O ser humano não conhece a força de suas palavras. Dias atrás, proferiu o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, quando indagado acerca de eventual mudança no horário de atendimento no Tribunal de Justiça de São Paulo (que visa a dar início às atividades voltadas ao público às 11h), o seguinte contra-questionamento: “Mas a maioria dos advogados não acorda lá pelas 11h da manhã mesmo?”
Repare, anônimo leitor, a força que uma declaração polêmica possui. Mesmo com um ar de piada, Barbosa, ao lançar tal afronta, caiu no conceito dos profissionais da advocacia e de todo aquele que tomou conhecimento da referida - e infame - brincadeira. Aquele ministro-fenômeno, que ganhou a confiança do Brasil e do mundo ao ser o mocinho no julgamento do mensalão - que pela primeira vez na história do STF, criado em 1824, condenou políticos -, que inclusive fora indicado pela mídia como forte candidato à presidência da república, e que, recentemente, nas atribuições de presidente do Conselho Nacional de Justiça, transformou em realidade o casamento civil de pessoas do mesmo sexo, causou desconforto na mídia e quase manchou sua digna e respeitada imagem.
Quase? Sim, quase. Não se transpassa tal barreira pois cada ser pensante, até mesmo o emérito presidente do STF, comete seus erros. Seria injustiça crucificar eternamente o homem implacável e fundamental na denúncia contra o mensalão, eleito como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista americanaTime, caracterizado pela mesma como “O menino pobre que mudou o Brasil”.
A lição que fica? É a de que, se até mesmo Joaquim Benedito Barbosa Gomes, por tudo que é, e por tudo o que fez, caiu em momentâneo descrédito em razão de uma infeliz brincadeira, cuidemos nós, então, para que igualmente não sejamos alvo de nossas próprias palavras, muitas vezes ditas sem a importante soleira do pensar.
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Você, anônimo leitor, conhece a força de suas declarações?
Guilherme R. Mueller
Advogado inscrito na OAB/RS sob nº 100.164. Funcionário do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande por três anos, em gabinete. Autor de diversos artigos jurídicos. Cursos em Direitos Autorais e Sociedades, Solução de Controvérsias Privadas e Patentes e Bases Legais, ambos pela Fundação Getúlio Vargas - FGV.
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