Resumo: As distinções, no que tange a direitos e deveres, bem como psicológicas e intelectuais, imputadas ao gênero feminino de forma reiterada, podem estar atreladas à veiculação de uma de tantas possíveis interpretações de escritos bíblicos, uma vez que ao ler Genesis, vê-se, claramente, a existência de incontáveis perspectivas, as quais podem vir a surtir efeitos negativos, no que se refere ao vinculo presente na interação social entre o homem e a mulher. O presente trabalho intenta analisar a influência que a interpretação bíblica traz à sociedade, no que se refere à violência de gênero. Não convicto do resultado encontrado, buscou-se adentrar o âmbito cristão propriamente dito, a fim de compreender como e porque a bíblia santificou atos de violência contra o sexo feminino e transformou “a relação afetiva entre homem e mulher em disputas pelo poder”. Utilizou-se da pesquisa bibliográfica, bem como da pesquisa de campo como meios para o desenvolvimento deste estudo que ainda se encontra em andamento.
Palavras-chave: Bíblia. Misoginia. Mulher. Violência.
MISOGINY PRESENT IN BIBLICAL INTERPRETATION
Abstract: The distinctions, in terms of rights and duties, as well as psychological and intellectual, imputed to the feminine gender repeatedly, may be linked to the spread of one of many possible interpretations of biblical writings, since when reading Genesis, we see clearly, the existence of innumerable perspectives, which can have negative effects, as it relates to the link in the social interaction between man and woman. The present work tries to analyze the influence that the biblical interpretation brings the society, in what refers to the violence of gender. Not convinced of the result found, we sought to penetrate the Christian realm in order to understand how and why the bible sanctified acts of violence against the female sex and transformed "the affective relationship between man and woman in disputes for power." We used bibliographical research as well as field research as a means for the development of this study, which is still ongoing.
Key words: Bible. Misogyny. Woman. Violence
1 INTRODUÇãO
Atina-se que disparidades entre gêneros estão presentes em nossa sociedade, como pertencentes à cultura. Não obstante, procura-se compreender de onde advém a concepção de que a mulher é submissa ao homem.
As divergências inexistentes, no que tange a direitos e deveres, bem como psicológicas e intelectuais, porém imputadas ao gênero feminino de forma reiterada, podem estar atreladas à veiculação de uma de tantas possíveis interpretações de escritos bíblicos, uma vez que ao ler Genesis, vê-se claramente, a existência de incontáveis perspectivas, as quais podem vir a surtir efeitos negativos, no que refere-se ao vinculo presente na interação social entre o homem e a mulher.
Assim, neste seguimento é imprescindível discorrer em detrimento da factual condição brasileira, em referencia à bíblia e à influencia que exerce na sociedade. Faz-se necessário aferir duas linhas advindas da compreensão bíblica, de sorte que ao termino desta argumentação, poderá se estabelecer o que de fato importa, e qual é o aspecto interpretativo adequado ao contexto da problemática.
Este trabalho objetiva, neste momento, trazer a baila e analisar escritos bíblicos com vistas a identificar possível relação de sua interpretação com a prática de atos nocivos à integridade física como psicológica de pessoas do gênero feminino.
Para atingir o objetivo proposto, utilizou-se da pesquisa bibliográfica, bem como da pesquisa de campo como meios para o desenvolvimento deste estudo que ainda se encontra em andamento.
2 DESENVOLVIMENTO
Ao refletir acerca da violência, em especifico no âmbito familiar, no que refere-se ao gênero feminino, surge a indagação: Como a violência se origina e em que se fundamenta? Em resposta ao questionamento supracitado, inicia-se aqui uma analise detalhada da bíblia, a qual denota ser a possível precursora da violência contra a mulher, em razão da preponderação do homem em seus escritos, tornando-o superior.
Em Genesis, capitulo 1, versículo 26, é aparente a existência de ambigüidade na interpretação, uma vez que: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobe os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os repteis que se arrastem sobre a terra”. Neste aspecto, há quem diga que a bíblia apresenta um notável “machismo” em sua forma literária, em detrimento das “elevações” do homem e das pouquíssimas “aparições” da mulher.
Em outro momento, também em Genesis: “Deus criou o homem à sua imagem: Criou-o à imagem de Deus [...]”. Então o homem viveu no Éden, em meio à natureza e os animais, no entanto percebeu que todos os animais andavam em pares, que os correspondiam. Sentiu-se sozinho e a tristeza pairou sobre seu ser. Em detrimento à tristeza oriunda da falta de companhia, Deus criou a mulher.
“Após mostrar a Adão a necessidade de uma companheira, Deus se encarregou de supri-la. Colocando Adão em um profundo sono, Deus Tomou uma de suas costelas e fez a mulher. Este método que Deus utilizou, levou um pregador a se referir à mulher como o ‘pó duplicadamente refinado e duplamente removido da terra’. Sem duvida a mulher foi feita do homem e não diretamente do pó, para enfatizar a unidade dos dois e a propriedade do homem”. (CRISP, 2002).
A mulher vem como “algo” para suprir a necessidade (companhia) do homem, veio dele, para ele. Deste modo a idéia de patriarcado surge na bíblia com a preponderante autoridade do homem sobre a mulher.
“Assim, a mulher veio cumprir seu papel de companheira, de alento para os dias do homem; já nasceu dependente dele, veio da sua costela não como sujeito individual que pudesse ter idéias próprias, decidir, ser autônoma, mas com a doçura e a candura de quem está pronta para servir ao seu senhor”. (CRISP, 2002).
Para os cristãos “fanáticos”[2], a mulher é a precursora do pecado. Isso em razão de ter desobedecido à ordem dada a Adão de não comer o fruto do conhecimento. Deus então os castigou: “[...] Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar, multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás a luz com dores, teus desejos te impeliram para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”. Assim a mulher ficou sob o domínio do homem. Em razão dos danos causados a humanidade, deverias ficar sob controle.
Os três capítulos aqui analisados denotam a existência de uma cultura machista, que infelizmente perdura incontestavelmente na atualidade.
Após este breve estudo, pode-se dizer que a violência contra a mulher decorre de um modelo patriarcal existente na sociedade, e que a mesma advém inclusive, senão unicamente da interpretação inicial bíblica? Analisando as expressões dos textos selecionados leva a crer que sim, visto que ao desfolhar a bíblia, em muitos e muitos de seus capítulos é possível encontrar versículos, os quais tornam as mulheres submissas. Em Epístola aos Efésios, capitulo 5, versículo 22 ao 24, reitera-se a ideia inicial deste artigo:
“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da igreja, seu corpo, da qual ele é o salvador. Ora, assim como a igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos”. (EFÉSIOS, capítulo 5, versículos 22-24).
Inevitavelmente, torna-se difícil discorrer sobre o surgimento da violência contra a mulher, em virtude da amplidão de sua abrangência, no que tange aos contextos bíblicos, uma vez que o sentimento de poder exteriorizado pelo homem sob a mulher inicia-se nos primórdios da humanidade. Contudo, faz-se necessário analisar a idéia de patriarcado, bem como do poder advindo do mesmo, em relação à pràtica de atos nocivos à integridade física, como psicológica do gênero feminino.
Neste contexto, entende-se o patriarcado, segundo Costa, como:
“organização sexual hierárquica da sociedade ao domínio político. Alimenta-se do domínio masculino na estrutura familiar (esfera privada) e na lógica organizacional das instituições políticas (esfera publica) construída a partir de um modelo masculino de dominação”. (COSTA, 2008).
Essa submissão compulsória das mulheres pode acabar se transformando em violência, quando os homens se dão conta que o poder imputado a eles já não mais é “valido”. De modo geral, existe a relação poder, no que diz respeito ao envolvimento entre gêneros, sendo esse em qualquer modalidade.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tanto nos primórdios, quando no decorrer da evolução cristã, no que tange ao ensino religioso proferido aos homens, conforme denotam teólogos, a mulher permaneceu submissa, em detrimento ao modelo de patriarcado, outrora citado nesta analise.
Escritos bíblicos e sua interpretação patrística suscitam a permanência da submissão feminina na esfera social. Santo Agostinho, diz que a mulher foi criada para servir ao homem, e que a mesma dele havia sido criada para desempenhar a referida função. Por sua vez, São Tomás de Aquino, afirma que a mulher é um ser imperfeito, reafirmando a existência de um único sexo, sendo o feminino um complemento as necessidades do homem.
“No fenômeno da geração, é o homem que desempenha um papel positivo, sua parceira é apenas um receptáculo. Verdadeiramente, não existe mais que um sexo, o masculino. A fêmea é um macho deficiente. Não é tão surpreendente que este débil ser, marcado pela imbecilitas de sua natureza, a mulher, ceda as tentações do tentador, devendo ficar sob tutela”. (NOGUEIRA, 1991, p. 105).
Deste modo, vê-se que a sociedade é constituída por um vasto e complexo sistema organizacional, o qual apresenta uma imensurável desigualdade entre gêneros. A relação existente em um todo social, mesma que afetiva, possui por de trás de sua estrutura, “dispositivos de poder e submissão”. Neste contexto, entende-se o poder, como o fator de preponderância de gênero, sendo este o propulsor da violência.
O patriarcado oriundo das compreensões bíblicas desencadeia a concepção de “poder” sobre o outro, e ao contestar-se ente sentimento outrora interiorizado ao casamento, torna-se exterior ao lar, abrangendo quaisquer que sejam as relações, alcançando níveis estratosféricos. Essa “evolução”, por assim dizer, passa a misoginia.
Deveras é possível afirmar que a interpretação resulta no produto final, ou seja, é a responsável pelo fator determinante da relação a ser estabelecida entre componentes de uma esfera social. Matthew, citado por Costa traz a verdadeira essência feminina, ao dizer o seguinte:
“Eva, não foi feita a partir da cabeça do homem, para não ter domínio sobre ele, nem foi feita de seus pés, para que não fosse pisada por ele, mas do seu lado, para ser de igual valor a ele, debaixo de seus braços, para ser protegida e perto de seu coração, para ser amada”. (CRISP, 2002).
4 REFERÊNCIAS
AQUINO, Tomás de. Verdade e conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
BÍBLIA SAGRADA, Ave Maria. Edição Claretiana – 2010 – Revisada.
COSTA, Ana Alice. Gênero, poder e empoderamento das mulheres. 2008. Disponível em: http://www.adolescencia.org.br/empower/website/2008/imagens/textos_pdf/Empoderamento.pdf. Acesso em: 23 de Maio de 2018.
CRISP, Ron. Primeira Igreja Batista, 11659. Madison Pike – Independence, Kentucky 41051, Eua, 2002.
LOPES, Claudio Bartolomeu. Trabalho Feminino em Contexto Angolano: um possível caminho na construção de autonomia. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: PUC São Paulo, 2010.
NOGUEIRA, Carlos Roberto F. Bruxaria e História – As práticas mágicas no ocidente Cristão. São Paulo: Editora Ática. 1991.
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[2] No sentido de obsessão por uma determinada religião.