Resumo: Ao longo da história a aparência tem sido usada como atrativo em praticamente todas as empreitadas humanas. Da indústria da moda, passando pela cosmética, arquitetura e até na engenharia automotiva, a aparência é um apelo ao sentido visual com o fim de impulsionar as vendas e os lucros das empresas. Menos óbvia, mas muito poderosa, a aparência é também instrumento de conquista e poder político. As nuances do emprego da aparência, sob todas as suas formas, como arma de dominação por meio da admiração e encantamento será abordada neste trabalho, com o fim de demonstrar seu poder de manipulação por meio dos sentidos.
Palavras-chave: Aparência, Apelo, Beleza, Conquista, Manipulação, Política.
INTRODUÇÃO
De antemão, convém deixar claro que o presente trabalho não constitui, sob nenhum prisma, uma crítica ao que a sociedade convenciona, atualmente, chamar de belo, mas sim um alerta para o uso do que consideramos belo por indivíduos ou grupos que se valem do magnetismo encerrado no apelo visual como ferramenta de manipulação, sobretudo, na seara política.
Para uma melhor compreensão, analisaremos o que, afinal de contas, é beleza, desde sua concepção histórica, passando pela filosofia, bem como quais características algumas sociedades já consideraram como sendo belas. Analisaremos também como circunstâncias sociais podem influenciar nas nossas opiniões acerca do que é ou não bonito e como essas opiniões variam a depender do tempo e do lugar.
Expandiremos o significado de beleza para além do visual, a fim de demonstrar que ela pode assumir várias formas, adaptando-se ao público à qual é dirigida, com o fim único de exercer sobre este todo seu poder de atração, apelando ao encanto e à admiração para embrenhar no subconsciente coletivo.
Veremos, por fim, alguns exemplos de figuras políticas que souberam fazer das aparências e do encanto seus instrumentos de dominação, tenha sido por meio da aparência física, de ensaiadas interpretações, do uso de vestes elaboradas ou do carisma, todos eles apelaram aos nossos sentidos, assumindo o estereótipo do que as pessoas consideravam belo para manipulá-las a seu favor.
O PODER DAS APARÊNCIAS
Já que o tema abordado gira em torno das aparências, antes de prosseguirmos, convém que compreendamos melhor um conceito intimamente relacionado: o da beleza; afinal, trata-se de um conceito que encerra uma significativa carga de subjetividade. Assim não fosse teríamos as mesmas preferências para coisas como cor de carro, por exemplo. Imagine o que seria da Ferrari se todos fossem uníssonos quanto ao bege como a cor mais bela para todos os carros? Por falar em carro, até mesmo a indústria fonográfica se veria afetada por uma eventual preferência unânime para cor de carros, pois não teríamos Fuscão Preto, gravada pelo Trio Parada Dura, e nem Camaro Amarelo, gravada pela dupla Munhoz e Mariano, a entreter nossos ouvidos. Aí já seria desaforo demais não é?
O exemplo acima relacionado às preferencias para cores de carros, apesar de lúdico e até um pouco engraçado, pretende nos mostrar que o conceito ou padrão de beleza desejada contempla um espectro bastante amplo, já que nem todos possuem as mesmas preferências de cores ideais para carros. Em outras palavras, a cor que julgamos mais bonita ou bela para um automóvel pode variar muito de um indivíduo para o outro. Pode soar bobo, mas serve como exemplo aqui.
Assim também tem sido ao longo do curso da história humana no que diz respeito ao que julgamos belo. Analisemos, inicialmente, o conceito ou padrão atual de beleza física:
Para ser miss, não bastam medidas impecáveis — no caso de JÚLIA HORTA, 88 centímetros de busto, 65 de cintura e 94 de quadris (JÚNIOR, Revista Veja, 2019).
O trecho acima foi extraído da reportagem de João Batista Júnior, publicada na Revista Veja em 15 de março de 2019, com o título Respiração de miss. Dele inferimos que para se enquadrar no padrão atual de beleza, ao menos feminina, deve-se atender ou pelo menos se aproximar das medidas mencionadas. Mas nem sempre foi assim, senão vejamos:
Um exemplo de como os padrões de beleza variam de acordo com a época é o modo como a preocupação com a vaidade foi contida na Idade Média. Com a grande influência da Igreja Católica Apostólica Romana no contexto Europeu, aspirar ao Divino era muito mais importante que à aparência física. Já com o Renascimento, a mulher tida como bela era a gorda, o que remetia, ao mesmo tempo, à riqueza e poder. Ao olharmos as pinturas que representavam a deusa Vênus, versão romana de Afrodite, a deusa da beleza e do amor, percebemos que elas trazem quadris largos e cintura rechonchuda (ANJOS, Direto ao Assunto, 2018).
Inferimos da matéria intitulada Um panorama histórico dos padrões de beleza, publicada na Revista Direto ao Assunto, em 11 de junho de 2018 e escrita por Wesley Anjos, que aquilo que entendemos por beleza não é imutável e sofre modificações provocadas pelos costumes e culturas predominantes de cada época, bem como de certas condições de vida, de modo a estabelecer como sendo belo aquilo que denota abundância ou fartura, como, por exemplo, exibir uns quilinhos à mais.
Nem é preciso tecer longos comentários sobre como as beldades, sejam as de medidas exatas da atualidade, fossem as mais cheinhas de outrora, são ou foram imitadas como padrões de beleza por seus respectivos contemporâneos, que buscavam, ou buscam, pelos meios disponíveis, terem para si a mesma aparência daquelas tidas como modelos de beleza. Na arte temos estatuetas e pinturas que nos legaram a memória do que já foi tido como belo e, portanto, digno de ser imitado em termos de estética corporal em outros tempos e lugares distintos. Um padrão que vemos repetido e amplificado nos dias atuais com o advento das redes sociais. Convém frisar que não há nada de errado em buscar melhorias na aparência física. Pelo contrário, a autoestima relacionada ao aspecto estético é fator importante à saúde mental. Entretanto, quando a busca por um modelo paradigmático de beleza se tona obsessiva e força os limites do que as boas práticas médicas e estéticas recomendam, pode desencadear problemas severos, relacionados, inclusive à depressão:
Autoestima corresponde a buscar o melhor, o quer bem para si próprio e quando não alcançado desperta os sentimentos mais negativos, como desânimo incapacidade, inferioridade que reflete em quadros psicológicos de ansiedade, depressão (ANJOS / FRREIRA, pág. 600, 2021).
Mas o que entendemos por belo em aparência não se limita ao físico ou à estética corporal, pois o conceito do que é ou não assim considerado se relaciona também a comportamentos. Dito isso, talvez o melhor exemplo que se possa trazer é o do cigarro. Durante décadas, gerações foram estimuladas a fumar, pois era comportamento tido como elegante e sofisticado. Quem tem quarenta anos ou mais se recorda bem dos outdoors, capas de revistas e, principalmente, dos comerciais de televisão que exibiam, sem a menor preocupação, pessoas felizes, bonitas, arrojadas, dirigindo belos carros importados, pilotando potentes e cobiçadas motocicletas, navegando em luxuosos barcos ou montando belíssimos cavalos, mas sempre exibindo seus cigarros elegantemente acesos entre os dedos. Como não querer imitá-los, não é mesmo? Afinal, era um comportamento glorificado e até recompensado socialmente com atenção positiva. A mudança começou apenas no final dos anos 1980, quando a Organização Mundial da Saúde – OMS, depois de muitas pesquisas, reconheceu os males associados ao cigarro e mais tarde elencou o tabagismo como uma doença:
Em 1988, a comunidade científica mundial reconheceu o tabagismo como uma dependência química (U. S. Surgeon General, 1988) e, em 1997, a OMS o classificou no grupo de transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de substâncias psicoativas, incluindo-o na décima revisão da Classificação Internacional de Doenças - CID-10, sob o código F17.2 (OMS, 1997). Dessa forma, o tabagismo adquire o duplo status: de doença epidêmica propriamente dita e de fator de risco para cerca de 50 doenças diferentes, notabilizando-se as cardiovasculares, o câncer e as respiratórias obstrutivas crônicas (MARTINS, 2010).
Disso seguiu-se uma inversão comportamental, com a abolição de propagandas de cigarros, inclusão de avisos sobre os riscos à saúde nas embalagens dos produtos e, literalmente, a segregação dos fumantes, com criações de áreas separadas em espaços públicos e em estabelecimentos privados, o que levou ao gradativo desinteresse pelo hábito, já que deixou de ser um sinônimo de elegância e de status social a ser imitado.
Até aqui nada de anormal e até inofensivo, em certa medida. Nada mais que a história humana seguindo seu curso natural e se adaptando ao tempo, ao lugar e aos avanços científicos. Nosso interesse na atração quase magnética que as aparências podem exercer sobre nós está ligado ao nosso desejo inato de imitar o que ou quem consideramos belo ou admiramos, seja por considerarmos comportamental ou esteticamente bonito e, portanto, digno de ser seguido ou copiado, por vezes e não raramente, até as últimas consequências.
NEM TUDO QUE RELUZ É OURO
Retomemos o raciocínio com o antigo, porém, sábio ditado popular que encerra uma máxima verdadeira: não devemos nos enganar com as aparências das coisas, pois podem ser dolorosamente enganosas. Mas se esse conselho vale para objetos inanimados, tem valor ainda maior quando nos referimos às pessoas, sobretudo, na política.
Não atoa o título dado a este trabalho alude ao mineral chamado pirita (dissulfeto de ferro), também conhecido como Ouro dos Tolos. É assim chamado devido a sua semelhança com o caro e raro metal do qual empresta seu nome, mas é apenas isso: semelhança; pois, na verdade, a pirita é muito mais abundante e muito menos valiosa que o ouro.
Além de ser ardilosamente enganosa na aparência, a pirita ainda pode oferecer alguns riscos para aqueles que, inadvertidamente iludidos, acreditam terem achado ouro, pois quando exposta ao calor, o que se faz usualmente e sem riscos com o ouro para modelá-lo, a usurpadora pirita, exala dióxido sulfúrico, que é um gás altamente tóxico, cuja sua inalação pode ser fortemente desconfortável. Portanto, caso fosse uma pessoa, poderíamos dizer que a dona pirita pode até ser bonitinha, mas certamente é ordinária.
Analisemos a seguir alguns conceitos que teremos de ter em mente para não mais nos deixarmos iludir pelo falso brilho do que nada vale e, principalmente, pelas aparências propositalmente construídas de pessoas ou de grupos que se vendem como aquilo que não são.
Para atingir esse objetivo, esclareçamos o seguinte: uma pessoa nunca é o que você pensa. Mas calma! Falamos de conceito e não significa que devemos sair por aí achando que fomos enganados por todos durante nossas vidas inteiras. Não é disso que se trata, mas teremos que entender. O vocábulo pessoa tem origem latina e provém de pernona. Os gregos, por seu turno, associaram o termo latino ao termo grego prósopon, que para eles não significava indivíduo, como temos em mente hoje quando empregamos pessoa para nos referirmos a alguém. Para os gregos antigos, prósopon significava máscara, ou personagem, ou seja, era um papel desempenhado por alguém para um determinado fim e em determinada circunstância:
Apesar de pessoa derivar de persona, esta palavra latina não comporta, em seu uso primeiro, tal sentido que atribuímos, hoje em dia, à noção de pessoa. Uma tese afirma que a palavra latina persona foi originalmente estabelecida por uma justaposição gramatical da preposição per [advérbio de meio] e do substantivo [sonus] resultando per + sona persona. Outra tese estabeleceu que ela derivasse do verbo personare, de sua forma verbal gerúndio personando; outra, ainda, a fez derivar da expressão per se una, enquanto designa uma por si. Tanto em um caso quanto em outro, a palavra persona serviu para significar o mesmo que se significa com a palavra grega prósopon: máscara e personagem (FAITANIN, pág. 339, 2006).
Para os gregos, aliás, a vida toda era como uma grandiosa peça teatral, na qual estamos interpretando o tempo todos os papéis que nos são dados. Podemos ver bons exemplos dessa forma de encarar a vida em escritos de filósofos gregos antigos, senão vejamos:
Lembra que és um ator de uma peça teatral, tal como o quer o autor. Se ele a quiser breve, breve será. Se ele a quiser longa, longa será. Se ele quiser que interpretes o papel de mendigo, é para que interpretes esse papel com talento. E, da mesma forma, se ele quiser que interpretes o papel de coxo, de magistrado, de homem comum. Pois isto é teu: interpretar belamente o papel que te é dado – mas escolhê-lo, cabe a outro (EPICTETO, pág. 21, 125 d. C).
Além de um excelente exemplo do que significava a vida para os gregos antigos, o trecho acima, retirado da obra Introdução ao Manual de Epicteto, dá-nos ainda uma boa ideia do pensamento estoico, segundo o qual não devemos nos perturbar com coisas que estão além do nosso alcance resolver. Faz todo sentido, já que os gregos entendiam os papéis sociais como imutáveis, como que se cada qual nascesse destinado pelos deuses a desempenhá-los e, portanto, deveriam assim proceder com alegria e satisfação.
Mas é claro que a elite grega não acreditava nisso, todavia, esforçavam-se para que o povo acreditasse, pois assim mitigava as chances de revoltas sociais. Para isso se valeram de mitos e alegorias hábeis a manter o povo sob seu jugo, sendo um espetacular exemplo disso o chamado Mito dos Metais, cunhado por ninguém menos que Platão:
Cidadãos, sois irmãos, porém Deus vos formou diversamente. Alguns de vós tendes o poder da dominação e esses ele fez de ouro, razão pela qual lhes são devidas as maiores honras; a outros fez de prata, para serem os auxiliares dos primeiros; e outros, destinados à agricultores e artífices, fez de bronze e de ferro. Mas sendo vós da mesma família original, um pai de ouro pode ter um filho de prata; ou um pai de prata, um filho de ouro. E Deus ordena que se o filho de um pai de ouro ou de prata mostrar alguma liga de bronze ou ferro, sua natureza exigirá uma transposição de classe; e o governante não se deverá apiedar de seu filho por haver descido de categoria para tornar-se agricultor ou artífice; contrariamente, os filhos destes podem ascender a classes mais nobres e tornarem-se dirigentes ou auxiliares do governo. Pois diz um oraculo que, se um homem de bronze ou de ferro assumir a soberania, o estado será destruído (DURANT, pág. 48. / 49, 1942).
Platão teve parte de sua vida e obras analisadas pelo filósofo e historiador estadunidense Will Durant (1885 – 1981) em sua obra História da Filosofia, de onde foi extraído o fragmento acima, que deixa evidente, para nós, leitores modernos, a verdadeira intensão por traz da graciosa alegoria. A obediência aos deuses era algo natural e ensinado, portanto, uma convenção social a ser imitada, pois que essa obediência representava honradez e status, ao passo que a rebeldia ou questionamento conduziam à desonra e ao isolamento social.
Mas mesmo não acreditando nos mitos que criavam, a elite grega precisava manter a aparência de que acreditava, pois do contrário não conseguiria manter o povo sob seu controle. Afinal, faça o que mando, mas não faça o que eu faço, nunca deu muito certo publicamente, apesar de parecer regra longe dos olhos do público, sobretudo, na política, tenha sido na Grécia antiga, seja na atualidade.
O PESO DAS APARÊNCIAS NA POLÍTICA
Voltemos às cores dos carros usadas acima como exemplo, mas desta vez com um pouco menos humor. Aquela enorme variedade de cores que se pode escolher ou preferir para os automóveis é que nos permite sermos tão diferentes no que diz respeito à cor que julgamos mais bela para um automóvel. Mas e se não fosse assim? E se não tivéssemos uma paleta de cores tão variadas à nossa disposição? Se o vermelho não fosse uma opção para dar acabamento a uma Ferrari, como poderia o vermelho ser a cor mais bonita se ela não é possível? E é aqui a coisa se afunila e começa a complicar. Calma! Parece confuso, mas explicaremos: Ninguém nasce eleitor de candidato algum. O eleitor, portanto, precisa ser fabricado para o candidato, não importando quem ele seja, já que, em suma, não elegemos pessoas, mas sim, ideias. Adquirimos nossos conjuntos de ideias, às quais gostamos de chamar de valores, ao longo de nossas vidas e através de nossas experiências pessoais, o que nos faz tender para um ou outro espectro político.
Não há, portanto, mistério aqui, já que mesmo numa democracia, o que temos é apenas a aparente liberdade de escolher nossos representantes nas eleições, uma vez que essas pessoas – os candidatos – estão presas a ideologias e agendas partidárias que nem sempre correspondem ao que propõe em suas campanhas, mas para vencerem as eleições, precisam conquistar os corações e as mentes dos eleitores em busca de votos, mesmo que seja à custas de promessas que não querem ou que não poderão cumprir. Destarte, é como se comprássemos uma Ferrari de cor vermelha, mas o fabricante nos entregasse o desejado carro pintado de laranja, simplesmente porque o vermelho que fora vendido, na verdade, nunca esteve disponível, mas o carro precisava ser vendido, senão vejamos:
Não bastasse o fenômeno da irracionalidade, há que se considerar a prevalência de vieses a distorcer o processo cognitivo e decisório dos eleitores. As fake news, por exemplo, cumprem um importante papel nesse sentido, fazendo com que o eleitor não seja somente irracional, mas irracional do modo certo. As pessoas precisam da estrutura de seu sistema de crenças. É nele que encontram segurança - funcionam como um atalho, menos custoso, em termos cognitivos, do que se empenhar a sério em um esforço para compreender o mundo. Não há enganadores se não houver pessoas dispostas a serem enganadas - a ilusão persiste porque é necessária (BRAGA / SATHLER, Congresso em Foco, 2022).
O fragmento acima foi extraído da matéria intitulada O mito do eleitor racional e a difícil arte de prever resultados eleitorais, dos colunistas do portal Congresso em Foco, Ricardo de João Braga e André Sathler, bem expressa esse fenômeno, mas a filosofia também nos dá valiosas contribuições que nos ajudam a clarear o quadro, como vemos:
Há os que acreditam que um grupo qualquer de homens, uma vez que se haja apoderado da maquinaria do Estado, possa, por meio da propaganda, assegurar o assentimento geral.
E prossegue:
Até que ponto e até quando poderá prevalecer contra os interesses da maioria é ainda uma questão duvidosa. Deve-se admitir, no entanto, que a propaganda do Estado se torna cada vez mais eficiente; o problema de assegurar a aquiescência dos governados está-se tornando, por conseguinte, mais fácil para os governos (RUSSELL, pág. 18, 1938).
Notemos que ambos os textos citados, ou seja, a matéria jornalística recente e o pensamento do filósofo de quase um século atrás falam da propaganda como ferramenta de conquista política, que se relaciona como o tema abordado neste trabalho na medida em que está intimamente ligada com as aparências que os líderes – ou candidatos – pretendem imprimir no imaginário popular, sendo, o primeiro, para se consolidar no poder; e o segundo, para alcançá-lo.
A fim de trazer um exemplo histórico e, portanto, palpável do que se pretende demostrar, ou seja, a alta conta em que os políticos, especialmente os mais autoritários, têm a propaganda, devido, obviamente, a sua capacidade de imprimir no imaginário coletivo as aparências que melhores lhes aprouverem, convém que analisemos a obra de um ícone do uso da propaganda politica como ferramenta de manipulação:
Todos os Fascistas italianos deveriam cooperar nessa tarefa de vital importância para o Fascismo, e mais especificamente aqueles que pertencem a regiões que com ou sem consentimento, uma coexistência pacífica tenha sido conquistada por dois movimentos antagônicos. A palavra que estou prestes a usar é grandiosa, mas de fato eu espero que durante esses dois meses que ainda nos separam da nossa Assembleia Nacional, a filosofia do Fascismo possa ser criada. Milão já está contribuindo com a primeira escola de propaganda Fascista (MUSSOLINI, pág. 25. / 26, 1932).
Infere-se, portanto, do fragmento acima, extraído da obra A doutrina do fascismo, de autoria do próprio criador do fascismo, o ditador italiano Benito Mussolini (1883 – 1945), que a aparência de poder e de dominação, conquistada pelo regime em seus anos iniciais, apenas poderia ser fortificada e mantida por meio da propaganda de massa, para o que se criou uma escola com o fim específico de difundir ao máximo a ideologia fascista. Mussolini foi tão bem sucedido no uso da propaganda para infundir a aparência de líder infalível no imaginário coletivo, instrumentalizando as comunicações de massa como ferramentas altamente eficazes de manipulação do povo para consolidação de seu poder político, que viria a ser imitado por ninguém menos que Adolf Hitler (1889 – 1945), que àquela altura já emergia na Alemanha como líder supremo do regime nazista e desejava projetar nas mentes dos alemães a mesma imagem de infalibilidade que o ditador italiano projetara em seu povo.