4. A doença
Rocha (2018) destaca aspectos centrais da psicopatia, caracterizando-a como uma condição psicológica profundamente ligada ao comportamento social do indivíduo, "definida por psicólogos e psiquiatras como uma condição. Trata-se de um tipo de comportamento social, em que pessoas são desprovidas de consciência ética, humana e principalmente moral. Psicopatas normalmente possuem deficiência de empatia" (ROCHA, 2018).17
Um dos pontos mais relevantes é a ausência de consciência ética, humana e moral — elementos que constituem a base das relações sociais saudáveis e da convivência em sociedade. Essa carência leva os psicopatas a agirem sem remorso ou empatia, mesmo quando causam dor ou prejuízo aos outros.
A deficiência de empatia é uma característica central da psicopatia. Indivíduos com esse transtorno tendem a ser emocionalmente frios, insensíveis aos sentimentos alheios e apresentam uma marcante dificuldade — ou mesmo incapacidade — de se colocar no lugar do outro. Essa limitação afetiva os distingue de pessoas com outros transtornos de personalidade e até de criminosos que não apresentam traços psicopáticos, uma vez que suas ações costumam ser friamente calculadas, manipuladoras e desprovidas de culpa ou remorso.
Ao se considerar a psicopatia como um padrão de comportamento social desviante, reforça-se a compreensão de que não se trata, necessariamente, de um comprometimento cognitivo, como ocorre em transtornos mentais mais clássicos, mas sim de uma forma disfuncional de se relacionar com o mundo e com as demais pessoas. Isso ajuda a explicar por que muitos psicopatas conseguem manter uma aparência de normalidade, convivendo em sociedade, ocupando empregos, estabelecendo relacionamentos e até assumindo posições de destaque, sem que seus traços sejam prontamente identificados.
A frase também reflete o consenso entre especialistas da psicologia e da psiquiatria, que reconhecem a psicopatia como uma condição que vai além de comportamentos isolados ou episódicos: ela faz parte da estrutura de personalidade do indivíduo e tende a ser persistente ao longo da vida.
A psicopatia corresponde a um distúrbio mental que leva ao desprezo por outras pessoas, configuradas como instrumentos de manipulação.
“A psicopatia é um termo muito confuso historicamente, sendo que hoje se refere a apenas um dos oito transtornos de personalidade existentes”, diz o psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Hospital das Clínicas, em São Paulo (SALLA, 2018)18.
O tratamento adequado pode ajudar a amenizar os sintomas do transtorno, mas não se trata de uma cura definitiva. As abordagens incluem psicoterapia e apoio aos familiares afetados. Entre os tipos de tratamento estão a terapia cognitivo-comportamental, a terapia familiar, a terapia comportamental e a psicoterapia em geral. Os profissionais indicados para o acompanhamento são o psicólogo clínico, o psiquiatra ou o psicanalista.
Por se tratar de uma condição crônica, que pode perdurar por anos ou por toda a vida, pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA) podem começar a manifestar sinais desde a infância. No entanto, infelizmente, o diagnóstico formal só é possível a partir da adolescência ou idade adulta.
Indivíduos identificados com TPA costumam apresentar comportamentos como mentira recorrente, desrespeito às leis, impulsividade e negligência quanto à própria segurança e à dos outros. São comuns atitudes antissociais, manipuladoras, arriscadas e desonestas, além de hostilidade, agressividade, irresponsabilidade, irritabilidade e dificuldade de moderação emocional. Também podem apresentar oscilações de humor, descontentamento generalizado, raiva ou tédio. Da mesma forma, é frequente a presença de abuso de substâncias, dependência química ou traços narcisistas. Em alguns casos, os sintomas tendem a diminuir com a idade.
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Abstract: This article aims to analyze the main personality traits, temperament, and character of psychopaths, highlighting the dark and cruel side of individuals who, although integrated into society, are often not easily identified as deviating from the social and normal human standard. Psychopathy, often sensationalized by the media, is a subject of great public curiosity, frequently portrayed through fictional characters such as Hannibal Lecter, Dexter Morgan, and Norman Bates. The association between psychopathy and figures like serial killers contributes to a popular perception that every person with this disorder is inevitably violent. However, studies show that this connection between psychopathy and violence is much stronger in public perception than in empirical evidence (Hauck Filho, Teixeira & Dias, 2012; Kennealy, Skeem, Walters & Camp, 2010). In the context of Criminal Law, the article examines which types of crimes psychopathy can be associated with and whether it can be considered a factor that aggravates criminal responsibility. A psychopath, being an individual with severe personality disorders, exhibits irregular and antisocial behavior, often resulting from organic brain anomalies. This analysis seeks to better understand the relationship between psychopathy and criminal behavior, discussing the limits of imputability and criminal responsibility for these individuals.
Keywords: Serial Killer, Outbursts, Psychopaths, Empathy, Disorder.