Euforias sem nexo, paixões sempre doidas, as depressões: abissais. Baladas, só insanas. Sexo? Muito! Esportes? Os radicais. Comportamentos temperamentais de jovens, que continuamente precisam da adrenalina de intensas emoções. Tsunami hormonal prepara, na adolescência, o corpo retesado e a psique transtornada em aptidão de aventura. O córtex pré-frontal ainda débil não disponibiliza a censura de indispensáveis freios que só o tempo dará. “Ando devagar porque já tive pressa” é frase de poeta maduro.
Por isso, a pressa dos jovens os põe em revoluções, realizações, desbravamentos de selva, interplanetárias viagens, ondas gigantes, mergulhos profundos, saltos espetaculares, explosão de artísticos achados. Apaixonam-se de rasgar pulsos, chorar sangue, perder rumo. Submergem depressa; rápido emergem, na seguinte paixão. Fim de semana chuvoso, que seduz ao mais velho com livro e quietude, ao jovem enerva, eternidade de tédio. Semana de rave e exageros parece só um átimo, injusto em cruel brevidade. Carne, sangue e ossos adolescentes vibram superpoderes. Seres mutantes, homens-aranha, homens de aço (e esteroides) prestes a agarrar asteroides e liquidar ciclópicos inimigos. Assim sempre foi. Sempre será.
Tamanha energia é moinho que precisa de controle, sob pena de desperdício fatal. Impulsividade de Ícaros. Porque ontem engatinhavam e hoje têm asas, não intentam meros sobrevoos, mas ápices, sempre. Acham-se águias, ansiosas de pouso impossível no centro do Sol. Dão asas derretidas e futuros tombados no abismo. Por isso, juventude exige freios externos e cautelas impostas. Não se deve dar armas a meninos. Nem carros.
Semana passada, a bela estudante de 19 anos arrebentou-se no concreto da passarela. A 170 por hora, diz a foto que a aventureira tirou com o celular, seu hábito insano. Já clicara para o Instagram, velocímetro em 180 km! Jovens publicam na rede o prato que comem, o velocímetro com que se matam, a intimidade que vira praça pública. Enjaulados voluntários de um auto-Big-Brother de ávida exposição. Só existem na perigosa multidão virtual. Desconhecem que “é preciso aprender a ser só” para poderem “só ser”.
Morreu depois, no carro explodido, Paul Walker, ícone dessa geração, da hollywoodiana franquia que me deu título aí encima e que põe motoristas em aventuras motorizadas e desventuras tunadas. À margem da lei, em manobras enlouquecidas de velocidade absurda. Não há coincidência, nem trágica ironia. É epidemia. Insanidade. O Brasil perdeu, desde 1980, quase um milhão de vidas para os acidentes de trânsito. Dá 32 mil mortes por ano. Número superado pelas mais recentes medições do Ministério da Saúde, de cinco óbitos por hora no trânsito brasileiro, 120 por dia, mais de 42 mil por ano e meio milhão de feridos. Tragédia maior que o câncer e o terrorismo. Há monumentos, jardins e homenagens aos desgraçados pelo trânsito, como há memoriais em intenção dos mortos de guerras.
Jovens. Algozes e vítimas maiores no trânsito, com 55% das ocorrências. O vício em adrenalina, potencializado pelos hormônios vulcânicos, é agravado pelo consumo de drogas e álcool. Pesquisa de 1998, com candidatos entre 18 e 25 anos à CNH do DETRAN, revelou que 51% admitiam dirigir embriagados, e 55% já tinham pegado carona de bêbado. Tudo somado, faz razão àqueles que acham excesso de liberalidade a direção aos 18 anos de idade, em tempos de adolescência canguru, se esticando até aos 30.
Lamento, por fim, pais de classe média que dão carros imerecidos e desnecessários, que serão o suicídio dos filhos. Lamento os motoqueiros selvagens, criadores de faixas inexistentes impostas em camicaze imprudência. Lamento o vexame de o país sustentar desenvolvimento fajuto no fomento ao automóvel, em prejuízo do coletivo que é tortura, e da ferrovia que é ferro velho. Lamento ainda que, de novo, se queira jogar milagres na conta da escola. Desta vez, dar civilidade ao trânsito desde a pré-escola. Ilusão de quem rejeita que o que devemos de verdade ensinar com coragem, em casa e na escola, é que filhos devem obedecer a pai e mãe; respeitar e obedecer a professores; e serem menos velozes e jamais furiosos, para que, indo menos rápido, cheguem mais longe.