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Você é pós-moderno?

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Agenda 04/11/2013 às 16:17

Saber definir a pós-modernidade nos encaminha a uma grande dificuldade e também a muita angústia. O texto já questiona o leitor e tenta descrever de forma didática o pós-moderno em seus vários meandros (filosófico, psicológico e sociológico) e aponta seus sintomas mais óbvios.

Palavras-chave:Pós-modernidade. Modernidade. Filosofia. Contemporâneo. Psicologia. Sociologia.

Abstract:Knowing how define postmodernity leads to a very difficult and also much distress. The text asks the reader and tries to describe a didactic the postmodern in its various intricacies (philosophical, psycological and sociological) and point out you most obvious symptoms.

Keywords:Postmodernity. Modernity. Philosophy. Contemporary. Psychology. Sociology


O pós-modernismo quer significar o que vem depois do modernismo. O termo primeiramente apareceu com Federico de Onís ( em sua Antologia de la poesia Española e hispanoamericana, 1934) e, em Arnold J. Toynbee[1] (A Study of History, 1934) para indicar, no primeiro caso, corrente política que reage aos excessos do modernismo literário, e no segundo  caso, à nova fase histórica da civilização ocidental, iniciada a partir de 1875 com o imperialismo do final de século.

Para designar tal fase Toynbee usava também o termo histoire. Sobretudo a partir de 1960, o termo passou a ser usado na América e na Europa, tanto para indicar uma série de práticas culturais presentes em âmbitos disciplinares específicos, tais como, arquitetura, artes figurativas, literatura, teatro, etc. quanto para aludir às mudanças na ordem da sociedade pós-industrial. Como jargão filosófico é devido à obra de Lyotard, La condition post-moderne, 1979.

A partir de então, o pós-modernismo tornou-se expressão e espécie de categoria universal apta a exprimir o Zeitgeist contemporâneo e o esquecimento gradual de certa tradição filosófica que vai, grosso modo, de Descartes a Nietzsche.

Em particular, foram rotulados como “pós-modernos” os filósofos para os quais a modernidade, pelo menos em alguns aspectos essenciais, estaria esgotada ou acabada.

Apesar da atmosfera pós-moderna pertença a pensadores díspares, os que mais contribuíram para a sua elaboração filosófica são Lyotard e Vattimo[2]. Outras figuras também se aproximaram da sensibilidade pós-moderna são Rorty e Derrida[3].

Esquematicamente, segundo os pós-modernos, a modernidade seria qualificada: a) pela tendência a crer em visões globais de mundo, capaz de fornecer “legitimações” filosóficas ao conhecimento e à ação; b) pela propensão a cogitar em termos de “novidade” e “superação”; c) pela aptidão a conceber a história como percurso progressivo de que os intelectuais conhecem os fins (liberdade, igualdade, bem-estar e, etc; c) e os meios capazes de realizá-los (difusão de luzes, revolução proletária, conquista da tecnologia e da ciência); d) pela tendência a subordinar a multidão heterogênea dos acontecimentos e dos saberes a totalidades de sentido previamente constituídas.

Contra essas ideias mestras da modernidade, reagem os pós-modernos com um conjunto de ideias alternativas quais sejam:

1) desconfiança dos macrossaberes conglobadores e legitimadores;

2) proposta de formas “fracas” (Vattimo) e instáveis (Lyotard) de racionalidade, baseadas na convicção de que não existem fundamentos últimos e imutáveis;

3) rejeição à ênfase no “novo” e na categoria vanguardista de “superação”;

4) renúncia a conceber a história nos moldes de um processo universal capaz de funcionar como plataforma e garantia da humanidade em rumo da emancipação e ao progresso;

5) passagem do paradigma da unidade ao da multiplicidade, ou seja, tese da heteromorfia dos jogos linguísticos (Lyotard) e do fato de “o mundo não é um, mas muitos”(Vattimo);

6) adesão à ética do pluralismo e da tolerância coadunada com bases estruturais de uma sociedade “complexa”.

Ao revés ao que ocorriam com as chamadas filosofias da crise[4], da primeira metade do século XX, tais teses não podem ser reduzidas por mera inversão dialética do modernismo, e nisso reside uma das maiores novidades do pós-modernismo o comum sentido de saudade das certezas (e das totalidades) perdidas. Mas, são saudadas como conquistas positivas como aceno de maturidade intelectual e existencial do homem contemporâneo.

Alguns autores utilizam o termo para se referir ao posicionamento como ambientalismo, e neotomismo[5] que também apresentam antagonismo a certas tendências da modernidade.

Adotado o termo nesse sentido, como ocorre nos estudiosos segundo os quais o verdadeiro pós-modernismo não seria o de Lyotard ou Vattimo, mas aquele que se exprime na metafísica clássica, o termo perde a conotação histórico-teórica específica e acaba prognosticando (mais) equívocos linguísticos e conceituais. Isto explica porque tal acepção tende a ser ignorada ou abertamente rejeitada pelos historiadores da filosofia que se referindo a atualidade preferem cogitar de pensamento “ultramoderno” ou “antimoderno” termos que, mesmo exprimindo a ideia de contraposição à modernidade, não são historiograficamente equívocos.

A questão da modernidade caracteriza uma controvérsia contemporânea, envolvendo questões filosóficas de interpretação da sociedade, da arte e da cultura. É representada, por um lado pelo filósofo francês Lyotard e, por outro lado, pelo pensador alemão Habermas.

Lyotard introduziu a ideia da “condição pós-moderna” como uma necessidade de superação da modernidade, sobretudo na crença na ciência e na razão emancipadora, considerando que estas são, ao contrário, responsáveis pela continuação da subjugação do indivíduo.

De acordo com Lyotard, seguindo uma inspiração do movimento romântico, a emancipação deve ser alcançada através da valorização do sentimento e da arte, daquilo que homem possui de mais criativo e, portanto, de mais livre.

Habermas, por sua vez, defende o que chama de “projeto da modernidade[6]”, considerando que esse não está acabado, mas precisa ser levado adiante, e só através dele, pela valorização da razão crítica, será possível obter a emancipação do homem da ideologia e da dominação político-econômica.

Sem dúvida, uma das nobres missões da educação é refletir sobre a sociedade em sua evolução. E, há um efervescente debate sobre a vigência ou não da modernidade. Afinal somos modernos ou pós-modernos?

A modernidade introduziu uma dinâmica nova na sociedade, perceptível pelos indivíduos que vivem nela, particularmente aqueles que estão nos lugares simbólicos (como a cidade, a fábrica, a escola etc).

Estamos vivenciando uma profunda transformação da sociedade ao ponto de superarmos a modernidade, o que acarreta mudanças por todas as esferas sociais e, não apenas nas instituições sociais, mas também o sentir, na forma de fazer política.

Muitos autores afirmam a existência do mundo pós-moderno particularmente abalado pela crise econômica iniciada em setembro de 2008[7]. No sentido vulgar e original o adjetivo “moderno” significa algo contemporâneo, atual, ou seja, de hoje.

Em sociologia o referido adjetivo é usado em referência à teoria social moderna em franco contraste com a teoria clássica. Os primeiros autores que escreveram sobre a modernidade e a condição social moderna que se opuseram às sociedades comerciais e nacionais emergentes da Europa do século XVII, referiam-se ainda às estruturas decadentes do feudalismo e a todas as outras formas de sociedade tradicional.

Enfim, a palavra “moderno” foi usada para descrever as condições sociais específicas da Europa pós-medieval. A modernidade, a partir de então, fora associada às instituições sociais, específicas dessa sociedade. Tais instituições eram caracterizadas pela ênfase intensa e progressiva em considerações puramente racionais e num franco declínio da tradição e do tradicionalismo.

A condição social moderna encerra um modo de vida racionalmente organizado, em que as ações sociais assumem técnicas ou estratégias que se utilizam dos meios mais adequados e precisos para perseguir certos objetivos (igualdade, liberdade e fraternidade).

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As principais formas de ação racional foram encontradas no Estado-nação e no industrialismo capitalista, em suas práticas políticas e econômicas, e passaram a dominar e moldar todas as outras áreas da vida humana.

Recentemente, os sociólogos e demais estudiosos das ciências sociais passaram a questionar o caráter incontestável da modernidade. Então sustentam que se a escala dessa mudança for grande, então descrevê-las como modernas pode fazer mais sentido.

A partir da segunda metade do século XX podem, na verdade,  ter assistido a tal mutação e que o mundo ocidental ingressou numa nova condição “pós-moderna”. Esses teóricos afirmam que essas mudanças culturais fundamentais extinguiram a racionalidade do Iluminismo e interromperam a racionalização, dando início às grandes transformações. O abuso da razão dialética faz surgir infindáveis angústias humanas que não encontraram ainda acolhimento e nem escuta e a descoberta da cadeia de significantes e não de meros significados[8].

Clamam os pós-modernistas que não era mais possível estabelecer alicerces para a certeza científica. Não haveria uma “totalidade”, “grande narrativa” ou “quadro maior” que explicasse o mundo, que tinha de ser aceito como caótico e efêmero.

Tais argumentos influenciaram as teorias de autores como Jacques Derrida[9], Michel Foucault e Jean Baudrillard[10] que estudaram a relatividade dos valores e das ideias.

O crescimento da pós-modernidade foi identificado em diversos aspectos tais como o enfraquecimento do Estado-nação, a desorganização e fragmentação das economias nacionais, a crescente relevância dos fluxos de informação e conhecimento, o aumento de risco, da incerteza e da ansiedade, a grande expansão do consumismo e da cultura popular na vida cotidiana e a extensão e interconexão globais das atividades humanas.

Esses argumentos corroboram com as mudanças sociais cruciais nas estruturas sociais contemporâneas, embora que muitas dessas transformações possam ser vistas como aprofundadas formas de modernismo.

É verdade que as referidas instituições continuamente sendo transformadas desde que apareceram pela primeira vez, o que nos leva a crer que o fim da modernidade seja contestável.

Sendo coerente afirmar que o conceito de pós-modernidade tem sido nos últimos anos um dos mais debatidos e diz respeito às artes, à literatura, ou à teoria social, ao Direito e as ciências sociais em geral.

O “pós” é inescapável com o fim do século XX onde o mal estar da civilização ocidental condensou-se e se tornou líquida a modernidade. E de fato são percebidas algumas características da pós-modernidade como: a propensão a se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas; colonização do seu universo pelos mercados (econômico, político, cultural e social); celebração do consumo como expressão pessoal; pluralidade cultural; polarização social devido aos distanciamentos acrescidos pelos rendimentos; falências das metanarrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade[11].

A lógica da pós-modernidade valoriza vários aspectos como: o relativismo e a (in) diferença, a um conjunto de processos intelectuais flutuantes e indeterminados, a configuração de traços sociais que significaria a erupção de um movimento de descontinuidade da condição moderna, mudanças dos sistemas produtivos, a crise do trabalho, a eclipse da historicidade[12], a crise do individualismo e a onipresença da cultura narcisista de massa.

Na pós-modernidade vige o predomínio do instantâneo, a perda de fronteiras, gerando a ideia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia de comunicação. Estamos diante de um mundo virtual onde a imagem, som e texto em uma velocidade quase instantânea.

Vigem diferentes graus de complexidade onde se ressaltam: o efêmero, o fragmentário, o descontínuo e onde predomina o caótico. Mudaram-se os paradigmas, os valores: é o novo, o fugidio, o efêmero, o fugaz, o individualismo, é globalizado e intensamente comunicativo e conectado.

A dinâmica acelerada transforma o consumo numa velocidade nunca antes vivenciada. Tudo é descartável as relações afetivas e familiares. Não se namora mais, apenas se “fica”, o amor ou afeto vira o descaso do acaso.

A publicidade é impactante e manipuladora dos desejos humanos, promove a sedução, cria novas imagens e signos, e proliferam os eventos como espetáculos, valorizando o que a mídia que significa um estilo de vida.Há a fácil comunicação e as telecomunicações possibilitam a conexão de imagens o que facilita a mercantilização de coisas e gostos (fetiche da mercadoria). É a ratificação da máxima que está tudo conectado.

A informatização invade arquivos, contas, controles, processos, bibliotecas, escolas e as residências. O caixa-eletrônico, o cartão eletrônico e a telemática são disseminados. Mudaram as lutas que agora não é contra o patrão (o dono dos meios de produção), mas contra a falta deles, a luta é contra a corrupção e contra o sistema que alimenta a miséria e produz milhares de excluídos.

São testemunhas da pós-modernidade o DVD (Digital Versatile Disc em português Disco Digital Versátil), o CD (Compact Disc ou em português Disco Compacto), o MP3, MP4 player (leitor de MP3 é aparelho eletrônico capaz de armazenar e reproduzir arquivos de áudio), a clonagem, as células-tronco, fertilização in vitro, os implantes de órgãos, tecidos, próteses, órgãos artificiais, tetas de silicone, lipoaspiração, lipoescultura corporal engendram uma geração de criaturas em estados artificiais que colocam em xeque a originalidade e naturalidade do ser humano. Outro aspecto em destaque é a portabilidade dos meios de comunicação.

As variadas invenções tecnológicas decodificadas como o notebook, o tablet, o smartphone, o relógio digital, a televisão digital, as secretárias eletrônicas, os satélites e a internet, o código de barras[13], a leitura biométrica identificam os sujeitos reduzindo as falhas e produzem cartões magnéticos multicoloridos que tanto alimenta o estilo digital.

Os modelos geram réplicas. As pichações viram grafites que por sua vez se transformam em arte urbana. A modernidade exaltou o humano, a pós-modernidade exalta ser star (estrela) ou ser na versão celebridade. Os shoppings, os condomínios e novos prédios são cápsulas autônomas de convivências, criam nichos especiais de interação e convivência social. O que vale é o extraforte, o superdoce, o minúsculo, o gigantesco e “megaimportante”.

Porém, novos fantasmas nos assombram, novas doenças[14] aparecem tal como AIDS e outras síndromes genéticas, proliferam as doenças psiquiátricas e neurológicas, na natureza vivenciamos as devastações, catástrofes e cataclismos, tsunamis.

Já na economia presenciamos a queda das bolsas de valores, as falências de impérios empresariais, na paixão há a morte; no ápice do prazer há a decepção e no computador o vírus pode detonar todo o arsenal de informações e romper a conectividade.

A indústria do meio ambiente cunhou os conceitos de sustentabilidade, de desenvolvimento econômico sustentável e responsabilidade social das empresas e, ainda, as ONGs reúnem recursos destinados à proteção das florestas, dos rios e dos animais e de reservas indígenas em franca responsabilidade compartilhada com o Poder Público.

As senhas para entendimento da pós-modernidade são: a saturação, a sedução, o simulacro, o soft, o light, o diet, a globalização e automação e finalmente chip[15] que poderá ser rastreado pelo satélite ou o GPS[16] em qualquer parte do planeta.

Os artistas, cantores e cantoras e, ainda celebridades cantam juntos num grande show para salvar as crianças famintas da África sob o título de “We are the world” esbanjando a solidariedade norte-americana nos diferentes cantos do mundo.

Conforme já assinalou Octávio Ianni[17]: “Ao lado da montagem, colagem, bricolagem, simulação e virtualidade, múltiplas combinações surgem enquanto que a mídia endeusa o espetáculo, o videoclipe, a videoconferência e o hang-out” [18].

Tanto assim que as guerras contemporâneas, como por exemplo, a do Iraque promovem genocídios que mais parecem festivais pops, ou jogos interativos de RPG[19] (role-playing game). É uma guerra eivada de recursos tecnológicos que propõe o extermínio asséptico do inimigo. E, ainda há o terrorismo que nos propõe uma guerra invisível porém não menos destrutiva.

Os mais cruéis e dramáticos fatos da vida privada e das coletividades aparecem em geral, como se fosse um videoclipe eletrônico, informático, desterritorializado e descontextualizado como um documentário destinado a ser entretenimento global.

Vivenciamos o insólito e tudo passa como tamanha rapidez que o futuro parece ter se tornado um lugar vazio. O peculiar procedimento pós-moderno é uma paixão de “tecer das alteridades” num frenético consumo que nos arremessa numa nova ordem mundial.

O uso do termo “pós-modernismo” apesar de corrente gera muitas controvérsias quanto ao seu significado e pertinência mas seu principal conceito se traduz em um ideal que não pode ser massivo a uma sociedade, gerando uma espécie de conhecimento pré-fabricado e utilizado apenas para manipular as massas de forma mecanizada e desumana.

Alguns pensadores acreditam existir o pós-modernismo por conta do alegado esgotamento do movimento modernista que dominou a cultura, a estética e a filosofia até o final do século XX e, veio a substituir, assim, a era moderna.

No entanto, outros pensamentos afirmam que a pós-modernidade seria apenas a extensão da modernidade englobando-a para incluir o desenvolvimento do mundo atual, onde se deu perda aura dourada do objeto artístico pela sua reprodução em múltiplas formas como: fotografias, vídeos e, etc.

No Brasil o crítico Mário Pedrosa foi um dos primeiros, a utilizar este termo em 1964 ao comentar a arte de Hélio Oiticica[20] (conceituando-a de arte pós-moderna).

O pós-moderno é mais que a reação ao moderno, a era progressista implantada pela Revolução Industrial, ou pelo Iluminismo. Em Filosofia e teoria crítica a pós-modernidade refere-se ao estado ou condição da sociedade existir depois da modernidade, uma condição histórica que marca os motivos do fim da modernidade[21].

Essa utilização é atribuída aos filósofos como Jean-François Lyotard[22] e Jean Baudrillard. Segundo Habermas foi a modernidade que concebeu a incorporação o princípio de racionalidade e hierarquia para dentro do público e da vida artística.

Já Lyotard entendeu a modernidade como condição cultural caracterizada pela mudança constante na perseguição do processo. É o moto contínuo. Essa mudança constante se tornou o status quo e a noção de progresso obsoleto.

E, seguindo a crítica Ludwig Wittgenstein [23]da possibilidade do absoluto e o conhecimento total, ainda argumentou que fracassaram várias metanarrativas de progresso tais como a ciência positivista.

Frederic Jameson e David Harvey identificaram a pós-modernidade como um capitalismo tardio ou “acumulação flexível” onde o trabalho se torna altamente móvel e capital. Há outros que veem a modernidade como uma falha evolutiva da humanidade culminada com desastres como Auschwitz e Hiroshima.

Jürgen Habermas e outros filósofos afirmam que a pós-modernidade representa a ressurgência de longa duração de ideias contra-iluministas[24], que o projeto moderno não está terminado e que a universalidade não pode ser tão facilmente dispensada.

A condição pós-moderna caracteriza-se pelo fim das metanarrativas que tanto endossaram os esquemas explicativos mas que caíram em descrédito posto que nem mesmo a ciência pudesse ser considerada como a pura forte da verdade.

Existem autores que preferem evitar o termo como o sociólogo polonês Zygmunt Bauman[25], preferiu a expressão “modernidade líquida” traduzida como realidade ambígua, multiforme inspirado na clássica expressão do manifesto comunista (de Marx) “tudo o que é sólido se desmancha no ar”.

Já o filósofo francês Gilles Lipovetsky[26] prefere o termo “hipermodernidade” por considerar não ter havido de fato ruptura com os termos modernos. Ratifica Lipovetsky, os tempos atuais são “modernos”, com a exacerbação de certas características das sociedades modernas, tais como o individualismo, o consumismo, a ética hedonista e a fragmentação do tempo e do espaço.

Por sua vez, Habermas relaciona o conceito de pós-modernidade às tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas a combater os ideais iluministas.

A segunda metade do século XX vivenciou um processo inédito de mudanças na história do pensamento e da técnica. Com aceleração demasiada das tecnologias de comunicação, das artes, dos materiais e da genética que promoveu alterações paradigmáticas no modo de se pensar a sociedade e suas instituições.

A modernidade inspirada nos séculos XV e XVIII é firmemente criticada[27] em seus fundamentos, como a crença na verdade somente alcançável pela razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso.

Em substituição de tais dogmas são propostos novos valores, menos ortodoxos e menos fechados e categorizantes. Esses valores serviriam de base para o período que se tenta anunciar no pensamento, na ciência e na tecnologia, de superação da modernidade.

Historicamente a pós-modernidade passou por duas fases relativamente distintas: a primeira que começou em 1950 e terminou com a Guerra Fria; já a segunda fase começou no fim da Guerra Fria, e foi marcada pela popularização da televisão a cabo e a “nova mídia” baseada em significados digitais de disseminação de informação e transmissão.

A segunda fase da pós-modernidade pode ser definida pela digitalidade, onde se verificou o aumento do poder pessoal e digital através dos meios de comunicação (máquinas de fax, modems, cabo, celulares, internet rápida, bluetooth, wireless) que tanto alteraram a produção digital do documento e que permitiu que as pessoas manipulassem virtualmente todo aspecto do ambiente da mídia.

Propiciando a criação de nova economia[28] capaz de movimentar a estrutura social com a violenta queda de custo gerada pela criação de informação. O ser digital é peculiar da era pós-moderna. O uso de engenharias para indexar o conhecimento e telecomunicações foram formando uma “convergência” bem caracterizada pelo surgimento da “cultura participatória”.

Outro marco memorável foi o colapso da União Soviética e a liberação da China em 1991 e, por fim, a queda do muro de Berlim. A questão filosófica-política tem sido respondida com guerras e as discussões sobre valores fundamentais não mais poderiam se erguer desde que todas as contradições antigas fossem resolvidas e todas as necessidades humanas fossem finalmente atendidas.

Esse tipo de finitismo foi bem explorado nas artes e na literatura. Onde se identifica-se igualmente a crise de identidade cultural em face da fragmentação do indivíduo moderno e a ênfase de novas identidades, sujeitas ao plano da história, da política, da representação, da diferença e do pluralismo.

Também se alterou o modo de percepção sobre a identidade cultural. Todo esse processo descreveu o deslocamento das estruturas tradicionais ocorrido nas sociedades modernas e pós-modernas bem como a descentralização das referências que legavam a pessoa ao seu mundo social e cultural (fragilidade das relações).

A globalização alterou as noções de tempo e espaço, desalojou o sistema social fixo e possibilitou a pluralização dos centros do exercício do poder. Desde 1980 desenvolve-se um processo de construção de cultura global. Não apenas a cultura de massa já identificada e consolidada em meados do século XX.

A sociedade pós-industrial sofre de profunda multiplicidade de valores, a fragmentação, a desreferencialização e a entropia[29] (que, com a aceitação de todos os estilos e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas como mercados consumidores).

Nesse modelo pós-moderno e pós-industrial privilegia-se os serviços e a informação sobre a produção material, a comunicação e a indústria cultural ganham papéis fundamentais na difusão de valores e ideias do novo sistema.

A tão comentada crise de representação que assombrou as artes e a linguagem, nesse contexto, é fenômeno diretamente ligado à destruição dos referenciais que vinham norteando o pensamento até bem recentemente.

O registro do real (figurativismo) fora o principal eixo de pintura até 1870 bem como resto de toda arte, até o pós-guerra. A partir daí, valoriza-se a entropia tudo vale e todos os discursos são válidos. Conclui-se que não há mais padrões limitados para representar a realidade resultando numa crise ética e estética.

Reafirma-se o pós-moderno pelo ser caráter policultural, sua multiplicidade, sua hiperinformação e serve bem a rede inclusiva de consumidores. Os meios audiovisuais utilizando-se da sua capacidade de atingir maiores sentidos humanos (visão e audição) que são responsáveis por mais de ¾ das informações que chegam ao cérebro e possui rico potencial e mais direto para transmitir sua mensagem e decodificação da realidade.

O pós-modernismo é movimento contemporâneo e a claridade de sua definição não se encontra entre seus principais atributos. A noção de que tudo é um texto e que o material básico de textos está na sociedade e quase tudo é significado e, estão justamente para ser decodificado ou desconstruído a noção de que a realidade objetiva é suspeita, enfim tudo compõe a obscura névoa que se traduz o pós-modernismo[30].

Concluímos que a verdade é ilusiva e ilusória, polimorfa, íntima e subjetiva. E pela abundância de significado, se requer hermenêutica. A confrontação existente no pós-modernismo, no fundo, é uma reprise da batalha entre o classicismo e o romantismo, o primeiro associado com a dominação pela Europa por uma corte francesa e suas maneiras e padrões, o último com a reação pelas outras nações afirmando valores das suas próprias culturas populares.

Enxergam-se duas ou três grandes etapas na evolução do tipo do pensamento que culminaria no pós-modernismo como evolução do marxismo (o teórico, o marxismo na prática vivido na URSS e a Escola de Frankfurt[31]).

Vige certa polêmica quando alguns estudiosos situam o pós-modernismo que teria a origem no marxismo. Principalmente porque o marxismo afirmava-se científico enquanto os intelectuais pós-modernos colocam em questão precisamente a possibilidade de se chegar a uma visão única.

A Escola de Frankfurt[32] surgiu com o fim do stalinismo, com as reformas de Khruschov e a crescente dúvida no empreendimento comunista, o panorama tinha evoluído num sentido ainda mais radical (e absurdo, para alguns). A referida escola tinha em comum com os marxistas, o dado que explicava a visão de seus opositores.

Denunciou o pós-modernismo a verdadeira ilusão era a crença na possibilidade de verdade única e objetiva. O pensamento vive sob os significados, e específicos da vida. Ergo, vida é subjetividade.

A nova era histórica pode ser entendida como uma nova revolução, mas não nos moldes da revolução francesa e russa. Pode-se afirmar que o alvo das revoluções é, primeiramente, o próprio homem[33] e não a sociedade, que só será transformada depois que homem já estiver sido reformado.

O pós-modernismo em sua concepção psicológica atenta para o fato de serem as verdades ilusórias e aprisionariam o homem que deve ser totalmente livre.

Em se entendendo o homem como ser dotado de três potências básicas: a inteligência, a vontade e a sensibilidade, consecutivamente em sua ordem natural (e por natureza o homem é racional), ou seja, a inteligência governa a vontade que comanda a sensibilidade; a mudança no homem chega ser mais profunda.

A pós-modernidade não só afirma que a sociedade aprisiona o homem, mas também que ele deve dar mais importância à sua sensibilidade do que à sua inteligência.

Percebe-se que o homem pós-moderno[34] vive à procura das sensações, da emoção sem limites. Seria como a inteligência servisse para justificar a vontade. E, esta, por sua vez, pela religião ou pelo trabalho intelectual (a sublimação seria um processo psíquico pelo qual a energia instintiva sexual é desviada para outros objetos, tais como a cultura e a religião).

Enfim, a busca do homem pós-moderno[35] é sentir algo que traga o máximo de emoções e o mínimo de dor. No campo psicológico a pós-modernidade bem espelha a teoria de Freud que resumidamente afirmava que o "Superego" aprisionaria o "id", local inconsciente onde se encontra a verdadeira personalidade do homem, com seus instintos e vontades livres e que é coibido pelos valores e normas do "superego".

Portanto, a pergunta é pertinente: você é pós-moderno? A própria ausência de resposta é confessadamente pós-moderna.

Sobre a autora
Gisele Leite

Gisele Leite, professora universitária há quatro décadas. Mestre e Doutora em Direito. Mestre em Filosofia. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurídicas. Possui 29 obras jurídicas publicadas. Articulista e colunista dos sites e das revistas jurídicas como Jurid, Portal Investidura, Lex Magister, Revista Síntese, Revista Jures, JusBrasil e Jus.com.br, Editora Plenum e Ucho.Info.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)

LEITE, Gisele. Você é pós-moderno?. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3778, 4 nov. 2013. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/25647. Acesso em: 23 dez. 2024.

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