois a personalidade, a cultura, a economia, a política caminham em direções diferentes.

A dissociação mais visível é na ordem da racionalidade com a ordem do individualismo, gerando tal paradoxo uma crise educacional.

3.3 A procura da integração do homem na ciência que produz

Considerando-se os ensinamentos trazidos pelo Professor Doutor Paulo de Tarso Oliveira, notadamente no artigo intitulado A pesquisa no ensino e o ensino na pesquisa [3], a pesquisa requer atitude peculiar voltada para si, somando-se tal atitude a instrumentalização adequada, requisitos estes apontados no referido artigo com os seguintes termos: "A educação em qualquer de sues graus, sobretudo no superior, e em suas diversas áreas, vem sendo instada a "preparar para o imprevisível", com a formação de sujeitos emancipados, capazes de interpretar e repensar a realidade que os cerca. Serão assim se para tanto estiverem devidamente instrumentalizados e imbuídos da atitude de pesquisa".

Ora, queremos crer que a instrumentalização a que se refere tal magistério nada mais é do que a adequada opção metodológica, rompedora com determinados paradigmas, não mais se tratando de ciência neutra, nos moldes positivistas e empiristas, mas sim que concebe a verdade preexistente nos fatos sociais.

Ocorre, no entanto, que a leitura dos fatos sociais é um fenômeno de vasto exercício do homem pós-moderno, eis a razão da pós-modernidade exigir o entrelaçamento ou a integração da racionalização instrumental da modernidade com a subjetivação por ela negada. Hoje o sujeito não se afigura mais como um submisso às leis racionais e impessoais, a sua inegável emergência é uma das características motivadoras da mudança de atitude na pesquisa, já que o mundo pós-moderno não aparta o sujeito individual de seus papéis sociais.

Demonstrando as características do período atual, denominado de pós-modernidade, trabalharam POURTOIS e DESMET, ao tratarem da educação pós-moderna, após acurada análise da modernidade e seus reflexos na produção dos saberes e no âmbito da educação donde concluímos que a modernidade é vista como uma difusão dos produtos da atividade racional, científica, tecnológica, administrativa, rejeitando a idéia do agir pela revelação divina, logo, rompe com o finalismo religioso, para ater-se apenas a razão. O período da modernidade se define pela separação do mundo objetivo (criado pela razão) e do mundo da subjetividade, centrado na pessoa, desconsiderando-se crenças e formas de organização que não têm fundamento na ciência ou em elementos científicos.

A educação para a modernidade devia ser libertadora do indivíduo da visão estreita e irracional imposta pela família e paixões, devendo o conhecimento ser racional e o homem estava excluído como participe da produção cientifica, a escola prestava-se a ruptura com o meio de origem.


4- OS POSSÍVEIS CAMINHOS DA PÓS-MODERNIDADE

4.1. Possibilidade de reconstrução social, cultural e pedagógica.

Com a já abordada fragmentação dos saberes gerada pela própria modernidade a indagação que se faz é acerca da possibilidade de reconstrução de um universo social, cultural, pedagógico, coerente e integrador que acolheria a razão e o ser, a racionalização e a subjetividade. A sociedade é o conjunto de efeitos produzidos pelo progresso do conhecimento.

Tal reflexão induz à concordância com as idéias preconizadas por POURTOIS e DESMET no tocante a afirmação de que o universo pós-moderno será complexo, marcado pela perda do sentimento de certeza, reconhecerá o caráter instável de todo conhecimento, com mediações entre fatos contraditórios, ao mesmo tempo em que continuará a fazer descobertas e integrará saberes, não rejeitando o progresso do período moderno.

São perspectivas da nova etapa dos caminhos do conhecimento, que marcarão um sistema de pensamento menos disperso, mais integrado e por isso mais complexo. "Essa mudança de visão aparecerá como resultado de uma tomada de consciência, até mesmo de uma maturidade maior" [4]

Há, assim, necessariamente, o encontro e integração de dois eixos característicos do mundo pós-moderno, ou seja, da racionalização e subjetivação.

A emergência do sujeito é a característica fundamental da mudança, de modo que a referencia do sujeito aparecerá como ator e autor de sua própria história ou de sua própria vida.. Tal emergência da noção do sujeito não rejeita a visão racionalista.

No dizer de POURTOIS e DESMET : "O interesse do mundo pós-moderno é a perspectiva de uma possível, necessária e crescente interação entre o sujeito e a razão, a subjetividade e a objetividade". [5]

O diálogo entre duas dimensões – razão e sujeito – encontrará o entrelaçamento entre as concepções epistemológicas e metodologias – subjetivismo e objetivismo - para se empreender as pesquisas científicas da pós-modernidade, inclusive buscando a relação do sujeito com o ambiente em que se situa, tudo isso como elemento essencial a superação que se busca. Superação esta a partir dos antagonismos que são portadores de riquezas e contém em si possibilidades de superação.

O mundo pós-moderno não separa o sujeito individual de seus papéis sociais. O sujeito é capaz de lutar contra a ordem estabelecida e os determinismos sociais a fim de alterá-los.

4.2. Os potenciais de evolução do homem e a expansão cientifica e técnica

A realidade hodierna traça potenciais de evolução que não mais se assentam apenas na expansão do crescimento científico e do técnico, mas nas pessoas com seus recursos humanos suscetíveis de mobilização, tudo com vista a retirada do homem da perspectiva de exclusão e sua inserção na integração. Estamos vivenciando um período em que se busca as semelhanças, as aproximações, e isto, fatalmente, resultará no aparecimento de novos paradigmas entre os saberes, as correntes doutrinarias e de pensamentos filosóficos, os modelos sociais, o que acarretará diversificação das teorias. Há uma premente necessidade de integração do homem na expansão científica e tecnológica.

Nos ensinamentos trazidos por POURTOIS e DESMET in Para uma perspectiva pós-moderna em educação, p.31, temos que " Os paradoxos pedem a aplicação de uma dialética com mediação" E, na seqüência explicam que sem a mediação o que se estabelece são dois pólos distintos justapostos e opostos, que resultará em convencimentos, crenças em uma e em outra idéia, alternadamente, oscilando-se o saber ora com inclinação para um lado, ora para o lado oposto, sendo esta uma situação estabelecida pela própria modernidade, quando na verdade no contexto da pós-modernidade o importante é restaurar o intermédio entre os termos do paradoxo.

Não se trata de ruptura com o passado, mas de melhorar o sistema utilizado e os saberes adquiridos, integrando os saberes mais diversos. Acaba-se com o modelo de pensamento que elimina o outro automaticamente, acaba-se com o totalitarismo de certas teorias, não há modelo imposto de cima, mas construções novas, imprevisíveis que nascem do diálogo, da confrontação, das múltiplas negociações, daí resulta que teremos então, na pós-modernidade uma visão mais dotada de grande complexidade, de muita criação, onde preponderará a mediação entre as mais variadas correntes de pensamento.

Na realidade a modernidade estava marcada, no campo da ciência, por uma meta a procura da perfeição, da plenitude no exercício da razão, enquanto que na pós-modernidade pode-se afirmar, sobretudo com base na obra de POURTOIS e DESMET, que o processo de construção dos saberes está desprovido de finalidade, sendo, portanto, marcado pela incerteza, pois o homem procura em si o seu próprio sentido, a sua razão de ser, e depara-se com um mundo indeterminável, bastante amplo, aberto e complexo. O mecanismo de integração deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se.

4.3. Uma opção metodológica para a pesquisa na educação ambiental.

No campo das ciências a modernidade é marcada pelo positivismo, rompendo com as afirmações intuitivas e peremptórias para abraçar a epistemologia científica comprovada, desenvolvendo o método experimental caracterizado pela racionalidade experimental, com base em critérios objetividade, quantificação, coerência, reprodutividade e generalização, que legaram a humanidade enorme crescimento em todos os campos da ciência, filosofia e artes. Porém, hoje, encontramo-nos à procura de método e técnica adequados à composição da preconizada integração do racionalismo instrumental com o subjetivismo, conforme orienta POURTOIS e DESMET, da seguinte maneira: "Novos paradigmas, mais complexos, contendo os antigos, surgirão e mostrarão os limites de sua validade. Entre os saberes, as correntes de pensamento, os modelos e as teorias diferentes, até mesmo distantes e ignorantes uns dos outros, se estabelecerá uma necessária comunicação, uma verdadeira filiação constituindo a superação procurada". [6]

Os sujeitos observados não são mais apenas objetos e os observadores seres objetivos, o eu está presente e revela grande importância, posto que o sujeito é criador e encontra na sua capacidade de invenção e construção novos instrumentos de integração social, não mais interessando ao homem a apreensão de um mundo despedido de suas próprias percepções e afetividade.


5. A BUSCA METODOLÓGICA PARA A EDUCAÇAO AMBIENTAL

5.1- O conceito de educação ambiental

É de fundamental importância discutir-se aqui um conceito de educação ambiental, antes de qualquer proposta de método para o seu desenvolvimento.

O ambiente, como objeto de estudo e como contexto próprio para o desenvolvimento de uma educação ambiental globalizada nos moldes antes propostos, deve se ampliado para compreender a totalidade das relações naturais e humanas na suas múltiplas facetas, em um espaço delimitado. Através da ampla visão de ambiente é que podemos falar em educação ambiental que resulta em falar do nosso cotidiano e do direito à vida. Por isso, no âmbito da ciência penal já se preocupa em sancionar os danos acarretados às gerações futuras, há uma amplitude no conceito de crime e de seu autor, tudo em virtude da necessidade de proteção aos interesses difusos especialmente os que estão ligados as questões ambientais.

Para SCARLATO "Educação ambiental é o conjunto de ações educativas, voltadas para a compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem com o meio, a determinação social e a evolução histórica dessa relação". [7]

5.2.- As atitudes conservacionistas do ambiente natural

A radicalização do impacto destrutivo do homem sobre a natureza, provocada pelo desenvolvimento do industrialismo, inspirou, especialmente ao longo do século XX, uma série de iniciativas.

A mais antiga delas é o conservacionismo, que é a luta pela conservação do ambiente natural ou de partes e aspectos dele, contra as pressões destrutivas das sociedades humanas.

Denúncias feitas em Congressos Internacionais geraram uma campanha em favor da criação de reservas de vida selvagem, que ajudaram a garantir a sobrevivência de muitas espécies ameaçadas.

Existem basicamente três tipos de recursos naturais: os renováveis, como os animais e vegetais; os não-renováveis, como os minerais e fósseis; e os recursos livres, como o ar, a água, a luz solar e outros elementos que existem em grande abundância.

O movimento ecológico reconhece os recursos naturais como a base da sobrevivência das espécies e defende garantias de reprodução dos recursos renováveis e de preservação das reservas de recursos não-renováveis.

No Brasil, o movimento conservacionista está razoavelmente estabelecido. Em 1934, foi realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a I Conferência Brasileira de Proteção à Natureza. Três anos mais tarde criou-se o primeiro parque nacional brasileiro, na região de Itatiaia RJ.

Além dos grupos conservacionistas, surgiu no movimento ecológico um novo tipo de grupo, o dos chamados ecologistas. A linha divisória entre eles nem sempre está bem demarcada, pois muitas vezes os dois tipos de grupos se confundem em alguma luta específica comum.

Os ecologistas, porém, apesar de mais recentes, têm peso político cada vez maior. Vertente do movimento ecológico que propõe mudanças globais nas estruturas sociais, econômicas e culturais, esse grupo nasceu da percepção de que a atual crise ecológica é conseqüência direta de um modelo de civilização insustentável.

Não se pode deixar de reconhecer que a preocupação com o ambiente natural é hoje objeto de diversas ações simultâneas em megaprojetos de saneamento e recuperação ambiental, onde se incrementa certa multidiciplinaridade. Mas, dita multidiciplinaridade tem o sentido apenas de identificar a atuação de diversas áreas de conhecimento em um mesmo problema, não significando, em hipótese alguma, que se trata de integração efetiva das diversas áreas ou de interdisciplinaridade.

Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a Educação Ambiental como meio indispensável para se conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade - natureza e soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planta, mas certamente é condição necessária para tanto. A Conferencia Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi estabeleceu princípios que constam deste documento, no item Orientação didática geral.

Segundo o PCN: A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno seu meio, sua comunidade - não é novidade. Ela vinha crescendo especialmente desde a década de 60 no Brasil. Exemplo disso são atividades como os estudos do meio. Porem, a partir da década de 70, com o crescimento dos movimentos ambientalistas passou se a adotar explicitamente a expressão Educação Ambiental para qualificar iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não-governamentais pelas quais se busca conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais. Um importante passo foi dado com Constituição de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência constitucional a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais art. 225, ss1, VI 5 [8].

5.3. O essencial processo global de educação, integrador do individuo, da instituição de ensino e da comunidade.

Não se pode negar que há uma enorme preocupação em todos os âmbitos e níveis do conhecimento com a questão ambiental, mas, por outro lado, nota-se que as dificuldades observadas em se promover educação ambiental satisfatória decorre da desintegração do sujeito, da entidade de ensino e da comunidade, assim o pesquisados acha-se isolado em grupos de pesquisa ou estudo, a própria instituição de ensino não reconhece o relevante papel que exerce, e por outro lado, a comunidade acha-se apartada desses acontecimentos, daí decorre a falta de reflexão crítica sobre alguns princípios indissociáveis do processo de educação ambiental, que vai muito além das atitudes e ações preservacionistas do ambiente natural.

Assim, estamos tratando de uma proposta de ruptura com determinados paradigmas, como a classificação de prática educativa ambientalista em educação formal curricular e não-formal do distanciamento, no processo de extensão universitária, entre a pesquisa teórica e a prática.

DIAS afirma que: "... à Educação foi dada a incumbência de ser o agente de mudanças desejáveis na sociedade, e a ela se acoplaram as educações; sexual, antidroga, para o transito, para a saúde e higiene etc.Dentre elas, nenhuma tem um apelo tão premente e globalizador quanto e Educação Ambiental mesmo porque, pela sua própria natureza integradora, permeia varias áreas, e um efeito tão devastador quanto falha no seu objetivo de desenvolver da consciência critica pela sociedade em relação á problemática ambiental e aos seus aspectos sócio culturais, econômicos, políticos, científicos, tecnológicos, ecológicos e éticos" [9].

Acreditamos em um processo global de educação que faça a verdadeira aproximação entre a instituição de ensino e o pesquisador com a comunidade local, possibilitando a construção do conhecimento a partir de um contexto e de uma realidade específica.

A questão ambiental é particularizada para cada região e cada contexto. Somente será possíveis a integração objetivada na presente proposta com a efetiva participação da comunidade nas discussões em estudo. Participação esta que não deve ser compreendida como a simples possibilidade de se colher opiniões, através de entrevistas e outras técnicas, da comunidade, onde a comunidade apenas opina sobre algo que, não raro, conhece empiricamente, com certa dosagem de pré-conceitos distantes da realidade de vida e dos problemas mais relevantes que cercam o grupo estudado. Assim, estamos diante de uma proposta de participação que confere ao grupo estudado a igualdade de poderes através do respeito mútuo e compreensão entre o saber popular e o saber técnico-científico, tudo somado as diferentes experiências de vida.

DEMO nos coloca que " Participação é um processo de conquista, não somente na ótica da comunidade ou dos interessados, mas também do técnico, do professor, do pesquisador, do intelectual". [10]

As contradições entre o saber popular e o saber técnico-científico, devem, então ser abordadas dialeticamente, tudo em contraponto com as experiências de vida dos sujeitos do grupo estudado. Assim, com certeza, podemos falar em processo de vivência conjunta e participativa, que possui como objeto maior o exercício da plena cidadania. É o homem traçando o seu próprio destino, dentro das atuais exigências, determinantes da construção do conhecimento, já discutido no contexto da pós-modernidade.

CHARLOT contempla estas colocações quando afirma que: " a educação concebida como cultura deve realizar no homem a essência humana. Mas essa essência humana é inalienável. O homem é elemento de uma ordem cuja filosofia mostra que ele é eterno: ele próprio é, portanto, eterno. O homem está sempre no fundo do homem, por mais pervertido que este último possa parecer. Nenhum homem é a tal ponto corrompido que não deixe totalmente de ser homem; a humanidade sempre se manifesta de alguma forma no homem. Neste sentido, todo ser, por mais endurecido que seja, pode sempre converter-se." [11]

Em síntese, busca-se a metodologia que reflete o caráter político do processo educativo.

5.4.– Metodologia participativa e as fases da pesquisa.

As metodologias qualitativas de caráter participativo são as mais adequadas às atividades de pesquisa em uma Universidade comprometida com a sociedade.

DEMO aponta que "... participação é metodologia, algo comum a todas as políticas sociais redistributivas, porque é o caminho fundamental de todas. Não haveria sentido em imaginar uma determinada política social que fosse participativa e outra não, já que, não sendo participativa também não seria social". [12]

Essa linha metodológica, como opção epistemológica e política, vem fortemente criticar o positivismo e os moldes tradicionais que deixam de contribuir para as necessidades sociais.

Esta mesclada de procedimentos de caráter exploratório, de acordo com o que os participantes buscam, deixando de ser neutra, rompendo o positivismo e o empirismo, sendo construída na relação prática entre sujeito e objeto.

A metodologia participante parte da realidade e interesse do grupo, buscando integrar o conhecimento popular e o científico, atingindo a transformação social com a produção de novos conhecimentos.

LOUREIRO, coloca em seu artigo Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão que " um aspecto de interesse específico para a Educação Ambiental é o processo centrado na realidade local, que permite a formação de tecnologias alternativas, tão pregadas dentro do movimento ambientalista e dos modelos de ecodesenvolvimento". [13]

Como proposta estaremos evidenciando os passos de uma pesquisa participativa quanto a Educação Ambiental.

Num primeiro momento é preciso conhecer a realidade local, o que poderá ser realizada com a inserção dos pesquisadores na área delimitada; pessoas estas que devem participar de todos os possíveis eventos realizados na comunidade, estar presente em reuniões, proceder visitas e a observação participante, de forma a se envolver com a comunidade.

Ainda se faz preciso conhecer a dimensão histórica da comunidade, conhecendo o processo em que vive o grupo envolvido, contextualizando-o numa visão socioeconômica. A qual poderá ser levantada através de levantamento e análise de documentos existentes sobre o local e ainda coleta e análise de depoimentos da comunidade, dando maior ênfase ao não direcionamento das perguntas. Os registros podem ser transcritos ou gravados.

Num segundo estágio da pesquisa, após a caracterização da área de estudo, é preciso de fazer um estudo detalhado sobre o tema, o que será possível por meio de revisão de literatura sobre educação ambiental e sobre os problemas ambientais do grupo; levantamento de grupos e movimentos sociais envolvidos direta ou indiretamente com a problemática ambiental; estudo de livros didáticos sobre educação ambiental e participação em eventos, fóruns de discussões e debates.

Para a terceira fase da pesquisa reserva-se um diagnóstico do ambiente de vida; que necessariamente deve ser realizado de forma participativa, onde todos os setores da comunidade em debates e discussões colocam seu ponto de vista. Nesta fase da pesquisa permeia-se a técnica do diálogo e a contribuição individual dos participantes. Permitindo que o pesquisador colha dados relevantes para se inserir na realidade, transforma-la e ser transformado por ela.

Na quarta fase da pesquisa está o planejamento e a implementação da ação, sendo possível após todo o processos das três primeiras fases. O planejamento também deve ser participativo, sobretudo porque visa formular soluções para a realidade daquela comunidade.

O planejamento da ação educativa compreende a determinação de objetivos educativos, relacionados a problemática levantada; à seleção de conteúdos e à seleção de estratégias educativas.

Quanto às estratégias as mais possíveis e viáveis são a de comunicação, visando a informação educativa e a produção de conhecimento; a de organização, onde se formam grupos de articuladores e a de treinamento, àquela em que capacita professores e outros representantes da comunidade para a ação.

Por fim a quinta fase refere-se à avaliação da pesquisa que se desenvolve em dois momentos básicos um de acompanhamento, onde a comunidade e os pesquisadores garantem a conquista dos processos participativos e outra refere-se à avaliação crítica e autocrítica permanente, possibilitando evidenciar os pontos que estão sendo mais aceitos e interiorizados, se está acontecendo a mobilização, sendo um processo que se realiza em todas as fases da pesquisa.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se trabalhar a Educação Ambiental, necessariamente precisamos interligar a Universidade com a Comunidade, promovendo simultaneamente o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental.

Acreditamos que somente fomentando a participação comunitária, de forma articulada e consciente, poderemos atingir nossos objetivos quanto a Educação Ambiental. Sendo preciso prover de conhecimentos necessários à compreensão do seu ambiente, de modo a suscitar uma consciência social que possa gerar atitudes capazes de afetar comportamentos.

O papel do educador/orientador deverá ser de facilitador da exploração do metabolismo natural, dos processos que ocorrem no meio ambiente, que afetam e que são afetados pelos próprios homens.

As Universidades ainda hoje, contam com grandes limitações no campo das pesquisas participativas, deixando de experimenta-las, talvez por preconceito ou por medo da necessidade de ousadia e criatividade, ou pela própria estrutura do sistema de ensino, que limita o estudo apenas àquilo que lhe é interessante.

Porém esperamos que com o avanço dos estudos nas áreas humanas e sociais, sobretudo com as constantes mudanças na educação, as pesquisas de caráter participativo passem a ser trabalhadas, provocando reais modificações na sociedade, visando a conquista da cidadania, onde o homem possa ter domínio sobre si, suas ações e conquistas.


BIBLIOGRAFIA

CHARLOT, B.A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação.2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara, 1986.p.61

DEMO, Pedro. Desafios modernos de educação, 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, 128p.

_______.Participação é conquista: noções de política social participativa.2.ed. São Paulo:Cortez,1993.

DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas.2.ed. São Paulo: GAIA, 1993.p.24

LOUREIRO,CFB. Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão. In: REVISTA PARADOXA. Rio de Janeiro.Ano II – nº 4 – 1996/1997.

OLIVEIRA. Paulo de Tarso. A Pesquisa no ensino e o ensino da pesquisa. Revista da Universidade de Franca,

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

SCARLATO, F.C. & FURLAN,S A.O ambiente em construção. São Paulo: Scipione, 1997.


Notas

1. DEMO, Pedro. Desafios modernos de educação, 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, 128p.

2. POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

3. OLIVEIRA. Paulo de Tarso. A Pesquisa no ensino e o ensino da pesquisa. Revista da Universidade de Franca,

4. Pourtois e Desmet, op. cit, p. 27

5. Pourtois e Desmet, op. cit, p. 29

6. POURTOIS, J. P. e DESMET, H. A educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999, 30p.

7. SCARLATO, F.C. & FURLAN,S A.O ambiente em construção. São Paulo: Scipione, 1997.

8. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

9. DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas.2.ed. São Paulo: GAIA, 1993.p.24

10. DEMO, P. Participação é conquista: noções de política social participativa.2.ed. São Paulo:Cortez,1993.

11. CHARLOT, B.A mistificação pedagógica: realidades sociais e processos ideológicos na teoria da educação.2.ed. Rio de Janeiro:Guanabara, 1986.p.61

12. DEMO, op.cit. p.66

13. LOUREIRO,CFB. Educação ambiental e universidade: proposta metodológica para pesquisa e extensão. In: REVISTA PARADOXA. Rio de Janeiro.Ano II – nº 4 – 1996/1997.


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MENEZES, Cibélia Maria Lente de. A questão ambiental e a universidade: uma proposta metodológica. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 7, n. 60, 1 nov. 2002. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/3496. Acesso em: 10 maio 2024.