Símbolo do Jus.com.br Jus.com.br

A crise do Legislativo que Janine não viu ou não quis admitir

Agenda 10/12/2015 às 08:05

É preciso ver a crise de um outro angulo.

Em texto publicado no GGN o ex-ministro Renato Janine Ribeiro afirmou que

“Quanto a Cunha, ele está testando os limites da PGR e do STF. Tenho para mim que só não foi preso por ser quase-chefe de um dos três Poderes, e por isso PGR e STF evitam uma "judicialização da política" que chegue a esse patamar.” http://www.jornalggn.com.br/noticia/janine-se-stf-tiver-que-prender-cunha-passara-atestado-de-incapacidade-a-camara

Não posso concordar com as palavras dele por três motivos.

O primeiro é fático: a judicialização da política já é um fenômeno importante do cotidiano público brasileiro. O próprio PSDB estimulou esta tendência ao usar múltiplos recursos jurídicos para impedir a diplomação e posse de Dilma Rousseff.

O segundo é jurídico: o sistema constitucional brasileiro exige das autoridades o respeito aos princípios da  legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37, da CF/88) e permite ao Judiciário julgar os atos pessoais e administrativos praticados pelos outros membros dos três poderes (art. 5º, XXXV, da CF/88).

O terceiro é político. Janine parece não ter percebido que estamos diante de uma grave crise que envolve os três poderes republicanos. A judicialização da política pode acarretar uma hipertrofia do Poder Judiciário em geral e de sua cúpula em especial. O Impedimento da presidenta eleita pelo povo brasileiro sem causa justa (as pedaladas fiscais são práticas corriqueiras desde antes de FHC e foram dadas por diversos presidentes, governadores e prefeitos) acarretará uma limitação da soberania popular e, sem dúvida alguma, a ilegal submissão do Executivo ao Legislativo. O próprio Poder Legislativo, que é o mais frágil dos três poderes no sistema brasileiro, corre o risco de se tornar irrelevante.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

É evidente que a reputação e a credibilidade do Legislativo estão se deteriorando em razão do mesmo ser comandado por um notório criminoso procurado pela Justiça. O que se pode dizer de uma Câmara dos Deputados que admitiu que um de seus membros fosse ameaçado de morte para agir desta ou daquela maneira a fim de não prejudicar seu presidente?

Eduardo Cunha tem abusado sistematicamente do poder lhe conferido pelo cargo que exerce. Tudo que ele faz só tem uma finalidade: pavimentar sua própria impunidade. A natureza pública e constitucional da função que ele exerce desapareceu no exato momento em que a presidência da Câmara passou a ser dominada pelos interesses privados e, principalmente, criminais do sombrio pastor que enriqueceu de forma duvidosa. Não só isto, se Dilma Rousseff apelar para as ruas e a população responder ao seu apelo de maneira massiva, enfática e violenta o Legislativo pode até mesmo ser fechado com uma ajudinha dos militares que rejeitam o golpe de estado do PMDB.

A ação profilática do Judiciário será indispensável. Como disse ironicamente num Twitter que publiquei hoje:

Fábio O. Ribeiro ‏@FabioORibeiro  58m58 minutes ago

Caro @MPF_PGR Se quer preservar a @CamaraDeputados e sua presidência prenda o @depeduardoCunha. Para destruir o Poder Legislativo nada faça.

Por mais que a imprensa tente atribuir a crise à permanência de Dilma Rousseff no cargo - para o qual ela foi eleita de maneira legítima e do qual ela não pode ser removida senão com motivo justo na forma da CF/88, cujos princípios podem ser e serão interpretados pelo STF - há outros desdobramentos da mesma que Janine não percebeu. Filosofe mais e leia menos jornais, professor.  

Sobre o autor
Fábio de Oliveira Ribeiro

Advogado em Osasco (SP)

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!