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A função social da propriedade sob a análise do IPTU e ITR

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Agenda 13/05/2021 às 01:15

O presente estudo representou uma análise do que é a propriedade e os efeitos jurídicos que a norteiam. Existem duas definições no nosso ordenamento jurídico, a propriedade urbana e a rural, isto, sob a ótica do direito tributário.

INTRODUÇÃO

O objetivo do presente estudo foi de examinar o atual modelo jurídico criado, ao longo da história, que norteia a questão da propriedade no Brasil. Pretende-se, também, mostrar a aplicabilidade das medidas jurisdicionais elencadas no Direito Civil, Tributário e na Constituição da República, e consequentemente a sua efetividade.

Intenta, ainda, contribuir para o debate acerca dos direitos de propriedade, demonstrando que este é um meio para que se possa amalgamar não somente uma visão ética, social e moral, mas também jurídica dando tratamento apenas aos que buscam amparo na justiça.

Vale, também, gizar a importância do tema partindo da premissa de que qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, pode se deparar com tais conflitos tendo sido ensejados em virtude da discussão sobre a tributação de imposto predial territorial urbano ou o imposto territorial rural.

Para isso é preciso detalhar quais são as diretrizes que o direito tributário traça a fim de identificar qual o tipo de propriedade se adequará ao imposto devido. Ocorre ainda, uma tentativa do contribuinte, com o fito de se beneficiar de uma carga tributária menor, de mascarar a real finalidade do imóvel, ou seja, qual a destinação social daquela propriedade, pois ao lume do Código Tributário Nacional, associado a Constituição Federal, onde guarnece as definições de propriedade e requisitos de aplicabilidade de cada imposto.

Existem algumas demandas no judiciário onde o tema é combatido não somente com base da aplicação da lei, mas também de forma doutrinária e jurisprudencial. O fato de o Direito ser uma ciência dinâmica e pela sua constante evolução é imperioso destacar que o ordenamento jurídico precisa estar ao compasso dessas mudanças para que haja um equilíbrio de toda sorte, favorável, com o condão de ajustar essas celeumas ainda que sejam de menor complexidade.

Outro ponto importante a ser destacado é o dano patrimonial que essas evasões na tributação causam ao erário, isto porque, quando cobrado um imposto diverso do devido, ou seja, daquele obtido pelo seu fato gerador, o ente público deixa de auferir a devida contribuição o que enseja uma queda na receita e que em muitos casos tais demandas perduram por um período de tempo bem maior que o plano orçamentário de uma gestão pública por exemplo, tendo em vista a complexidade da matéria.

Por que discutir propriedade e a aplicação do imposto territorial? Porque essa dinâmica vem sendo cada vez mais comum e o número de ações judiciais vem sendo crescente.

Diante dessa temática foi abordado ao longo do presente projeto de pesquisa a aplicabilidade da legislação vigente, o entendimento doutrinário e a jurisprudência.

A conclusão é composta pela caracterização de forma objetiva ao fim de tudo que foi elaborado visando manter em foco o aspecto jurídico, a tratativa que os tribunais vêm dando em decorrência da matéria e os desafios que são enfrentados pelo contribuinte e ainda pelo ente público.


1. DEFINIÇÕES DE PROPRIEDADE

1.1 Conceito de propriedade

Antes de iniciar o estudo sobre a propriedade é preciso defini-la, com isso, trazemos a classificação dada pelo dicionário Aurélio: “no âmbito jurídico: Direito de usufruir, utilizar e dispor de um bem, podendo retirá-lo da posse de quem o possui ilegalmente”.

Diante da definição supra, passamos a análise do artigo 5º e os incisos XXII, XXIII, XXIV, XXV e XXVI, da Constituição de 1988, que trata da propriedade e garante o direito de propriedade, institui o requisito de função social e ainda o uso devido da propriedade pelo ente público ou autoridade competente, ressalvados os direitos de indenização ao proprietário e ainda a propriedade rural.

O Código Civil institui em seu artigo 1.228 a conceituação de propriedade, como pode ser observado:

“Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas (...)”.

Ao fazer a leitura do artigo supra, é possível perceber que o direito de propriedade tem o condão de obedecer ao direito real, onde permite usufruir, fruir, dispor e gozar dentro do permitido em razão da função social.

Em síntese, o artigo 1.229 do mesmo diploma legal veda o abuso do direito de propriedade.

Quanto as suas características, estas podem ser definidas como: complexa, pois é composta por poderes ou faculdades; absoluto, isto porque não se pode fazer o que bem entender, tendo em vista a oponibilidade da propriedade ser erga omnes; perpétuo, ainda que não tenha uso, este não é suficiente para extinguir o direito que pode ainda ser transmitidos a herdeiros por gerações; elástico, pode ser ajustado a outros direitos mesmo sem perder sua essência; e exclusivo, há, contudo, ressalvas de certas situações como condomínio.

É difícil fazer a conceituação precisa do termo propriedade, uma vez que a doutrina não caracteriza uma definição precisa, com isso, tem-se como o mais próximo o artigo já mencionado no Código Civil que, todavia, não a define, mas traz os direitos que são inerentes ao proprietário.

Tendo como base e origem nos direitos reais, variando sua conceituação de acordo com cada ordenamento jurídico. Para alguns doutrinadores o conceito encontra esteio no latim proprietas, derivado ainda de proprius, ou seja, o que pertence a uma pessoa. Daí, conclui-se que o direito de propriedade aponta para uma relação jurídica de um bem que pode ser material (concreto) ou imaterial (abstrato).

O Código Civil trata de forma holística acerca da propriedade, aquisição, mantença, deveres e obrigações, desapropriação, direito de vizinhança, usucapião, entre outras definições. E, ainda, nos artigos seguintes traz as diretrizes que definem a propriedade e de certa forma, os direitos que a guarnecem.

1.2 Direito de propriedade

Antes de limitarmos os direitos inerentes à propriedade será preciso defini-la e classifica-la, como se verá adiante.

A propriedade, sob a ótica jurídica, é o direito que se tem de usar, gozar e possuir bens e dispor deles da maneira como quiser. Contudo, o direito de propriedade não se restringe somente a bens imóveis como casas, terrenos, pois não se refere somente a bens materiais.

Existem também elencado nesse rol, os bens imateriais, assim classificados tendo em vista a quantificação de seus valores que podem ser expressão em valor pecuniário.

Propriedade, em sentido amplo, pode ser entendida como a qualidade inerente à matéria, onde possui características essenciais que compõem algo. A propriedade é classificada como um direito inviolável e sagrado, isto é, ninguém pode ser dela privado a não ser quando haja uma relevante necessidade pública, legalmente constatada, que de modo evidente e sob condição de uma indenização justa e prévia, se exija a detenção de tal propriedade.

A partir daí temos o direito de conteúdo econômico ou patrimonial (propriedade, usufruto, uso, direito autoral, etc.) que deve seguir uma função social de utilidade, sofre algumas restrições como por exemplo: no caso de desapropriação. A desapropriação consiste no ato em que o Estado toma para si, ou transfere para outrem, bens de particulares, contando ou não com o consentimento do proprietário. Esta forma de intervenção na propriedade resulta na perda para os poderes públicos de forma irreversível. Porém, esta só é cabível em casos de utilidade pública, necessidade pública e interesse social, não cabendo ao bel prazer do ente público.

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Utilidade pública pode ser definida como um ato que o poder público manifesta a vontade de utilizar um bem. Já na necessidade pública acontece quando há uma razão imperiosa que obriga a desapropriação do bem em prol de uma função social de maior relevância.

Já o interesse social ocorre quando o motivo da desapropriação tem o condão de trazer benefícios à coletividade. O ato de desapropriar tem como característica a indenização, que deve ser em dinheiro, além de justa e prévia, ou seja, realizada antes da efetiva desapropriação.

O Código Civil trata de forma holística acerca da propriedade, assegura a propriedade o direito real de maior expressão e conteúdo e o mais amplo. Quem é proprietário é titular e com isso possui a faculdade de usar, gozar, dispor, e ainda reivindicar a coisa com quer que injustamente a possua, detenha ou retenha, como preceitua o artigo 1.228, C.C.

O direito de propriedade é descrito no Inciso XXII do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Daí extrai-se que, pela definição literal que emana da Carta Magna, bem como a correlação ao nosso ordenamento jurídico, tem-se que o direito de propriedade garante que qualquer cidadão obtenha o direito de possuir bens, com objetivo de assegurar uma vida digna, livre e igualitária a todos os cidadãos do país, desde que, haja a contraprestação de obrigações e deveres inerentes à propriedade como um todo.

Existem algumas limitações ao direito de propriedade, que pode ser dito como restrições ao seu exercício, mas que não interferem no valor econômico ou social do patrimônio. Em relação a isso, a lei impõe delimitações ao direito de propriedade.

De forma sucinta, pode-se pensar no direito de propriedade como o direito de uma pessoa, dentro dos limites da lei, de dispor e usufruir de um bem, e também de determinar o que é feito com ele. Daí o direito de propriedade garante que qualquer cidadão tenha direito de possuir (ou seja, ser dono de) bens. Mas não se engane, o direito de propriedade no Brasil não é incondicional! Isso significa que há limites impostos a ele, sendo o principal a função social da propriedade.

De acordo com a jurista brasileira Maria Helena Diniz, o direito de propriedade pode ser entendido como “o direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha[1].

O direito de uso sobre um bem, diz respeito ao direito de usufruir de um bem ou colocá-lo a disposição do uso de outra pessoa, sem que essa possa modificar a substância do bem. Enquanto no direito de gozo sobre um bem, significa ter direitos sobre os frutos ou rendimentos que esse bem fornece. Já o direito de dispor, este é o direito que mais expressa o domínio/posse sobre o bem. Significa que você pode optar por vendê-lo, doá-lo ou trocá-lo.

Dessa forma, o Inciso XXII do Artigo 5º reconhece o direito de propriedade como um direito fundamental a ser protegido pela Constituição brasileira.

O direito de propriedade parte do entendimento de que seres humanos naturalmente têm desejo de possuir coisas. Esse desejo de possuir poderia levar a uma situação caótica de conflito permanente pela posse de bens. Dessa forma, entende-se que o Estado deve garantir o direito de propriedade como um direito fundamental.

A importância de definir o direito de propriedade consiste em possibilitar ao Estado estabelecer mecanismos de responsabilização, ou seja, somente se for estabelecido o direito de propriedade é possível determinar quais são as ações que ferem o patrimônio. Dessa forma, garantir o direito de propriedade como um direito fundamental é uma forma de regulamentar o desejo natural pela posse.

Como já explanado, o direito de propriedade no Brasil é garantido pela Constituição, bem como regulamentado pelo Código Civil, mas não é ilimitado. O que limita este direito é o cumprimento da chamada função social. Onde a lei brasileira fundamenta o que pode ser feito com a propriedade no caso de não cumprimento dessa função.

Ao lume da Carta Magna, é determinado que apenas que o direito de propriedade está condicionado à função social, mas são os Estatutos da Terra e da Cidade que possibilitam a determinação da função social a ser cumprida por propriedades rurais e urbanas, respectivamente.

De acordo com o Estatuto da terra a função social da propriedade rural é determinada pelo: aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Orlando Gomes ressalta que “a propriedade, enquanto direito complexo, pode ser conceituada de forma sintética, analítica ou ainda descritivamente”.[2] Com isso, grande parte dos doutrinadores observam a propriedade de forma analítica.

No caso de não cumprimento dessas condições já estabelecidas, a Constituição prevê um processo de desapropriação (mediante a indenização) para fins de reforma agrária (Art. 184). Ou seja, se uma propriedade rural de terra não cumprir as determinações fixadas em lei, o poder público deve retirar o direito de posse de proprietário (com o pagamento de uma indenização) e redistribuir a terra para exerça sua função social.

1.3 A propriedade no Direito Civil

Para que se tenha a propriedade é preciso adquiri-la, esta aquisição pode ser feita de duas formas, originária ou derivada.

O modo de aquisição a título originário pode ser definido como ato próprio, pois este ocorre quando a coisa se encontra desvinculada de qualquer relação com o titular anterior e sem que haja relevância com o antecessor.

Já a aquisição derivada ocorre quando a transmissão é feita de um proprietário a outro, por ato inter vivos ou causa mortis. Nesta forma, a coisa chega ao adquirente com as mesmas características anteriores, não se extingue o ônus.

A aquisição também pode ser gratuita ou onerosa. A gratuita se dá quando não ocorre uma contraprestação para a aquisição, como acontece com a doação. Na onerosa, tendo como o exemplo mais clássico, compra e venda, existe a contraprestação, que eventualmente é pecuniária. A aquisição pode ser ainda singular ou universal. Na primeira hipótese, se refere a uma coisa determinada. Contudo, na segunda hipótese, se adquire uma universalidade de direitos.

A legislação brasileira, com amparo no código civil institui ainda a perda da propriedade, no artigo 1.275, que pode ocorrer por diversos mecanismos: alienação, renúncia, abandono, perecimento ou desapropriação. Todas as formas elencadas se tratam de uma modalidade de extinção ao direito de propriedade, pois através dele o proprietário transmite a outrem o seu direto sobre aquela propriedade.

Sob o aspecto das restrições que o direito de propriedade sofre, ao lume do código civil, encontramos a relação de vizinhança, que impõe limitações ao uso e utilidade da propriedade.

Os direitos de vizinhança têm natureza jurídica de direito obrigacional e constituem limitações impostas pela boa convivência social, que deve se inspirar na boa-fé e lealdade entre os proprietários dos imóveis.

O direito de vizinhança definido por Gagliano, (2017, p.1030) “Em essência, consistem em poderes positivos e negativos (ações ou omissões) legalmente impostos aos proprietários e possuidores que compartilham a mesma vizinhança”.

Daí temos que a propriedade deve ser utilizada de maneira que torne possível a coexistência social pacífica entre os vizinhos. O Código Civil Brasileiro, disciplinando a matéria, cuida do uso nocivo da propriedade, das árvores limítrofes, do escoamento das águas, dos limites entre prédios e do direito de construir, encontrando amparo legal nos artigos 1.277e ss.

Existe na doutrina hodierna, os princípios norteadores da propriedade, tratados ainda como basilares, que são:

Pelo explicitado, tem-se que, a propriedade encontra sustento no código civil, além da própria Constituição, onde são elencados as obrigações e os deveres do proprietário, sempre atendendo a função social da propriedade.


2. CONCEITO DE IMPOSTO

É a espécie tributária mais importante dentro da ordem jurídica brasileira, os impostos são tributos desvinculados de uma atividade de competência do Estado, relativa ao contribuinte.

Nesse contexto, o artigo 16 do CTN institui: “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”.

Pode-se dizer ainda que o imposto é espécie tributária caracterizada por indicar fato relativo ao próprio contribuinte no aspecto material de sua hipótese de incidência.

Segundo Paulo Barros Carvalho “podemos definir imposto como o tributo que tem por hipótese de incidência (confirmada pela base de cálculo) um fato alheio a qualquer atuação do Poder Público”.[3]

Ao contrário das taxas e contribuições de melhoria, que tem por objetivo remunerar as atuações do Estado, os impostos não têm essa característica, e sim contributivo, são utilizados para obter recursos para o custeio de serviços públicos e outras despesas estatais gerais.

Ocorre que, pelo fato de os serviços prestados serem indivisíveis e ainda, custeados indiretamente pelas receitas oriundas da arrecadação de impostos, não significa que eles, como tributos desvinculados, possam ser cobrados para remunerar diretamente serviços públicos indivisíveis.

Outra característica importante do imposto é apontada pelo art. 167, IV, da CF:

Art. 167. São vedados:

IV – a vinculação de receita de impostos a órgãos, fundo ou despesa, ressalvada a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts.158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para a realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts.198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem assim o disposto no § 4º deste artigo.

§ 4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts.155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts.157, 158 e 159, I, ‘a’ e ‘b’, e II, para a prestação de garantia ou contra garantia à União e para pagamento de débitos para com esta.

Nesse diapasão, os fatos geradores dos impostos, podem ser relacionados ao contribuinte e não diretamente ao Estado, respeitando a aplicabilidade dentro das normas de competência dos artigos 153, 155 e 156.

2.1 Etimologia do imposto

Quanto a origem da palavra imposto, se pode classifica-la como: “do latim imposìtu, particípio passado de imponère (impor), pôr como obrigação, é a imposição de um encargo financeiro ou outro tributo sobre o contribuinte (pessoa física ou jurídica) por um Estado ou o equivalente funcional de um estado a partir da ocorrência de um fato gerador, sendo calculado mediante a aplicação de uma alíquota a uma base de cálculo de forma que o não pagamento do mesmo acarreta irremediavelmente sanções civis e penais impostas à entidade ou indivíduo não pagador, sob forma de leis.[4]

Tem-se que é uma espécie do gênero dos tributos. O que lhe difere dos demais é sua não vinculação, como visto no tópico anterior, sua obrigatoriedade se dá ao contribuinte pelo fato gerador e não em decorrência de qualquer contraprestação exercida pelo Estado.

Ao que pese, os recursos arrecadados pelo Estado são revertidos para um bem comum, para custeio de serviços essenciais como segurança, educação, saúde e demais serviços públicos. Mas, nesse caso não há vinculação da receita auferida pela arrecadação de impostos com uma determinada finalidade. Embora a lei institui aos governos que destinem ainda que parcelas mínimas da arrecadação a certos serviços públicos - em especial de educação e saúde - o pagamento de impostos não confere ao contribuinte nenhuma garantia de contrapartida.

Pelas palavras de Gaston Jèze, “o imposto é uma prestação pecuniária para as pessoas, exigido pela autoridade devida, de modo permanente e sem remuneração por tal, para cobrir uma função pública necessária”.

Com mínimas exceções, o imposto tem uma natureza monetária. Este é obrigatório, e, portanto, não direto e comercial. Finalmente, não é um empréstimo, mas uma obrigação definitiva. Os impostos também assumem características de expropriação e requisição.

A função primordial dos impostos é a capacidade do Estado em arrecadar pecúnia, ou seja, o valor monetário se torna fundamental para que haja o cumprimento das políticas públicas que de certa forma retorna disponível ao contribuinte em diversos segmentos.

2.2 Classificação do imposto

É de grande relevância saber distinguir um tipo de imposto do outro, pois, tal importância tem levado a doutrina a formular a classificação dos impostos, que sempre foi considerada, pela Ciência das Finanças, como um aspecto importante, não só para distinguir uma espécie da outra, como, também, pelos efeitos jurídicos que pode ocasionar, sempre em face do direito positivo vigente.

Nessa esfera, manifesta-se Ruy Barbosa Nogueira com as seguintes conclusões: “É usual distinguirem-se os impostos em impostos pessoais e impostos reais, conforme se refira a uma pessoa ou coisa. E, ainda, outra distinção usual é a de imposto direto e imposto indireto e esta distinção tem relevância dentro do sistema tributário”.[5]

Pessoal é o imposto onde fica estabelecida as diferenças tributárias em razão das condições do contribuinte, ou seja, da sua capacidade contributiva, tal como ocorre quanto a cobrança do IRPF, em que a legislação questiona, para fins de deduções pessoais, como por exemplo o número de dependentes, as despesas feitas com educação, gastos médicos e etc.

Importante frisar que a CF/88, em seu artigo 145, §1º, aduz que: “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.

O imposto direto é o aquele caracterizado quando em uma só pessoa, reúnem-se as condições de contribuinte de direito (responsável pela obrigação tributária) e contribuinte de fato (quem suporta o ônus do imposto). O IR é um exemplo clássico dessa modalidade de imposto.

Em apertada síntese, é o imposto no qual o montante devido pelo contribuinte é equiparado diretamente a sua capacidade contributiva, havendo equilíbrio neste aspecto.

Na modalidade de imposto indireto, é aquele que comporta, na operação, dualidade de pessoas: contribuinte de direito, que é o sujeito passivo direto, responsável pelo pagamento do tributo e o contribuinte de fato, aquele que suporta o ônus do tributo, sujeito passivo indireto. ICMS pode ser um exemplo desta modalidade de imposto.

É o imposto que tem incidência sobre o patrimônio de modo geral, sem levar em conta os aspectos pessoais do contribuinte ou sua capacidade econômica. É possível perceber a aplicabilidade dessa modalidade na cobrança de IPTU, para o ente não importa se o contribuinte tem ou não condições de arcar com o imposto, mas se ele possui o imóvel presume-se que há a ali sua capacidade contributiva.

Tem-se, em via de regra, que progressivo é o imposto que, tendo duas ou mais alíquotas, o montante do imposto pode variar em função do seu valor tributável, ocorrendo assim que o tributo seja aumentado desproporcionalmente em detrimento do contribuinte.

Contudo, essa desproporcionalidade da tributação, em função do valor tributável que acaba por ser uma variável, é o elemento que serve como base para diferenciar a progressividade da proporcionalidade do imposto.

A lição de Zelmo Denari ensina que:

“Ressalte-se, contudo, que a proporção da alíquota pode aumentar gradativamente, em correspondência com o aumento da base de cálculo. Fala-se, então, em impostos progressivos, como o imposto sobre a renda, cuja alíquota aumenta de acordo com os rendimentos do contribuinte, numa escala progressiva”.[6]

Na modalidade de imposto regressivo, que vem sendo bastante aplicado na economia brasileira, as taxas são variáveis e afetam mais aqueles contribuintes que possuem rendimentos menores.

Mas, por que ele é classificado como regressivo? Pelo fato de ser cobrado em decorrência do seu fato gerador aos que possuem capacidade contributiva, sem distinção de renda ou poder econômico. Com isso, o contribuinte que possui um capital dez vezes maior paga igual ao que possui uma renda menor, o que define essa modalidade é o impacto que esse encargo causa no orçamento para uns, maior que outros.

É aquele em que a alíquota é constante, ou seja, fixa, e o seu resultado só aumenta à proporção em que aumenta o valor sobre o qual incide. É um tributo de alíquota inalterável, qualquer que seja o montante tributável ou a base tributária.

Pode-se afirmar que segundo essa modalidade os contribuintes que detém altas rendas e os contribuintes com rendas menores pagam a mesma fração de sua renda, daí a nomenclatura, devido sua proporcionalidade em decorrência do valor tributável.

Se dá quando o valor do imposto é determinado em garantia certa, independendo de cálculo. Ou seja, o valor é estabelecido desde logo, sem levar em consideração a alíquota e base de cálculo.

Monofásico, ou de incidência única, é o imposto, em que, na ocorrência de sucessivas operações no ciclo econômico (insumo, produção, circulação), a legislação prevê uma única incidência.

Plurifásico é o imposto que incide sobre várias fases, etapas ou operações sequenciais, até chegar ao consumidor final, como ocorre na tributação de IPI.

É aquele que incide em todas as etapas intermediárias dos processos produtivo e/ou de comercialização de determinado bem, inclusive incide sobre o próprio imposto/tributo anteriormente pago, da origem até o consumidor final. O que influi na composição do seu custo e, em consequência, na fixação do seu preço de venda.

Daí, incide em cada operação tributável, em que não é prevista compensação, dedução ou abatimento, em relação à operação anterior, o que pode ser classificado também como imposto em cascata.

Não cumulativo é o imposto em que a norma prevê uma compensação, abatimento ou dedução do valor do tributo pago ou devido na operação anterior, de conformidade com o disposto no sistema constitucional tributário.

Como ocorre na tributação de IPI ou ICMS, por exemplo, em sua fase subsequente dos processos produtivos e/ou de comercialização, não há nova incidência sobre o mesmo imposto pago ou recolhido em uma etapa anterior.

O imposto nominado encontra previsão legal na Constituição Federal, é considerado o imposto mais apropriado para suprir as necessidades do Estado. Algumas modalidades desse imposto pode ser o IR, IPI e, ICMS, pois são impostos que influem de forma considerável na receita do ente público.

O imposto inominado, pode ser também chamado de residual, é instituído com base na competência residual da União. Ao lume da CF/88, registra-se tão somente a instituição de contribuição social para a seguridade social, com fulcro na competência residual da União, como preceitua o artigo 195, § 4º.

Os impostos regulatórios ou extrafiscais correspondem aqueles tributos que foram escolhidos pela sua importância na economia nacional, para serem alterados com mais celeridade. Estes, incidem sobre o comércio exterior, que têm por finalidade regular a importação e a exportação, segundo o interesse do País.

Existem modificações que podem ocorrer através de atos do Presidente da República, como as alíquotas destes impostos, que podem ser alteradas a fim de buscar uma eficácia maior.

Denota-se que a função primordial deste imposto é possibilitar a alteração de forma mais rápida das alíquotas de alguns tributos com o objetivo de proteger setores da economia que possam estar em ameaça financeira.

Seletivo é o imposto que incide sobre determinados produtos, mercadorias ou serviços, que se destacam dos outros pela sua qualidade, possuindo assim uma alíquota diferenciada.

Há uma previsão na CF/88, onde estabelece que o ICMS poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e serviços, conforme o artigo 155, § 5º, inciso III.

Imposto que pode ser adicionado a um outro imposto para ser cobrado, constituindo um bis in idem permitido, desde que não ofenda princípios constitucionais, tais como os de legalidade, igualdade, capacidade contributiva e confisco.

Sobre o autor
Adelan Marques

Graduado em Direito pela UNIABEU - Centro Universitário (2012), Pós-Graduado em Direito e Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Sá (2021), Pós-Graduado em Direito Educacional pela Universidade Cândido Mendes (2021), Pós-Graduado em Direito do Consumidor pela Universidade Cândido Mendes (2022), Graduando em Sociologia pela Universidade Estácio de Sá. Atua como advogado em Adelan Marques - Consultoria Jurídica. Membro da ABRADE - Associação Brasileira de Direito Educacional. Tem experiência na área de Educação, assessoria jurídica e advocacia preventiva. Experiência na área jurídica com ênfase em Direito Educacional, Tributário e Consumidor.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Mais informações

Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação de Direito e Planejamento Tributário.

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