O mundo amanheceu chocado com a imagem do pequeno menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, encontrado morto em uma praia da Turquia. A imagem se tornou uma das mais representativas da dramática crise migratória na Europa, ocasionada pelos conflitos armados no Oriente Médio, principalmente na Síria.
Nilüfer Demir, a fotógrafa que registrou as imagens do corpo de Aylan na praia da Turquia, disse: “a única coisa que eu poderia fazer era tornar seu clamor ouvido. Naquele momento, eu pensei que poderia fazer isso ao acionar minha câmera e fazer sua foto”. E foi o que aconteceu. O mundo voltou-se para o pequeno Aylan Kurdi.
A cada instante que as ondas da praia tocavam a face do menino Aylan, firmada na areia, era como se o mundo fosse castigado pela sua omissão, condenado por sua iniquidade. A imagem parece muito bem resumir o quanto distante estamos do respeito e da preservação da dignidade da pessoa humana.
A imagem do pequeno menino sírio conduz a Organização das Nações Unidas, seu Conselho de Segurança e sua comunidade de Países, inclusive as grandes potências mundiais, para o período paleolítico, para um mundo inferior nos subterrâneos da Terra de que nos fala a mitologia grega.
A desigualdade social e as injustiças do sistema que dominam o mundo triunfam. Em 5.400 anos de história da humanidade, desde a invenção da escrita, ainda não aprendemos a viver no planeta, não aprendemos a amar e conviver em fraternidade com o nosso semelhante. Tudo que sabemos fazer até o presente é acumular riquezas e bens materiais, consumindo todos os recursos naturais da Terra, sempre deixando para trás um rastro de poluição e destruição generalizadas.
O pequeno Aylan Kurdi nos fez ter a sincera e última impressão de que tratados e convenções internacionais não passam de um nada, que as fronteiras entre as Nações são meras trincheiras delimitadoras de territórios de um pequeno grupo de senhores que entendem que são os donos do planeta. Afinal, Aylan não poderia estar na Síria, sua terra natal, nem na Turquia, nem na Europa, nem em lugar algum. Nos termos do acordado pelos poucos senhores do planeta, o pequeno Aylan Kurdi devia mesmo estar morto.
E sem dar um segundo sequer de chance à paz no mundo caminha a humanidade. Embalada para nossa destruição final. Quem diria, mas que ironia, a forma de vida dominante no planeta ser a autora de seu próprio apocalipse e de todas as outras espécies.
Nós nos encontraremos, pobre Aylan Kurdi. Tenho certeza de que, onde estiver, está em paz, irradiando e contaminando os bons e justos com a alegria própria de uma pequena e inocente criança.