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A relação entre a poluição do ar e o aquecimento global

A relação entre a poluição do ar e o aquecimento global

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Qual a relação entre o aquecimento global e a poluição do ar? O que fazer para solucionar ou amenizar esse problema?

Há diferença entre mudança climática e aquecimento global? Segundo Dallas (2009), sim. Para este autor, a mudança climática ocorre quando há uma alteração substancial nas medições do clima (temperatura, vento, chuva) por um período superior a uma década. Essas alterações podem ocorrer por processos naturais ou por causa da interferência humana.

Já o termo aquecimento global, esclarece Dallas (2009, p. 8) é utilizado para descrever:

O aumento médio da temperatura da atmosfera próxima à superfície da Terra, que também pode ocorrer por causas naturais ou pelas ações do homem. Portanto, aquecimento global é um aumento na temperatura, ao passo que mudança climática é um conceito mais amplo e indica que estão ocorrendo outras variações além do aumento da temperatura. O consenso científico diz que ambos levam às mesmas e terríveis consequências (grifos no original).

Quando os raios solares atingem a Terra, parte deles são mandados de volta para o espaço e outra parte fica retida na atmosfera graças aos gases do efeito estufa. Esse processo de aquecimento natural causa o aquecimento da Terra e sem ele a vida não existiria em nosso planeta.

Acontece que, com o aumento gigantesco dos gases do efeito estufa na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2), ocorre o aquecimento global. Além do CO2 há outros gases que contribuem para o aquecimento global: o monóxido de carbono (CO), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o dióxido de nitrogênio (NO2), o dióxido de enxofre (SO2), o hexafluoreto de enxofre (SF6 ), os perfluorcarbonetos (PFCs), os hidrofluorcarbonetos (HFCs) e até mesmo o vapor de água. Este último, contribui para o aquecimento global, mas não contribui para a destruição da camada de ozônio.

Apesar de todos esses gases contribuírem de forma significativa para o aquecimento global, o foco dos cientistas está voltado para o dióxido de carbono (CO2). Os níveis de dióxido de carbono têm crescido de forma alarmante desde a Revolução Industrial. Além disso, esse gás é um dos mais abundantes na atmosfera e tem uma grande longevidade (até 200 anos). “Estima-se que 70% do aumento do efeito estufa se deva a maior concentração de CO2 […] As atividades humanas têm sido as maiores responsáveis por essa elevação da concentração do CO2 na atmosfera nas últimas centenas de anos” (DALLAS, 2009. p. 13).

Já o dióxido de enxofre (SO2) é produzido diretamente como subproduto da queima de combustíveis fósseis como a gasolina, o óleo dísel e o carvão. O metano (CH4), por sua vez, é emitido naturalmente (vulcões, pântanos e falhas geológicas) ou por ações humanas (aterros sanitários, extração de combustível mineral).

A maximização do efeito estufa tem provocado um aumento da temperatura que não é benéfico à biosfera. Esse processo, como visto, é chamado de aquecimento global (TAVARES, 2014). Mas, além do aquecimento global a poluição do ar traz consigo outros malefícios, tais como: a) a potencialização dos danos provocados à saúde, principalmente nos idosos e nas crianças que vivem nos grandes centros urbanos; b) a alteração da acidez da água da chuva (chuva ácida); c) o aumento da radiação ultra violeta sobre a Terra; d) a corrosão de materiais (estruturas metálicas, construções, monumentos)

Tavares (2014) enfatiza ainda que os materiais particulados também estão entre os principais poluentes atmosféricos e, portanto, também contribuem para o aquecimento global. Os materiais particulados são compostos de poeira, fumaça e diversos tipos de materiais sólidos e líquidos que ficam suspensos na atmosfera.

Suas principais fontes de emissão são os veículos automotores e os processos industriais; possuem alto potencial para causar problemas à saúde, especialmente respiratórios. Em relação ao meio ambiente, podem causar danos à vegetação e contaminação do solo e da água (TAVARES, 2009, p. 26).

Como pode ser percebido, portanto, a mistura de todos esses gases poluentes na atmosfera é maximizada (efeito sinérgico ou aditivo) e suas consequências são ainda mais catastróficas para o planeta e os seres vivos que nele abitam (ASSUNÇÃO in PHILIPPI JR; ROMÉRO; BRUNA, 2014).

Como visto acima, o aquecimento global é apenas um dos diversos problemas ocasionados pela poluição do ar. Mas, quais são as principais consequências do aquecimento global propriamente dito? Dentre suas consequências podem ser destacadas: a) o aumento do nível dos oceanos provocado pelo derretimento das calotas polares e que podem causar alagamentos em regiões litorâneas; b) a desertificação acelerada que provoca a morte de plantas, animais e trazem sérios prejuízos à agricultura; c) as mudanças climáticas que causam tempestades, inundações, furações, tufões, ciclones; d) a alteração das correntes marítimas que pode provocar a extinção de peixes e animais marinhos; e) o aumento significativo da temperatura do planeta (o chamado efeito estufa: que nada mais é que o aumento da temperatura da Terra ocasionado pela retenção além do ideal da radiação infravermelha na atmosfera em função do aumento da concentração de gases poluidores do ar).

A grande questão que se apresenta à sociedade atual é: como esse problema do aquecimento global pode ser solucionado ou minimizado? Há diversas maneiras de minimizar ou quem sabe até solucionar esse problema do aquecimento global, mas nenhuma dessas maneiras é mágica. O que significa dizer que será preciso uma ação conjunta dos diversos seguimentos da sociedade para que o objetivo seja alcançado.

De acordo com Assunção (in PHILIPPI JR; ROMÉRO; BRUNA, 2014, p. 181), devem ser adotadas medidas de prevenção e de controle da poluição do ar.

A busca de soluções para o problema da poluição do ar deve começar pela sua prevenção. Prevenir significa evitar a geração de poluentes, com a utilização de processo industriais e de combustíveis menos poluentes, além de medidas de redução de consumo de produtos poluidores e de energia, enquanto controlar refere-se a medidas de tratamento de emissões de poluentes.

Além da prevenção e do controle da poluição do ar podem ser adotadas outras medidas que certamente irão contribuir para o controle do aquecimento global em particular e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente em geral. A evolução tecnológica, o planejamento urbano, a elaboração de leis mais rígidas e que efetivamente sejam aplicadas são alguns exemplos de medidas que podem ser adotadas.

Dallas (2009, p. 38), enfatiza também que as soluções para amenizar o problema do aquecimento global e a poluição do ar passam por ações: “ a redução e a modificação do consumo, o aumento da eficácia energética, a otimização das diferentes formas de produção de energia, a remoção/estocagem de dióxido de carbono e o fortalecimento da educação.”

A redução do consumo diminui a demanda por energia e, consequentemente contribui para a diminuição das emissões de CO2. A modificação do consumo está relacionada com a utilização de produtos menos poluentes (utilização de metrô ou bicicleta ao invés de carros). A eficácia energética maior pode ser conseguida com a utilização de produtos mais eficientes (lâmpadas e eletrodomésticos que consomem menos energia). A otimização das diferentes formas de produção de energia podem ser alcançadas através da diversificação da mesma e do uso de energias renováveis (solar, eólica, geotérmica, biomassa, maremotriz). A remoção/estocagem de dióxido de carbono podem se conseguidas através do reflorestamento e do sequestro de carbonos. Por fim, o investimento em educação objetiva informar e conscientizar a sociedade a respeito do aquecimento global e da poluição do ar (DALLAS, 2009).

O exemplo de que é possível amenizar o problema da poluição do ar e do aquecimento global vem da cidade de Cubatão no estado de São Paulo. Entre as décadas de 1950 e 1980 a cidade ficou conhecida como “o Vale da Morte” por causa do grande número de indústrias poluidoras que nela estavam localizadas. A enorme quantidade de poluentes lançados no ar e nos rios que cortavam a cidade de forma desordenada trouxe consequências catastróficas: problemas de saúde dos moradores, nascimentos de crianças mortas com com deformidades, destruição da vegetação e mortandade de animais e peixes (TAVARES, 2014).

A partir de 1983 o estado de São Paulo, através da CETESB começou a colocar em prática o plano de controle ambiental. Hoje a cidade controla praticamente 100% dos poluentes industriais e urbanos e é considerada pela ONU como um exemplo de recuperação ambiental (TAVARES, 2014).

Entre os fatores que podem dificultar a tomada de atitudes para reduzir o problema do aquecimento global estão a falta de vontade política, o fortíssimo lobby das empresas poluidoras e a inércia da sociedade. De acordo com Nobre (apud ALISSON, 2013), no artigo intitulado 'Mudanças no clima do Brasil até 2100', os cientistas têm o grande desafio de “conseguir traduzir a seriedade e a gravidade do momento e as oportunidades que as mudanças climáticas globais encerram para a sociedade. Sabemos que a inação representa a ação menos inteligente que a sociedade pode tomar.”

O governo e a sociedade, portanto, não podem ficar inertes diante dessa catástrofe anunciada pelos cientistas e as indústrias também precisam entender que crescimento econômico sem preservação ambiental é um gravíssimo erro. As ações nesse sentido requerem urgência ou chegará o momento em que já será tarde demais salvar o meio ambiente.

Referências bibliográficas:

ASSUNÇÃO, J. V. Controle ambiental do ar In PHILIPPI JR, A; ROMÉRO, M. A; BRUNA, G. C. Curso de gestão ambiental. 2 ed. São Paulo: Manole, 2014. Cap. 5, p. 143-194.

DALLAS. N. Como tornar sua empresa ecologicamente responsável. Coleção Desenvolvimento Profissional. Você S/A. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

PLANETA SUSTENTÁVEL. Mudanças no clima do Brasil até 2100. Disponível em: abril.com.br/noticia/ambiente/mudancas-clima-brasil-2100-753754.shtml?func=2>. Acesso em: 09 set. 2015.

TAVARES, K. P. Gerenciamento e controle da poluição ambiental II. Batatais: Claretiano, 2014. 


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