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Comentários à eficiência do discurso de Moro e outros grandes oradores brasileiros

Comentários à eficiência do discurso de Moro e outros grandes oradores brasileiros

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Este breve ensaio tem como objetivo analisar de forma crítica a oratória de dois palestrantes de relevo, considerando-se para tanto discursos proferidos em momento e situações especialmente distintos.

RESUMO

Este breve ensaio tem como objetivo analisar de forma crítica a oratória de dois palestrantes de relevo, considerando-se para tanto discursos proferidos em momento e situações especialmente distintos. Tenciona-se com o presente evidenciar o comportamento e eficiência discursiva dos oradores sem, no entanto, discorrer sobre o conteúdo objeto da palestra de ambos. A análise e reflexões, pautadas em parâmetros prelecionados pelo escritor Reinaldo Polito em sua página pessoal na rede mundial de computadores e amparada em pesquisa bibliográfica, estão apoiadas em método de observação próprio, desconsiderando, portanto, maior rigor científico.

Palavras-chave: Expressão oral; palestras; discurso.

ABSTRACT

This short essay aims to analyze critically the Oratory of two prominent speakers, to both speeches given in time and situations especially distinct. Intends to present evidence with the behavior and discursive efficiency of speakers without, however, discuss the content of the presentation object. The analysis and reflections, based on parameters prelecionados by Reinaldo Polito on your personal page on the World Wide Web and covered in bibliographical research, are supported by observation method itself, disregarding, therefore, greater scientific rigour.

Keywords: Oral expression; lectures; speech.

1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Comunicar com eficiência é um pré-requisito que extrapola o simples respeito ao formalismo da linguagem culta ou ambições no campo pessoal, sendo mesmo necessidade básica para fazer-se entender em um mundo cada vez mais conectado. A capacidade de proferir um discurso competente é, portanto, um predicado mais do que desejável para a maioria das pessoas e profissionais.  

Se considerarmos, por exemplo, o cenário hipotético de um indivíduo surpreendido pelo convite para palestrar durante determinado evento ou reunião, não chega a ser difícil imaginar que para este só se configuram duas soluções possíveis e viáveis: recusar educadamente a proposta ou, estando preparado para eventualidades e sendo conhecedor do tema em pauta, colocar-se a falar empregando métodos e truques amplamente discutidos na internet e seminários especializados.

Não se trata, lógico, de afirmação fundamentada no senso comum, mas de suposição teórica amparada nas premissas ensinadas pelo professor Reinaldo Polito no “Curso de Expressão Verbal”, preparatório que o autor mantém em um endereço eletrônico na internet onde ministra aulas de como falar bem em público.

Partindo dessa base, bem como de pesquisa bibliográfica específica, pretende-se discorrer criticamente, ao longo do texto, sobre as palestras “Estratégia e liderança... Uma leitura através da história”, proferida no ano passado pelo professor universitário Leandro Karnal, durante o 3º Congresso sobre Gestão de Pessoas no Setor Público Paulista; e o discurso do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, durante a edição 2015 do evento EXAME Fórum, promovido pela editora Abril.

O exemplo elencado mais acima, usado a título de ilustração, é, portanto, um exercício ficcional endossado em possibilidades do cotidiano que nos permite introduzir com segurança o tema proposto.

2 – KARNAL OU MOTIVACIONAL?

O acadêmico que acessar a internet em busca de informações breves sobre o perfil de Leandro Karnal encontrará algumas respostas interessantes. Uma das mais completas, no entanto, encontra-se na Wikipédia, projeto de enciclopédia multilíngue de licença livre, baseado na web, escrito de maneira colaborativa.

Nas páginas do citado portal é possível ler o texto abaixo transcrito:

Leandro Karnal (São Leopoldo, 1º de fevereiro de 1963) é um historiador brasileiro, atualmente professor da Universidade Estadual de Campinas na área de História da América. Foi também curador de diversas exposições, como A Escrita da Memória, em São Paulo, tendo colaborado ainda na elaboração curatorial de museus, como o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Graduado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e doutor pela Universidade de São Paulo, Karnal tem publicações sobre o ensino de História, bem como sobre História da América e História das Religiões. (Wikipédia)

Essa síntese sobre o personagem em tela permite discorrer mais facilmente sobre a palestra objeto de estudo deste ensaio. Como orador pode-se dizer que Karnal é uma sumidade. Fala com naturalidade, brinca com a plateia e profere, de forma fundamentada, uma profusão de dados que saltam aos olhos do expectador.

Sua capacidade de concatenar ideias é surpreendente. Não se atrapalha nunca, ou pelo menos passa tal impressão – o que, convenhamos, torna difícil, mesmo ao mais experiente, acreditar que o faça de improviso.

É metódico, bem organizado e eloquente. Ampara-se em slides e projeções, mas o faz de forma natural, como quem conversa com amigos ou, no caso específico do próprio Karnal, como aquele que preleciona para uma turma de alunos.

 Considerada a teoria de Polito é possível identificar na oratória do palestrante uma série de elementos que disciplinam a boa apresentação em público. Se, como dito antes, é notório o acurado zelo com que seleciona o conteúdo que embasa seu argumento, inegável também reconhecer que faz uso de carisma bem “construído” para convencer a plateia.

Este, por sinal, é um componente que o próprio historiador define de forma soberba: “Defino (carisma) como oxigênio. É invisível, mas sua ausência é percebida imediatamente”. No caso do professor acadêmico, tamanha a profusão que parece transbordar diante dos olhos do expectador. Ele brinca, parece improvisar, mas o faz com tanta sutileza que é tudo muito agradável e interessante.

Seus gestos são comedidos, assim como recomenda o próprio Polito. Passeia pelo palco sem, no entanto, fazer movimentos bruscos ou forçados. Evita com isso, percebe-se, distrações ao foco objetivado.

Quando, por fim, chega ao tema principal o faz com tamanha autoridade e preparo que se torna difícil ignorar a necessária reflexão sobre o assunto.

Aliás, mesmo no momento posterior, quando encerra argumentando restrição imposta pelo tempo e coloca-se a responder número restrito de questões, o faz como faria um escritor motivacional, respeitando opiniões, mas aconselhando.

O artifício, diga-se, funciona muito bem. Deixa no público o perceptível desejo de que a preleção durasse bem mais. Meritório, sem dúvida. Síntese perfeita do que, na concepção de Polito, seria a forma eficiente de falar em público.  

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03 – MORO, O MODERADO

Talvez pela natureza exuberante da palestra de Leandro Karnal tecer comparação com o discurso comedido do juiz federal Sérgio Moro seja um tanto quanto injusto.

Até por força do seu campo de atuação é natural que o magistrado evite preleções performáticas. O que, a bem da verdade, não torna seu discurso menos eficiente ou mais chato. É mais sério, sem dúvida; revestido de evidente aura de autoridade.

Trata-se de orador equilibrado e sucinto que conjuga elementos imprenscindíveis à melhor técnica de oratória.

Apesar de possuir em comum com o historiador a prática da docência, Moro é visivelmente menos eloquente. Preleciona amparado em dados, aos quais volta e meia consulta passando os olhos sem perder de vista a plateia. Ao fazê-lo incorre em método descrito de forma precisa por Polito.

Chama a atenção também o cuidado com que seleciona palavras antes de proferi-las. Para casos em processo de investigação não afirma de forma contundente. Dá apenas a entender a relevância do informado.

Semelhante à Karnal seus gestos são curtos e breves, até um pouco mais restritos. É, na melhor definição, um orador de tribuna.

Não resta dúvida que alcança atenção da plateia. Talvez menos pela habilidade de comunicar e mais pela importância do discurso proferido. Certo, porém, é que comunga da metodologia correta ao assegurar que sua palestra não seja enfadonha.  

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Como visto ao longo desta dissertação não é difícil identificar os princípios que fundamentam a boa fluência verbal nos discursos examinados. Um de forma mais emblemática, outro um pouco menos, mas ambos reforçando conceitos extraídos dos ensinamentos de Polito.

 Há, diga-se, uma linha tênue que separa os elementos da boa oratória, delineada pelo cuidado em observá-los. É justo afirmar que para não ocorrer equívocos ajuda ater-se com dedicação ao prelecionado pelo escritor sem perder de vista, por óbvio, o aconselhamento de outros oradores experientes.

       Práticas como leitura, exercícios de reforço e treino diário contribuem positivamente para o aprimoramento pessoal na, nem tão complexa, arte de falar bem em público.

REFERÊNCIAS

LEANDRO Karnal. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Leandro_Karnal> Acesso em: 02 jun. 2016.

POLITO, Reinaldo. A melhor técnica para falar em público. Disponível em <http://www.polito.com.br/portugues/artigo.php?id_nivel=12&id_nivel2=155&idTopico=1342>. Acesso em 02 jun. 2016.

POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente e sem inibições. Saraiva, 1998.

PRATES, Carlos. Falando em Público com Sucesso. 2005

YouTube. Juiz Federal Sérgio Moro em palestra sobre o caso Lava Jato. Vídeo (29min). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=C77Nw8_Rvuw>. Acesso em: 02 jun. 2016.

YouTube. Leandro Karnal - Estratégia e liderança... Uma leitura através da história. Vídeo (47min03s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yMSETYWzSn4>. Acesso em: 02 jun. 2016.



Autor

  • Wellington Cacemiro

    Advogado, jornalista e pesquisador jurídico com publicações em revistas nacionais e internacionais. Graduado em Direito pela faculdade Multivix Cachoeiro Ensino, Pesquisa e Extensão Ltda., pós-graduado em Direito Processual Penal pelo Instituto Damásio de Direito da Faculdade Ibmec-SP, pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela mesma instituição e pós-graduando em Direito Penal pelo Instituto Damásio de Direito da Faculdade Ibmec-SP.

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