5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De posse da pesquisa realizada, pode-se concluir que o feminicídio no Brasil figura como expressão máxima de uma violência de gênero estrutural, enraizada em padrões patriarcais que naturalizam a dominação masculina e a subjugação feminina. A análise desenvolvida ao longo deste artigo demonstra que a violência letal contra mulheres não é um fenômeno isolado, mas resultado de uma cadeia de opressões sustentadas por instituições sociais, culturais e jurídicas.
A relação entre feminicídio e patriarcado se torna evidente quando observado que a maioria dos crimes ocorre no ambiente doméstico, praticado por parceiros ou ex-parceiros, em contextos marcados por relações de posse e controle. A ideologia patriarcal, nesse sentido, ao atribuir aos homens um suposto direito de governar a vida e o corpo das mulheres, cria condições para que a violência seja interpretada como mecanismo legítimo de correção e disciplinamento.
Lado outro, tem-se que as medidas protetivas de urgência, embora essenciais, são limitadas, diante da ausência de políticas integradas que abordem as causas profundas do problema. A falta de fiscalização eficaz, a morosidade judicial e a escassez de redes de apoio social deixam as mulheres vulneráveis, mesmo quando buscam ajuda institucional. Além disso, a naturalização da violência de gênero em setores da sociedade – inclusive em instituições que deveriam combatê-la – perpetua a impunidade e a revitimização.
Diante do problema de pesquisa proposto - de que maneira as bases patriarcais presentes na sociedade brasileira influenciam para a ocorrência e continuidade do crime de feminicídio no país? - conclui-se que o patriarcado opera como alicerce ideológico e material desses crimes. Sua influência se manifesta na tolerância social à violência doméstica, na culpabilização das vítimas e na reprodução de estereótipos que justificam a dominação masculina. A hipótese inicial resta confirmada pela pesquisa: o feminicídio é um fenômeno sistêmico, alimentado por desigualdades históricas que relegam as mulheres a posições de inferioridade.
REFERÊNCIAS
BELLOQUE, Juliana Garcia. Feminicídio: o equívoco do pretenso Direito Penal Emancipador. Boletim IBCCRIM. São Paulo. 2015. Disponível em: https://assets-compromissoeatitude-pg.sfo2.cdn.digitaloceanspaces.com/2014/02/JULIANABELLOQUE_IBCCRIM270_feminicidiomaio2015.pdf. Acesso em: 18 de mar. de 2025.
BERTOLIN, Patrícia Tuma Martins; ANGOTTI, Bruna; VIEIRA, Regina Stela Corrêa (org.). Feminicídio: quando a desigualdade de gênero mata. Joaçaba: Editora Unoesc, 2020. 376. p. Disponível em: https://mulherespaz.org.br/site/wp-content/uploads/2021/04/Feminicidio.pdf. Acesso em: 15 de jun. de 2025.
BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei 11.340/ 2006: aspectos assistenciais, protetivos e criminais da violência de gênero. São Paulo: Saraiva, 2018.
BIZAN, Kátia. O ventre como instrumento de poder masculino: patriarcado e feminicídio. Anuário Unesco/Umesp de comunicação regional, v. 26, n. 26, p. 23-35, 2022.
BRASIL. Fórum Brasileiro De Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. São Paulo: FBSP, 2024. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/publicacoes/anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/. Acesso em: 15 de jun. de 2025.
BRASIL. Planalto. Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 18 de mar. de 2025.
BRASIL. Planalto. Decreto Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 02 de abr. de 2025.
BRASIL. Planalto. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226. da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 18 de mar. de 2025.
BRASIL. Planalto. Lei n.º 13.641, de 3 de abril de 2018. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para tipificar o crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13641.htm. Acesso em: 04 de abr. de 2025.
BRASIL. Planalto. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121. do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/lei/L13104.htm. Acesso em: 15 de mar. de 2025.
CALDERÓN, Ricardo Lucas. Princípio da afetividade no Direito de Família. Rio de Janeiro: Renovar, 2013.
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional. 16º. ed., rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
CHAKIAN, CHAKIAN, Silvia. O que você precisa saber sobre feminicídio: um crime silenciado. Agência Patrícia Galvão, 2017. Disponível em: https://agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/noticias-violencia/o-que-voce-precisa-saber-sobre-feminicidio-um-crime-silenciado-por-silvia-chakian. Acesso em: 15 de jun. de 2025.
COSTA, Juvenal Soares Dias da; VICTORA, Cesar G. O que é "um problema de saúde pública"? Rev Bras Epidemiol. 9. 1. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/f3MrHMwdX3FC84t68qph98v/?lang=pt
COSTA, Sarah Batista Resende. Violência no âmbito familiar e a efetividade da Lei 11.340/2006. Revista Jus Navigandi. 2016. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/51496/violencia-no-ambito-familiar-e-a-efetividade-da-lei11-340-2006. Acesso em: 25 de mar. de 2025.
COSTA, Thais Milene Vaz da. Lei Maria da Penha: e a ineficácia das medidas protetivas. 2020. Monografia (Graduação). Centro Universitário Atenas. Paracatu, 2020. Disponível em: https://atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/spic/monography/LEI_MARIA_DA_PENHA__e_a_ineficacia_das_medidas_protetivas.pdf. Acesso em: 06 de abr. de 2025.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial. Salvador: Editora Juspodivm, 2016.
CUNHA, Rogério Sanches. Violência doméstica: Lei Maria da Penha. Lei 11.340/2006. Comentada artigo por artigo/Rogério Sanches Cunha, Ronaldo Batista Pinto, 7º. ed. rev. atual. e ampl. – Salvador: Editora JusPodivm, 2018.
DEEKE, Leila Platt; BOING, Antonio Fernando; OLIVEIRA, Walter Ferreira de; COLEHO, Elza Berger Salema. A dinâmica da violência doméstica: uma análise a partir dos discursos da mulher agredida e de seu parceiro. Saúde Sociedade. 18. 2. p. 248–258, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/XfD6n8JShSTtKH9bJdqQx7B/abstract/?lang=pt. Acesso em: 06 de abr. de 2025.
DEMO, Pedro. Introdução à Sociologia: complexidade, interdisciplinaridade e desigualdade social. São Paulo: Atlas, 2002.
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 5º volume: Direito de Família. 34º. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. (ver a citação corretamente - pag e livro )
DINIZ, Priscila Mara do Nascimento. Feminicídio no Direito Brasileiro. Conteúdo Jurídico, 16 set. 2016. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/47519/feminicidio-no-direito-brasileiro. Acesso em: 15 jun. 2025.
DONADEL, Larissa de Cássia; WITTCKIND, Ellara Valentini. Relação entre feminicídio e misoginia no patriarcado: Resquícios da caça às" bruxas" na contemporaneidade. Portal de Anais de Eventos da Faculdades EST, v. 8, p. 314-332, 2023.
FILHO, Guaracy Moreira. Código Penal Comentado. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2017.
GRECO, Rogério. Feminicídio - Comentários sobre a Lei nº 13.104/2015, de 9 de março de 2015. Jusbrasil. 2015. Disponível em: https://rogeriogreco.jusbrasil.com.br/artigos/173950062/feminicidio-comentarios-sobre-a-lei-n-13104-de-9-de-marco-de-2015. Acesso em: 08 de abr. de 2025.
KUNZLER, Maria. A violência intrafamiliar contra a mulher: um olhar a partir da Lei Maria da Penha. Conteúdo Jurídico, Brasilia-DF: 26 out. 2015. Disponível em: https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Monografias-TCC-Teses-E-Book/45379/a-violencia-intrafamiliar-contra-a-mulher-um-olhar-a-partir-da-lei-maria-da-penha. Acesso em: 29 de mar. de 2025.
LAGARDE, Marcela y de los Ríos. Del femicidio al feminicidio. Desde el jardín de Freud. Bogotá, 2006. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/jardin/article/view/8343/8987. Acesso em: 22 de mar. de 2025.
MADALENO, Rolf. Manual de Direito de Família. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
MARTINS, Tiago do Carmo. O controle judicial de ações afirmativas pela ação civil pública. 2017. Dissertação (Mestrado). Universidade do Vale do Itajaí. Itajaí, 2017. Disponível em: https://siaibib01.univali.br/pdf/Tiago%20do%20Carmo%20Martins.pdf. Acesso em: 24 de mar. de 2025.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal II: parte especial, arts. 121. a 234 CP. 35º. ed. rev. e. atual. São Paulo: Atlas, 2019.
MONTAÑO, Julieta. Reflexões sobre femicídio. In: CLADEM – Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher. Contribuições ao debate sobre a tipificação penal do feminicídio/femicídio. Lima: CLADEM, 2012. Disponível em: https://www.compromissoeatitude.org.br/contribuicoes-ao-debate-sobre-a-tipificacao-penal-do-feminicidiofemicidio-cladem-2012. Acesso em: Acesso em: 15 de abr. de 2025.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. v. 2. 45º. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
NUNES, Danilo Henrique; SIQUEIRA, Dirceu Pereira. O transgênero e o direito previdenciário: omissão legislativa e insegurança jurídica no acesso aos benefícios. Juris Poiesis. 21. 25. 2018. Disponível em: https://periodicos.estacio.br/index.php/jurispoiesis/article/viewFile/5022/2330. Acesso em: 02 de abr. de 2025.
OLIVEIRA, Joyce Maria Lopes de. Lei Maria da Penha: A (in) eficácia das medidas protetivas nos casos de violência contra a mulher. 2021. Monografia (Graduação). Universidade Católica de Goiás. Goiânia, 2021. Disponível em: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/3040/1/Artigo%20Cient%c3%adfico%20-%20Joyce%20Maria.pdf. Acesso em: 05 de abr. de 2025.
ORTEGA, Flávia Teixeira. Feminicídio (art. 121§ 2º, VI, do CP). Jusbrasil. 2016. Disponível em: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/artigos/337322133/feminicidio-art-121-2-vi-do-cp. Acesso em: 20 de mar. de 2025.
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito das Famílias. Prefácio Edson Fachin. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
PINAFI, Tânia. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na contemporaneidade. Rev. Histórica. 21º. ed. 2007. Disponível em: https://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03/. Acesso em: 03 de abr. de 2025.
PORTO, Pedro Rui da Fontoura. Violência doméstica e familiar contra a mulher: lei 11.340/06 análises crítica e sistêmica. Livraria do Advogado Editora, 2018.
RIOS, Roger Raupp. O princípio da igualdade e a discriminação por orientação sexual: a homossexualidade no direito brasileiro e norte-americano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
SACRAMENTO, Lívia de Tartari; REZENDE, Manuel Morgado. Violências: lembrando alguns conceitos. Aletheia, Canoas, n. 24. 2006. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942006000300009. Acesso em: 14 de abr. de 2025.
SANTOS, K. G. A importância do bem jurídico para o direito penal e a necessidade de delimitação. Salvador. 2014.
SCHMITT, Nayara Graciele. A influência da cultura patriarcal na produção de violências e na construção das desigualdades entre homens e mulheres: um olhar dos profissionais que atuam na rede de proteção social no município de Araranguá/SC. Artigo científico. 2017. Disponível em: https://www.ensinosuperior.sed.sc.gov.br/wp-content/uploads/2017/02/Artigo-Nayara.pdf. Acesso em: 10 de abr. de 2025.
SIQUEIRA, Aline Cardoso. Família e abuso sexual na perspectiva de adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Aletheia, n.º 34, Canoas. 2011. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942011000100009. Acesso em: 28 de mar. de 2025.
TAYLOR, R. Slain and slandered: a content analysis of the portrayal of femicide in crime news. Homicide Studies, Thousand Oaks, v. 13, n. 1, p. 21-49, 2009.
VIANA, Dalila Sena; COSTA, Maria do Socorro Moura. A cultura do patriarcado no Brasil: da violência doméstica ao feminicídio. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 10, n. 5, p. 2829-2847, 2024.
VILASBOAS, Luana Cavalcante. O novo conceito de família e sua desbiologização no direito brasileiro. Revista Artigos. Com, v. 13, p. e2864-e2864, 2020.
Abstract: Femicide, an extreme expression of gender-based violence, consists of the murder of women motivated by their female condition. In Brazil, this phenomenon reflects patriarchal structures that maintain unequal power relations, even after the enactment of Law 13.104/2015, which classified it as a heinous crime. The persistence of high rates of femicide reveals the influence of patriarchy, a social organization that legitimizes male domination and naturalizes violence against women, especially in family environments. The research problem addresses how such structures contribute to the occurrence and perpetuation of this violence. The hypothesis is that femicide results from a system that supports practices of control over women. The general objective is to analyze the correlation between femicide and patriarchal structures, addressing the contemporary concept of family, domestic violence, and the sociocultural mechanisms involved. The research, of a qualitative and bibliographical nature, concludes that the current legislation needs to be made effective in view of the persistence of cultural patterns that promote feminicide in Brazil.
Key words : Patriarchy. Domestic violence. Femicide. Women's rights.