No final de abril deste ano, quando da comemoração dos 65 anos de Independência do Estado de Israel , esteve presente no Recife o Embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad. Além de participar dos eventos comemorativos destas datas, o embaixador foi recebido pelo prefeito do Recife Geraldo Júlio para uma visita protocolar a fim de fortalecer as relações entre o Estado de Pernambuco e Israel.
Os motivos do interesse no incremento das relações comerciais de Pernambuco com este pequeno país vem na esteira do Acordo de Livre Comércio assinado entre Israel e o Mercosul em 2010, que visa a eliminar as barreiras tarifárias aduaneiras ao comércio de bens e facilitar a circulação de mercadorias entre os territórios dos países signatários, buscando aumentar a oportunidade de investimento e aprofundar a cooperação bilateral e multilateral entre os países.
Formado por pouco mais de 7 milhões de pessoas que vivem em um território menor que a área do Estado de Sergipe, do qual mais de 50% deste é considerado desértica, Israel é o único país do Oriente Médio que pode ser considerado desenvolvido, gozando de alto Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com uma renda per capita anual de mais de US$ 30,000.
O sucesso da economia israelense é baseado na produção e exportação de tecnologia “limpa e sustentável”, em especial nos setores de segurança, biotecnologia e agricultura. Não é à toa que Israel é o terceiro país com mais empresas listadas na Nasdaq, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Qual seria a chave do sucesso da economia israelense? No best-seller “Start Up Nation”, Dan Senor e Saul Singer, que esteve no Brasil recentemente, tentam explicar a fórmula do êxito israelense, indicando diferente fatores, tais como o grande número de imigrantes altamente qualificados e a cultura de assumir riscos que é moldada pelo serviço militar obrigatório. De acordo com os autores, através do serviço militar obrigatório tanto para homens (duração de 3 anos) quanto para as mulheres (duração de 2 anos), o jovem israelense teria contato e aprenderia a utilizar tecnologias de ponta úteis também na vida civil, estimulando habilidades e conhecimentos propícios à inovação e alimentando o seu espírito empreendedor.
Não obstante, a formação do espírito empreendedor não pode ser considerada o principal alicerce para construcão da “Nação Start-Up”, mas apenas seu mecanismo de ignição. Destarte, sem medidas de fomento à inovação e ao desenvolvimento de tecnologia, mediante legislação e medidas governamentais, sobretudo através da criação de incubadoras privadas financiadas pelo Estado e investimentos inteligentes em educação em todos os níveis, a “Nação Start-Up” estaria fadada a ser uma nação “Start Down”.
Assim, através do Escritório do Cienista Chefe – “OCS” (Office Chief Scientis), órgão ligado ao Ministério do Comércio e Indústria de Israel (equivalente ao nosso BNDES), o Estado de Israel desde 1991 estabeleceu seu programa Nacional de Incubação Tecnológica, mediante o qual o OCS seleciona incubadoras nacionais privadas via licitacão, por um prazo determinado, para dar suporte aos empreendedores em seus primeiros passos, seja tanto na concepção da idéia e conceitualização do “business plan” como no apoio logístico e jurídico destas incubadoras por um período de até 2 anos. Existem atualmente 26 incubadoras desse tipo em Israel, grande parte delas situadas estrategicamente nas àreas menos desenlvidas do país justamente com o intuito de promover o desenvolvimento dessas regiões.
O Brasil vem avançando bastante na implementação de políticas de fomento e financiamento da inovação e tecnologia. O principal carro-chefe desta revolução na gestão/investimento do dinheiro público é o Fundo Criatec em 2007, criado pelo BNDES, mediante o qual foram selecionados 36 empreendimentos inovadores em "estágio semente" em 7 cidades do Brasil, incluindo Recife, que receberam o aporte de capital inicial de até R$ 1,5 milhão através da BNDES Participações S.A. (BNDESPAR, empresa de participações subsidiária do BNDES) e o Banco do Nordeste do Brasil S.A.
Em agosto do ano passado, foi lançado o edital para o Criatec II, indicando que este tipo de política de incentivo à inovação veio para ficar. Apesar do Recife não estar entre as cidades selecionadas para o aporte de capital do Criatec II, nada impede que empreendedores pernambucanos sejam participantes de empreendimentos estabelecidos nas localidades selecionadas.
A inciativa do BNDES não é novidade para Pernambuco. Não é de hoje que o Estado de Pernambuco vem investindo em tecnologia e inovação. O Porto Digital, projeto que reúne mais de 200 empresas de tecnologia da informação (TI) transformou o Recife em um dos maiores polos de inovação e tecnologia do Brasil, gerando milhares empregos e receitas de mais de R$1 bilhão por ano. A criação da incubadora do Porto Digital em 2010 e do do recente lançamento do PortoMídia visando apoiar a estruturação de empreendimentos nascentes nas áreas de de entretenimento, além da consolidação dos programas de incubação da UFPE e do ITEP - Instituto de Tecnologia de Pernambuco, demonstram que Pernambuco está no caminho certo para virar um Estado “Start-Up”.
A cooperação intensa entre Israel e Brasil vem se intensificando desde a assinatura do Tratado de Livre Comércio entre os dois países. O BNDES e o OCS vêm trabalhando em conjunto desde 2010, quando do lançamento do Primeiro Edital de Chamada para Apresentação de Propostas de Cooperação Tecnológica, que prevê o financiamento conjunto para projetos involvendo empresas brasileiras e israelenses, que em parceria, desenvolvam novos produtos, processos ou serviços de aplicação industrial direcionados à comercialização no mercado doméstico e/ou global, nos setores de Tecnologia da Informação e Comunicação, Saúde, Defesa e Energia Renovável.
Em março deste ano foi aberto o Segundo Edital para a Apresentação de Propostas, nos moldes do seu antecessor. As empresas interessadas têm até a data de 14 de novembro deste ano para a submissão dos projetos, o que pode ser uma grande oportunidade para aproveitar a sinergia de interesses entre o estado de Pernambuco e Israel para o desenvolvimento de tecnologias que melhorem nossa vida, como por exemplo medidas efetivas de combate à seca.
O incremento e a intensificação das relações comerciais de Pernambuco com Israel tem tudo para ajudar Pernambuco na consolidação de seu papel como centro de excelência da inovação e da tecnologia. As oportunidades de negócios gerados por esta parceria certamente gerarão frutos duradouros. Projetos conjuntos, intercâmbios para o fomento da cultura do empreendorismo e trocas de experiências de práticas eficazes de gestão de projetos de tecnologia financiados por recursos públicos e privados certamente contribuirão para a o crescimento e modernizacão da economia pernambucana.