6. Conteúdo e função do estado de natureza. Interfaces da desigualdade
O estado de natureza pode estar representado em Jean-Jacques Rousseau como estágio histórico no desenvolvimento humano; como revelação de um estado primitivo da vida do homem, em que não lhe afligia qualquer mal. Pode-se afirmar, de outra parte, que o estado de natureza seja uma história imaginária, que tem igualmente função ética, na medida em que é usada para demonstrar a degradação da humanidade a partir do momento em que deixou de viver aquele estado para formar a sociedade civil. E, ainda, que os dois Discursos são constituídos de abstração situada no plano do pensamento, pensamento, ou seja, dotados de tradição racional, que revelam o estado de natureza e o progresso cultural como fatos históricos e como uma idéia reguladora ao mesmo tempo, com propósito de afirmação ética. Fatos prováveis, mas impregnados de finalidade ética.
Mas não há como omitir a marca de conteúdo anarquista dos Discursos, verdadeiros libelos contra o artificialismo da civilização, a sociedade civil e a desigualdade social.
Assim como está claro que Rousseau deixa emergir, com a procura do estado de natureza, a busca do paraíso perdido, distante no tempo e na possibilidade de realização, bem ao gosto dos desiludidos.
Referências bibliográficas
BOBBIO, Norberto e BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na filosofia política moderna, tradução de Carlos Nelson Coutinho, São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau, tradução de Erlon José Paschoal , Jézio Gutierre, São Paulo: Editora UNESP, 1999.
DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, tradução de Álvaro Cabral., Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
MORETTO, Fúlvia Maria Luiza. Nota a Os devaneios do caminhante solitário. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986.
RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Moderna, tradução de Brenno Silveria, São Paulo: Companhia Editora Nacional, vol. IV, 1969.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato social, in O Contrato Social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. As confissões, tradução de Wilson Lousada, Editora Tecnoprint S. A (Ediouro), s/d.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d.
Notas
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ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato social, in O Contrato Social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p. 38.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Op. e loc. cit.
RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental, tradução de Brenno Silveria, São Paulo: Companhia Editora Nacional, vol. IV, 1969, p. 230.
DUMONT, Louis. O Individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, tradução de Álvaro Cabral., Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 102.
DUMONT, Louis. O Individualismo... cit., p. 102-103.
RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental cit., p. 219.
CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau, tradução de Erlon José Paschoal , Jézio Gutierre, São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 76.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os devaneios do caminhante solitário, tradução de Fúlvia Maria Luiza Moretto Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986, p. 56-57. No texto original: "La vérite générale et abstraite est le plus précieux de tous les biens. Sans elle l’homme est aveugle; elle est l’oeil de raison, C’est par elle que l’homme apprend à as conduire, à être ce qu’il doi être, à faire ce qu’il doit faire, à tendre à sa véritable fin".
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social cit., p. 38.
CASSIRER, Ernst. A questão Jean-Jacques Rousseau cit., p. 54.
CASSIRER, Ernst. Op. e loc. cit.
CASSIRER, Ernst. A questão... cit., p. 64.
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LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural Dois, Jean Jacques Rousseau Fundador das Ciências do Homem, tradução de Tânia Jatobá, Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1993, p. 41. Trata-se de um discurso proferido pelo autor em Genebra nas comemorações do 250º aniversário de nascimento de Jean Jacques Rousseau, em 1962.
BOBBIO, Norberto e BOVERO, Michelangelo. Sociedade e Estado na filosofia política moderna, tradução de Carlos Nelson Coutinho, São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 55.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social cit., p. 29-30.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. As confissões, tradução de Wilson Lousada, Editora Tecnoprint S. A (Ediouro), s/d., p. 232. A sugestão, na realidade, não parece ter vindo de Diderot. Salvo incompreensível equívoco de Rousseau, a idéia surgiu quando ele deu com a notícia do prêmio a caminho da prisão de Vincennes
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências e as artes, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p. 210/211.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre as ciências... cit., p. 212.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, in O contrato social e outros escritos, tradução de Rolando Roque da Silva, São Paulo: Editora Cultrix, s/d, p.143.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p.146.
BOBBIO, Norberto. Sociedade e Estado... cit., p.56.
RUSSEL, Bertrand. História... cit., p. 234-235.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 175.
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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 175.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 179.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 179.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem... cit., p. 183.
BOBBIO, Norberto, MATREUCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política, tradução Carmem C. Varriale [et al.]; corrdenação da tradução João Ferreira, revisão geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cascais, 7ª ed., Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1955, vol. I, p. 23 (verbete de Gian Mario Bravo).
BOBBIO, Norberto, MATREUCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Op. e loc. cit.
GROTHUYSEN, Bernard. J.-J. Rousseau, Paris: Éditions Gallimard, 1949, p.157 (grifo acrescido).
GROTHUYSEN, Bernard, ob. cit., p. 164 (grifos acrescidos).
GUMCIO, Rafael. Utopostas, anarquistas y rebeldes . Acesso em 28.11.2005.